A Poesia Social em Carlos Drummond de Andrade



1. O SURGIMENTO DA POESIA:

1.1- DOS GREGOS AO MODERNISMO BRASILEIRO

De acordo com Coutinho,

Como tanta coisa mais, recebemos dos gregos através do latim, a palavra poética. No sentido comum, predominante entre os modernos, a poética é a arte de compor obras poéticas, ou mais especificadamente, a obra ou tratado que reúne os princípios e regras da poesia quanto à forma e à essência. (COUTINHO, 1968, p.24).

Com essa afirmação, buscou-se a origem da palavra lírica que na acepção de Castro (1984), ela deriva do grego lyrikós, que significa algo que concerne à lira ou o som proveniente da lira.[1] A poesia lírica nasceu do fundo dos velhos hinos religiosos, assim como da tradição popular e nos principais atos da vida cotidiana da Grécia Antiga, tais como a cantiga de ninar, a adoração aos deuses, como o Himeneu entre outras manifestações que podiam ser tanto de forma coletiva como também isoladamente.

Sabe-se, contudo, que o estudo da Lírica não é estático, ou seja, desde os séculos VII e V a.C. a lírica tem sofrido transformações, tanto na forma como também no rítmico poético. Com isso, entende-se que houve mudanças no decorrer dos séculos, devido ao desenvolvimento das culturas dos países em que a Lírica era um fator cultural importante na expressão dos sentimentos dos poetas.

A evolução da Lírica tem sido nitidamente observada, na Europa, principalmente no começo do Renascimento (séc. XIV ao XVII), em que o termo "poema lírico" também foi aplicado aos versos que não eram cantados. Já o poema lírico cantado, inclusive o madrigal, pode ser encontrado em poesias da Era Elizabetana (século XVI) tais como, nos trabalhos dos músicos ingleses, como: Thomas Champion e John Dowland, canções que são facilmente encontradas nas peças teatrais do escritor inglês William Shakespeare. Nesse mesmo período, é importante lembrar que os poetas italianos, como Petrarca, desenvolveram o soneto, uma forma lírica que ficou popular para o tratamento de temas seculares e religiosos, que predominaram séculos depois com a vinda de novas tendências literárias, inclusive o Modernismo, que será explanado mais à frente.

No Brasil aLírica foi introduzida pelos jesuítas portugueses dentre eles destaca-se Pe. Manuel de Nóbrega, que chega por volta de 1549. Ele escreve a Portugal, noticiando sua chegada ao Brasil, com essa carta, é inaugurada a literatura de informação. No campo da poesia, predomina fidelidade às formas e à medida velha[2] .Escreviam-se poemas de caráter religioso, em versos fáceis de serem cantados em cerimônias da igreja, trata-se de uma poesia essencialmente ingênua, de conteúdo simples e direto. Após a "literatura de informação", dá-se início a outra "tendência" literária,o Barroco, que no século XVII, em toda a Europa, as teorias poéticas se libertaram da tradição medieval retórica e dos estudos puramente métricos, retomando contato com as teorias críticas e poéticas antigas, numa compreensão mais clara de que a poesia não se compõe somente de assunto e estilo ou forma, e sim dotada de uma estrutura intrínseca e de um movimento interno específico, já no Brasil, o Barroco recebeu impulso no século XVII mas consolidou-se principalmente a partir do século XVIII e o ciclo do ouro, apresentando forte influência ibérica e até holandesa, a "tendência "chegava ao Brasil um século atrasado em relação à Europa. O Nordeste brasileiro, o Rio de Janeiro e principalmente.

Minas Gerais foram os principais centros barrocos do país. Ainda no século XVIII, encontra-se uma forte tendência literária o Arcadismo que se diferencia propositadamente da barroca.

