Os Homossexuais na Mídia Televisiva



Importante veículo de massa, a televisão sempre permitiu veicular relações sexuais "dentro da normalidade" conforme o Código de Ética da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão. Trevisan (2004) menciona que contrário o grupos conservadores, a televisão acabou por aderir a exploração do filão homossexual. Tido como um dos programas mais marcantes da TV brasileira A Discoteca do Chacrinha trazia o apresentadorChacrinhavestido de noiva, Nero ou palhaço. No programa, o animador fazia trocadilhos ou piadas que em sua maioria atingiam o público homossexual.

Analisando mídia e homossexualidade no Brasil, deve-se destacar a representação dessa classe nas novelas, tendo como ênfase as produzidas pela Rede Globo de Televisão. Segundo Leandro Colling (2007), no artigo Homoerotismo nas novelas da Rede Globo e cultura[1], a primeira aparição de um homossexual nas novelas da emissora aconteceu em Rebu (4 de novembro de 1974 a 11 de maio de 1975). Nessa novela, o personagem Conrad Mahler tinha uma relação com o garoto de programa Cauê. Após Cauê se apaixonar pela mulher de Conrad Mahler, este último a mata. Na segunda novela, O Astro, a homossexualidade foi relacionada novamente à violência. O cabeleleiro gay Henri colabora com a morte de Salamão Hayalla.

Colling (2007) relata que, nessa mesma década, outras duas novelas da Rede Globo apresentaram personagens homossexuais, dessa vez eles apareciam como seres efeminados. Dancin´daystrazia o mordomo Everaldo e Marron-glacé o graçon Waldomiro e o chefe de cozinha Pierre Lafond. No final da década de 70, foi insinuada uma possível relação lésbica na novela Os gigantes, entre as protagonistas Paloma e Renata.

A década seguinte apresenta um alto número de personagens homossexuais nas novelas da Rede Globo. Ao todo, foram nove aparições de gays de 1980 a 1989 como menciona Colling (2007). Segundo ele, foi Ciranda de Pedr, a primeira dessa década. Apresentava Letícia, uma feminista com trejeitos masculinos. Era a primeira vez que a Rede Globo apresentava uma lésbica dessa forma. O primeiro casal de namorados foi apresentado em 1981 na novela Brilhante.

Colling (2007) afirma que o primeiro "selinho" ocorre na novela Um sonho a mais, que contava com três personagens travestidos. Nas novelas Roda de Fogo e Mandala, outros personagens homossexuais são tidos como assassinos. Em 1988, o casal de lésbicas Cecília e Laís possuíam uma relação sem nenhum tipo de carinho explícito. Dessa forma, como cita Colling (2007), o público nem ao menos sabia que se tratava de uma relação homossexual.

Em Bebê a Bordo, Joana, uma lésbica masculinizada tenta se aproximar de Ângela, Colling (2007) afirma que esse flerte não foi correspondido. Pacto de sangue volta com o homossexual efeminado, desta vez de nome Bombom. Em se tratando de homossexualidade e novelas da Rede Globo, em Tieta, a travesti Rogéria interpretava dois papéis, um de homem outro de mulher. Ainda na década de 80, Trevisan (2004) destaca a série Malu Mulher, o programa consistia com a condução de uma feminista estereotipada que conduzia a trama a cada capítulo.

Colling (2007) menciona que semelhante à década anterior, a década de 90 contou com a presença de nove personagens homossexuais nas novelas da Rede Globo. Nessa década, ocorre a veiculação do homossexual não-efeminado. Porém, esse tipo não desaparece por completo das novelas, sendo que Mico Preto e Barriga de Aluguel contavam com esse tipo de representação homossexual. Nota-se que em Barriga de Aluguel, o personagem Lulu termina sozinho, pois não foi correspondido pelo jogador de futebol, no qual nutria seu amor. Em Pedra sobre Pedra, Adamastor quase têm um final semelhante ao de Lulu, encontrando seu parceiro somente no final da trama.

