Por que choras Palestina?



Por que choras Palestina?

Uma crônica

Parte I

       Muhammed vive em um vilarejo em Al-Tur, cidade próxima à Jerusalém Oriental; sua mãe, Zohra, preparava-o para mais uma ida à Al-Ayzariyah, cidade próxima, mas que ficava do outro lado do muro de separação Israelense. Sua casa tinha dois cômodos: uma sala/quarto e uma sala/cozinha, além, é claro, do banheiro. Tudo pequenininho, mas bem ajeitado.

- Anda menino! Larga essa bola e venha comer; hoje você vai visitar sua tia Ouarda.

- Ah mãe, de novo! por que tenho de ir lá? É longe...

- Não é não, fica do outro lado do muro, é só contornar...

- Contornar! Tenho de passar por várias barreiras, cães farejadores, ter a mochila revirada e, se bobear ainda furam minha bola para ver o que tem dentro...

- Hoje você vai de ônibus até o terminal de Ras Abu Sbeitan, pega o túnel novo até a estrada e daí até sua tia é um pulo.

- Ah, vou chutando bola até lá, tomara que tenha algum soldado no caminho que vou lhe dar um chapéu!     

- Não faça isso menino! Vai que ele pensa que é uma bomba!

- Hahaha, que nada mãe, eu vou chutando a bola assim e depois dou-lhe um chapéu assim!

- Ai menino! Não vai dar chapéu coisa nenhuma, já terei muita preocupação com você indo lá, ainda mais essa...

Por que choras palestina?

Choro o choro das viúvas,
o lamento eterno
que não cala no peito!

Verto a lágrima das mães
dos muitos Muhammedes
que ainda inpúberes já se foram ao paraíso...


       Ariel, soldado israelense recém formado em matemática pela Universidade Hebraica, morava em Jerusalém Oriental, território anexado em 1967, junto com outros 6 soldados. Seu apartamento tinha 3 quartos, sala, sala de jantar, uma boa cozinha e uma lavanderia. Fora praticamente um presente do governo para eles – todos recém formados e engajados nas fileiras do exército.

- Geza, poderia devolver meu lap top? Quero terminar umas pesquisas que estou fazendo...

- Pesquisas?! Você não pára de procurar probabilidades sinistras no código do Torah!

- Não são probabilidades sinistras... São eventos colapsados no espaço-tempo que derivam de ações no presente, como o tapa que vou te dar se não me devolver o lap top!

- Hahaha, eventos colapsados que derivam do presente..., cara todo o futuro provável deriva do presente!   

- Sim, mas o interessante é que há probabilidades já escritas e outras que são reescritas à medida dos acontecimentos presentes... Aliás, havia um grande Rabino chamado Moses de Leon que já o estudava no século XIII.

- E ele usava Lap Top?!         

- Tinha uma memória fantástica e sabia de cor a posição de todas as expressões do Torah.

- Tá, tá, tá, não vou mais comentar em respeito a ele e ao Torah...

- Ariel, que horas você chegou da Patrulha em Al-Isawiya ontem? 

- Acho que já eram 11 e tanto da noite, por quê?    

- Porque recebi um informe de que você está escalado para o Checkpoint de Ras Abu Sbeitan...   

- Aquele perto do Parlamento Palestino?

- Não, o que fica ao lado do terminal.     

- E como eu vou para lá?    

- A pé, de ônibus, como quiser, hehehe...  

- Pô Baruch, não dá para me conseguir uma carona? - Não dá!   

- Cara, eu vou ter que guardar o uniforme todo na mochila... 

- Ué, vá uniformizado!

- E levar uma pedrada ou quem sabe um abraço fatal!

- Que nada, os palestinos que vivem aqui são todos gente boa...      

- Ah tá, depois do muro ficaram ainda mais legais, né?!


Por que choras,  Palestina?

Choro o choro de mãe
a ver seus filhos sangrarem...
Choro o choro sofrido
dos tempos vividos
e eles ainda a se matarem...

         Meu nome é Abd El Hafsi, tenho 21 anos e serei um mártir. Já tenho alguma barba, meu queixo é firme, meus ombros fortes, dignos dessa responsabilidade. Devo lembrar bem as palavras do Xeque Umar Al-Nefzawi (Que Deus lhe seja misericordioso!):

- estar sempre pronto para entregar tudo pela ideologia;

- não olhar nos olhos de uma mulher;


- não olhar nos olhos de uma criança;

- não divagar;

- estar com a mente apontada para a missão.

Há dias saí de casa, estou preparado! Meus pais vivem em Al-Amari, hoje um campo de refugiados, fui educado em Ramallah e cedo meus professores perceberam que meu destino seria glorioso. Meu tio Abdul mudou-se para a França e meu tio Jenilous para o Brasil.

Brasil..., se meu pai tivesse ido para lá talvez eu tivesse tido o mesmo destino dos meus primos:

Farad é médico e minha prima Leila é procuradora de Estado; já esqueceram a causa, suas mentes estão entorpecidas pela vaidade e o egoísmo; não passam de infiéis...

Alguns pensavam que eu não teria futuro, mas o que eu nunca tive foi o presente, que roubaram de nós. Vivemos do passado para a reconstrução do futuro.

Não divagar...

