Educação e Sociedade: Educação Religiosa



A paróquia Nossa Senhora da Evangelização está no bairro Parque Brasília, na periferia da cidade de Campinas. Sua comunidade inicial começou a formar-se por volta dos anos 1960. No início da comunidade, contava-se com a presença das irmãs Filhas de Jesus (as mesmas do Colégio Imaculada de Campinas) que desempenhavam um trabalho de assistência. Com o passar dos anos, foi-se construindo uma comunidade religiosa naquele lugar e, em 1999, foi criada a paróquia, tendo como primeiro pároco (e responsável) o padre José Antonio Trasferetti.

No ano de 2003, as irmãs deixaram a comunidade, deixando que esta pudesse caminhar com suas próprias experiências. Hoje, a paróquia divide-se em quatro comunidades: a comunidade matriz, Nossa Senhora da Evangelização, no Parque Brasília; a comunidade Imaculada Conceição, no Jardim Conceição; a comunidade Sagrada Família, na Vila 31 de Março; e a comunidade Sagrado Coração de Jesus, no Parque Imperador.

Toda a paróquia está inserida em uma região boa e diversificada. Apresenta uma população que vai desde a classe média-baixa até a classe alta, o que se verifica nos diversos condomínios fechados no entorno do território paroquial. Há grandes áreas de pobreza, o que contrasta com os condomínios fechados e com os shoppings centers (na região estão o Iguatemi e o Galleria). A paróquia tem saída para a rodovia Dom Pedro, o que também coloca a região em um local bastante movimentado por veículos.

José Antonio Trasferetti é padre há 25 anos. Assumiu a paróquia Nossa Senhora da Evangelização em 1999, com sua criação. Estudou filosofia e teologia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas e desde cedo sempre foi um jovem engajado nas pastorais sociais da Arquidiocese. Doutorou-se em filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana e em teologia moral pela Pontifícia Universidade Lateranense. Atualmente, além de desenvolver a função de pároco, Trasferetti é diretor e professor titular da faculdade de filosofia e professor da faculdade de teologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Trasferetti é um padre que trabalha muito dentro da área da moral e da ética. Isso se reflete nas relações com a própria comunidade e, porventura, com a própria catequese que, além das diretrizes da CNBB e da Arquidiocese, seguem também as orientações de seu pároco quanto às questões de moral. Para este assunto, as comunidades que compõem a paróquia dão, sem dúvida, muito materiais.

A Organização pastoral

Há diversas atividades na paróquia que desenvolvem um caráter educativo das pessoas que ali freqüentam. Duas delas, as que mais pudemos acompanhar de perto, são a catequese e o ministério dos coroinhas.

As catequistas da paróquia exercem verdadeiro trabalho educacional na instituição. Formado por voluntárias, o grupo das catequistas divide-se em dois grandes grupos: as catequistas de comunhão, cujos encontros se dão aos sábados a partir das 16 horas; e as catequistas da perseverança (que preparam seus catequizandos para a o sacramento do Crisma – Confirmação). Para tanto, estão sempre procurando atualizações, reciclagens, e etc. para poderem responder melhor a este serviço voluntário que desempenham.

Dentro da linguagem eclesial, as catequistas não devem ser confundidas com professoras. Apesar de seu trabalho assemelhar-se bastante com o trabalho delas, as catequistas vão um pouco além. Seu trabalho, além da propagação da fé cristã-católica deve estar voltada para uma permanente formação humana das crianças (e até mesmo adultos em muitos casos) a elas confiadas.

A grande dificuldade que se encontra nesse trabalho é similar ao encontrado nas escolas da rede pública de ensino. A maioria das crianças que freqüentam a catequese vem de famílias com estrutura complicada. Isso reflete bastante no trabalho das catequistas. Há crianças que estão ali por força dos pais, que, por vezes, fazem chantagem emocional: "se você não for na catequese e não fizer a primeira comunhão, não pago o jiu-jitsu pra você ano que vem". Resultado de tais atos são crianças totalmente sem vontade de se envolver, que acabam se revoltando e causando problemas, enfim.