O Arcadismo surgiu no século XVIII e é conhecido também como Século das Luzes, graças as novas idéias de cientistas e filósofos desta época. Nesse período, a Europa passava por grandes perturbações, tal como a Revolução Industrial, que provavelmente influenciaria no campo da literatura. Tanto na Europa como no Brasil as características do Arcadismo são as mesmas: linguagem simples, presença mitológica entre outras. A tendência Árcade diferencia-se propositadamente da Barroca, por fugir dos artefatos barrocos, buscando uma linguagem mais simples, porém bela.

Outra tendência marcante no Brasil e na Europa é o Romantismo. No final do século XIX há um rompimento da tradição clássica abrindo caminho para a modernidade, tais mudanças, no campo literário, são devido ao público leitor, de origem burguesa que não mais aceitava os padrões clássicos que mandava em uma concepção estética de mundo. No Brasil, o Romantismo é marcado por um conteúdo nacionalista e de exaltação dos elementos nacionais que correspondem a um momento de luta pela emancipação política. O que difere a tendência Romântica da Barroca e do Arcadismo é a conquista pelo direito de expressão individual, influenciada por fatores sociais e culturais do século XVIII.

A segunda metade do século XIX caracterizou-se pela consolidação do poder da burguesia e o crescimento do proletariado. Se por um lado havia o progresso da tecnologia das cidades por outro havia o crescimento dos bairros pobres, inclusive favelas, onde residiam operários e suas famílias, por não ter mais seu emprego devido ao avanço tecnológico. É neste cenário que surge o Realismo-Naturalismo, cuja principal característica é desprezar a imaginação Romântica, já mencionada nos parágrafos anteriores, enfatizando os fatos da vida real da sociedade. É importante ressaltar que o Realismo-Naturalismo não teve importância na obra lírica, mas que foi de suma importância para a compreensão das tendências literárias que surgirão logo à frente.

Outra grande tendência no Brasil foi o Parnasianismo que, de acordo com Oliveira (1999), este nome derivou-se na Antiga Grécia, pelo Monte Parnaso, consagrado a Apolo, deus greco-romano da poesia e das artes. O Parnasianismo tem uma grande aproximação com as artes plásticas encarando o trabalho formal como matéria-prima. Dá-se prioridade aos sonetos,pela bela forma e dificuldade de produzir rimas e métricas perfeitas

. Enquanto o poeta parnasiano enaltece a beleza, há, porém outra tendência literária, o Simbolismo que exaltava a realidade dos fatos, contribuindo para novas manifestações artísticas, devido aos novos desenvolvimentos no setor científico do século XIX. O Simbolismo surgiu em 1885, um movimento artístico que manifesta o espírito decadente de fim de um século. Os artistas recuam ao culto do "eu" romântico, buscando camadas de um "eu" mais profundo, apoiando-se nas teorias Freudianas. Suas características mais importantes são: misticismo, musicalidade, como a aliteração e assonância, o hermeticismo, emprego de sinestesia, traços marcantes que são percebidos espontaneamente por qualquer leitor.

Para Castro (1984), o que se pode falar, hoje, é uma nova lírica de caráter marcadamente racional, cujo estilo se dá pelo amálgama entre a linguagem culta e a linguagem popular. A nova lírica também vem incorporando temas sociais ao lado de temas extraídos do cotidiano.

De acordo com Coutinho (1986), o Modernismo tem como característica unificadora o desejo de liberdade de criação e expressão, aliados aos ideais nacionalistas, visando, sobretudo, emancipar-se da dependência européia. Esse anseio de independência inclui: o vocabulário, a sintaxe, a escolha de temas e a maneira de ver o mundo. Ao rejeitarem os padrões estilísticos portugueses, seus criadores cobrem de humor, ironia e paródia as manifestações modernistas, passando a utilizar as expressões coloquiais, próximas do falar brasileiro, promovendo a valorização diferenciada do léxico. Para Coutinho (1986), o mais importante é a atualidade, por isso centra o fazer literário na expressão da vida cotidiana, descrita com palavras do dia-a-dia, afastando-se da literatura tradicional, consagrada ao padrão culto. Dessa forma, o autor afirma que manifestações desse ideal de nacionalização da literatura foram os movimentos "indianistas"[3] e os que o seguiram, "sertanismo[4]", "caboclismo[5]", literatura folclórica e outras formas de brasileirismo literário, que desaguaram na moderna literatura regionalista, em todos predomina a preocupação de encontrar o tipo e o tema brasileiros que melhor capitalizassem ou realizassem esse nacionalismo literário.

