Gayranhão



O "gayranhão"

O cara se gabava de traçar tudo: melhor, todas. Dizia ser da mais alta periculosidade. Fosse de saia ou calça, mas, por baixo calcinha e por cima sutiã; com os sustentáculos guardando belos seios (pequenos, grandes, médios extragrandes), não importava; qualquer mulher era o seu número. Com elas tinha 100% de aproveitamento, afirmava o falastrão. Inventava estórias mirabolantes. Aventuras de casos e relações sexuais para-normais e extra-sensoriais. Tudo para garantir que, em se falando de e sobre o sexo oposto era com ele. Fosse desse ou de outro mundo.

Entre um gole e outro de cachaça narrou aos amigos o fantasmagórico sexo-caso vivido com a "Loira". Uma defunta meio pedófila, meio papa adolescente que nos períodos manhã, tarde e noite, com espaços para o café da tarde, o vespertino, assustava estudantes. Muitos frangotes preferiam molhar as calças que ir fazer tal necessidade no banheiro escolar: temerosos de encontrar a morta viva, cujos olhos sangravam abundantemente. Chafariz era contido na boca, nariz e os ouvidos, tapados com algodão. Hoje, pior que a suposta aparição daquela época – meados dos anos 70 – é ouvir político discursar sobre honestidade. Dá medo!

Não é que o indomável corcel encontrou a tal. – Mandei bala! Narrou o galhofeiro.– E não é mole não! Politicamente correto, disse que foi a transa mais inter-pluripartidária, com as coreografias das posições se levada ao campo da atual ideolorgia política, aporrinhada com troca de pares e partidos, podendo deixar a esquerda pasmada, a direita atônita e o cento descentralizado. A tri-ação sexo, para-normal, democrática transcorreu da forma ampla geral e irrestrita. "E que abertura!", suspirou em estado de gozo o loroteiro. Para arrematar o embuste, o garganta concluiu que de tão bom foi para as ambas as partes que ele quase morre, e a defunta quase ressuscita.

Além das assustadoras relações para-normais tinham também as interplanetárias: traçou venuzianas, marteanas, plutorianas, saturnianas, júpiterianas, e outras anãs. Enfim! Deu uma volta nos motéis de todo o Sistema Solar. Só não catou uma mercuriana por medo do bráulio virar cinzas.

Os amigos, esses, ouviam tudo no maior desdém. Alguns viajavam nas idéias, as usando para compor as suas próprias fantasias. Mas, como quem se mistura com porco farelo come, no clube do lábia tinha uns coisas bem,e um pouco mais fanfarrão que ele. A facção concorrente lançou o desafio. – Já que tu pega todas, vamos ver se uma colega nossa cai na sua rede. Se tu jogá um chaveco e passar uma noite com ela, aí, te outorgaremos o título de Rei das Forquilhas. – Trato feito majestade? Desafio aceito, meus súditos! Respondeu de pronto..

A Keylla não era mulher! Era um coquetel! Com o sabor perverso de Sheron Stone, o doce ingênuo de Marilyn Monroe, todos os cheiros da Juliana Paes, o ar felino de Kim Basinger, a opulência lasciva da Andressa Soares, vulgarmente rotulada Mulher Melancia; e a cor cravo e canela de Gabriela.

A Keylla não era mulher... era tudo... E lá se foi o aventureiro em mais uma conquista que iria ficar gravada nos anais da história. Os 12 trabalhos de Hércules, a homeriana Odisséia de Ulisses, aventuras do lendário Barão de Munchausen e outras ousadias heróicas do gênero virariam o simples conto frente repto aceito resignadamente pelo espécime eqüino de duas patas.

Os segundos, os minutos, a hora, o dia, a noite, a semana, mês. O tempo passou. Ao prazo de dois meses, a vista; o encontro com Keyylla. – Me-meus de-deuses! Isso não é mulher" – gaguejou em pensamento o desafiado, quase dilacerando a língua para balbuciar um monossilábico "Oi!!!". –Oi!", rebateu uma voz aveludada. Em situações complicadas o chão falta. Foi o caso dele. Do chão foi direto ao paraíso. E ela caiu na rede. Papo vem papo vai, sábado. A noite cai. Keylla é liberal, liberada. "Isso não é mulher!". Motel na certa? Certo! Noite de sábado. Adentram no ninho do fogo da devassidão do amor.

Bebidas, toques, penumbra, beijos calientes, tudo na lentidão da câmera. O garanhão que não era lá de beber, após alguns drinques fortes, foi apagando. "Amanhã detono a potranca", idealizavaenquanto Orfeu o embalava nos braços.

Pela manhã a cabeça dolorida e uma irritação queimando-lhe o traseiro. Maldita hemorróidas, era só beber em demasia que nascia uma flor na região a baixo das costelas. Procurou a potranca, chamou e nada, silêncio total. Repuxou o lençol a mão escorregou na gosma. O preservativo estava cheio de coisa que não saiu da coisa adormecida dele, que pegou no sono. A dor... a camisa, Ui! Vênus, Keylla. Keylla. Ai! Realmente, a Keylla não era mulher!!!


Autor: Valmir Barros


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