Brasileiras Fantásticas



BRASILEIRAS FANTÁSTICAS

E o homem branco aqui chegou, em terra dos gentios.

"Bons selvagens" assim os chamava Pero Vaz de Caminha.

E num mundo absolutamente masculino, de descobridores e desbravadores, os homens brancos aqui se deitaram com as fêmeas dos selvagens e deste "gozo" vieram os primeiros filhos e filhas do Brasil - os mamelucos.

A esses ancestrais devemos o RESPEITO... à suas mulheres.

Os indígenas consideravam as mulheres como "um igual", como companheiras. No trabalho e no prazer, homem e mulher eram considerados eqüitativos e socialmente úteis. Não encontravam razão para as diferenças de oportunidades educacionais e por ironia do destino, partiu destes nossos antepassados a primeira reivindicação pela INSTRUÇÃO FEMININA NO BRASIL.

NOS ENSINARAM DESEJO PELO CONHECIMENTO.

Partiu dos indígenas brasileiros o pedido feito ao Pe. Manoel de Nóbrega para que ensinasse suas mulheres a ler e escrever.Sensibilizado o padre mandou uma carta à Rainha de Portugal, Dona Catarina, solicitando educação para os indígenas, solicitação que Dona Catarina negou, qualificando-a de ousada e perigosa.Por que oferecer educação para mulheres "selvagens" quando nem mesmo na Corte havia escolas para meninas.Educava-se em casa, preparando-as para o casamento, bastava-lhes que possuíssem pouca leitura, destinada apenas aos livros de rezas, mas em sua maioria eram analfabetas.

Embora não concordasse com a opinião da regente, há Nóbrega só coube acatar.Para ele, o acesso à instrução pelos indígenas só poderia contribuir de forma positiva para lançar a base da obra de moralização e também de uma forma eficiente na formação das famílias brasileiras.

FAMÍLIA vem de "famulus", uma expressão latina que quer dizer "ESCRAVOS DOMÉSTICOS DE UM MESMO SENHOR", ou seja, todos devem obediência ao senhor patriarcal.

De 1500 à aproximadamente 1530, pouco os portugueses fizeram para povoar esta grande nova terra, mas, por conta da ameaça francesa D.João III, compreendeu que a única maneira de preservar o Brasil para a coroa Portuguesa era dando in¡cio a sua povoação.Foi por volta de 1550 que desembarcaram no Brasil as "primeiras mulheres de boa qualidade", eram órfãs, ladras, prostitutas, alcoólatras, mentalmente incapacitadas, que recolhidas por Dona Catarina, rainha de Portugal, foram mandadas para casar com os colonos, como forma de tentar minimizar os problemas aqui surgidos devido à anarquia sexual.

As mulheres brancas, na sua maioria, também eram sexualmente ignorantes portando serviam apenas para a reprodução dos "filhos de Deus".O prazer sexual para o senhor patriarcal ficava a cargo das escravas, que além de servi-lo nas tarefas da casa, deveriam satisfazê-lo na cama.

Um dos maiores países mestiços do mundo, o Brasil, "foi gerado, em ventre escravo e negro".

A partir do instante em que o "número de fêmeas" vindas da África aumentou e o trabalho forçado adquiriu feições também domésticas, muitas escravas foram transferidas das senzalas para o seio da casa-grande.Eram amas-de-leite e mucamas, "escolhidas dentre as mais limpas, as mais bonitas e as mais fortes".

Para os fazendeiros da época "a parte mais produtiva da propriedade escrava ainda no ventre gerador".

"A MULHER CABIA SER FRÁGIL, NECESSITANDO SISTEMATICAMENTE DA PROTEÇÃO MASCULINA, ATUANDO EXCLUSIVAMENTE NA INTIMIDADE DO LAR E PRESA AOS CUIDADOS DA PROLE, FOSSEM ESCRAVAS, FOSSEM ÍNDIAS, FOSSEM NEGRAS, CABIA SATISFAZER AOS DESEJOS DA CARNE DE SEUS SENHORES".

As mulheres deveriam ser mais "educadas" do que "instruídas", daí uma estrutura de ensino calcada na virtude e no sentimento, geradora da imagem ideal de esposa e mãe.Não se preconizava uma instrução além da considerada "necessária", para atingir tais objetivos - casar e procriar.