No Modernismo manifesta-se a civilização industrial, destacando: a máquina, a metrópole mecanizada, o cinema e tudo que está marcado pela velocidade, aspecto preponderante no modo de vida da nova sociedade. Ao comporem o perfil psicológico do homem moderno, expõem angústias e infantilidades como forma de demonstrar o caráter e a complexidade do ser humano, apoiando-se, para tanto, na psicanálise, no surrealismo e na antropologia. Sabe-se que didaticamente, o Modernismo vem sendo estudado através de três fases ou gerações de poetas, apresentando cada uma, aspectos especiais.

A primeira geração Modernista destaca-se, em 1922, com uma renovação literária, contando, em sua maioria, com os representantes da Semana de Arte Moderna estendendo-se até 1928, teve como aspecto principal a velocidade futurística. A harmonia rítmica é mantida próxima da prosa em obediência à alternância de sons e acentos, demonstrando que a poesia está na essência ou no contraste das palavras selecionadas. A opção pelo verso livre expressa a alteração da música contemporânea, produzida pelo impressionismo, pela desproporção da influência do Jazz e dodecafonia[6].

A partir de 1928, começa uma nova fase, didaticamente, a segunda geração Modernista, tendo como principal aspecto a desvalorização das conquistas da primeira fase, tais como: o verso livre, o poema piada, concentrando-se apenas nos valores sociais. Já em 1945, ou conhecida como a Geração de 45 tem como característica principal a disciplina poética, ou seja, concentram-se mais na estética, valorizando a métrica e ritmo. Coutinho (1986), afirma que no século XX inicia-se no Brasil uma fase com muitos fatos que vão moldando a nova fisionomia do país. Esse movimento modernista discutiu, em 1922, sobre as idéias e formas da arte brasileira. Até então, somente as obras acadêmicas eram valorizadas. Depois da Semana de Arte Moderna, em que participaram artistas como Anita Malfati, Di Cavalcanti, Jonh Graz, entre outros. Também foram valorizados os desenhos e formas mais abstratas. O Modernismo no Brasil foi uma ruptura, um abandono consciente de princípios e de técnicas, foi uma revolta contra a inteligência nacional. Para Coutinho,

Denomina-se Modernismo, em poesia, o movimento literário que se prolonga da Semana de Arte Moderna até o meado do século. Seu signo principal é o da liberdade de pesquisa estética, isto é, cada poeta não encontra regras prefixadas que seguir; tem de eleger as suas próprias. Há, todavia, nestes quarenta e cinco anos de evoluções, diretrizes mais ou menos perceptíveis para determinados períodos, de modo que se costuma dividir o Modernismo em três fases: a primeira fase que vai de 1922 até 1930. a segunda fase 1930 a 1945, terceira fase 1945. (COUTINHO, 1986 p.44)

É importante ressaltar que no século XX, São Paulo passava por bruscas mudanças, tais como: desenvolvimento nos setores de meios locomotivos, produção cafeeira, construções de arranha-céus, movimento operário anarquista, entre outros, que auxiliaram na formação de uma nova literatura. Paralelamente existem algumas transformações, que só ocorreram no Brasil, que muito influíram no campo lírico, tais como: o saneamento econômico de Campos Sales seguira-se o saneamento público de Oswaldo Cruz. Pereira Passos iniciara a urbanização. Promove-se a construção de portos, docas, edifícios. Instala-se a luz elétrica, a radiotegrafia. Realiza-se o adentramento do sertão por intermédio de ferrovias. Montam-se fábricas e usinas, desenvolve-se a agricultura, baseada, sobretudo, no café, no cacau e no açúcar.