Estou pronto, todos os preparativos já foram feitos, a roupa está ajustada, hehehe, bem ajustada...

Este é meu melhor destino, talvez melhor ainda teria sido estudar nos Estados Unidos, em Harvard! Haver-me formado em Ciências Políticas, e tornado-me assessor do presidente dos Estados Unidos!

Ahh, e em um dia como este na Casa Branca, o presidente me chamando para um abraço de agradecimento...

Hahaha, seria realmente glorioso!

Manter a mente apontada para a missão...

Como será o último instante? Talvez como disse uma vez o Xeque Umar: o tempo se dobrará sobre vós em um segundo que eternizará vossas vidas... 

Por que choras palestina?

Parte II

-Venha Muhammed, faça suas orações e depois coma o que preparei para você. Enquanto isso vou arrumar sua mochila... Ó Deus, seja misericordioso com meu menino e com seu pai Jaffah que está trabalhando em obras em Dubai. Há seis meses que não o vemos, espero que Tarik o marido de Ouarda tenha trazido alguma notícia dele, afinal eles trabalham próximos... Ainda bem que em suas últimas férias deixou-nos o suficiente, de si e para o sustento... Agora venha comer Muhammed.

- Mãe, por que não vamos para o Brasil? Eu poderia ser jogador de futebol e ajudar você e o papai.

- Não é assim tão fácil meu filho, há muita política para isso...

- É mãe, mas daqui há pouco não vai ter nenhum amigo meu do lado de cá do muro, e talvez, até nós tenhamos que nos mudar!

- Só Deus sabe disso meu filho, só Deus...

- Não mãe, quando eu vou na casa da tia e passo o muro há sempre alguém do lado de lá que diz: por que você veio para esse lado, não sabe que é isso que eles querem? Volta para lá! E aí tenho que explicar até às árvores o que fui fazer e onde estava indo... Na volta, pior: De onde você vem menino, deixa eu ver sua mochila, o que é isso? (bola!), onde é sua casa, onde está seu pai, sua mãe..., e depois de quase ficar pelado, me deixam passar. No Brasil eu poderia ser jogador de futebol, jogar com o Ronaldinho e o Robinho na seleção do Brasil!

- Mas você é Palestino menino!

- É, mas não temos uma seleção da Palestina...     

- Não temos nem um Estado, que dizer de um time de futebol...

- Que mãe? Time de futebol não! Uma seleção! Os melhores jogadores da Palestina e eu lá, dando chapéu nos Israelenses, já pensou?

- Hahaha, seria interessante meu filho...

- E aí eu dou o “drible da vaca”, o “pedala Robinho” e o mais novo: “você vai pra lá, que eu vou prá cá”!

- De onde você tirou isso menino? Todo mundo comenta na escola mãe e o Senhor Maluf da mercearia me falou dessa última arma secreta do Robinho; ele disse que o jogador da Colômbia ficou com um nó nas pernas por 3 dias!     

- Hahaha, você não deveria ficar dando ouvidos ao Maluf... 



                   Por que choras, palestina? 

     Choro o choro de quem não pode dormir, 
                choro a ausência de sonhos, 
                   o estado de sobressalto, 
                        a dor do pesadelo...


       - Ariel, me diga uma coisa, eu gostaria de acreditar nessa sua perspectiva de estudo, mas me parece um tanto improvável que haja uma escrita secreta e dinâmica por detrás dos textos sagrados.   - Não só dinâmica Geza, mas viva...       

- O que quer dizer?

- O Ravi Moses de Leon contou em seus escritos que quando os romanos dominavam nossa terra, havia uma ordem de proibição da leitura do Torah, mesmo em casa; então, os rabinos começaram a lê-lo de uma forma diferente. Foi o Ravi Moshe Ben-Maimon quem primeiro conseguiu relacionar as palavras em ordens implicadas no contexto dos livros. Antes disso, muitos tentaram memorizar e passavam horas da noite lendo o Torah com lamparinas bem pequeninas para não chamar a atenção dos soldados romanos. Mas, havia aqueles que viviam por entregá-los...

- Que horror!

- É, esse tipo humano sempre existiu em qualquer cultura... Moses de Leon conta também que em uma dessas noites, um espião percebeu um tremeluzir de vela na casa do Rabino Ben-Yusef e chamou um soldado Romano; o soldado informou ao Centurião, que deu ordens para invadir a casa. E lá estava o Ravi, simplesmente dedicado à leitura do texto sagrado... 

- E o que aconteceu?!

- O Centurião ordenou que o amarrassem em um grande tronco em frente à sua casa, para que todos os vizinhos pudessem vê-lo e lembrassem da proibição. Um cordão de isolamento fora realizado para impedir que os discípulos do Rabino o ajudassem; daí o Centurião, pessoalmente, dirigiu-se ao Ravi, pediu a Torah confiscada e retirou todas as folhas jogando-as no chão a seus pés, diante dos olhares atônitos da multidão que se formava. Então, deu uma gargalhada e mandou que um soldado colocasse as folhas em volta do Ravi já amarrado. O Ravi nada dizia, só olhava para o Centurião tentando entender a motivação de seus atos.

- E então Rabino, peça agora ao seu Deus para salvá-lo, se algo acontecer, prometo que o libertarei. O Ravi continuou a fitá-lo.

