Propostas de Exercícios Físicos Para o Tratamento da Fibromialgia



PROPOSTAS DE EXERCÍCIOS FÍSICOS PARA O TRATAMENTO DA FIBROMIALGIA

Humberto Morais Graciano

Graduado em Licenciatura em Educação Física pela UNIBAN - Universidade Bandeirante de São Paulo.

Graduado em Bacharelado em Educação Física pela UNIBAN - Universidade Bandeirante de São Paulo.

[email protected]

RESUMO

A síndrome da fibromialgia (FM) é considerada uma síndrome de amplificação da dor, caracterizada por dor músculo-esquelético generalizadaproduzindo limitações das atividades ocupacionais, redução da atividade física, além de distúrbios psicológicos como depressão e ansiedade. A maioria destes indivíduos apresenta-se descondicionados aerobicamente, com pouca força muscular e com flexibilidade limitada, diante deste contexto a atividade física abriu novas perspectivas para o tratamento da FM. Este artigo de revisão abordará alguns métodos de exercícios físicos, sendo seguros e eficazes como recurso complementar no tratamento dessa epidemia de dor muscular, fadiga crônica, distúrbios do sono, assim como a associação com depressão, síndrome do pânico e ansiedade.

Palavra chave: Fibromialgia, Exercícios Físicos, Bem estar.

INTRODUÇÂO

A fibromialgia (FM) pode ser definida como síndrome dolorosa reumática de etiologia desconhecida, atinge principalmente mulheres entre 30 e 60 anos, tem sido avaliada por
alguns estudos que sugerem a possibilidade da relação entre a doença e as mudanças hormonais decorrentes do envelhecimento biológico (TEIXEIRA e FIGUÉRÓ, 2001 apud Konrad). A FM é caracterizada por dor, músculoesquelética difusa e crônica e pela presença de múltiplos pontos específicos sensíveis a pressão, chamados tender point, em regiões anatomicamente determinadas. Outras manifestações que podem acompanhar são: fadiga crônica, distúrbios do sono, rigidez matinal de curta duração, sensação subjetiva de edema, parestesias, cefaléia, síndrome do cólon irritável, fenômeno de Raynaud, assim como a associação com depressão, síndrome do pânico, ansiedade, distúrbios intestinais e funcionais (MARTINEZ, 1998; Roizenblatt, et al. 1997; Yoshinari, 2000).

As causas ainda são desconhecidas, podendo envolver predisposição genética, alterações neuroendócrinas e do sono, incluindo outros fatores externos, como trauma, artrite periférica e possível microtrauma muscular por descondicionamento. Além disso, a presença de outras variáveis que podem influenciar a sintomatologia é também observada, como alterações climáticas, grau de atividade física e estressores emocionais (MARTINEZ, 1997; KNOPLICH, 2001).

Atualmente, o tratamento medicamentoso isolado não tem sido suficiente no controle da sintomatologia da FM e na melhora dos aspectos envolvidos na qualidade de vida. Muitos métodos de tratamento apresentaram bons resultados, como a terapia manual, tratamentos nutricionais e fitoterápicos, reeducação respiratória e postural, treinamento cardiovascular, hidroterapia, homeopatia, biofeedback, exercícios físicos entre outros. Todos esses métodos revelaram ser úteis em promover a recuperação e contribuir com o tratamento da FM (SABBAG, 2007; Valim, 2006; CHAITOW, 2001).

Estudos demonstraram que a FM afeta mais de 2% da população americana e pode começar em qualquer idade, sendo pelo menos sete vezes mais comum em mulheres (WOLFE, 1995). No Brasil, ainda não existe um levantamento oficial, mas estima-se que pelo menos 5% da população seja portadora desta síndrome (Castro, 2000).

Como já ressaltado, a FM gera um impacto negativo na qualidade de vida, necessitando um tratamento mais amplo e multidisciplinar, já que a sintomatologia dessa síndrome é complexa e não envolve somente aspectos físicos, mas também sociais e emocionais. Outro fator freqüentemente presente em pacientes fibromiálgicos é a diminuição dos níveis de aminoácidos no sangue e anormalidades estruturais musculares, responsáveis pela reparação muscular normal. Este desequilíbrio pode atrasar o processo de cicatrização de um microtrauma induzido pelo exercício, causando sintomas dolorosos nos músculos (Hanson, 1998).