A transformação social do mundo com a quebra gradativa dos grandes impérios, a prática européia de novas ideologias políticas, a rapidez dos transportes entre outras causas internacionais, bem como o desenvolvimento da consciência americana e nacional, os progressos internos da técnica e da educação, impunha a criação de um espírito novo e exigiam a reverificação e mesmo a remodelação da inteligência brasileira. O primitivismo paulistano expandiu-se por todo o Brasil, a ponto de Carlos Drummond de Andrade assinalar mais tarde que a poesia modernista foi, em grande parte, uma poesia de região, de município e até de povoado, que se atribuiu a missão de "redescobrir" o Brasil, considerando-o antes encoberto do que revelado pela tradição literária de cunho europeu. Mas esse excesso de Brasil corria o risco de degenerar simplesmente em excesso de pitoresco, de tal modo que o particular se substituía ao geral, na sofreguidão dos revolucionários, marcados ainda por uma tendência pulverizadora ao humorismo.

De acordo com Moriconi (2002), na literatura Moderna, há registro do cotidiano, valorizando os elementos diferenciados, tais como: a linguagem coloquial, a associação livre de idéias, uma aparente falta de lógica, a mescla de sentimentos contrastantes, revelando o subconsciente e o nacionalismo. Os poetas não se pautam mais por uma atitude programática, e sim pela possibilidade de criação em todas as direções, utilizando tanto o verso livre, o "poema-piada" e a poesia mais tradicional.

2. SOCIEDADE NA LITERATURA

Na acepção de Ricciardi (1971), para compreender uma obra de arte, um artista, ou até mesmo um grupo de artistas, é necessário conhecer exatamente o quadro geral do espírito e dos hábitos da época a que pertencem. Já, para Candido (2000), o fator social fornece apenas matéria para uma obra, como por exemplo: ambiente, costumes, traços grupais, idéias, entre outros, que servem de veículo para conduzir a corrente criadora.

É importante ressaltar que a sociologia tem como objetivo explicar os fatores sociais presentes em uma obra. Analisar o conteúdo social das mesmas, com base em motivos de ordem moral ou política, deixando explícito que a arte deve ter um conteúdo deste tipo, e que esta é a medida do seu valor. Lima (1983), afirma que a análise sociológica se volta para a área dos discursos e, dentro dela aponta para a da literatura, freqüentemente com o próprio ilustrar, exemplificar ou comprovar uma interpretação de caráter bem mais abrangente, ou seja, a interpretação de certa sociedade. Segundo o autor,

Enquanto a sociologia da literatura procura desentranhar as condições sociais que presidem o reconhecimento de um discurso como literário acentuando inclusive as condições que presidem o estabelecimento do próprio conceito de literatura, a análise sociológica do discurso literário procura estabelecer o que, dentro destas coordenadas, dá especificidade a esta modalidade de discurso (LIMA, 1983, p.108).

Conforme a explanação acima, entende-se que tanto a Sociologia da Literatura, assim como a Análise Sociológica do Discurso Literário, estuda as condições pelas quais se opera a transformação do fato literário em fato social.Já, a Análise Sociológica do Discurso Literário estuda as condições pelas quais se opera a transformação do fato literário em fato social, e se caracteriza pela abordagem das condições que mostram como o fato literário se organiza em instituição social.

De acordo com Candido (2000), dentre as modalidades mais comuns de estudos de tipo sociológico, em literatura, está a que procura verificar a medida em que as obras literárias espelham ou representam a sociedade, descrevendo seus vários aspectos. Consiste em estabelecer correlações entre os aspectos reais e os que aparecem nas obras. Conforme Tadié (1922).a sociedade existe antes da obra, pois o autor está condicionado por ela, refletindo-a, procurando transformá-la. Existe depois da obra, porque há uma sociologia de leituras, do público, que também, promove a literatura, dos estudos estatísticos à teoria de recepção exprimindo os valores dela em sua obra.

