Os Grupos Populares na Filmografia de Brasília



José Walter Nunes retrata a importância dos meios audiovisuais, principalmente o da imagem em movimento, que faz com que os historiadores busquem novas maneiras de reconstruir a história, saindo de um modelo positivista o qual só da ênfase aos grandes feitos e a grandes historias. Com a nova abordagem da imagem em movimento faz-se ampliar as discurssões sobre os aspectos sociais, políticos e culturais, mas não é uma tarefa fácil visto que nossa tradição prioriza a linguagem escrita. Deve-se destacar também que a imagem em movimento não é uma realidade em si, pois a imagem configura-se uma representação do mundo.

Quanto à metodologia, sabe-se que não existe um modelo universal aceito nessa área, dessa forma fica complicado uma abordagem da história por meio da imagem. Essa metodologia busca a interação entre a historia e a linguagem visual, analisando significativas produções filmografias e videográficas, realizadas em torno da temática de Brasília.

É visível na obra o enquadramento das pessoas dando a elas importância, na história, é interessante a sonoplastia utilizada, os entrevistados mostram fotos importantes da construção.

Como primeiro passo é analisada a linguagem visual como fonte documental para compreender o passado e em seguida a mesma é analisada, como instrumento de pesquisa, como criação e expressão do conhecimento histórico. Examina-se também o papel atribuído aos personagens comuns na história da cidade, interpretando a partir de abordagens verbais, imagéticas, musicais e de comparação entre peças fílmicas, analisando as semelhanças e diferenças que foram detectadas a partir de observação e indagação acerca do tratamento dado aos personagens filmados, exemplificando como da construção, dos enquadramentos, ângulos, planos, dos diálogos ou depoimentos do narrador em off, e do contexto social e político onde o filme acontece.

Esta obra traz entrevistas que registra a importância da Vila Planalto como também suas tradições, fazendo assim com que a história se perpetue. Demonstra ainda pessoas emocionadas por estarem participando ativamente da construção do documentário e por fim retrata o povo amigo que ama a natureza.

O objeto do documentário é mostrar qual era o olhar que a filmografia de Brasília tinha para com os operários, como construíram Brasília em cima de imagens dos operários e assim trazer a importância dessa fonte imagética.

Walter tenta identificar fragmentos de um Patrimônio Histórico Cultural articulado com o cotidiano dessas pessoas e desses grupos anônimos. As produções jornalísticas só focavam a construção de Brasília. Mesmo as filmagens sendo direcionadas para somente relatar a história dos personagens do Estado e de pessoas importantes, é possível perceber alguns detalhes dos trabalhadores comuns de relance, sendo então um dos pontos principais que Walter analisa. É percebida ainda a ocultação de imagens que demonstrem detalhes de movimentos dos trabalhadores na tentativa que não se veja o cansaço físico gerado pelo trabalho pesado e difícil, ao trabalhador só resta se mostrado como pano de fundo, ou seja, só participam da filmagem como paisagem da construção, e quase nunca a filmagem da um close no trabalhador. O trabalhador só era captado pela filmagem quando assim o fosse conveniente, neste caso em situações em que o estado precisava mostrar o bom relacionamento com os trabalhadores. Geralmente os filmes não apresentavam o áudio ambiente, pois retiravam o e colocavam a voz do narrador a qual sempre orientava a percepção de quem assistia ao filme, utilizavam musicas graves de ritmo acelerado, ora lento e marcial, pois acompanhavam os movimentos das máquinas em funcionamento, isso era uma tentativa de mostrar um constante progresso e empenho por parte do governo.

Após a construção de Brasília os registros audiovisuais do período de 1960 – 1990 mostram o trabalhador como um problema a ser enfrentado pelo governo, visto que estes vivem em invasões e causam problemas sociais. O governo não focaliza mais o trabalhador para que não seja obrigado a reconhecer qualquer tipo de direito dos mesmos em relação à construção de Brasília.

