Bolicho do Mozo



Ali na beira da estrada

Num rancho que também servia de morada

No distrito de boca da picada, município de Jaguari

Existia um bolicho

Onde, nos domingos, era aquele reboliço

Da peonada a conversar

Uns lá fora que gostavam do retoço

ficavam jogando osso

numa sombra de “sinamão”

e o cabo Di, índio veio mui gritão

apostava ser parar

ganhava um pouco, até se emborrachar

mas depois perdia tudo num culo, baita azar

outros perto do balcão

onde tinha farto sortimento

canha pura ou misturada

e uns “legumes de porco” atados nuns tentos

E numa mesa ali do lado

Ouvi um verso de amor

de um gaúcho apaixonado

Jogando truco e cantando a flor

Entre um trago e outro de canha

De vez em quando até uma china se assanha...

E o bolicheiro de bigode e costeleta

Bem pintada de preta com graxa de sapato

Com uma cara de quem marca na paleta,

De quem sozinho tira boi do mato

Vai enrolando seu palheiro,

Nos dedos a agilidade de  gaiteiro

E fica ali olhando trigueiro

dá prá ver no fundo dos seus olhos

Que o índio não é mui hospitaleiro

Mas bolicheiro tem que manter o respeito do lugar

Se a cara for muito boa

A freguesia é capaz de não pagar

E como tudo nessa terra tem seu encanto

Neste bolicho, eu lhes garanto

Era a filha do dono do armazém

Mais linda que uma pastagem de azevém

Com cheiro de flor de pitanga

Capaz de transformar peão em boi de canga

Mas mexer com ela não convém

O pai é um xerife e a mãe,  pior que um sargento

Acho que só a velha já afasta investimento

Uma dona meio retaca, com uns braços de polenteira

Só um tapa dela é pior que estalo de soiteira

E ainda mui metida

Do tipo mandona e casamenteira

que ficava com um nojo do patrão

quando pegava a oito baixos gemedeira

Ter que aturar uma dessas como sogra

É muito sacrifício pruma vida inteira

E sacrifício o peão já tem de sobra

Na lida do campo, serviço pesado

Mas mesmo “ansim” quando me sobra uns trocados

Boto tudo de lado

E volto praquela bodega

Pois a coisa que mais me alegra

Que me deixa enfeitiçado

É poder tomar um trago

Neste verdadeiro retrato da campanha.

 

 

 

 acesse meu blog: www.blogopoeta.blogspot.com


Autor: andré sesti diefenbach


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