Cais Do Abandono



Sinto olhar para você como o solitário na beira do cais olha o navio que em toda a sua opulência fica pequeno, pequenininho até sumir no horizonte. Você, meu navio imenso, parece dizer por meio do aceno de mão que já é hora de dizer adeus. Eu, solitária na beira do cais, pareço responder com um outro aceno pesado. Todas as suas viagens, todas as suas embarcações, as tempestades que passou, os acidentes que causou, todo o mar que te acolheu; é para tudo isso que eu digo adeus. Não houve rupturas bruscas, a cada dia passado eu fui entendendo que toda a sua opulência sumiria no horizonte. Hoje, ainda olhando o mar, eu percebo que o céu se funde as águas e que há só um pontinho andando para longe, muito longe. Amanhã ou depois, eu vou virar as costas e abandonar o cais. Não será tarde, será no meu tempo. E caminhando passos lentos, vou rumar para o desconhecido, talvez para um novo cais. Sei que você, navio da minha vida, vai continuar nadando por outras águas, por suas águas. Não pense que é abandono. Há nos meus olhos uma derradeira lágrima, pesada, calejada, que circunda meus olhos e enxagua meu coração. Isso quer dizer que meu adeus é doloroso, e que meu olhar mareado vai continuar de outra forma, a te ver indo embora.
Autor: cíntia cristina


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