DOCUMENTÁRIO: CADÊ BRASÍLIA QUE CONSTRUIMOS

O Historiador Walter Nunes procura localizar pessoas comuns que participaram da construção de Brasília, focalizando elementos do cotidiano dos entrevistados e para isso ele faz uma abordagem descontraída diretamente no ambiente em que vivem os entrevistados, focalizando assim suas residências, a cidade, suas origens e costumes.

Com isso percebe-se que ele tenta mostrar a cultura deste povo, por meio da história de sofrimento e perseverança que tais candangos vindos de varias localidade do Brasil, sendo a maioria do Nordeste, presenciaram ao construir Brasília. Em sua obra é visível a musicalidade utilizada de forma que agradam aos ouvidos, os trabalhadores da construção contam histórias interessantes e desconhecidas de Brasília, da construção da Vila Planalto e dos locais próximos a ela.

Nesta obra é retratado um acontecimento do massacre da Pacheco Fernandez por parte da GEBE, a muitas pessoas que estavam no alojamento da empresa se preparando para dormir quando os policiais entraram atirando no alojamento, sendo que a causa aparente seria uma reivindicação na hora do almoço. Um morador fala do despreparo da GEBE e como eles eram selecionados. Quanto aos trabalhos informaram que era pesado sendo que às vezes, era proibido a eles sair da obra no horário de término do serviço, visto que tinham que dobrar o horário de serviço e muitas vezes utilizavam remédios para ficarem acordados, com isso ocorriam acidentes e mortes freqüentemente. Os moradores se queixam da falta de reconhecimento por parte do governo.

Sobre a Ditadura Militar, deixam claro que era necessário andar de boca fechada para não sofrerem nenhum tipo de repressão. E quanto à política os moradores da Vila não tinham força, pois não tinham muitos eleitores.

REFLEXÃO INTERPRETATIVA DO TEXTO E DO FILME

O documentário o qual participa Walter Nunes traduz sua obra na metodologia utilizada, pois percebemos e constatamos como as pessoas comuns participaram da filmografia da construção de Brasília, dessa forma e trabalhado a imagem e a história oral. É feito um verdadeiro trabalho de investigação para se identificar onde elas estavam o que faziam como faziam e o que falavam, com a finalidade de se aproximar de experiências, situações, lugares, memórias, artefatos e histórias que sinalizassem caminhos a serem percorridos. O autor faz uma análise às imagens de documentários e propagandas da época da construção de Brasília, com o objetivo de entender o cotidiano do cidadão comum e desmistificar a história positivista que nos é apresentada e assim tenta mostrar realidades ocultadas e não interessantes ao governo. Com isso Walter utiliza os próprios documentos e filmes do Estado, explorando-os com a finalidade de descobrir evidências que ficaram encobertas, cruzado-os com depoimentos de trabalhadores da época e moradores das localidades próximas ao Plano Piloto, como a Vila Planalto.

Dessa forma por meio dos populares tenta-se conhece a diversidade e pluralidade de concepções sobre Brasília, as quais trazem muitas ambigüidades, contradições e explicações sobre a Capital. É percebido a importância e novo foco da história, pois é contada com base na história vista de baixo. Seu documentário demonstra que a maior parte dos candangos não teve reconhecimento e já nos filmes produzidos pelo governo na época da construção de Brasília o trabalhador é colocado em cena como pano de fundo e apesar disso o governo alega ter algum tipo de reconhecimento ou comprometimento com os mesmos, por estarem participando da construção e conseqüentemente da história de Brasília.

O documentário nos desperta o interesse em investigar essa história, pois retrata acontecimentos tristes e alegres, que não podem ser esquecidos, pois fazem parte da nossa história e mesmo sendo bonita ou covarde tem que ser contada com compromisso e seriedade, sem qualquer tentativa de maquiar ou manipular o passado desta cidade.


Autor: EDUARDO SANTOS


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