O Cangaceiro



FICHA TÉCNICA: O CANGACEIRO. Direção: Aníbal Massaini Neto. Produção: Aníbal Massaini Neto. Brasil. Columbia_Pictures, 1997, 1 VHS.

O CANGACEIRO

O filme o Cangaceiro refilmado em 1997, acontece no cenário da caatinga nordestina, terra sem lei, onde o ex ajudante de cangaceiro o senhor Tico, relembra alguns acontecimentos da história do Brasil nordestino em que um grupo de cangaceiros, liderado pelo Capitão Galdino invade e saqueia cidades no sertão do nordeste, provocando violentos embates entre a PM e os cangaceiros. Nesse clima se constroi uma história de amor e traição em que a Maria Bonita, mulher de Galdino, ama o romantico Teodoro, uma das figuras principais do grupo de cangaceiros liderados por Galdino. Nesse contexto desenvolve-se uma emocionante perseguição aos cangaceiros pelas volantes policiais as quais têem o objetivo de livrar do sequestro a filha de um importante deputado do Brasil, a moça Olívia.

HISTORICIZAÇÃO

O Filme O Cangaceiro, aborda a situação dos brasileiros que viviam na caatinga nordestina, terra está controlada por políticos, coronéis, padres e cangaceiros. Nesta obra são visíveis as políticas do coronelismo local, onde o coronel detinha poder econômico, político e social em regiões em que o Estado não chegava. Figura muito comum durante o Brasil Império e os primeiros anos da República.

Logo este representante do Estado exercia e representava os interesses dele mesmo e da Federação. No filme podemos facilmente perceber a estreita relação que existia entre os coronéis e os cangaceiros, quando os cangaceiros iam buscar mantimentos e armamentos na fazenda do coronel. Dessa forma o coronel utilizava o serviço dos cangaceiros para neutralizar um coronel rival e sua parentela. Nesse sentido Faoro descreve que o cangaço era utilizado como instrumento político as aspirações de conquistas intermunicipais, que dificilmente o governador realizava por está ausente ou distante das regiões interioranas do país. Assim o cangaço pode ser visto como um braço armado do fenômeno coronelístico.

No filme há certa dificuldade do Estado controlar o avanço dos cangaceiros, pois os coronéis regionais embolsavam verbas destinadas à manutenção das polícias e as utilizavam para fins variados, menos segurança. Assim percebemos que estas práticas continuaram após o Brasil Republica, sendo ainda de conhecimento de todos.

Sendo assim a figura do coronel foi primeiramente determinada pela nomeação que se recaia à pessoa qualificada, ou seja, detentora de riqueza, de grandes latifúndios, engenho atrelado ao poder econômico para desenvolver práticas políticas -sociais.

Sua autoridade é imposta ou conquistada por meio de ações que desenvolvem relações de apadrinhamentos, fenômeno este que acontecia como uma relação de parentesco, onde se criava uma forte tradição de fidelidade, de honra entre o coronel e o pobre cidadão mal alfabetizado. Pois, o coronel ao participar da família "pobre" determinava muitas vezes, quem casa com quem, resolvendo conflitos locais equiparando-se a um juiz, e muitas das vezes sendo o segundo pai do filho do pobre, promovendo festas e ajudando economicamente os pobres, utilizando recursos próprios ou não, logo propiciando um ambiente familiar de confiança e respeito entre as classes menos favorecidas

Neste sentido a figura do coronel engrandeceu, pois eram considerados homens de palavra, de grande prestígio e honra pessoal que influenciava não só a classe pobre, bem como os diferentes grupos sociais, comerciantes, profissionais liberais dentre outros, dentre suas muitas finalidades podemos destacar a principal: a busca de votos para garantir a eleição dos candidatos que apoiava, muitas vezes utilizando-se de violência ou mascarando os conflitos sociais para que o eleitor votasse nos seus candidatos.