- Que assim seja Rabino! Juntem lenha ao tronco e ponham fogo!                  

Ahhhhh! Gritava a multidão horrorizada!

- Não façam isso! Soltem-no, já é o bastante! Não basta nos humilhar, ocupando nossa terra e até nossas casas, têm que roubar nossas almas?  Cães! Chacais! Abutres!

O Centurião apenas sorria. Depois que as últimas toras de lenha haviam sido depositadas, pegou ele mesmo um pote cheio de óleo e jogou sobre o Ravi, as cordas, as folhas da Torah e as pequenas toras de madeira; em seguida pôs fogo sobre tudo... O Ravi contraiu o rosto em dor. A multidão gritava desesperada! Os discípulos choravam e pediam a Deus que tomasse a alma do Ravi. O Centurião juntou com o pé uma ou duas toras que escapavam, e, de repente, o Ravi com o rosto lívido e sem expressar nenhuma dor, fitou os céus...   

- O que vês Mestre?

- Dê-nos seus últimos ensinamentos!

- O que vês?!

- E sorrindo, o Mestre disse: Vejo as letras do Torah, me envolvendo em uma dança espiralada até o mais alto dos céus...     

- Assim, com um sorriso extático, deixou essa vida.


Por que choras Palestina?

Parte III

Vitória, na morte?

Transbordo em mim mesma a expectativa do vir a ser,
e em não sendo, reflito o deslumbramento nos olhos daqueles
cujos árduos passos de uns dias já passados
almejam comigo o completar-se...
Mas, se não somos ambos, e "amamo-nos" tanto assim,
o que será dos que em nós sustentam suas esperanças?
Ai, ai natureza infinda..., entre o Paraíso e o nihilismo,
onde fico eu?

10:34h da manhã


O pregador Omar Al Bhakit chega ao sobrado amarelado onde Abd El Hafsi aguarda por seu encontro com a eternidade. Ao seu lado, o Xeque Abdulazi Al Sustan observa o movimento na rua..., o sol causticante torna ainda mais brancas suas vestes.

- Subamos.

As escadas são íngremes e mal-cuidadas, o Xeque suspende levemente suas vestes e prossegue. Uma batida, aparentemente em código, provoca uma pequena perturbação em Abd, imerso em seus pensamentos.

- Que Deus lhe seja misericordioso, professor!

- Que Deus lhe seja misericordioso, ó enviado!      

– Fique à vontade meu filho, respondeu o Xeque, passando ao lado do rapaz e perscrutando calmamente o ambiente. Abd, orgulhoso de sua sorte, organização e limpeza, não deixa escapar um sorriso de satisfação e euforia que lhe advém, mordendo a língua. Omar ergue suavemente a cabeça analisando a expressão e postura do rapaz. O Xeque toma em suas mãos um pequeno e surrado caderninho com anotações que Abd fez em seus anos de estudos com o pregador Omar e as diversas palestras do Xeque. Folheia-o atentamente...

- Abd. Chama sua atenção Omar.      

– O Xeque lhe fará várias indagações para provar sua alma e sua fidelidade à nossa causa. Preste atenção. Não se exalte. Pergunte o que quiser, absolutamente qualquer coisa, mas espere-o terminar quando estiver expondo algum ponto. Permita-o interrompê-lo, mas não o interrompa.

- Fique à vontade, sente-se... Diz, indicando-lhe um assento, o Xeque Al Sustan.

– Meu filho, você já teve uma namorada?

– Não, senhor.

– Nenhum romance? Nem em Al Amari, onde vivem seus pais?      

- Sim, senhor, mas foi em outra vida...      

– Não meu filho, as remanescências desse amor ainda vibram em sua alma..., isso pode gerar dúvidas.      

– Não senhor, meu amor é à minha causa, à minha ideologia, à minha missão!

– Ha, ha, ha... Vê Omar, ele ainda é uma criança...

– NÃO! Senhor...               

– Por que te exaltas, Abd? Não aceitas que és uma criança ou não aceitas que ainda ama à Mahmouda, tua antiga namorada...?            

– Senhor, não guardo lembranças de nenhuma mulher. E, apesar de sentir-me como uma criança que está prestes a encontrar seu Deus, sinto-me honrado e velho o suficiente para perpetrar o que me foi incumbido.      

  – Muito bem decorado rapaz!   ESTÚPIDO! NÃO QUERO OUVIR FALAS DE SUAS ANOTAÇÕES INFANTIS! QUERO OUVIR SEU CORAÇÃO VIBRANDO NA CAUSA DOS MÁRTIRES!

Fez-se um longo silêncio. Abd olha para baixo e esfrega suas mãos. Omar levanta-se para preparar um chá. O Xeque sentado de forma perfeitamente ereta, alisa com o polegar e o indicador da mão direita, seus longos bigodes e barba.

- “Por que você não luta pela causa de Deus e ajuda àqueles homens e mulheres fracos que estão gritando: Nosso Deus, tire-nos desta cidade cujas pessoas nos oprimem”. (o Al Nisa 4:75)

- Você tem medo?

– Não senhor...                               

– Mas... 

