A Educação em Schiller: Por um Mundo Melhor
A liberdade era uma das paixões marcantes na concepção de Schiller, seja ela política, social ou a moral. Ela, a liberdade, é algo que se encontra presente na consciência de cada sujeito, sendo esta a verdadeira característica inseparável de cada homem. Uma questão que preocupou Schiller é responder a seguinte questão: como se chegar à verdadeira liberdade? Não sobre dúvidas, na reflexão schillerriana, que é pela aquisição da própria beleza que se chegará a liberdade. Assim se faz o credo de Schiller.
Em sua obra Cartas sobre a educação estética, são ressaltados dois instintos indispensáveis do pensamento humano, que é: instinto material, que é voltado para a sensibilidade humano, ou seja, o seu contato com a materialidade. Já a outro, o instinto voltado para a forma, se encontra em constante contato com a racionalidade humana. Segundo Schiller a decadência do homem e da sociedade, o insucesso da proposta iluminista de uma sociedade regida pela razão, elevada a sua dignidade e poder, podem ser revertidas pela educação estética do homem, possibilitando a reintegração de antinomias no ser humano. Justamente neste sentido que a arte teria um papel fundamental enquanto “instrumento para o enobrecimento de nosso caráter”. A capacidade transformadora da arte reside em sua independência e autonomia da política e do estado, severamente criticados por Schiller em sua instituição. A natureza “atemporal” e “transcendente” da arte, além do meramente físico, no reino da Verdade e da Beleza, qualificam a arte para esta empreitada de educação estética, possibilitando um trabalho sobre as impressões humanas que, por si só, é capaz de influenciar sua formação moral. Os elementos formais da arte são eternos, embora o tema do trabalho do artista possa se degradar segundo os humores do público, sua forma permanece imune diante dessas vicissitudes, como afirma Schiller. A arte ganha assim um poder educativo, não elaborado em Kant, estimulante da imaginação e capaz de reformar não apenas indivíduos mas sociedades. A arte pode não ensinar conceitos científicos, mas oferece impressões que alimentam o homem e estimulam o desenvolvimento de sua sensibilidade e de sua compreensão, permitindo sua transformação moral, com efeitos coletivos ao nível cultural e político.
A autonomia da beleza se associa segundo Schiller à noção de “jogo”. Através da exploração desta noção kantiana, Schiller desenvolve toda uma argumentação em favor da conciliação dos impulsos de forma e sensação, promovendo um maior equilíbrio e harmonia no ser humano. A beleza pode entrar como força conciliatória no jogo destes impulsos, fazendo-os convergir sobre um objeto comum que faculta distintas impressões em sua apreciação. Schiller associa o impulso da sensação com a vida e o impulso da forma com o perfil (eidos), sendo a beleza um “perfil vivo”, que denota as qualidades estéticas do fenômeno.
Assumindo que nossas mentes e corações podem ser transformados pela educação estética do homem, Schiller defende que “o caminho para a cabeça está no coração”. Schiller vê na arte o poder de trazer ao homem impressões que elevam sua condição moral pelo contato imediato com o sublime. No trabalho sutil da beleza a qual nos expomos pela verdadeira arte, a conciliação dos impulsos opostos no homem, se dá de maneira natural pela própria ação das impressões nas esferas da razão e da sensibilidade. A precária moral formulada em regras de nossa vida social e política é transformada em princípios justos, pela démarche do jogo entre razão e sensibilidade, sob a conciliação da beleza estética exposta pela verdadeira arte.
BIBLIOGRAFIA :
BARBOSA, Ricardo. Schiller e a cultura estética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 2004
Autor: Thiago Marques Lopes
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