Algumas pesquisas têm explorado meios alternativos para o tratamento da fibromialgia (Goldenberg, 2000; Pereira e Esteves, 2002; Richards e Scott, 2002). O exercício físico é um dos métodos que, ao longo de anos de pesquisas, vêm apresentando bons resultados no controle da
doença (Valim, 2001). Indiscutivelmente sabemos que a atividade física tem um papel fundamental no que diz respeito à qualidade de vida, propiciando bem estar físico e mental por meio da liberação de vários hormônios, aumentando a expectativa de vida e/ou servindo como válvula
de escape para as tensões diárias (Nahas, 2003). Além destes
benefícios, o exercício também pode ser usado como um meio preventivo de desordens orgânicas (Nieman, 1999).

CHAITOW (2001) observou que os exercícios aumentaram a liberação de hormônios tais como endorfinas endógenas, aumento da auto-estima e o encorajamento psicológico que vem com o aumento do condicionamento com isso oferecer um alivio da dor e bem estar juntamente com o físico.

Martin L, et al. Apud BRESSAN, LR et al. (2008); Richards e Scott, (2008); Marques et al. (1994). Sugerem que os alongamentos musculares podem gerar impacto positivo na FM, promovendo melhora do sono e rigidez matinal.

Segundo BRESSAN, LR et al Observaram melhora significante da capacidade funcional, da dor, qualidade de vida e de bem-estar, quando realizaram exercícios aeróbios (SABBAG, et al. 2007; Richards e Scott 2008). Outro estudo de Martin et al.(2008)observaram uma diminuição significante no número de tender points, no escore miálgico no grupo de pacientes que realizaram exercícios aeróbios.

É interessante observar que os aspectos emocionais e psicológicos foram modificados pelo exercício aeróbio, mas não pelo alongamento. Quando os componentes físicos e psicológicos foram agrupados, ficou claro que o condicionamento aeróbio é superior ao alongamento (Valim, 2003).

A caminhada tem aparecido com destaque dentre os exercícios aeróbicos recomendados para pessoas com FM, devido à praticidade de implementação, custos reduzidos e baixa complexidade de execução. É quase consenso entre os pesquisadores que este tipo de exercício é o que traz mais benefícios aos portadores de fibromialgia. Além da melhora da condição cardiorespiratória, há evidências que apontam para a melhora de variáveis de qualidade de vida diretamente ligadas à condição fibromiálgica. Há relatos de melhora dos sintomas em geral (BUCKHARDT, MANNERKURPI, HEDENBERG & BJELLE, 1994 apud KONRAD, 2005).

Estudos mostram que exercícios físicos mais indicados para estes pacientes são os aeróbios, de baixo impacto e baixa intensidade, os alongamentos e os relaxamentos, pois se houver a pratica de exercícios físicos com intensidade mais elevada os níveis de fadiga e esforço também se elevam, causando assim mais dores ao paciente (BRUCE, 2003; Goldenberg, 2005; MARTINEZ, 1998; SABBAG, et al. 2007; Richards e Scott, apud BRESSAN, LR et al. 2008).

O treinamento de força surge como mais uma estratégia de intervenção ou opção de tratamento no sentido de intervir positivamente no tratamento da FM, Segundo Hakkinen apud Balsamo, entre outros pesquisadores, comparou a força de mulheres com FM e mulheres saudáveis e pôde verificar que, em ambas, o sistema neuromuscular possui a mesma capacidade de se exercitar, minimizando o quadro mialgico, bem como aumentando a qualidade de vida dos indivíduos por ela afetados.

Assis et al 2003 apud Valim (2006) recentemente demonstraram que deep running é um pouco melhor que o condicionamento aeróbio em solo na melhora dos escores do Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ) e aspectos psicológicos da qualidade de vida. Resultados favoráveis também foram encontrados em programas de exercícios físicos realizados em água aquecida. Gowans et al., (1999) apud KONRAD, (2005) encontraram melhoras nacapacidade aeróbica, na fadiga e na percepção da dor, que persistiram após três meses.

