O Martelo



Abriu a porta.

O apartamento estava como deixara pela manhã.

Desarrumado.

Todo bagunçado.

Vidros quebrados.

Vasos e jarras despedaçadas.

Cadeiras jogadas.

O impacto foi forte e ela apenas conseguiu chorar. Ninguém a veria. Não precisava preocupar-se em explicar o choro. Por enquanto. Precisava apenas chorar o bastante para depois não mais fazer isso e tomar a decisão mais importante de sua vida.

Pegou o telefone e discou os números. Porém o desligou em seguida.

O corpo continuava no quarto.

Inerte.

Morto.

Caminhou na direção.

Entrou no quarto. Viu a cama manchada de vermelho. Pegou o corpo no colo. Cabeça amassada, braços e pernas fraturadas. O que fazer com aquilo? Nunca assassinara ninguém antes. Menos ainda uma criança. Um bebê. O seu primeiro filho.

Ele chorava, chorava e chorava.

Ela estava sozinha.

Ofereceu o peito, mas ele não mamou. Não era fome.

Trocou as fraldas, verificou se era gases ou dor no ouvido. Nada.

Medo.

Tensão.

Não agüentava ver aquele ser tão querido sofrendo. Amava-o. Amava-o.

Deitou a criança na cama e começou a fazer uma oração.Deus a ajudaria. Apenas Ele. Mas não deve ter rezado direito, pois a criança continuou a chorar.

Beijou-a.

Beijou-a.

Beijou-a.

Mas a criança chorava.

Ela também já chorava.

Não sabia cuidar de uma criança.

Deitou-a na cama. E em sua fúria começou a destruir a casa, os moveis. Tudo.

Foi aí que encontrou o martelo. O martelo do marido. E a criança chorava. Algumas marteladas e estaria resolvido o problema.

E saiu em seguida.

Sem rumo.

Desesperada pelo crime que cometera.

Vagueou pela cidade. Ainda com as mãos ensangüentadas. Chorava e chorava. Mas ninguém a notava. Ninguém anotava seus passos. Ninguém a via. E ela só chorava.

Na praia lavou as mãos.

E o corpo. Nas ondas.

Purificou-se.

Para poder voltar ao mundo.

Para não mais fazer parte desse e sim do outro mundo.

Voltou.

E lá estava ela com o corpo no colo.

Beijou-o.

Beijou-o.

Beijou-o.

Foi então que viuo martelo.

Intacto.

Sem qualquer sinal de sangue.

A criança morta.

O telefone pronto para ser discado novamente. Se tivesse coragem.

Chorou.

Chorou.

E por fim. Chorou.

Ao ver o martelo.


Autor: João Paulo Tozetti


Artigos Relacionados


Para O Dia Das MÃes - Ser MÃe

10 Motivos A Favor Do Aborto

Criança Tem Que Estudar,brincar E Também Trabalhar!

A Menina E O Vira-latas

É Preciso Ajudar...

As Dificuldades De Leitura E Escrita Nas Séries Iniciais

SeparaÇÃo