Novo Ano...



Amigos...

Novo ano... E tenho por obrigação que sentir em mim uma erupção de coisas boas. Mas, não sinto!!! Incrivelmente não sinto... O mais engraçado é que nada aparentemente me falta. Tenho casa, trabalho, comida, o que vestir, família, amigos, fé, juventude, vigor enfim, tenho mais do básico pra ser feliz... Mas, tenho a leve impressão que não, que não sou!

Paro pra pensar... Será que estou sendo ingrato com a vida? Ela que tem sido tão generosa e cuidadosa comigo e para com aqueles que amo. Será? Logo, depois sinto um vazio que chega a gritar e ecoar rasgando tudo dentro de mim, como pedindo pra sair... Fugir do claustro!

Meu Deus não tá bom... Tá faltando... Tenho muita coisa menos à felicidade! Aquela que chega a abraçar-nos e nos inebriáramos com seu contentamento... Mas, acho que ela não existe ou pelo menos se esconde de mim, vira a sua fase resplandecente do alcance dos meus sentidos.

Tudo isso deve ser dengo... Meninice... Sei lá!!! Coisa que eu não sei dá nome, não sei explicar... Só me entrego! Às vezes dói, mas dói tanto!!! As minhas vestes são de desesperança e de insegurança...

Tudo anda tão feio! Fingimos a todo tempo que as coisas estão bem, dizemos isso pra convencer a nós mesmos. Maquiamos a ferida aberta e latente... Não há como ignorá-la, ela se faz presente mesmo entre risos de euforia, mesmo entre multidão... Ela nos diz que estamos sozinhos...

São tantas palavras vazias ditas pela emoção barata do momento, pois a situação pede e não pode dar pistas de que somos estranhos, diferentes... Os loucos são mais felizes... Eles sim são felizes! Não precisam de máscaras, eles vivem em sua inteireza e por isso não o suportarmos e os trancafiamos em concretos espessos, cerrados longe de nossa atenção. E sabe qual a razão? Pois, somos sóbrios e normais... Que normalidade?! Normalidade é doença... É tortura!!!

Não estou a fim de conversar sério, de lamentar o sofrimento dos outros sem nada fazer, de pensar no futuro, de ajudar ninguém, de ficar, de ir, de fazer boas ações, de responder perguntas, de andar, de correr, de ler livros e assistir TV, de encontrar alguém, de manter emprego, de acreditar em utopias, de esperar a paz mundial, de rezar... Não tô a fim... De compreender ninguém, de lutar por ideais, de acreditar... A fim de... O fim!!!

Não tô a fim de esperar o melhor de mim aparecer dizendo que tudo isso vai passar, lembrando que é sempre assim, que todos oscilam, que todos temem a aridez existencial.

Não tô a fim de alimentar minha alma com a crença de que tudo é efêmero inclusive o horror e o ardor de longa dor. Não tô a fim de cantar pra mim acalantos de que logo, logo, logo o incômodo se vai sem deixar máculas e vestígios de lágrimas e lamentos.

Já não tô a fim de me medicar com doses redobradas de esperança... Logo eu que iniciei este ano ao som dos fogos festivos mentalizando a palavra que me moveria... ESPERANÇA! Devo ter esquecido por um momento que eu sou fraco e medroso e sem paciência alguma. Agora o devaneio veio e lembrei que já não tenho força de manter as minhas promessas, os meus desejos.

Eu não sei o que fazer... Mas, não tô a fim de saber. Queria a loucura... Santa loucura que revela um outro existir, bem distante de todo esse emaranhado de mentiras, do qual é difícil se libertar... Tudo é mentira... Quero a ignorância... A irmã ignorância, companheira de todas as horas, parceira de minha infância e inocência... Quero-a!!!

Não tô a fim de me apegar a certeza de que habita em mim uma força, que foi gerada no mesmo instante que eu, cresceu e tomou forma e tá agora a me questionar, a me lembrar do homem voraz, quase primitivo e selvagem, que sobreviveu a longas tempestades e duras estiagens... E mesmo sem tá a fim de viver, VIVE... Pois sabe que ainda faz sentido... E eu tô a fim!!! Acho que eu tô caindo na real... A ficha caiu!!!

Feliz Ano Novo!!!

Noite de terça-feira, 06 de jan. de 2009


Autor: ANTÔNIO SOUZA


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