Os experimentos realizados apresentam uma série de variações. As intervenções têm sido conduzidas com freqüência de uma até três vezes na semana, com duração de 25 a 90 minutos em cada sessão, realizando exercícios físicos de leve a alta intensidade dependendo do grau de condicionamento. (VALKRINEN et al., 2004 apud KONRAD, 2005).

Assim como a prescrição de medicamentos deve conter dose, duração e intervalo, a prescrição do exercício deve detalhar orientações sobre a intensidade inicial do treino e como aumentar progressivamente a carga. Para adequada prescrição individual é importante considerar as preferências do paciente, co-morbidades, uso de medicamentos, capacidade funcional e se possível, avaliação ergométrica (VALIM, 2006).

Antes de iniciar um programa de exercícios é importante fazer uma anamnese que deve conter informações da história pregressa de hábito de atividade física, avaliação cardiovascular e funcional para identificar condições que possam interferir no desempenho e que podem limitar o treinamento (NIEMAN, 1999). Atenção especial deve ser dada à revisão dos medicamentos em uso, pois muitos interferem na resposta hemodinâmica. Estas informações ajudam a individualizar a prescrição e aumentar a adesão. Vale também reforçar o quanto o exercício é importante no controle da dor e de vários sintomas relacionados. Importante informar que embora deva ser praticado indefinidamente, o benefício ocorre segundo estudos apenas entre oito e dez semanas após o início do programa e continua aumentando até a vigésima semana, mas alguns indivíduos podem sentir-se pior e com mais dor, inicialmente (VALIM 2006).

De acordo com JONES et al apud VALIM, (2005): "Embora por décadas é conhecido que o exercício é um componente-chave no tratamento da FM, a maioria dos pacientes permanece sedentária".

Como já ressaltado, a FM gera um impacto negativo na qualidade de vida, necessitando um tratamento mais amplo e multidisciplinar, já que a sintomatologia dessa síndrome é complexa e não envolve somente aspectos físicos, mas também sociais e emocionais (VALIM, 2001). De forma geral, os estudos revelam que os exercícios físicos podem compor os recursos utilizados para promover a melhora da função física em longoprazo (BRESSAN, 2008; NAHAS, 2003). Assim, qualquer tipo de exercício físico, com intensidade, freqüência e duração indefinidas, poderia ser eficaz para pessoas com FM (KONRAD, 2005). Porém, sabe-se que devem ser respeitados os limites de dor e esforço e alcançada a aderência mínima aos programas de exercícios físicos para que os benefícios ocorram. Logo, conhecer os efeitos produzidos por exercícios físicos em curto prazo pode ser determinante no sucesso do tratamento das pessoas com FM (CASTRO 2000; ROIZENBLATT, 1997; KONRAD, 2005).

CONCLUSÂO

As diversas opções de exercícios físicos (Alongamento, condicionamento aeróbio, relaxamento, treinamento de força entre outros)apresentam bons resultados no controle da FM promovendo melhora do sono, rigidez matinal, da capacidade funcional, da dor, qualidade de vida e de bem-estar, Assim, qualquer tipo de exercício físico, com intensidade, freqüência e duração indefinidas poderia ser eficaz respeitando sempre a individualidade e os limites de dor e esforço. A constante relação com a equipe multidisciplinar também é um aspecto importante para que qualquer tratamento traga bons frutos. Ressaltando de que um bom programa de treimanento deve ser elaborado e analisado por um Educador Físico.

REFERÊNCIAS

ATRA, E.; POLLACK, D.F.; Martinez, J.E..Fibromialgia: etiopatogênia e terapêutica. Revista Brasileira de Reumatologia. V. 33, p.65-71. Março/abril. 1993

BALSAMO, S.; SIMÃO, R. et al. Treinamento de Força para Osteoporose, Fibromialgia, Diabetes Tipo 2, Artrite Reumatóide e Envelhecimento. In: Treinamento de força e fibromialgia. São Paulo: Phorte, 2005a. p.71-100.

BRESSAN, LR et al. Efeitos do alongamento muscular e condicionamento físico no tratamento fisioterápico de pacientes com fibromialgia. Rev. bras. fisioter.São Carlos, v. 12,  n. 2, 2008.

BRUCE, DEBRA, F. Fibromialgia: Diagnostico e tratamento. Vida e Saúde.V.65 n 3, p.12-16. mar 2003. Tatuí: Afiliada.

