Os Mandamentos e a Lógica de Mercado



Em Mt 22,34-40, Jesus responde aos fariseus que o maior mandamento é "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a sua alma e de todo o teu entendimento. Também diz que o segundo mandamento é "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo".

Esses mandamentos são conhecidos por todos os católicos que participam ativa ou passivamente em nossas comunidades cristãs. Porém, muitos de nossos atos ou crenças passam despercebidos, não por maldade ou hipocrisia, mas porque já são considerados "normais" em nossa comunidade. O que não percebemos é a contradição que existe entre essa aceitação e os mandamentos de Jesus Cristo.

O nosso mundo está repleto de violência, miséria e preconceito. Como católicos, não podemos aceitar a lógica neoliberal de que o mundo é assim mesmo e nada poderá ser mudado. Só o fato de acreditarmos na ressurreição já é um fator de mudança, de transformação.

Amar uns aos outros significa não apenas se preocupar com a própria vida, mas também com a vida do meu próximo. As minhas ações são responsáveis a tal ponto que não prejudique a vida do meu irmão. Por outro lado, sem pensar aceitamos a lógica de mercado, onde eu preciso possuir dinheiro para ter direito a uma vida decente. Quem não o possui, está excluído. E estar excluído é não ter direito a uma vida digna; é não participar da vida em sociedade; é viver na miséria; é ser discriminado por não possuir uma boa escolaridade; é não ter acesso aos melhores tratamentos de saúde; é não poder se alimentar decentemente; é não possuir uma moradia confortável, ou vivendo em periferias em casas próprias mal construídas ou pagando aluguéis.

A lógica de mercado acaba dividindo a sociedade em classes sociais. Para eu me tornar rico, preciso que você seja pobre, pois é te explorando que posso me tornar cada vez mais rico. Para isso, com uma estrutura enxuta e desejando mais lucros, crio em meus irmãos o espírito de concorrência, disputando entre si uma vaga no mercado de trabalho por um salário a cada dia mais desvalorizado. Quanto mais pessoas concorrendo entre si faço com que elas sejam individualistas, pensando em si mesmas. Quanto mais elas são individualistas, mais elas perdem a noção de viver em sociedade, onde impeço que elas se organizem e exijam mudanças em nosso mundo neoliberal. Na verdade eu sou uma pessoa não no sentido humanístico, mas sim no sentido consumista, de um consumidor. Sou uma pessoa que vive para consumir os produtos divulgados pelas inúmeras propagandas exibidas em outdoors, na televisão, nos jornais, nas rádios e na internet.

Algumas pessoas que se tornam gananciosas acabam praticando atos imorais para satisfazerem os seus desejos. Tornam-se corruptas, vendem drogas, roubam e muitas vezes tiram vidas de outras pessoas.

É urgente que nós cristãos pensemos que outro mundo é possível. Não podemos aceitar andar em um AUDI A3 enquanto outro semelhante não possui nem dinheiro para andar de ônibus. Não podemos aceitar possuir vários imóveis e cobrar aluguéis caros, deixando aqueles, que não possuem condições de adquirir a casa própria, cada vez mais pobres, tornando o sonho da aquisição da casa própria algo cada vez mais impossível. Não podemos aceitar o lucro e a fama, sabendo que existe outra pessoa vivendo na miséria com roupas sujas, rasgadas e procurando nos lixões das cidades as suas refeições.

Nós, cristãos, não podemos nos preocupar se outras pessoas nos denominarem como "otários que amam as causas impossíveis", com diz uma música dos Engenheiros do Hawai. Nós somos cristãos e como tal, precisamos imitar Jesus Cristo. Assumir a luta contra as injustiças, contra o poder, a favor dos mais pobres, dos excluídos e dos mais necessitados.

"Tu amas a justiça e aborreces a impiedade". Sl 45,7.


Autor: Marcelo Castilho


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