Com a vinda da família real para o Brasil, no século XVIII/XIX mudanças na educação brasileira puderam ser observadas, mas, esta não atingiu de imediato as mulheres.A educação para as jovens brasileiras se restringia a recitar preces de cor e a calcular de memória, sem saber escrever ou fazer as operações.

Por volta de 1827, uma lei voltada para a educação foi criada: a "Lei de 15 de outubro de 1827" que "manda criar escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos do Império... Os professores ensinarão a ler, escrever, as quatro operações de aritmética, prática de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a gramática de língua nacional, e os princípios de moral cristã e da doutrina da religião católica e apostólica romana, proporcionados à compreensão dos meninos; preferindo para as leituras a Constituição do Império e a História do Brasil... Haverá escolas de meninas nas cidades e vilas mais populosas, em que os Presidentes em Conselho, julgarem necessário este estabelecimento. Mas as mestras, além do declarado no Art. 6o, com exclusão das noções de geometria, e limitado à instrução de aritmética só as suas quatro operações, ensinarão também as prendas que servem à economia doméstica...".

As aulas preparavam as mulheres para serem donas de casa "refinadas" e tinham como temas um pouco de literatura, economia doméstica e higiene e só alcançavam umas poucas, de famílias muito abastadas, que mandavam suas filhas para os conventos... educar-se.

O Século XIX, combate à idéia de um país inculto e incivilizado, trazendo consigo a demanda por escolas, e conseqüentemente a educação de meninos e meninas passa a ser intensificada.

A mulher do século XIX ganha novos contornos, que a fazem um ser em construção, na busca de seu desenvolvimento e realização de suas potencialidades.

No entanto, mantinham-se as diferenças na educação e os valores presentes nesta educação são bem determinantes destas diferenças:

A MENINOS E MENINAS CABE – RESPEITO, OBEDIÊNCIA, HONESTIDADE E TRABALHO.

APENAS AOS MENINOS CABE – CRIATIVIDADE E INICIATIVA.

ÀS MENINAS CABE – CONHECER E DOMINAR AS PRENDAS DOMÉSTICAS E HABILIDADES MANUAIS, A DELICADEZA NO TATO, A SUBMISSÃO, A PUREZA, A CAPACIDADE DE DOAÇÃO.

O fato de que a moça precisa ter características tais que a tornem "desejável" como esposa, cria uma teia complexa, tão intrincada, que as práticas tendem a se perpetuar e a se reproduzir nas mais diversas famílias que têm filhas mulheres.

No final do século XIX e início do século XX, "a mulher é escolhida", ao mesmo tempo em que é "comandada".

E, por conta disso, não precisava estudar, porque, segundo a cultura da época:

O estudo muda a cabeça e faz a moça ficar sonhando bobagens.

Mulher aprende a ler e escrever só pra ficar lendo romances e escrevendo bilhetes para o namorado.

Moça direita não perde tempo com essas besteiras de ficar lendo romances, porque isto é ocasião de perdição.

Proliferam, então, os colégios para meninos e meninas das classes abastadas. A maioria dos colégios confessionais, herança dos Jesuítas e torna-se cada vez mais comum que a "moça de família", depois que aprendeu em casa as "primeiras letras", seja enviada a um colégio interno de freiras "para ser educada". De lá ela sairá depois de alguns anos, pronta para casar.

E da escolarização feminina à sua profissionalização há um longo e árduo caminho a ser percorrido...

Às mulheres só cabia, em termos de profissionalização, a escola normal.Se atualmente, as mulheres não encontram nenhuma dificuldade no acesso aos cursos superiores e a universidades, mas, nem sempre foi assim.

A primeira mulher diplomada no Brasil foi à médica Rita Lobato Velho Lopes (1867-1960), que só pôde iniciar seus estudos  após um decreto-lei rubricado por D. Pedro II, superando a discriminação da época. Rita contou com o apoio de seu pai, exceção a todas as regras da época, que "todos os dias a acompanhava até a faculdade, protegendo-a e prestigiando-a".

O direito do povo, escolher seus governantes, também passou por várias mudanças. Hoje no Brasil, o direito ao voto é assegurado a todos os cidadãos maiores de 18 anos. Mas, nem sempre foi assim, e por volta de 1822, um pouco depois da independência do país, só votavam os homens brancos e ricos. Os pobres não tinham esse direito, e os negros eram escravos, portanto serviçais, as mulheres nem pensar.