Conversando com as catequistas, e mesmo com o pároco, tentou-se fazer um levantamento do material utilizado pelas catequistas. As orientações gerais partem da comissão de catequese da Arquidiocese de Campinas, mas, em relação ao material, há uma liberdade para que as catequistas trabalhem com o material que mais lhe aprouver. Segundo uma das catequistas, o material utilizado há 10 anos atrás era ruim e, muitas vezes, não correspondia à realidade que elas enfrentavam ali na paróquia. Desde então, optaram por trabalhar com um material próprio, que não foge das diretrizes e orientações arquidiocesanas nem da realidade ali presente.

Por terem um pároco doutor em moral, a comunidade e, também, a catequese apresentam um trabalho com a fé bem estruturado e solidificado na moral e na ética. O que muitas vezes, conforme as catequistas, torna-se um trabalho ardoroso e difícil. Mas, em contrapartida a tudo isso, vem o amor que elas sentem por cada um dos catequizandos e por aquilo que fazem, dedicando muitas horas de suas vidas para tal empenho.

Ministério dos Coroinhas

O ministério dos coroinhas é formado por crianças e adolescentes que ajudam o padre, nos momentos de missa, a arrumar o altar. É um serviço que também exige certa dedicação por parte desses jovens. Para tanto, eles também precisam ser formados para poder ajudar dignamente nas missas.

Os encontros dos coroinhas, supervisionado pela Shirlei, coordenadora e orientadora, divide-se em duas espécies. Um dos encontros é feito de forma teórica, com uso de apostilas que a Shirlei tem e outros livros sobre o tema. Em outros momentos, parte-se para a prática do serviço.

Conforme Shirlei, os coroinhas são preparados por um período de um ano. Entretanto, durante esse período de preparação, não estão excluídos do serviço, mas são colocados em trabalhos que são menos complicados. Com o passar de um ano, o coroinha, considerado apto, é investido no serviço de ajuda ao altar. Daí ele pode desempenhar outras funções mais complicadas, já que teve tempo e diversas aulas práticas para poder se acostumar.

Observando as aulas práticas, nota-se o carinho e a atenção, além da recepção calorosa, da coordenadora para com os coroinhas. Faz uma chamada dos presentes e sente a falta dos que não estão. Nota-se, nas aulas, a presença de algumas mães que vêm junto com os filhos, ficam observando até irem embora. Retoma-se a escala anterior de funções e monta-se a da próxima missa.

As aulas práticas consistem no ensinamento das funções de cada coroinha. Faz-se um ensaio das partes da missa e sempre se fala da postura durante esta, da responsabilidade e da seriedade. As partes da missa são explicadas pela coordenadora e alguns assistentes (coroinhas mais velhos que auxiliam a coordenadora).

Por mais que se imagine um ambiente religioso, há, também nele como em todos, alguma teoria educacional. Para os agentes que desempenham papel de educador dentro da comunidade, tais teorias passam despercebidas. Isso se deve ao fato delas não conhecerem essas teorias, mas as colocam em prática inconscientemente.

Analisando a realidade presente, é possível de se fazer algumas ilações com algumas das oficinas realizadas em sala. A grande maioria dos que freqüentam a paróquia é de pessoas afro descendentes. Portanto, há um respeito e uma acolhida muito grande não só às pessoas dessa etnia, mas das demais.

A inclusão às pessoas com deficiência também é fator relevante na comunidade. Há acessos para pessoas que precisam de cadeiras de rodas e, dentro da igreja, locais que favorecem pessoas com esse tipo de deficiência. A comunidade parece muito bem adaptada e acostumada com esse tipo de realidade, a ponto de a acolhida a todos, indistintamente, ser algo natural e constante. Cada vez que se chega na comunidade dá-se a impressão que é a primeira vez que se está chegando.

Quanto ao gênero, o que se constata hoje nas igrejas é uma presença muito grande de mulheres. Elas estão em quase todos os seguimentos. São catequistas, são leitoras, são coroinhas, são ministras de eucaristia, etc. A inserção das mulheres na comunidade é feita de tal forma que, se elas faltarem, correr-se-á o risco de a comunidade perder em muito a sua eficiência e sua caminhada.

