A Historicidade da História



O termo que nós designamos "história" é uma palavra, que, por si só nos dá uma sensação de alguma coisa velha, e há quem diga que já se cansara dela – principalmente os estudantes por puro desconhecimento.

Porém, todavia, seria uma heresia querer riscá-la do nosso imaginário, e deva ser por isso que a relegaram um pequeno espaço nas ciências dos homens, isto é, apenas um refugo.

Portanto, nós lhe daremos aqui, pelo contrário, uma grande margem de significação, pois a palavra em si, não da nenhuma direção de pesquisa, ou seja, ora orienta-se para o indivíduo ora para a sociedade, uma vez que, pode-se divagar por uma mera descrição momentânea ora por momentos duradouros. Ela não tem nenhum compromisso, não obriga-nos, conforme sua etimologia somente a investigar.

Decerto que o nosso termo em análise, já mudara muito de conteúdo desde que apareceu nas mentes dos homens, mesmo sabendo o fato de ter permanecido fiel ao seu nome helênico não significaria, por sua vez, que a nossa história seja igual à que escrevia Aristóteles, que por sua vez, escrevia Marc Bloch etc., etc.

O que de fato seria ela então? Seria uma ciência do passado?

Obviamente, que diríamos não! Em nosso entender, somente pelo fato de que o passado, enquanto tal possa ser objeto de ciência já se configura um absurdo, e cujos fenômenos possuem uma única e simples característica de não pertencer a nossa contemporaneidade não nos trás significação alguma.

Então perguntamos: Como a "história" seria apropriada por um conhecimento racional?

É certo, que no princípio da historiografia os nossos antigos estudiosos se vinculavam aos acontecimentos como grandes batalhas, mortes de reis, enfim, todos esses eventos conservariam o nome de "história", ou seja, seriam os relatos de uma memória ainda um pouco confusa carecendo ainda, do que poderíamos chamar de análise. Porém, todavia, isto iria mudar para mais tarde se chamar de todo o estudo em uma mudança na duração, mas que, por sua vez, não pertenceria necessariamente à história dos historiadores.

Como assim, não pertencer?

Pois existem fatos que não podem ser explicados ou analisados sem o entrecruzamento de disciplinas que se revelariam indispensáveis a uma tentativa de explicação, pois todas as vezes que a "história" fora requerida surge sempre o seu objeto de análise em primeira instância, mais ou menos evidente, no qual, para nós seria o "homem".

Todavia, por detrás dos acontecimentos sempre existirá os homens, seja lá qual for o evento, sempre haverá por detrás dos documentos, das instituições, das máquinas, das revoluções, enfim, de tudo aquilo que a "história" nomeia como seu objeto:

Os homens. Mais do que o singular favorável à abstração, convém a uma ciência da diversidade o plural. (BLOCH, 1965:28)

Portanto, todo esse movimento humano, no qual, poderíamos assim através da "história" abstrair e configurar no tempo seria uma categoria da duração: "A tomada de consciência da pluralidade dos níveis da temporalidade." (CARDOSO e VAINFAS, 1997:29)

Poderíamos então dizer, em um tempo histórico?

Todo e qualquer historiador não pensa pura e simplesmente no indivíduo, mas sim, em todo um desenvolvimento do pensar que se constrói em um determinado momento temporal e não como as pessoas pensavam antigamente:

(...) a narrativa dos acontecimentos políticos e militares, apresentada como a história dos grandes de grandes homens. (BURKE, 1992:12)

Portanto, o tempo histórico seria a própria essência que paira sobre os fenômenos sociais, que lhe dá inteligibilidade.

Doravante, concluímos que a "história" possui um compromisso de compreender o passado, e não julgar-lhe, visto que, tal compreensão nos aproximaria de suas causas, pois, somente através delas é que entendemos o presente, pois o desconhecimento do passado compromete não só o entendimento do presente, como também, a sua própria ação.

Devemos insistir que a "história" é sempre uma construção do presente (...), assim disse Eduardo França Paiva em seu livro "História e Imagens" (1).

NOTAS:

(*) Texto de Aguiomar Rodrigues Bruno, aluno graduando do 6º período em História na UGB (Universidade Geraldo Di Biase), em Volta Redonda, RJ.

(1) Este trecho foi suprimido de sua obra citada no corpo do texto, cuja localização se encontra na página 20.

BIBLIOGRAFIA:

.BLOCH, Marc. Introdução à História. Lisboa: Europa-América, 1965.

.CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo. 5ª ed. Domínios da História. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

.BURKE, Peter. A Escola dos Annales. 2ª ed. São Paulo: Unesp, 1992.


Autor: Aguiomar rodrigues bruno


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