O amanhã que não veio melhor porque não o construímos



Algo que a humanidade resiste visceralmente em aprender é que não adianta nada desejar e esperar tempos novos e melhores se ela própria não muda. Encaro hoje com um fortíssimo ceticismo quando, em época de Ano Novo, vêm dizendo “Que 20** seja um ano de muita paz, de harmonia entre as pessoas, de prosperidade, de saúde, de justiça, de um mundo melhor, etc.”. Como é que 20** ou amanhã será um tempo diferente se as pessoas sempre mantêm os mesmíssimos comportamentos obtusos?

 

É irracional e vicioso, mas decepcionantemente corriqueiro, notar que a maioria das gentes, enquanto mantém seus vícios comportamentais de sempre, espera que tudo vai mudar crendo que o acaso – ou (os) Deus(es), para os crentes – e os outros são os únicos que podem trazer boas novas para si. São pessoas que se alienam da realidade e creem que pouco ou nada têm a contribuir para que o mundo mude para melhor.

 

É aquela situação de esperarmos que os outros deixem de agir predatoriamente e de pensar obtusamente e comecem a construir uma sociedade mais decente, enquanto nós mantemos nossos prazeres perniciosos e nos mantemos longe do trabalho árduo, crendo que, se o mundo melhorar, nossa única “participação” nessa melhoria vai ser desfrutar de tudo. Uma forma de se comportar que, multiplicado para um pensamento em rede, derruba qualquer perspectiva de que amanhã “será um dia lindo”, já que todos querem ser passivos e só curtir o final feliz e ninguém quer o ônus de exercer papel ativo na construção do que as esperanças almejam.

 

Sendo assim, obviamente nenhum daqueles vagos desejos coletivos que o fulano alienado manifestou no Réveillon passado é realizado. Para a maioria daqueles que em 2007 desejaram muita paz e prosperidade em 2008, a frustração veio esmagadora, com a violência urbana que não diminuiu – até porque o povo não agiu em favor de cobrar ativamente sua diminuição – e os resultados econômicos que não melhoraram.

 

Falando em economia, ela é um bom tema que nos empurra ao começo de uma série de perguntas que nos leva a pensar: Como alguém pode esperar colher um amanhã de prosperidade se, em vez de buscar ampliar seu negócio ou procurar empenhar-se para merecer a promoção de cargo, prefere manter a acomodação – e consequentemente não vê a realização de seus prévios desejos de melhorar de vida? Como podemos esperar um ano de paz se não fazemos nada para forçar o governo a investir satisfatoriamente contra a violência das ruas?

 

Como nossas esperanças de que aquele novo governante vá melhorar muito a cidade vão ser atendidas se nós nos recolhemos logo depois de sua festa de posse, nos isentando de empurrá-lo, por estímulo ou por cobrança, para tomar a iniciativa de empreendimentos importantes? Como vamos esperar que o ano que vem seja de justiça social e harmonia se continuaremos com a mesma atitude desprezível de não dar a mínima para pessoas carentes?

 

Torna-se evidente o fato de que nossos desejos de futuro melhor jamais vão se cumprir se não aceitamos a função designada pelo Universo de contribuir para sua reforma, mas ainda se faz mais forte do que essa lógica a viciada ilusão do pensamento alienado que espera que amanhã seja mais ensolarado do que hoje sem que se assuma tal ônus. Enquanto esse pensamento não mudar e não começar um processo de conscientização que nos dirija a mudar nossos comportamentos destrutivos e buscar sempre o melhor para as vidas nossas e do próximo, muitos anos novos ainda se tornarão velhos sem que nossos desejos de réveillon tenham se realizado.


Autor: Robson Fernando


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