– Eu não sinto que seja certo matar outros muçulmanos e inocentes..., pois assim diz o Corão... – “Para qualquer um que matar um crente (muçulmano) intencionalmente, sua punição será o inferno; ele vai morar lá, e Deus vai enviar sua ira sobre ele e amaldiçoá-lo, e preparar para ele uma dolorosa punição”..., e, meu filho, está escrito também: “Qualquer um que agir de forma hostil ao profeta, depois da orientação haver-se manifestado nele, e seguir outro caminho que não seja o dos crentes, nós (os crentes) vamos torná-lo no que ele tornou a si mesmo (infiel) e vamos fazê-lo entrar no inferno, um lugar de encontro do mal”.

Omar traz o chá e todos o apreciam calmamente.

- Meu filho, todos os condenados e todos os que morrem não são mais muçulmanos antes do começo da missão, portanto, o inferno está descartado para você e o paraíso continua assegurado por ter eliminado do mundo apenas os infiéis.                                   

– Senhor, Deus não me puniria pela morte de crianças que ainda não tiveram a oportunidade de entendê-lo ou conhecê-lo através dos ensinamentos do profeta?    

– Não se você morrer junto com elas meu filho... Esses anjos inocentes conduzir-lhe-ão ao paraíso, aos braços do profeta, a Deus.                     

– Não há outra maneira de reagirmos, senhor?           – Infelizmente não, meu filho, nossos inimigos não afetam nossas comunidades, afetam os indivíduos, desmembrando nossas nações, nossas famílias... Eles dizem que buscamos nossa identidade em uma fé perdida no passado, sem fundamentos reais, sem conteúdo verdadeiro... E é por isso que devemos ferí-los em sua própria fé, a fé em si mesmos! E o faremos forte e resolutamente, como só mártires são capazes de fazê-lo. Abd olhou profundamente nos olhos do Xeque afirmando-se como emissário da causa dos mártires.

- Obrigado pelo chá. Vamo-nos, Abd tem muito o que fazer.

Todos se levantam, e Abd os acompanha até a porta. O Xeque vai na frente, acompanhado por Omar que se vira para Abd e lhe abraça.

- Que Deus o acompanhe em cada passo!

– Amén.

Abd fecha a porta e pronuncia para si:

- Meu líder religioso me absolveu de todos os pecados que eu já tenha cometido ou que venha a cometer, portanto, posso dar prosseguimento à minha missão sem receio de ir ao inferno ou morrer sem ser absolvido. Meu líder religioso determinou que aqueles que eu matar não são mais muçulmanos, são infiéis, assim como os outros; e pela minha religião tenho o dever de mandá-los ao inferno...

nota: a linha ideológica expressa no texto, faz referência ao Takfirismo e não ao islamismo clássico.


Por que choras palestina?

Parte IV

11: 25h da manhã, um homem em túnica verde passeava por uma das ruas de Ras Al-Amud; trazia consigo um grande e luminoso sorriso, e, em sua direção, vinha um jipe do exército israelense.

- Ei, você! Para onde está indo?
- Que Deus esteja contigo!
- Perguntei para onde está indo!
- Eu achava que sabia, e agora não sei mais...
- Está de gozação conosco homem velho?
- Não policial, eu apenas pensava saber para onde ia, e agora que vocês chegaram não sei mais para onde vou...

Enquanto isso, duas pessoas em túnicas brancas saem de um sobrado próximo. O velho homem os fita concentrado, por um breve instante, e então torna a sorrir.

- Desculpe-me policial, estava tão feliz porque minha neta está por nascer que minha mente ficou um tanto fora de lugar. Não quis ofendê-los, vou sentar-me um pouco ali adiante, para tomar ar, depois sigo caminho para minha casa que fica a dois quarteirões daqui. Muito obrigado pela preocupação!
- Está bem, está bem..., e, parabéns pela neta!
- Oh, obrigado!

O velho homem caminha alguns passos e então senta-se em um muro baixo em frente a um sobrado amarelo; contempla as nuvens no céu, sente o vento e sua direção, estreita a vista ao horizonte e espera...

11:34h, sai um jovem vestindo calças jeans, uma camisa branca aparentemente nova e um casaco amarelo felpudo. O homem em túnica verde levanta-se e vai em sua direção.

- Olá meu jovem, eu estou um tanto perdido, poderia me ajudar?
- Desculpe senhor, estou com pressa.
- Oh, de forma alguma quero tomar-lhe o tempo, mas tenho certeza que com a sua ajuda poderei ganhar a eternidade...
- Abd El Hafsi olha intrigado para o homem e pergunta seu nome.
- Meu nome é Ali Farmadhi e o seu?
- O meu..., é Mojud! De onde vens senhor, seu tom de voz é um tanto diferente...
- Ah, eu andei muito por aí, mas minha cidade natal é Samarkand no Afeganistão.
- Sr. Farmadhi, eu estou realmente com pressa, em que poderia ajudá-lo?
- Sabe, minha filha mora em Ras Abu Sbeitan e eu não sei como chegar lá, você por acaso sabe?
- Sbeeitan..., eu não sei!
- Ah, não é nenhum problema, mas você está bem elegante, talvez vá tomar algum ônibus e eu possa acompanhá-lo até uma parada...
- Senhor, peço desculpas por não poder ajudá-lo, mas eu gostaria de andar só.
- Ah meu filho, muitos pensam que as melhores jornadas são solitárias, mas eu sempre digo que
1“nunca estamos sós ou sem ajuda, a força que guia as estrelas nos guia também”... Desculpe-me a impertinência, mas eu simpatizei muito com você e gostaria de simplesmente acompanhá-lo até o ônibus. Você vai de ônibus a algum lugar não vai?
- Sim, vou...
- Então?
- Humm, está bem! Vou para além do muro e poderei pegar um ônibus que passe por Ras Sbeitan, e com isso, ajudá-lo a ganhar a eternidade...
- Hahaha, que bom que seu humor voltou, sabia que podia contar com você!