Tido como um ponto importante na representação de homossexuais, A Próxima Vítima contava com Sandrinho e Jefferson. Colling (2007) relata que, além de serem de raças distintas - Sandrinho era branco e Jefferson negro - eles nutriam um relacionamento. Os personagens não eram caricaturados. Uma das cenas mais esperadas pelo público foi a revelação de Sandrinho sobre sua opção sexual a sua mãe no final da trama. Segundo Trevisan (2004), o casal gay nessa novela só foi retratado devido a pesquisas que indicavam o poder de consumo da classe homossexual e do crescimento da audiência quando aquilo que é tido como "proibido" vai ao ar.

Em Explode Coração, o ator Floriano Peixoto encarnava um personagem ambíguo, pertencente aos trangêneros e de difícil definição. Logo após Roro Pedalada, era apresentado em Zazá, novamente um personagem efeminado, cita Colling (2007). Em Por Amor, é retratado um personagem bissexual que abandona sua família e seus filhos para viver ao lado de outro homem.

Em 1998, iniciava a novela Torre de Babel, em que as lésbicas Rafaela e Leila tinham um romance assumido e livre de estereótipos. O autor da trama Sílvio de Abreu apresentou o romance entre as duas logo no primeiro capítulo. Colling (2007) menciona que ambas tiveram um final trágico antes mesmo de a novela atingir sua metade. Acabaram sendo explodidas dentro de um shopping. Dessa forma, constituiu uma grande discussão sobre quem teria matado as lésbicas. Movimentos gays protestavam contra a Igreja Católica e a acusavam de ter pressionado para que houvesse a morte das personagens. Trevisan (2004) define a explosão das lésbicas como sendo o "caso mais escandaloso" nas telenovelas brasileiras. Ele opina que, caso as lésbicas fossem caracterizadas como mal amadas e infelizes, teriam aceitação do público.

A crítica de líderes gays aparece novamente em Suave Veneno. Essa novela contava com dois personagens masculinos com trejeitos femininos, Uálber e Edilberto. Colling (2007) afirma que, por ser motivo de humilhação e ser efeminado ao extremo, Edilberto passou a ser condenado pelo Movimento Gay da Bahia.

Conforme Colling (2007), no século XXI, a Rede Globo passa a consolidar a fórmula que alterna homossexuais caricatos e homossexuais livre de estereótipos. Outra inovação é a busca pela emissora na consolidação de casais homossexuais em suas tramas. Até o ano de 2007, essa década contava com 10 personagens gays. Um grande marco nas novelas desses anos foi a interpretação de Cláudia Raia que viveu o transgênero Ramona em As Filhas da Mãe. Em Desejo de Mulher, em função dos baixos índices de audiência, um casal homossexual passou a ser representado de forma caricata.

Em 2003, Mulheres Apaixonadas retratou um casal lésbico livre de estereótipos em que no final da trama desejava se assemelhar a um casal heterossexual, ou seja, desejava se casar e ter filhos. Colling (2007) cita que, no decorrer da trama, era possível notar que as personagens trocavam carícias.

Em Da Cor do Pecado, a família do personagem vivido pelo ator Caio Blat faz de tudo para que ele, interessado por maquiagem, seja homossexual. Em Senhora do Destino, é novamente retratado um casal lésbico livre de estereótipos. Colling (2007) pontua que, assim como em Mulheres Apaixonadas, a trama também apresentava carícias entre as personagens. Na mesma novela, o carnavalesco Ubiraci era um homossexual efeminado que tinha uma conturbada relação com Turcão.

