A Violência das Pegadinhas



O fenômeno social complexo da violência vai muito além do derramar de sangue. A violência entre humanos é polissêmica, pluricausal, ininterrupta e polifônica.

Um exemplo disso é a violência que subjazem as pegadinhas tão comuns nos programas televisivos dominicais. Nesse tipo de violência há três aspectos característicos: 1) a pressão midiática, 2) a violência simbólica e 3) a diminuição do auto-respeito da vítima.

O primeiro aspecto revela a pressão midiática que a televisão exerce sobre os telespectadores ávidos por se divertirem com o constrangimento dos outros.

A televisão se coloca como um quarto poder que impõe normas e regras aos indivíduos como se fossem legítimas. Ela violenta o telespectador com a sua própria imagem ridicularizada como se isso fizesse parte do show de espetacularização.

Os apresentadores são protótipos circenses caricaturizados de bem intencionados e amigos do povo brasileiro. Pois, na verdade, não passam de marionetes idiotizadas, conduzidas mercadologicamente e a serviço de uma determinada ideologia inescrupulosa.

O segundo aspecto se refere à violência simbólica que permeia as pegadinhas. Por trás de uma simples “brincadeirinha de ridicularizar gente humana”, há uma perversa violação do direito de preservação da própria imagem e uma invasão da privacidade. Além disso, há uma manipulação, proposital, de emoções, onde transformam “normalmente”, o choro em riso e uma exposição vexatória que não permite à vítima qualquer defesa em seu favor.

Essa violência simbólica passa despercebida pela vítima, pois a exposição estressante do físico e do mental, o que lhe impede de uma reflexão do ato. É tanto que, muitas das vítimas são convencidas a autorizarem a publicização da sua imagem em situação vexatória.

Nesse sentido, por não saber o que se passa, a vítima das pegadinhas se deixa ridicularizar. A violação psicológica a que é submetida à vítima é tamanha que sequer ela dar conta de si própria. Essa violência é simbólica por utilizar-se do poder midiático que a televisão construiu.

O terceiro aspecto é ainda mais perverso com o telespectador, pois causa neste uma diminuição progressiva do seu auto-respeito.

Quando a vítima das pegadinhas é submetida a um constrangimento emocional, físico ou psicológico, sente-se de alguma forma incapaz de reagir contra tal agressão e aceita a ridicularização “numa boa” como se isso fosse uma autopunição ao estado infeliz em que se encontra.

Para, além disso, ela é levada a acreditar, ingenuamente, que “tudo é apenas uma simples brincadeirinha e nada mais”. E, o que é pior, ela chega (ou é levada?) a acreditar que tal exposição vexatória vai torná-la famosa e, de alguma forma, lhe trará algum lucro para si.

A violência das pegadinhas é perversa, pois mesmo não causando sangramento ou hematomas visíveis, destrói inapelavelmente a auto-estima de suas vítimas pelo método nefasto da ridicularização de quem é pego de surpresa nas ruas das cidades.
Autor: Arnaldo Eugênio


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