O voto feminino é tão recente quanto à emancipação feminina.Somente em 1930, era aprovado no Senado o projeto que estendia o direito de voto às mulheres. Com a Revolução de 30 as atividades parlamentares foram suspensas, atrasando em dois anos o sonho das mulheres.

A luta feminina pelo direito de poder escolher seus governantes tem sua história contada através de Berta Maria Júlia Lutz, filha do famoso cientista Adolfo Lutz, que liderou o movimento decisivo para a conquista do voto. Seu trabalho foi responsável pela aprovação do Novo Código Eleitoral, em 1932, no governo de Getúlio Vargas.

Berta Lutz nasceu em São Paulo, em 1894, formou-se em Zoologia, e em 1919, tornou-se secretária do Museu Nacional do Rio de Janeiro. O fato teve grande repercussão na época, porque o acesso das mulheres ao funcionalismo público era vedado. Berta representou o Brasil, em 1922, na Assembléia Geral da Liga das Mulheres Eleitoras, realizada nos Estados Unidos, e foi eleita vice-presidente da Sociedade Pan-Americana. Ao voltar ao Brasil fundou a Federação para o Progresso Feminino, iniciando a luta pelo direito ao voto feminino no Brasil. Nesse mesmo ano, como delegada do Museu Nacional no Congresso de Educação, garantiu o ingresso das meninas no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro.

Com a promulgação do novo código eleitoral, em fevereiro de 1932, muitas mulheres se candidataram a uma vaga para a Constituinte de 1934. Mas, apenas Carlota Pereira de Queirós, conseguiu uma vaga se elegendo por São Paulo.Formada em Medicina, trabalhou em 1928 como chefe do laboratório de clínica pediátrica da Faculdade de Medicina de São Paulo – que seria incorporada à Universidade de São Paulo, em 1934. Durante a Revolução Constitucionalista de 32 – movimento desencadeado em São Paulo que contestava a Revolução de 1930 – Carlota, organizou a frente de 700 mulheres, um grupo de assistência médica aos combatentes feridos.Foi a única mulher eleita deputada, em 1933, para a Assembléia Nacional Constituinte. Em seu discurso de posse, enfatizou a colaboração feminina imprescindível no processo de reconstitucionalização do País.

Integrando a Comissão de Saúde e Educação, trabalhou pela assistência social e alfabetização. O primeiro projeto sobre a criação de serviços sociais foi de sua autoria. Berta Lutz, na época, defendia os direitos jurídicos da mulher, e foi convidada pela então deputada Carlota, para trabalharem em conjunto na Constituinte de 34.

Vários artigos foram propostos e iriam beneficiar a mulher. É o caso dos que estabeleciam a regulamentação do trabalho feminino, a igualdade salarial e a proibição de demissão em razão de gravidez.

Mas o trabalho era árduo e não obtinha consenso entre as bancadas. Havia restrições às propostas de emancipação feminina, considerando-as uma ameaça à estabilidade familiar. O assunto passou a ser tratado pelas revistas humorísticas da época. Várias foram às charges e caricaturas que satirizavam o assunto.

Nair de Teffé foi a primeira cartunista brasileira, com trabalhos publicados em revistas nacionais e internacionais. Seus trabalhos destacaram-se pela crítica aos políticos e à elite brasileira da época. Assinava suas caricaturas com o pseudônimo de Rian – Nair ao inverso. Filha do Barão de Teffé, nasceu no Rio de Janeiro em 1886, e foi a segunda esposa do presidente Hermes da Fonseca.

O Museu Histórico Nacional, no Rio de janeiro, possui um acervo de Rian, formado por 26 curiosas caricaturas, entre elas as dos presidentes Eurico Gaspar Dutra, João Café Filho e Humberto de Alencar Castello Branco.

Hoje, 72 anos depois, a mulher expressa sua opinião política livremente e, obriga os candidatos a pensarem em propostas que objetivamente atinjam o universo feminino.