Entretanto, numa análise a respeito da teoria abordada em sala, a educação para com os agentes futuros da comunidade (as crianças) é respeitada em todos os seus diferentes níveis. Constatam-se diversos desafios e diversos problemas a serem enfrentados dentro da educação desses jovens. Mas, há que se considerar o carinho, o amor e a dedicação com que os responsáveis pela formação da juventude se colocam. Muitos deixam os momentos de estar em casa, com os filhos, marido, esposa, para se dedicar na educação dos filhos dos outros.

Aqui, recordaríamos a teoria dos quatro pilares em que se debruça Jacques Delors. Na comunidade, inconscientemente, prepara-se a juventude para aprenderem a aprender, despertando nelas o interesse pelas coisas, não só sagradas, mas para os problemas do dia-a-dia. Aprendem a fazer, colocando na prática aquilo que ouvem, vêem e sentem nos grupos. Ainda que muitos não mostrem colaboração, ou indiferença, há sempre os que acabam por colocar a vida em consonância com aquilo que ali aprendem. Aprendem a ser pessoas melhores, colocando-se frente à comunidade, aceitando-se como são, suas condições, sua dignidade e, mais que isso, que são capazes de buscar um algo melhor para suas vidas, não ficarem só no conformismo de sua realidade. E, por fim, acabam aprendendo a se respeitarem mutuamente, para, assim, transbordarem essa solidariedade para além do espaço geográfico de sua comunidade: escola, parques que freqüentam, clubes, trabalho, etc.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisar a realidade do Parque Brasília, em especial o movimento dentro da Paróquia Nossa Senhora da Evangelização, mostrou que, quando falamos de educação, ela transpõe as paredes da sala de aula de uma escola ou de uma universidade. A educação está em todos os âmbitos da vida humana. Ela se faz de extrema importância para a convivência do homem com seus concidadãos.

A disciplina de educação e sociedade deve analisar todas essas realidades. As realidades mais diversas do ser humano, que vive em sociedade, e empregar nela as regras básicas para a educação. Educação que se faz responsável por formar o cidadão e a cidadã, torná-los seres de relações intensas, justas e fortes frente uma sociedade hoje cada dia mais individual.

E mesmo para realidades distantes de centros, em que se nota uma carência muito grande de recursos que se encontram nos centros, nos grandes condomínios fechados (e caríssimos), o individualismo é muito forte. Ainda mais em se tratando de aspectos religiosos. A saber, o catolicismo, mais do que doutrinação, exige de seus fiéis uma comunhão com o outro, o serviço do outro, compromisso com a comunidade e com os demais participantes. Não nos cabe aqui julgar se isso é feito ou não, se tem eficácia ou não. Entretanto, a sociedade cada vez mais individualista demonstra que não é preciso ter vínculos religiosos, que basta só ir ao culto, apresentar seu dízimo e sua vida será abençoada de acordo com o que se doar ao templo. Não há compromisso maior com o outro, com a comunidade. É um relacionamento tão somente eu e Deus.

As famílias, cada vez mais, deixam de se falar, deixam de ser o que devem ser. A fragmentação da família auxilia ainda mais nessa problemática. E assim esse individualismo vai se arrastando para todas as relações humanas: família, comunidade, escola, trabalho, etc. O ser humano parece, cada vez mais, estar se dessocializando.

Muitas reflexões podem ser feitas sobre o tema. Muitas soluções podem ser apresentadas. E nelas todas sempre teremos a educação perpassando como base fundamental. A educação, por mais que o individualismo cresça, perderá sua função, pois é a única ferramenta que o homem tem para poder se socializar, se relacionar, se constituir como pessoa humana em plena dignidade.

Referências bibliográficas

CADERNOS DE PESQUISA, São Paulo: n. 119, p. 29-45, jul.2003.

CAIADO, K.R.M. O aluno deficiente visual na escola regular: lembranças e depoimentos. Campinas: Autores Associados, 2003.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 2. reimp. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.


Autor: Anderson Rodrigo Oliveira


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