Neste filme e nos textos estudados os padres também desempenham um papel de conciliador, criando um elo de ligação entre os ricos e os pobres, pois além de mascará a situação social e econômica os padres eram fundamentais para os ricos na busca do poder político. Assim como mostra no filme acontecia dos padres envolverem-se em questões políticas que geravam graves conflitos armados e morte de inocentes. Neste sentido instauraram-se movimentos messiânicos, de "salvação", liderados por padres e pessoas desconhecidas.

O cenário que envolvia e promovia o coronelismo era o do mundo rural brasileiro, dominado pelo latifúndio, o engenho, a fazenda e a estância. Um universo próprio, interiorano, bem afastado das grandes cidades, isolado do mundo. As comunicações eram raras e difíceis, feitas por canoa, barco, balsa, carro de boi, charrete, ou na sela do cavalo, puxando os arreios da mula. Na verdade, o coronel, representava a personificação mais acabada do poder privado no Brasil, mandava num pequeno "país" do qual ele era um imperador com poder de vida e morte sobre a sua parentela. Os moradores eram-lhe inteiramente obedientes poucos ousando desafiar-lhe a autoridade ou disputar-lhe o mando, a não ser que por perto um outro coronel o desafiasse. Praticamente ninguém ao redor dele era instruído, sendo comum entre os considerados alfabetizados apenas saberem desenhar o nome no papel, o suficiente para que se tornassem eleitores fiéis dos candidatos propostos pelo coronel.

Estudos posteriores sobre o coronelismo, mostraram, entretanto que ele não se compunha apenas por proprietários de terras, havendo igualmente coronéis com outra posição social, tais como o coronel-comerciante, o coronel-industrial (o conhecido Delmiro Gouveia, de Alagoas), o coronel-padre (como o padre Cícero no Ceará, o mais famoso líder do catolicismo popular e ídolo dos sertanejos).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a estrutura do coronelismo criou uma representação de poder local onde este coronel era visto como um pai, juiz dentre outras figuras de imposição ou formação de opinião. Dessa forma a autoridade imperial ou republicana conseguia controlar as regiões brasileiras, utilizando-se da influência e controle dos coronéis em sua região.

Sendo assim criou-se no imaginário e no cotidiano do povo pobre, esse forte representante político que transbordava autoridade em suas zonas de influência, controlando cargos públicos decidindo quem vai ou não ter o mínimo de assistência ou dignidade.

Sendo assim é possível compreender porque o coronel é consequentemente admirado, onde recebia o respeito e a fidelidade das classes mais pobres, classes estas que concordamos quando alguns historiadores defendem que quando esse povo pobre concedia seus votos ao político indicado pelo coronel, exercia de certa forma um voto consciente, pois recebia algo em troca que naquele momento supria suas necessidades. Dessa forma podemos identificar uma saída emergencial para os pobres que tinham várias necessidades, só atendidas pelo coronel que representava para ele o Estado. Assim podemos identificar estas práticas ao longo da história brasileira e mundial onde na maioria das vezes pessoas pobres ou miseráveis são levadas a trocarem seus votos como uma saída para a sobrevivência, bem como inclusão social. Tais práticas são permanentes em nossa cidade "Brasília", onde políticos criminosos ou não, se elegem com votos conquistados por meio de trocas de favores, como: uma marcação de consulta, cirurgia ou troca de alimentos, lotes por votos de cidadãos conscientes que utilizam-se de mecanismo de escapatória da fome, do desemprego e da violência. Contudo acreditamos que hoje ocorra um neocoronelismo, onde como nos séculos anteriores a classe pobre via-se praticamente envolvida pela figura do mando local "coronel" utilizando-se assim o voto como instrumento de fidelidade, admiração e barganha, logo idealizavam o coronel como um pai, um refugio a suas principais necessidades sócias, econômicas e políticas.


Autor: EDUARDO SANTOS


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