Porque choras, palestina?

Choro o choro do santo,
extático; olhar voltado para cima;
vertendo suas lágrimas pelo canto,
enquanto uma suave brisa serpenteia-lhe coluna acima.
Choro enquanto sorrio
para quem vê é um desvario,
Mas para quem sente
é deixar-se seguir no Grande Rio
e transbordar no peito
a dor-felicidade dos que realizam o Grande Feito...

- Ariel, meu turno já acabou, pegue suas coisas que lhe dou uma carona até o ponto para Ras Sbeitan. Enquanto isso, gostaria que me explicasse mais sobre esse código do qual me falou.
- Está bem, vamos.

Por que choras, Palestina?

Choro o toque dos sinos,
O sino das sinagogas, das mesquitas e das igrejas.
O som do meu choro é o mesmo,
embora diferentes sejam as lamentações...

- Mãe, não precisa colocar tanta comida na mochila, vai ficar pesada e não poderei ir chutando bola.
- Estou colocando o suficiente para a ida e a volta. Entregue esse envelope para sua tia e não esqueça de guardar bem o que ela lhe der. Lembre-se de não fazer gracinhas para os guardas, quanto menos chamar-lhes a atenção melhor! Agora vamos que o levarei até o ônibus.

Por que choras, palestina?

Choro o choro da Grande Mãe
que espera a cada dia,
uma atitude mais sensata dos seus muitos filhos.
Rogo pelo fim das provocações,
das pequenas intrigas e das mediocridades,
que separam nossa cidade
por um grande muro e lamentações...

1 - Srii Srii Anandamurtijii - Filósofo e guia espiritual Indiano.

Por que choras Palestina?

Parte V

- Geza, o código está sendo estudado há muito tempo, no início era um processo mental de assimilação de palavras ocultas em um texto, onde os espaços eram desconsiderados; podia-se ler palavras em saltos que variavam de 2 a 50 letras, por exemplo. Uma forma mental mais complexa, desenvolvida ainda no tempo de Moshe Ben Maimon, era a busca por palavras ocultas em diagonais, verticais, horizontais e depois integradas em quadrantes.
- Nossa, como era possível isso?
- Primeiro, o Moshe criou cartões com textos em forma de matrizes de 50 por 50, estudou cada cartão em todas as perspectivas possíveis e, à época, já eram incríveis as descobertas.

Com o tempo, o Moshe já tinha memorizado todos os cartões. E passou a fazer as relações mentalmente. Sua habilidade tornou-o célebre dentre os estudiosos; mas não foi só isso, ele passou a interpretar o Torah de uma maneira diferente; havia expressões, frases inteiras, avisos e até previsões que se confirmavam no tempo linear.


