PROJETO VOLTADO Á INTRODUÇÃO DA HUMANIZAÇÃO NA ASSISTÊNCIA DE SAÚDE AO MUNICÍPIO DE SANTOS



RESUMO

Ouve-se muito sobre desumanização da assistência de saúde, os hospitais refletem de forma explícita esta problemática. O sistema de saúde, público está em estado de pedra bruta no tocante a humanização, no meio de tantas tecnologias e descobertas científicas , é necessário que o sistema de saúde tenha uma visão holística capaz de prestar assistência adequada no cuidado à dor e ao sofrimento humano, em suas várias dimensões seja ela física, social, psíquica,emocional e espiritual. A humanização e a realidade em Ambiente Hospitalar, tem como objetivo: aprimorar as relações humanas em todos os ambientes e níveis bem como oferecer uma assistência digna daqueles que necessitam desde atendimento, independente de classe social, cultural ou credo. A técnica do Brinquedo Terapêutico,a Pediatria em rede, Música como recurso complementar,Terapia com Animais, Doutores do Riso são apenas um pequeno exemplo dos muitos recursos que podem ser ministrados visando uma assistência de saúde apropriada à população. Palavra Chave: Humanização na Assistência de Saúde, Brinquedo terapêutico, Pediatria em rede, Música como Recurso Complementar, Terapia com Animais, Doutores do Riso.

1 - INTRODUÇÃO

1.1– O tema em estudo

Humanizar é assegurar e garantir o respeito à ética nas relações interpessoais, além de outras abrangências.

A humanização e a realidade em Ambiente Hospitalar, tem como objetivo: aprimorar as relações humanas em todos os ambientes e níveis.

No caso de Hospital a Humanização levará à melhoria das:

·relações médico-paciente;

·funcionários da saúde-pacientes;

·servidor-familiares;

·relações entre os funcionários da saúde.

A atenção e a melhoria nesses setores é condição indispensável para haver assistência humanizada no hospital. Qualquer falha, em qualquer dessas áreas, prejudica as relações de afabilidade e deixa de ser relação humanizada. (1)

1.2– Justificativa

A qualidade de nossa vida é influenciada pelo bem ou mal-estar físico, mas não depende apenas disso.

A saúde deve ser entendida como qualidade de vida e não como ausência do que atrapalha.

Faz sentido pensar em saúde como estado de completo bem-estar físico, mental, social e espiritual. Portanto não se trata o físico sem proporcionar bem estarmental, social e espiritual, atingindo com isto, uma adequada simbiose..

Neste contexto, a Humanização na assistência à saúde, se torna um dos fatores importantes, pela busca da qualidade de vida, num momento mais frágil do ser humano, "a falta de saúde".

1.3– Problema / Hipótese

A falta de um atendimento Humanizado à clientela acarreta problemas múltiplos,no bem estar físico, psíquico e social, aos usuários deste sistema, bem como os profissionais envolvidos.

Espero que este projeto, venha dar um reforço na questão do atendimento humanizado aos usuários do sistema público, e desperte cada vez mais o interesse dos profissionais que estão envolvidos com á saúde, afim de juntos, buscarem soluções, visando um bem comum aos , profissionais epopulação.

 

1.4 – REVISÃO DE LITERATURA

1.4.1 - FÍSICO E PSÍQUICO/ INTERFERÊNCIA RECÍPROCA

As meta necessidades são uma realidade evidente, para quem quer que analise o ser humano em profundidade.

A consciência de um estado de graça e paz com Deus, faz um bem enorme, traz alegria no viver e ajuda até a enfrentar a morte sem pavor.

Qualquer estado de doença mais sério revela que o ser humano é mais do que uma realidade biofísica. Ele vai além da condição psíquica e mental e atinge a esfera do espírito.

A realidade corpo, psique, mente, espírito, interagem constantemente.

A psicossomática é uma ciência. A psicologia e, sobretudo, a parapsicologia, explicam fenômenos que ultrapassam o âmbito da física biológica.

Há evidentes efeitos da mente sobre o corpo e deste sobre a mente.

Uma intensa dor física interfere na mente . Basta uma simples dor de dente ou de cabeça e a pessoa terá dificuldade de raciocinar. Uma forte emoção interfere no físico e lhe tira a força.

Há efeitos físicos sobre a mente.

Há efeitos da mente sobre o físico.

Há efeitos do espírito sobre ambos.

Em razão disso, Platão criticava a escola de medicina de Hipócrates.