CHAITOW, L. Síndrome da Fibromialgia um guia para o tratamento. 1 ed. São Paulo, 2001.

CASTRO, A. I. O caminho para a solução: Caminhar ajuda a diminuir as
dores de quem sofre de uma doença reumática que atinge 5% da
população. Jornal da Paulista, ano 14, n. 149, novembro 2000.

GOLDENBERG. E. O coração sente, o corpo dói: como conhecer e tratar a fibromialgia. 3.ed. São Paulo: Aheneu, 2005. 116p.

HANSON, B. Síndrome da Fibromialgia e exercício aquático. In.: HANSON,
B. Exercícios aquáticos terapêuticos. São Paulo: Manole, 1998. p.
285-300.

KNOPLICH, J; Fibromialgia: Dor e Fadiga.São Paulo, ROBE, 2001.

KONRAD, L. M; Efeito Agudo do exercício físico sobre a qualidade de vida de mulheres com síndrome da fibromialgia. 2005. Tese (Mestrado em Ed. Física). Universidade Federal de Santa Catarina.

MARTINEZ JE. Fibromialgia: o que é, como diagnosticar e como acompanhar. Acta Fisiátrica. 1997; 4(2): 99-102.

MARTINEZ J.E. Historico e aspectos gerais. IN:Fibromialgia, uma introducao: aspectos gerais, clinica e tratamento. Sao Paulo: Educ, 1998a. p.9-12.

MARQUES, A. P., MENDONÇA, L. L. F. & COSSERMELI, W. (1994). Alongamento muscular em pacientes com fibromialgia a partir de um trabalho de reeducação postural global (RPG). Revistas Brasileiras de Reumatologia, (34), 232-234.

NAHAS, M.V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e
sugestões para um estilo de vida ativo. 3 ed, Londrina: Midiograf, 2003.

NIEMAN, D.C. Exercício e saúde: Como se prevenir de doenças usando o
exercício como seu medicamento. São Paulo: Manole, 1999.

NORM, A; Hanson, B. Exercícios aquáticos terapêuticos. 1. ed. São Paulo, Manole, 1998.

PEREIRA, G. R. M.; ESTEVES, T. C. A intervenção da fisioterapia no
tratamento do paciente portador de fibromialgia. Revista Lato & Sensu.
Belém, v. 4, n. 6, p. 98-102, novembro 2002.

ROIZENBLATT S, Hilário MOE, Goldenberg J, Tufik S. Fibromialgia juvenil. Rev Bras Reumatol. 1997; 37(5):271-3.

SABBAG, Livia Maria dos Santos et al. Efeitos do condicionamento físico sobre pacientes com fibromialgia. Rev Bras Med Esporte,  Niterói,  v. 13,  n. 1, 2007.

SKARE TL: Reumatologia: princípios e prática, 1ª ed, Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1999.

VAISBERG, M.W.; BICUDO, L.F.; MELLO, M.T. O exercício como terapia na pratica medica. In: O exercício na terapia da osteoartrose, artrite reumatóide e fibromialgia, São Paulo, Artes medicas, 2005, p.151-158.

VALIM, V. Estudos dos efeitos do condicionamento aeróbio e do
alongamento na fibromialgia. 2001. 117 f. Tese (Doutorado em
Reumatologia) - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de
São Paulo.

VALIM, V. Benefícios dos Exercícios Físicos na Fibromialgia. Revista
Brasileira Reumatolia, v. 46, n. 1, p. 49-55, jan/fev, 2006.

YOSHINARI NH, Bonfá ESDO. Reumatologia para o clínico. São Paulo: Roca; 2000.


Autor: HUMBERTO MORAIS GRACIANO


Artigos Relacionados


A Relação Da Atividade Física Para Pessoas Em Tratamento De Câncer.

A ImportÂncia Dos ExercÍcios De Alongamento No Aumento Da Flexibilidade Muscular E Por ConsequÊncia Melhor Qualidade De Vida

Benefícios Da Prática De Exercícios Físicos

A Prática De Exercicio Fisico No Controle E Prevenção Da Sindrome Metabólica

Obesidade Infantil: Atividade FÍsica

Artigo De Revisão: Os Principais Programas De Tratamento Usados Para Pacientes Acometidos Pela Fibromialgia.

Treinamento De Força E Iniciantes