- Que incrível! E por que não se sabe nada sobre isso, pelo menos, fora dos círculos reservados?
- Porque o Moshe passou a ser temido por sua genialidade crescente, pela força e convicção de suas descobertas, ainda que admirado por alguns.
- Aconteceu alguma coisa?
- Sim, os interpretadores do código do Torah foram secretamente perseguidos e ainda o são.
- Ainda? E você fica para baixo e para cima com esse lap top, estudando esse programa?
- Ha, ha, ha, não se preocupe Geza, eu sou um inofensivo; o pessoal do Mossad já mexeu no meu computador várias vezes; tentaram não deixar rastros, mas eu tenho meus algoritmos secretos...
- Mexeram no seu computador? E aí?
- Cara, o Mossad está em todo lugar; na faculdade estava cheio deles, é doideira! No início, achei que você também o fosse, porque vivia mexendo no meu lap top, só que deixando todo o tipo de rastros, bem diferente do padrão de acesso do Mossad...
- Que é isso cara?
- É, eu sabia tudo que você fazia no meu computador, e ainda tinha que ficar limpando as sujeiradas daqueles sites pornôs que você vivia acessando... Ha, ha, ha...
- Pô, Ariel, que é isso? Eu tomava todo cuidado cara! Depois, você tinha firewall, spyware, adware, anti-pharming, antivírus, como é que podia ficar alguma coisa?
- Cara, praga sempre dá um jeito de grudar...
- E, depois, admito que sempre tive curiosidade em saber o que você tanto fuçava em seu computador por horas a fio, que não era internet e nem jogos... Mas, quando procurava em seu computador não encontrava nada a não ser programas básicos e arquivos comuns.
- Ha, ha, ha. Geza, você é um verdadeiro bisbilhoteiro! Mas confesso que fui eu quem despertou sua curiosidade e, provavelmente, a do pessoal do Mossad. Mas vou te contar meu segredo... Criei um programa que criptografa qualquer arquivo, mesmo os executáveis, e os compacta. Depois disso, eu os renomeio com um nome de sistema bem comum e o escondo no meio dos milhares de arquivos do sistema operacional. Encontrá-lo já é difícil mas, se alguém o conseguir, terá problemas com a minha senha de 256 bits! Ha, ha, ha...
- Putz cara, mas para que tanto segredo?
- Primeiro, eu faço de pirraça, para mexer com os bisbilhoteiros como você! Segundo, eu gosto de estudar seriamente, e vou catalogando as pesquisas, fazendo analogias, comparando dados, criando hipóteses e até coletando informações de jornais e cruzando com informações do código.
- Uau, mas cara, você deveria trabalhar lá no Mossad, e não como soldado...
- Eu sou só um amador..., os caras que trabalham com o código lá têm pós-doutorado em matemática, física, engenharia de sistemas, teologia, história, etc.., eu só poderia ser um analista júnior, ficaria todo tempo rastreando a internet e não teria teria tempo para meus estudos particulares. Já, como soldado, faço meu turno e fico totalmente livre com algum dinheiro no bolso.
- Você disse que os interpretadores do código que não trabalham para o Mossad, claro, são perseguidos até hoje, por quê?
- Geza, hoje há programas que lêem o Torah em múltiplas dimensões, as informações são coletadas e reunidas por supercomputadores. Depois, os especialistas as analisam.
- Mas, o que é analisado nesses programas?
- Eventos, Geza. Eventos do presente e do futuro!
- Do futuro?
- Sim, mas há uma limitação nos programas. É necessário uma chave para interpretação: algumas palavras-chaves que desencadeiem o salto das palavras e expressões que caracterizem eventos.
- Como assim?
- Imagine que você saiba o futuro, sabe que algo acontecerá ao meio-dia de hoje. Então, insira nos programas palavras como Ras Abu Sbeitan, o meu nome, a hora, o nome de outras pessoas envolvidas que você já saiba que participarão do evento e inicie a busca com saltos de letras de até infinito. Se seu programa for muito bom, ele desencadeará resultados em camadas e poderá agrupá-las pelo sentido que elas formem entre si. Depois, você as analisa. Por exemplo, o código passou a ser reconsiderado a partir do atentado ao primeiro ministro Yitzhak Rabin, que foi previsto por meu professor de matemática que usava o código.
- Cara, que é isso?
- É, ele tentou avisar ao governo e ninguém o levou a sério, diziam que qualquer autoridade estava em risco a qualquer hora e lugar.
Mas ele informou o lugar do atentado e a hora; perguntaram como ele ficou sabendo e, quando disse que foi com a ajuda do código, desligaram.
- Mas aconteceu!
- Sim, e o professor nunca mais foi visto... Mas qualquer um que tenha o programa básico, com as variáveis já sabidas do evento passado, pode encontrar as informações do atentado e - pasme! - até o nome do assassino está lá!
- Mas isso é fantástico!
- Por isso é levado a sério hoje em dia, mas seu uso oficial é guardado em segredo.
- Mas como você disse, há informações que só são possíveis de se saber após o acontecimento.
- Sim, mas é por isso que foi criado um novo sistema de rastreamento na internet. Através dele e com a utilização de satélites e bancos de dados compartilhados pelo mundo, é possível cruzar dados que presumam ameaça, com informações completas sobre os autores, inclusive os locais onde se encontram, mesmo que os IP sejam mascarados. Daí é só cruzar as informações mais ameaçadoras com o código do Torah multidimensional e: Eureka!

Por que choras, Palestina?
Choro gotas do orvalho
Choro pelo sol que está por vir
Por aqueles
Que sua luz não poderão sentir,
Seja por estarem à deriva
No mar do mundo,
Seja porque do mundo
já hajam desembarcado...

- Lá vem o ônibus, Muhammed, meu filho. Ah, dê-me aqui um abraço.
- Ai, mãe, não fica me apertando tanto assim na rua. Mas tudo bem!
Dos olhos de Zohra rolam lágrimas inesperadas e o coração se aperta no peito, não querendo seu filho deixar. Seca uma lágrima fugidia, levanta-se e faz sinal para que o ônibus pare.
- A Deus mãe.
- A Deus meu filho.

Por que choras, palestina?
Meu choro é o da lua partida
Talvez um choro de corações partidos
à procura da completude.
Meu choro é o da estrela solitária,
Talvez o choro de corações solitários
que na estrela distante
busquem o seu próprio calor.
Ó estrela em cuja gravidade existo.
Ó lua em cuja superfície me espelho...