Para melhor compreender o aspecto da influência social na literatura é necessário aprofundar o estudo sobre sociologia da literatura, que é um ponto principal para o entendimento de uma determinada obra. É necessário lembrar e levar em consideração o papel fundamental que é o do leitor. Nesse sentido, dá-se a percepção que autor influencia-se pela sua sociedade para escrever sua obra, deixando-a mais real para que o público se identifique com ela.

3. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

3.1- A VIDA DO ESCRITOR MINEIRO

Carlos Drummond de Andrade nasceu em 31 de outubro de 1902, em Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, o nono filho do casal Carlos de Paula Andrade, fazendeiro e D. Julieta Augusta Drummond de Andrade. Em 1910 inicia seu curso primário no Grupo Escolar Dr. Carvalho Brito, em Belo Horizonte. Após seis anos, matricula-se no colégio Arnaldo da Congregação do Verbo Divino, em Belo Horizonte. Em 1920 muda-se com a família para Belo Horizonte, onde publica seus primeiros trabalhos na seção "Social" do Diário de Minas.

Em 1923 entra para a Escola de Odontologia e Farmácia, não exercendo a profissão depois de formado casa-se em 1925 com a senhorita Dolores Dutra de Moraes e com ela tem um casal, Carlos Flávio, que morre meia hora após o nascimento, por complicações respiratória e Maria Julieta., que se torna sua companheira e confidente ao longo de sua vida.

Carlos Drummond de Andrade foi poeta, auxiliar de redação, auxiliar de gabinete, redator de A Tribuna, Diretor-geral e membro da Comissão de Eficiência do Ministério da Educação, além de receber inúmeras homenagens. Drummond escreveu poesias, crônicas, contos, ensaios e foi traduzido em diversos idiomas. Carlos Drummond de Andrade morre de infarto em 31 de janeiro de 1987, aos 85 anos.

3.2- A OBRA LÍRICA DE DRUMMOND

Vivendo durante praticamente todo o século XX, esse mineiro de Itabira deixou uma das obras mais significativas da literatura brasileira. Influenciado de início pelos poetas paulistas Oswald e Mário de Andrade, que conhece em 1924, e por Manuel Bandeira, a quem, no mesmo ano, envia poemas seus, publica seu primeiro livro, "Alguma Poesia", em 1930. Esta primeira fase de sua obra é marcada por poemas irônicos, breves e coloquiais, como "Quadrilha", "Cota Zero", "Cidadezinha Qualquer" ou "No meio do caminho", em que a vinculação ao primeiro momento do modernismo brasileiro é patente.

Já em um segundo momento, em que se sobressai o livro A Rosa do Povo (1945), sua obra volta-se para uma poesia mais reflexiva e participante, de teor social acentuado, em que o poeta se revela profundamente marcado tanto pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quanto pela experiência da ditadura do Estado Novo (1937-1945) no Brasil.

Segundo Teles (1970), em Carlos Drummond de Andrade, o humor e a ironia funcionam como elementos poéticos e com a comicidade consegue muitas vezes outro grau de beleza, uma beleza às avessas, para dentro, que escapa quase sempre aos esquemas das poéticas tradicionais ou ilude e desconcerta nosso conhecimento de poesia. Drummond é um poeta popular, pois consegue manter um público fiel, por meio de uma linguagem cotidiana, acessível a todos os níveis de leitores. Sua obra exprime os dois pontos da problemática do homem no mundo Moderno, desde os conflitos individuais do ser até sua inserção conflituosa na sociedade. De um modo geral, a obra de Carlos Drummond de Andrade reflete a grande importância do autor, que sintetizou em suas diversas fases poéticas a postura do homem frente ao mundo moderno que se apresenta, gerando a cosmovisão de um sentimento do mundo. Carlos Drummond de Andrade, uma das figuras central do movimento Modernista, é conhecido de quase todos que tenham o mínimo de contato com literatura. Sabendo, portanto, que Drummond escreveu em verso e prosa.