Ele afirmava, no diálogo "Charmid": Não se deve tentar curar os olhos, sem a cabeça ou a cabeça sem o corpo. "Também não se deve tentar curar o corpo sem a alma".Platão tinha e defendia a visão holística, onde cada parte interfere no corpo como um todo.

Paulo dizia: "Se um membro sofre, todos os membros padecem com ele" (1ºCor 12,26)

Quem acompanha um paciente, observando, além do biofísico,percebe claramente, que a fratura de uma perna ou braço atrapalha mais a cabeça do que o próprio corpo.

Pode-se até conseguir uma perna mecânica que possibilita andar quase normalmente, mas a cabeça continuará manca.

Quando o corpo sofre, o espírito adoece com ele e ambos precisam ser "medicados" e socorridos.

Há necessidades de quem cuide do corpo, mas, também, da outra parte da pessoa, seu íntimo.

Os que lidam com a mente humana, os que estudam o quanto ela interfere na qualidade de vida, sabem da importância de potencializar sua capacidade, canalizá-la em benefício da vida .

O conhecimento dessa realidade humana, que se torna mais forte e determine, quando a pessoa adoece, orienta para o dever da prática da solidariedade e da compaixão nas relações profissionais da saúde e pacientes.

Qualquer programa de humanização terá forte apoio e será mais sólido, se for efetuado pela aceitação de uma nova imagem da pessoa enferma e um novo conceito de responsabilidade perante a mesma saúde. Na verdade, mais que à pessoa em si, guarda relação com a vida, ou melhor com a qualidade de vida.

A qualidade real só existe quando procede ou resulta de valores profundos e até transcendentais.

Vida fundamentada em superficialidades, emoções ou em valores de momento, não assegura qualidade duradoura.

Uma fé profunda, uma esperança sólida, capacidade de dar e receber amor, a percepção da preciosidade e beleza da vida são suportes inegáveis da qualidade da vida.

A promoção desses valores é condição indispensável para se fazer humanização.

Quando a pessoa vivencia esses valores tem melhores condições até de ter uma morte mais tranqüila.

Se algo de positivo pode ocorrer a uma pessoa doente, isto não resulta da doença e sim do espírito humano que analisa o ocorrido sob um ponto de vista que supere o biofísico e o psíquico. (1)

1.4.2 - NECESSIDADES INTANGÍVEIS

Para o laboratório, pode-se mandar sangue, fezes, urina etc. Mas não há como mandar para análise sentimentos, emoções, preocupação, remorsos, saudades, esperança, raiva, ódio, amor, paz de espírito.

Não se consegue identificar tamanho, forma e peso, cheiro, da inteligência, da memória, da vontade, do pensamento.

Nem por isso é sensato negar sua existência. O mesmo se diga de Deus.

O laboratório é bom para analisar fezes e urina, mas nada pode dizer sobre sentimentos e emoções, sobre sua inteligência e vontade, saudade e esperança que não se pensam, não se medem, não tem cor e nem cheiro e, no entanto, são realidades que todos vivem. (1)

1.4.3 - A Ética e a Humanização Hospitalar

A ética é um processo pressuposto básico e mandatório para o sucesso na implementação de um programa de humanização da assistência da assistência hospitalar. Aliás, é requisito para a convivência humana em qualquer esfera da vida.

Humanizar é assegurar e garantir o respeito à ética nas relações interpessoais, além de outras abrangências.

Ética envolve compreensão humana. Edgar Morin, em " Os Sete Saberes Necessários á Educação do Futuro", assim escreve:

"A compreensão mútua entre os seres humanos é, daqui para frente, vital para que as relações humanas saiam do seu estado bárbaro de incompreensão".

A ética deve ser respeitada em todas as relações humanas, como sejam:

Relações dirigentes e dirigindo em qualquer nível;

Entre colegas;

Entre sócios;

Entre parentes;

Pais e Filhos;

Marido e Mulher;

Entre irmãos na fé. (1)

1.4.3.1 - Na ética em muitos casos, se identifica com a noção de moral

No que se refere á relações colega-colega, apenas para limitar ao campo profissional, convém rever as que envolvem os diferentes profissionais na área de saúde, médico, enfermeiro, fisioterapeuta, nutricionista, assistente social etc.

