Um Olhar Sobre O Novo Profissional De Ensino De Língua Estrangeira Em Formação



Os professores de língua espanhola, transformadores, ou que assumem seu papel como partícipes do processo de construção e significação desta segunda língua neste nosso momento educacional de transição ideológica ensinam seus alunos a explorarem seu mundo interior ao mesmo tempo em que estes assimilam novos conceitos lingüísticos, marca das novas metodologias de ensino de língua estrangeira de nosso século que nos fazem refletir se é possível instaurar na Educação os Parâmetros Nacionais propostos para nossa práxis como modelos de metodologia. Estes professores dos quais falamos passam a saber que trabalhar com a emoção é quão ou mais complexo do que trabalhar de forma puramente tradicional e normativa a língua estrangeira, estimulam seus alunos a pensar antes de agirem e se apossarem do novo signo lingüístico, não tendo medo do medo, de serem líderes de si mesmos, autores de suas histórias, conhecedores de sua cultura e a de outros grupos sociais, os professores transformadores dos quais falamos sabem filtrar estímulos estressantes e aprendem a trabalhar não somente a gramática pragmatista estrangeira e as regras da mesma, mas problemas concretos e lógicos dentro do código da língua espanhola, também as contradições das vidas de seus alunos, estas que não deixam de existir quando estes adentram no aprofundamento da cultura hispânica. Aí chegamos a uma pergunta: Seria isso possível devido a falta de preparo no ensino universitário destes novos atores intelectuais?

Quando nós, profissionais de ensino e aprendizagem de língua espanhola, assumirmos este papel de mediadores e transformadores dos discentes com a língua e aprendermos a contextualizá-la com os problemas e vivências dos nossos alunos estaremos extraindo dos pequenos estímulos de suas existências o que eles têm de melhor, dando aos mesmos a coragem necessária para com liberdade aventurarem-se a territórios desconhecidos como os que os são os da língua que estão desvelando.

O professor reconhecendo o aluno como sujeito no processo interacionista torna clara a interação entre a língua e a vida. Freire (1992) salientava que os instrumentos fundamentais para o ensinar são o ver, o escutar, o falar e o agir. Assim como para estar vivo, não basta somente a pulsação do coração, para ver, não basta somente ter olhos e os ter abertos. É mister observar o outro e a si próprio, o que significa estar atento à busca, à compreensão de significados do desejo do outro, a fim de que a sintonia possa ser construída. Olhar autoritário é olhar, segundo Freire, que não vê o outro, que não leva em conta a hipótese do outro. Esse olhar é incorporado pelo educador que tão somente dá o conhecimento e não lê significados, não observa, não busca a sintonia com o outro. Assim reflitamos no papel do educador na construção do desenvolvimento, da autonomia dos seus alunos, esta segundo Pérez (1993) é alcançada na medida em que tanto o que o indivíduo pensa como o que faz é decidido por ele mesmo. Quando os PCNs (1998) falam que o distanciamento proporcionado pelo envolvimento do aluno no uso de uma língua diferente o ajuda a aumentar sua autopercepção como ser humano e cidadão não podemos deixar de frisar que quase todas as atividades lúdicas onde o professor interage com o aluno através da música, de jogos, dinâmicas, etc... no ensino da língua ajuda a melhorar a sensibilidade dos alunos, ajuda a construir sua autonomia, a capacidade de concentração e a memória, trazendo benefícios ao processo de ensino aprendizagem mas igualmente reconhecemos que para isso o professor precisa ousar, afastar seus medos do inusitado e ter mais tempo para preparar suas aulas, de forma mais instigante e motivadora, exercício nefasto quando exercido sob pressão ou olhar autoritário dos colegas, outras barreiras a afastar com a retro-alimentação que precisa nos mover a sermos cada vez mais intelectuais, pesquisadores, especialistas em nossa área, partícipes das trocas com os mais experientes. Estas atividades estimulam áreas do cérebro não desenvolvidas por outras linguagens e através do desafio da criatividade impõem aos alunos uma nova visão do ensino e de si mesmos. Concordamos com Dias (2003) quando esta fala que enquanto o aprender for desmembrado do prazer, enquanto estudar ainda for um dever e não brincadeira construtiva sempre vai ter matéria chata para os educandos do ensino fundamental. E por que não para nós, professores de língua estrangeira?