- Mojud, meu jovem, você gosta de dançar?
- Não, senhor.
- Ah, eu gosto! Danço como girassóis até que o sol se ponha... Ha, ha, ha...
- Você já viajou, Mojud?
- Não.
- Ah, ainda há tempo... O mundo é muito grande..., bonito e diverso. Do oriente ao ocidente, do nascente ao poente, há muito o que se viver...
- Não tenho tempo para isso.
- Ah! meu jovem, desculpe este velho impertinente, mas justamente por causa desse ar responsável que traz no rosto é que você merece o mundo conhecer.
Sabe, quando eu tinha a sua idade, eu saí lá de Samarkand e andei pelo mundo afora... Sempre há algum trabalho para um jovem bem disposto, mesmo que não seja muito sorridente, não é Mojud? Ha, ha, ha.
- Senhor Farmadhi, meu mundo é a Palestina e, pelo que sei, o seu deveria ser o Afeganistão.
- Sim, sim, mas apesar disso, nossas línguas são similares, nossa cultura é compartilhada, o céu que nos cobre é o mesmo, e o manto que se espalha pela terra é do mesmo Deus. Seríamos muito tristes e solitários se confinássemos nossa mente e nosso espírito a um só pedaço dessa grande terra.
- Mas com esse pedaço de terra temos responsabilidades.
- Sim, e há várias maneiras de cumprirmos nossa responsabilidade. Veja, no mundo há várias culturas, e a nossa, graças a Deus e aos nossos antepassados, está espalhada pelo mundo, coexistindo com as outras. Há lugares rigorosos como o Irã e há outros mais tolerantes, como o Líbano; mas são todos, de uma forma ou de outra, de cultura árabe. Há diferenças familiares, de clãs, de tribos, que acabam, com o tempo, por tornarem-se diferenças étnicas; mas Deus nos une, nosso amor por Ele nos une, assim como Seu amor por nós nos uniu um dia e nos unirá no futuro.
- Sr. Farmadhi, é por causa de mentalidades como a sua que nosso povo sofre.
- Por que, Mojud?
- Porque essa maneira de pensar nos enfraquece, dispersa-nos e permite ao inimigo nos ocupar com mais facilidade, enquanto, segundo sua concepção, tornamo-nos viajantes apátridas, passeando pelo mundo.
- Não, meu filho, o inimigo utiliza o nosso ódio contra nós mesmos. Ele nos incita para que o ataquemos. Por quê? Porque o mundo nos protege. O mundo tem olhos para nós, para nossos problemas, e o inimigo ainda não nos ocupou completamente porque o mundo possui regras de convivência e de civilidade. Ao nutrirmos nosso ódio, damos salvo-conduto ao inimigo para agir segundo suas prerrogativas de defesa. E por que ele consegue isso? Porque ele tornou-se forte ao unir-se. Eis nossa fraqueza, seja como indivíduos, como familiares, como nação ou como seres humanos: a tendência à divisão e, portanto, ao isolamento.

Abd fica em silêncio. Por um brevíssimo instante, sua atitude resoluta, dá lugar a um grande tormento: o da divisão interior.

Por que choras, Palestina?
Choro a ausência dos Abdis
que morrem por suas causas,
e que, embora resolutos,
no fundo são solitários
e sofrem no isolamento
a mais terrível dor.




11:52
Checkpoint de Ras Abu Sbeitan


- Chegamos!

- Valeu, Geza, depois nos vemos.

Ariel dirige-se a um soldado do posto de vigilância.

- Onde encontro o comandante?
- Quem é você?
- Ariel Shalom. Força de segurança – comunicações.
- Aguarde um instante, estamos em alerta 3.
- Terrorista, aqui?
- Sim, recebemos um comunicado da inteligência.
- Hum, aqui está minha identificação, posso esperar ali dentro? Talvez eu possa ajudar...
- Está bem.

Ariel acomoda-se em uma pequena sala com mesas, cadeiras e um grande mapa daquela localidade. Abre a mochila e tira seu notebook.
- Código do Torah... Ras Abu Sbeitan, 30 de dezembro de 2007...

Enquanto isso, chegando ao terminal...
- Oh, o grande terminal de Sbeitan.
- Os portais do céu... Diz Abd.
- ... ou do inferno... Completa Ali Farmadhi.
- He, he, he, é verdade.

A alguns metros dali, um forte movimento de revista. Abd já percebeu, seu olhar muda e seu semblante torna-se austero.

Em outro ponto do terminal...

- Nossa que tumulto!
- Ei, vocês, vão atravessar? Todos para ali.

Os policiais se espalham por todo o lugar e começam a formar grandes filas. Um caminhão cheio de soldados e cães farejadores estaciona.


- Ai, meu Deus, é hoje que não saio daqui.
-Calma menino, não se preocupe, tire sua mochila das costas e ponha-a a seus pés para evitar maiores problemas; e não deixe ninguém mexer nela que não sejam os policiais.
- Por que o senhor está dizendo isso?
- Por que eu acho que eles estão procurando um homem-bomba...
- Nossa, e não é melhor sairmos daqui?
- Está vendo aqueles ali no canto, de óculos escuros? São do Mossad; qualquer movimento suspeito e eles nos prendem.
- Ai, ai, ai...
- Calma, vai terminar tudo bem...

Dentro do posto de vigilância...

- Grande luz na hora cheia..., grande luz na hora cheia... Meu Deus, o ataque será ao meio-dia!
Abd caminha calmamente a uma das passagens quando um policial o interrompe.
- Vá para a fila de inspeção!

Abd o fita sem expressão.

- Vá para a fila de inspeção!

O policial o encara seriamente ao mesmo tempo em que pega o walkie talkie.


- Desculpe-nos, policial, meu sobrinho é surdo, já estamos indo para a fila. Obrigado.
- Está bem. Leve-o daqui.
- Vamos, Mojud.