Quarenta anos depois da conquista do direito feminino de voto no Brasil, (1932 x década de 70), mas, também da vitória dos padrões normativos, da  ideologia da domesticidade entre os anos trinta e sessenta, assistimos à emergência de um expressivo movimento feminista, questionador não só da opressão machista, mas dos códigos da sexualidade feminina e dos modelos de comportamento impostos pela sociedade de consumo. No contexto de um processo de modernização acelerado, promovido pela ditadura militar e conhecido como "milagre econômico", em que se desestabilizavam os vínculos tradicionais estabelecidos entre indivíduos e grupos e a estrutura da familiar nuclear. As mulheres entraram maciçamente no mercado de trabalho e voltaram a proclamar o direito à cidadania, denunciando as múltiplas formas da dominação patriarcal.

Também  homossexuais masculinos e femininos se organizaram, ao lado de outras "minorias" sociais, e se manifestaram em movimentos políticos reivindicando o "direito à diferença" e questionando radicalmente os padrões dominantes da masculinidade e da feminilidade. O movimento negro fortaleceu-se, invadindo os espaços públicos das universidades às praças, defendendo o "black is beautiful", e colocando em cena as novas exigências e críticas das mulheres negras, diferenciando-se, por sua vez, das demandas dos feminismos "brancos".

A contrapartida à violenta ditadura militar, foi à explosão de uma vigorosa cultura da resistência, que se expressou na crítica política ao regime, a exemplo das composições musicais de Geraldo Vandré, Chico Buarque de Holanda, Milton Nascimento, Caetano Veloso e Gilberto Gil, assim como na proposta de modos alternativos e libertários de vida em sociedade, a exemplo do movimento hippie. Inicialmente dirigida ao regime militar, a "revolução cultural" em curso nas décadas de sessenta e setenta, no país, estendeu seus questionamentos à sociedade burguesa mais ampla, encontrando várias correntes do pensamento internacional envolvidas com a crítica à modernidade.

A modernidade do século XX assistiu a um movimento de constantes alterações em valores, práticas e papéis que as pessoas desempenham.

Suas macro-variáveis para o novo século são:

Movimentos de constantes alterações de valores, práticas e papéis que as pessoas desempenham;

Urbanização constante;

Avanço da ciência e tecnologia;

Necessidades educacionais, tendo como pano de fundo a economia e, mais recentemente, a globalização.

A trajetória da mulher brasileira nos últimos séculos é, para dizer pouco, extraordinária: de uma educação no lar e para o lar, no período colonial, para uma participação tímida nas escolas públicas mistas do século XIX, depois para uma presença significativa na docência do ensino primário, seguida de uma presença hoje majoritária em todos os níveis de escolaridade, bem como de uma expressiva participação na docência da educação superior. Embora os homens sejam maioria na população até os 20 anos de idade, as mulheres são maioria na escola, já a partir da 5a. série do ensino fundamental, passando pelo ensino médio, graduação e pós-graduação. Há hoje, cerca de meio milhão de mulheres a mais do que homens nos campus universitários do Brasil.
Um rápido olhar sobre as ruas e praças das cidades brasileiras, logo destaca a crescente e colorida presença das mulheres, marcando fortemente uma diferença em relação ao passado. Os espaços públicos se tornam menos constrangedores, percebendo-se uma grande mudança nos hábitos e  costumes da população.

Brasileiras fantásticas merecem nosso respeito e destaque, mulheres como Ritas, Joanas, Ângelas, Bárbaras, Heliodoras, Marias,Josefas, Beatrizes, Delfinas, Isabéis, Lauras, Anas, Eurídices,Eufrosinas, Nísias, Augustas, Violantes, Clarindas, Paulas, Luísas, Firminas, Adélias, Josefinas, Amélias, Beneditas, Zairas, Angélicas, Ritas, Joaquinas, Júlias, Amália, Fatimas, Adrianas, Glórias, Elianes, Mônicas, Cristinas, Lucianas,Serafinas, Rosas, brasileiras fantásticas que provávelmente a maioria das pessoas nunca tenham ouvido falar Brasileiras que foram, que são ou que serão: donas-de-casa, esposas amantíssimas, mães exemplares, mas também jornalistas, poetas, dramaturgas, sufragistas, ensaístas, mulheres de letras numa época em que a divisão do trabalho sexual era muito nítida: ao sexo masculino cabia a vida pública e ao feminino o universo doméstico. Mulheres que construíram e constroem até hoje este "Brasil Brasileiro".

Fatima Mendes Carvalho, Luiz Gustavo Braga Silva,Teresa Cristina de Souza Ferreira e Everaldo Silva Costa (2006)


Autor: Fatima Carvalho


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