Ao entender o outro, segundo os PCNs (1998) e sua alteridade, pela aprendizagem de uma língua estrangeira, ele aprende mais sobre si mesmo e sobre um mundo plural marcado por valores culturais diferentes e maneiras diversas de organização política e social.

Um dos grandes desafios deste século para nós docentes segundo Mayor (1998) será formar cidadãos do mundo de amanhã, cidadãos críticos, autônomos, polivalentes, criativos, capazes de enfrentar os múltiplos desafios que este século não deixará de lhes lançar. O que ocorre é que infelizmente não fomos preparados e nem preparamos nossos alunos para a vida, com suas frustrações e desafios. O que percebemos é que sem a educação da emoção dentro do ensino da língua espanhola, que é intrínseca ao lúdico, ao prazer aliado à aprendizagem, estamos formando alunos insensíveis ou sensíveis em demasia. Os discentes que têm aulas puramente tradicionais de língua estrangeira não conhecem o porquê de aprenderem uma outra cultura, outra língua, são alienados, quando muito, desinteressados, sem metas, desejo de aprofundar seus saberes, tornando-se conformistas e acabando por nunca utilizando o que aprenderam, não se conhecendo nem aprendendo a conhecer outra cultura. As escolas, principalmente, as públicas, não estão conseguindo educar a emoção, educar para a cidadania antes de ensinar uma nova língua à sua clientela, menos ainda despertando o interesse destes estudantes de avançarem em seus estudos de língua estrangeira. Assim, podemos afirmar como Rogers (1978) que melhorando o nosso relacionamento com os alunos, melhoramos o nosso ensino, melhoramos a aprendizagem. Os nossos alunos segundo Rogers estão ávidos deste tipo de comunicação: eles querem, antes de tudo, serem vistos.

Precisamos formar jovens que tenham uma emoção rica, um gosto pela aprendizagem da língua espanhola, este conhecimento da língua integrado à emoção, sem esta emoção, pouco acrescentará na vida dos discentes o lúdico, a música, os jogos, o fazer junto na construção do saber da língua espanhola. Propomos através deste artigo ressaltar que os professores transformadores de língua espanhola analisem, discutam e reavaliem esta proposta e suas próprias metas de trabalho, para que estas sejam, se não reformuladas, ao menos melhor adequadas às melhorias do ensino brasileiro, tão propagadas em nosso país e pouco praticadas nos impondo ideologicamente uma confusão a cerca do que é cabível em âmbito educacional.

Referências

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Secretaria de educação fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

DIAS, Rejane. O bom aprendizado segue um método que reflete o cotidiano. Ed. 2, 3 e 4. Jornal do Comércio. Porto Alegre, 2003.

FREIRE, Madalena. A paixão de aprender e a paixão de ensinar. In: Caderno Pedagógico. Frederico  Westphalen: Pluma, 1992.

GIROUX, Henry A. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem/Henry A. Giroux; trad. Daniel Bueno. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

MAYOR, Frederico. Discours d´ouverture de la confírence mondiale sur L´ Enseihnement Supérieur. Paris: Unesco, 1998.

PÉREZ, Aquilino Sánchez. Hacia un método integral en la enseñanza de idiomas. Madrid: Sgel, 1993.

ROGERS, Carl. Teoria da personalidade: aprendizagem centrada no aluno. 4 ed. Santo Antônio: Porto Alegre, 1978.

Autora: Professora Luana Porto Marafiga


Autor: Luana Marafiga


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