O Verdadeiro Papel dos Mercados Financeiros na Economia - 2ª Parte



Outro fator importante que impacta no processo de transferência de recursos dos poupadores para os tomadores é a presença de informação assimétrica. A diferença de informação disponível entre as diferentes partes em um contrato financeiro, pode afetar sensivelmente a atividade econômica.

Geralmente os tomadores de empréstimos possuem vantagem informacional em relação aos emprestadores, pois conhecem melhor a qualidade de seus projetos de investimento. Nos mercados de títulos de dívidas (bônus) e de ações, os emprestadores têm dificuldade de diferenciar as boas oportunidades de investimento das más, o que acaba por elevar a taxa de juros média e infestar o mercado com oportunidades de investimento de baixa qualidade. Tais fenômenos afetam diretamente a gestão de risco de crédito das instituições financeiras.

A informação assimétrica entre os tomadores de recursos e emprestadores também pode resultar no problema de risco moral. Esta modalidade facilmente identificada no mercado de crédito e diz respeito ao conflito entre o Agente e o Principal (teoria da agência), onde os interesses de ambos não são necessariamente os mesmos e nem sempre o Principal consegue monitorar as atividades desenvolvidas pelo Agente.

Apesar de serem tratados como uma forma de solução para o problema da agência, os contratos de dívida também são passíveis do problema de risco moral, tendo em vista que um contrato exige que os tomadores de empréstimo paguem periodicamente uma quantia fixa, sendo que todo lucro acima deste valor pertence aos tomadores, estes têm um incentivo de se lançar em projetos de investimentos que são mais arriscados de que os emprestadores gostariam, pois caso o projeto obtenha sucesso, o maior beneficiado será o tomador, mas caso o contrário, o maior prejudicado será o emprestador.

Diante dos problemas de informação assimétrica, o sistema financeiro encontra diferentes formas pelas quais os Agentes procuram solucionar os problemas de seleção adversa e risco moral, que são:

GARANTIAS/PATRIMÔNIO LÍQUIDO: em geral os contratos de dívida contêm cláusulas onde o tomador do empréstimo coloca à disposição do credor garantias reais (colateral) caso não consiga devolver o valor do empréstimo. Este mecanismo diminui os prejuízos do credor perante a inadimplência e conseqüentemente ameniza os problemas criados pela seleção adversa. O risco reduzido incentivará que os credores expandam os empréstimos com garantias, pois são os bons tomadores de empréstimo aqueles mais dispostos a conceder as garantias reais em troca de uma menor taxa de juros.

O Patrimônio Líquido de uma empresa (Ativo – Passivo), pode ser considerado um colateral, pois quanto maior seu Patrimônio, menor será a probabilidade de que a empresa não disponha de recursos para saldar seus compromissos, tendo em vista que, mesmo que ela gere lucros negativos (prejuízos), as dívidas podem ser pagas pela venda de seus ativos. O colateral forte também incentiva os empresários a não se engajarem em projetos mais arriscados, isto é, reduz os problemas de risco moral, já que os empresários terão muito mais a perder caso não obtenham o sucesso esperado e não consigam meios de saldar suas dívidas com terceiros.

REGULAMENTAÇÃO DO GOVERNO: a presença de informação assimétrica no sistema financeiro justifica o surgimento de instituições públicas reguladoras como a SEC (Security Exchange Comission) nos EUA. O governo pode obrigar as empresas e instituições financeiras a divulgarem informações para o público diminuindo a assimetria informacional..

MONITORAMENTO/PRODUÇÃO PRIVADA DE INFORMAÇÃO: o monitoramento das ações dos empresários visa diminuir os problemas de risco moral. Contudo, devido à existência dos free-riders, este procedimento pode não ser viável pelos custos envolvidos vis-à-vis o retorno obtido, o que desmotiva os gastos no monitoramento ou mesmo a produção privada de informação que não terá escala comercial suficiente para cobrir os custos de produção. Assim, o monitoramento e produção privada de informação é uma solução parcial para os problemas de agência e de seleção adversa.

INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA: os intermediários financeiros além de propiciarem ganhos de escala e expertise nos investimentos para a população, conseguem produzir informação com baixo custo e ainda evitar o problema de free-rider.

Entre os intermediários financeiros, aqueles que mais se destacam são os bancos comerciais, principalmente pela capacidade de superar os problemas de seleção adversa e risco moral, com uma série de princípios de gestão de risco de crédito e produção de informação com menor custo, além de evitar o problema de free-rider.

O adequado funcionamento dos mercados financeiros e de suas instituições, tanto intermediárias de serviços, como Agentes reguladores do governo, garantem à economia a alocação ótima de recursos poupados para aqueles com a melhor oportunidade de investimento. Desta forma, conforme Rajan e Zingales (1996) afirmam, o desenvolvimento do sistema financeiro e suas instituições tem dois principais efeitos na economia: (i) reduzir o custo de transação da poupança e investimento, o que diminui o custo do capital na economia, (ii) reduzir os custos de financiamento externo por parte das empresas vis-à-vis o custo de investimento com recursos próprios, pois os mercados financeiros e instituições intermediárias reduzem o problema de informação assimétrica, reduzindo os riscos para os poupadores que exigirão menos retorno de seus recursos.

Bibliografia:

RAJAN, Raghuram G. e ZINGALES, Luigi. Financial Dependence and Growth. Cambridge: sep. 1996. (National Bureau of Economic Research Working paper n° 5758).

Por Alexsandro Rebello Bonatto em 03 de dezembro de 2008.

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Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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