Teles afirma que nos primeiros estudos sobre o Modernismo apontam a poesia de Carlos Drummond de Andrade como pertencente à segunda fase, não somente por seu livro ter aparecido somente em 1930 como também possuir características sociais, aspecto dominante nesta fase. Destaca-se na produção poética de Drummond obras como Alguma poesia, seu primeiro livro publicado em 1930 em que são encontrados os poemas "Poema de sete faces" e "Cota zero", sendo eles poemas de cunho social, que por uma visão drummoniana, o autor apresenta sua sociedade. Estes poemas serão analisados no sub-item que segue logo abaixo.

3.2.1 Alguma Poesia

A obra Alguma Poesia foi publicado em maio de 1930, mas contém poemas cuja composição remonta pelo menos 1924. Foi a primeira obra de Drummond, não tendo ênfase no primeiro momento de sua publicação, mas,sendo valorizada anos depois. Em linguagem simples e acessível, a obra apresenta todo o espírito revolucionário do modernismo aliado ao humor, à ironia e ao dom de surpreender que caracterizam um dos maiores poetas da língua portuguesa em seu primeiro livro.

Alguma Poesia contém uma mistura de temas como: infância, amor e poemas de caráter social, como "Cota zero", que será analisado em parágrafos abaixo. Tanto Alguma poesia como Brejo das almas são as primeiras obras de Carlos Drummond de Andrade rotuladas como obras irônicas.

De acordo com Gladson (1981), a obra Alguma poesia é um livro mais interessante do que geralmente se tem reconhecido. Na sua raiz há um niilismo filosófico que é ao mesmo tempo absoluto e subterrâneo, tanto que muitos leitores podem permanecer inconscientes dele. Ainda na visão de Gladson, a poesia drummoniana é uma poesia consciente da desarmonia, mas que vai em busca da harmonia possível.

2.3 Drummond, o poeta social.

Um poema que se destaca na obra Alguma poesia é "Cota zero". Nesse haikai, o autor faz uma crítica sobre a tecnologia paulistana do século XX, com suas fábricas e máquinas cujas substituíram os trabalhadores e sem elas o mundo pararia de vez.

Drummond afirma:

" Stop

A vida parou

ou foi o automóvel?"(p.91)".

Há uma crítica sobre a sociedade que está tão apegada às tecnologias que se elas estragam é o fim do mundo. As pessoas estão envolvidas com o material que se esquecem das coisas mais simples, é como se a cafeteira queimasse em uma casa, e nela nunca mais se fizesse café, sabendo-se que faz pouco tempo que ela foi inventada.

O uso da palavra STOP foi usado no lugar de PARE, para chamar a atenção do leitor diante do fato que os artistas querem inovar, criando novos vocabulários e métricas, mas acabam copiando os padrões antigos. Por outro ponto de vista, não deixando de ser uma crítica também, enquanto os modernistas lutavam uma língua brasileira, ainda assim encontram-se indícios de estrangeirismo desnecessário.

 

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CÂNDIDO Antônio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. São Paulo: Nacional, 2000.

CHAVES, Rita. Margens do texto, Carlos Drummond de Andrade. São Paulo: Scipione, 1993.

COUTINHO, Afrânio. Crítica e poética. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1968.

LIMA, C. Luiz. Teoria da literatura e suas fontes. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983.

MORICONI, Ítalo. Poesia brasileira do século XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

OLIVEIRA, C. Belezi.Arte literária Portugal -Brasil. São Paulo: Moderna, 1999.

SANTIAGO, Silviano. Poetas modernos do Brasil. Petrópolis, Carlos Drummond de Andrade, Vozes, 1976.

TADIÉ,Y. Jean: A crítica literária. Rio de Janeiro: Bertrand,1922.

TELES, Gilberto. Mendonça. Drummond a estilística da repetição. Rio de Janeiro, José Olympio, 1970.