Desenvolvimento Agrícola no Estado do Paraná



Fleischfresser (1988), em sua dissertação de mestrado sobre modernização tecnológica da agricultura paranaense, comenta que durante o movimento de transição tecnológica – década de 1970 na agricultura paranaense – houve concomitantemente um processo de "seleção" entre os produtores. Esse processo atingiu em especial grande parcela dos produtores com unidades de até 20 hectares, porém mais duramente com terras até 10 hectares, configurando entre estes um processo de diferenciação social mais acentuado, porque, na medida em que um grande número de pequenos produtores perdeu seus estabelecimentos (100.000 no Estado), perdeu também seu principal meio de produção – terra – que permitia sua reprodução como produtores; ao mesmo tempo, parcela dos que permaneceram intensificaram a exploração de suas terras, incorporando às mesmas mais trabalho, inclusive tecnificando sua base material de produção.

Simultaneamente este processo gerou e reforçou uma categoria de produtores capitalistas na agricultura, provavelmente com unidades acima de 200 hectares que tinham na expansão da área trabalhada um investimento realizado com a ocupação de valorização do capital.

Ao analisar as políticas econômicas implementadas pelo Estado, Fleischfresser (1988) comenta que a política de crédito rural foi decisiva na modernização do setor dentro do estado, uma vez que viabilizou a aquisição de insumos pelos agricultores. Igualmente na parte de adaptação e difusão da tecnologia, foram importantes a criação e o desempenho das empresas estatais de assistência técnica e extensão rural (EMBRATER) e pesquisas agropecuárias (EMBRAPA). Além disto, a política de preços mínimos compensadores para algumas culturas, principalmente as de exportação, teve um papel importante na diversificação, aumento da produção e, por extensão, também na incorporação desse tipo de tecnologia.

Ao se referir sobre a "modernização" na agricultura no Sudoeste do Paraná, vários autores concordam em dizer que foi um grande impacto. Nos anos 1970, as alterações na base produtiva da agricultura foram de tais formas expressivas que mudaram radicalmente o movimento que marcou a trajetória da população rural nas três décadas anteriores. Entre 1940 e 1970, a população rural cresceu a altas taxas, apresentando um saldo migratório positivo de aproximadamente 2.800 mil habitantes. Em apenas uma década, 1970-80, o saldo migratório foi negativo em cerca de 2.600 mil pessoas.

Segundo estudos realizados por Fleischfresser (1988) e Corona (2002) esse movimento, que eclodiu na década de 1970, já se encontrava em estado latente a partir do segundo qüinqüênio dos anos de 1960, devido à erradicação dos cafezais. Só que nesse período, a população excedente dos cafezais localizados no Norte do Paraná se deslocava em direção às ainda existentes "fronteiras agrícolas" no Estado. Entretanto, nos anos de 1970, quando gradativamente se esgota a fronteira agrícola, concomitante ao processo de intensificação no uso da moderna tecnologia (caracteristicamente poupadora de mão-de-obra) e à substituição de culturas, agora não mais somente o café, mas também alimentares por soja e pecuária, verificou-se uma notável evasão da população residente no meio rural.

Na década de 1990, a partir do fim da política dos subsídios públicos em função de vários problemas enfrentados não só pelo Estado, mas pelos agricultores em geral, como preços baixos dos produtos, altos preços dos insumos, desgaste da terra pelo uso de máquinas e insumos químicos, o Sudoeste do Paraná permaneceu com dificuldades para a manutenção da agricultura familiar, o queinclusive proporcionou um aumento no êxodo rural e fez com que cada vez mais a organização familiar no campo dependesse dos ganhos com atividades fora da propriedade rural (setor de serviços, comércio, indústria) ou ainda, atividades podiam também estar ligadas ao meio rural (turismo, transformação e beneficiamento de produtos agrícolas, artesanato etc) ou urbanas (operário, funcionários, diaristas, etc), mas todas integraram-se na dinâmica do funcionamento da unidade familiar no campo já que estas atividades apenas se somaram para aumentar a renda do produtor rural porém sem tirá-lo do campo.

REFERENCIAS

CORONA, H. M.P. Pluriatividade: uma estratégia da agricultura familiar. In: Congresso da Associação Latino – Americana de Sociologia Rural (VI, Porto Alegre, nov, 2002). ANAIS.

FLEISCHFRESSER, V. Modernização Tecnológica da Agricultura: contrastes regionais e diferenciação social no Paraná da década de 70. Curitiba: Livraria do Chaim: CONCITEC:IAPARDES, 1998.


Autor: Cynthia Moleta Cominesi


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