Os dois dirigem-se à fila. Há doze grandes filas, a inspeção se inicia...


- Ei, senhor, olhe aquele velho de túnica verde e aquele cara de casaco amarelo.
- Não olhe para eles. Olhe para frente ou fique conversando comigo.
- E se ele for um homem bomba?
- Eles não andam acompanhados e, pelo visto, aquele senhor deve ser o pai ou avô dele.
- Mas eu não sou nada do senhor e o senhor está conversando comigo.
- Justamente para a segurança não pensar que você é um menino-bomba.
- Eu?!
- Sim, com esse mochilão você é bem suspeito...
- Ha, ha, ha, talvez depois que eu comer toda a comida que minha mãe colocou aí...
- Nem pense nisso, ha, ha, ha.

12 horas


Todos os muçulmanos se ajoelham voltados para Meca. Os policiais israelenses põem as mãos na cabeça desconsolados. Alguns trazem consigo pequenas bolsas e tiram pequenos tapetes e garrafinhas para abluções.

Abd não traz nada consigo, mas ajoelha-se igualmente, olhar voltado para cima... Farmadhi, ao seu lado, pega um belo tapetinho persa e um cantil dourado; faz suas abluções e olha para Abd, que começa suas orações:


1 "Dou graças a Vós, Senhor, por me conhecerdes melhor do que eu me conheço, e por me deixardes conhecer-me melhor do que os outros me conhecem. Tornai-me melhor, rogo-Vos, melhor do que eles supõem que eu seja, e perdoai-me pelo que eles não sabem".

Ali Farmadhi começa suas orações:


2 "Ó Deus, dai-me luz em meu coração, e luz em meu túmulo;
luz quando escuto e luz quando estou vendo;
luz na minha pele, luz no meu cabelo;
luz na minha carne e luz nos meus ossos;
luz diante de mim, luz detrás de mim;
luz à minha direita, luz à minha esquerda;
luz acima de mim, luz debaixo de mim.
Ó Deus, fazei crescer a minha luz
e dai-me a grande luz do Todo.
Ó Tu, misericordioso, dai-me luz;
Ó Tu, o mais compassível,
Ó, cheio de graça".


3 "Ó Deus, Sua graça é o correto objeto do nosso desejo, não é próprio acrescentar outro ao Senhor. Nada é mais amargo do que afastar-se do Senhor. Sem sua proteção não há nada, exceto desorientação; nossos bens materiais nos privam de nossos bens espirituais; nosso corpo rompe as vestes da nossa alma, nossas mãos, como estão, oprimem nossos pés; sem confiarmos no Senhor, como poderemos viver?
E se a alma escapa destes grandes perigos, é capturada como vítima de infortúnios e medos, pois quando a alma não está unida ao Bem-amado, ela vive cega e obscurecida por si mesma".

De repente, Ali Farmadhi ergue suas mãos aos céus e começa uma canção em tom alto e lamentoso. Todos se voltam para ele.


4 "Seja feita sua vontade, meu Senhor e Mestre.
Ó Senhor, significado do tesouro do meu espírito.
Ó Essência do meu ser, Meta do meu desejo.
Ó meu Falar, minhas Intuições e meus Gestos..."

Seu corpo começa a tremer, as lágrimas rolando abundantes de seus olhos...


4 "...Ó Tudo do meu tudo, Ó minha Audição e minha Visão. Ó meu Completo e meu Elemento, ó minhas Partículas..."


Um forte tremor toma conta de seu corpo, um sorriso sobrenatural surge em seu rosto. Os policiais israelenses se aproximam, não sabendo o que fazer; todos os muçulmanos interrompem suas orações e curvam suas cabeças em respeito a Deus. Abd fica petrificado. Um agente do Mossad dá ordens pelo walkie talkie para pegarem o velho. O comandante intervém, adverte que este ato poderá provocar uma grande revolta. Os policiais se aproximam com os cães. Abd olha para cima e fala para si:


- É chegada a hora...


Ariel vai para fora, vê o centro das atenções e pensa: na hora cheia, uma grande luz!


A terra começa a tremer, um forte vento toma conta do lugar trazendo uma grande quantidade de poeira. Todos ficam atônitos e temerosos. Ali Farmadhi com um belo sorriso, olhos molhados, pega as mãos de Abd e diz:


Vamos meu filho, não é essa a sua hora...


Abd levanta-se e parte com ele.


Cessa o tremor e o vento volve-se em brisa fresca. Todos procuram o velho Santo, mas ele já não está mais ali, assim como o jovem de jaqueta amarela.


- Uau, deixa eu contar para minha mãe!
- Meu filho, essa você poderá contar para seus filhos e netos, assim como para todas as pessoas que tenham ouvidos para ouvir...


1 - Abu Bakr; 2 - Hazrat Inayat Khan; 3 - Jalal Ud-Din Rumi;

4 - Kashf Al Mahjup


Autor: Marco Aurélio Pinto da Fonseca


(Conto registrado na Fundação Biblioteca Nacional - o todo e suas partes não poderá ser copiado de nenhuma forma).

Art. 184 -  Código Penal.


Autor: Marco Aurélio Pinto da Fonseca


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