No ano de 2005, a novela América gerou bastante polêmica ao não divulgar um beijo gay envolvendo Júnior e Zeca, ambos homossexuais não efeminados. Ainda no final da novela, Júnior revelava sua opção sexual para sua mãe. Colling (2007) acentua que, no mesmo período, a novela A Lua me Disse contava com três figuras homossexuais. Na novela Páginas da Vida, um casal homossexual foi retratado com tal desde o início da trama. No final, eles tentaram adotar um filho. Uma característica marcante nos personagens gays assumidos desde o início das tramas da Rede Globo é que todos são bonitos, bem sucedidos, apreciadores de arte e se vestem muito bem. Essa nova tendência da Rede Globo coincide com a representação de homossexuais dentro de seriados americanos.

Trevisan (2004) cita a dificuldade em dizer se as telenovelas prejudicam ou divulgam a visibilidade homossexual. Vários tipos de homossexuais foram retratados nos folhetins: travestis, mordomos, jovens de classe média, cafetinas, pais-de-santo, sendo que algumas representações foram além dos trejeitos encarnados por outras. Segundo Trevisan (2004), o lado mais cruel nessa história não é o fato dessas representações serem veiculadas de tal forma, mas sim o impacto de representar tal papel recai sobre a vida artística de quem o representa. Atores e atrizes alegam o medo de apresentarem como homossexuais em novelas acabe afetando negativamente suas carreiras como ídolos, ressalta Trevisan (2004).

Fato este, que segundo Trevisan (2004) aconteceu com o ator Odilon Wagner na novela Por Amor (citada anteriormente). Trevisan (2004) diz que, após revelada a opção sexual de seu personagem, a audiência da novela subiu consideravelmente, porém dois contratos comercias do ator foram cancelados, pelo fato do personagem no qual ele representava na novela ser bissexual.

No que se refere aos programas humorísticos, Trevisan (2004) cita que os homossexuais surgiram na década de 70. Zacarias, personagem de Os Trapalhões, arrancava risos do público pelos seus tiques femininos, constantemente vestia-se de mulher e comportava como tal. Chico Anísio em seu extinto Chico City, exercia o mesmo fascínio com o público ao encarnar Painho, um pai-de-santo afetado.

Trevisan (2004) menciona que, na década de 80, o personagem Capitão Gay de Jô Soares tornou-se uma coqueluche nacional. Vestido com trajes que se assemelhavam ao uniforme do Super-Homem, o Capitão Gay trazia consigo uma varinha, que manuseada delicadamente, era capaz de solucionar diversos problemas.

Outro personagem notório no que se refere à caracterização de homossexuais em humorísticos foi a sexóloga russa Olga del Voga interpretada por Patrício Bisso. Trevisan (2004) cita que Olga dava dicas de sexualidade aos telespectadores de um programa dirigido ao público feminino, de uma forma irreverente e descontraída.

Segundo Trevisan (2004), o sucesso obtido por personagens homossexuais na televisão era notório e constituía-se como rotina. Ao apresentar um novo personagem, este fazia sucesso relativo em sua época. Em se tratando de sucesso, Trevisan (2004) menciona a notoriedade alcançada pelo estilista Clodovil Hernandes. Segundo Trevisan (2004), Clodovil iniciou sua carreira na televisão, dando dicas de moda em programas femininos. O sucesso foi tanto que em 1983, Clodovil passou a ter seu próprio programa na Rede Manchete exibido em horário nobre. No programa ele dançava, recitava poemas, cantava, entrevistava, apresentava desfiles de moda e ironizava o cotidiano.

No que se refere à presença de travestis na televisão, Trevisan (2004) destaca a aparições dos mesmos num concurso de calouros promovido pelo programa Clube do Bolinha em 1979, nos sábados a tarde. No ano de 1984, a propaganda de um novo tipo de armário, apresentava uma bela morena, cita Trevisan (2004). Nesse anúncio, a personagem insistia para que o consumidor não se deixasse enganar pelas aparências. Na verdade, aquela morena era a travesti Roberta Close, que, posteriormente, viria a ser considerada um ícone de sua década.




Autor: Guilherme Castro


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