Não podem ser esquecidas as relações entre os não-profissionais da saúde, mas que atuam nos hospitais, entre elas: pessoal da limpeza, lavanderia, manutenção, administração etc.(1)

1.4.3.2 - A ética deve ser o ponto forte das relações humanas

No hospital, existe um verdadeiro batalhão de pessoas atuando nas mais diversas especialidades e setores; todas em função do atendimento ao paciente. O paciente, o usuário, é o sujeito direto das ações de saúde que se desenvolvem no hospital.

Quando se pretende melhorar o aspecto humano do atendimento, no hospital, é de fundamental importância tomar consciência clara de que todos os que trabalham no hospital, exercem atividades, FUNÇÕES MEIO, para uma razão OBJETIVO FIM, que se chama PACIENTE.

Arcídio Favretto em 1975 escreveu um livro com o título " O Doente, Razão de Ser do Hospital", que em 1987 já estava na 4º edição, pelo CEDAS-S. Camilo, Centro de Desenvolvimento em Administração da Saúde - SP.

Pode ser estranho, mas quem vive a realidade hospitalar tem motivos de sobra para relembrar e insistir que o paciente é pessoahumana, gente, criatura sublime em sua estrutura física no seu conjunto um ser tão perfeito que só um divino poderia ser o arquiteto e engenheiro a projetá-lo.Estes são alguns dos motivos que levam a dar toda atenção, competência, carinho e amor ao atender.

É a pessoa, como um todo, que deve ser atendida e não apenas seus membros, órgãos ou sistemas.

Não se atendem membros, órgãos ou sistemas isoladamente do corpo. Não se trata de peças a serem recuperadas ou substituídas como ocorre com o automóvel numa oficina mecânica. O sujeito das ações de saúde e do agir dos profissionais é sempre a PESSOA.(1)

1.4.4 - As Comissões de Humanização devem ser geradoras de procedimentos éticos e morais e não apenas técnicas e profissionais.

As éticas, por sua natureza, requer o respeito na atenção e atendimento à pessoa, gente, ser humano e não apenas um número, uma doença, uma peça ou coisa qualquer a ser recuperada.

Nos ambientes B e A, hospitais iluminados por muitas estrelas, boa parte disso é garantida, graças aos valores pagos. Nos ambientes SUS, não todosevidente, o respeito aos direitos e dignidade do usuário/paciente deixa muito a desejar.Aliás, foram as tantas queixas que levaram o Ministério da Saúde a lançar o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar- PNHAH.

Quando a pessoa se torna um paciente, ou seja, portador de qualquer deficiência física funcional orgânica, fisiológica ou psíquica,e, ainda, quando sofre qualquer trauma, passa a adquirir e, portanto, a ter direito a uma atenção, tratamento e cuidados especiais. Trata-se, por um lado, de um direito ao atendimento, assegurado pela Constituição e por outro, de um dever gerado;

Por contrato de trabalho do trabalhador em saúde;

Por mandato de humanidade, a que ninguém pode se furtar;

Por dever ético do qual ninguém pode se eximir;

As doenças, traumas ou degenerações etárias geram direitos por parte dos atingidos e, em contrapartida, criam deveres para os que as assistem .(1)

1.4.4.1 - A busca da humanização nos hospitais

Deve partir de princípios éticos;

Deve ser basear em fundamentos sólidos;

Deve se tornar um edifício consistente que se mantém através do tempo;

Deve considerar a essência da natureza humana.

A ação de humanização que parte de uma visão ou inspiração apenas poética ou emotiva, ou que se limita ao técnico/profissional, não prospera, é como fogo de capim seco, passa logo e deixa apenas um pouco de cinza.

Não basta igualmente fundamentá-la na extraordinária maravilha que é o corpo humano,a maior e mais perfeita obra de engenharia e arte que se possa imaginar.

A ciência já desvendou muito, mas não consegue imaginar o quanto de sublime ainda permanece ignorado. Há 50 anos, o saber sobre o corpo humano já era grande, mas ninguém podia imaginar a existência do genoma. A sua decodificação leva os maiores incrédulos a reverenciar seu projetista, arquiteto e engenheiro.

Isto tudo quanto ao físico. Partindo para a dimensão espiritual, aí realmente faz sentido a interrogação do salmista:

"Que é o homem, Senhor para o tratardes com tanto carinho? Pouco menor do que os anjos o fizeste." (Salmo 8).

Por tudo isto, qual deve ser o procedimento ético perante a pessoa enferma, confiada aos cuidados dos trabalhadores da saúde e de demais colaboradores?

É função da Comissão de Humanização, realizar esforços e promover ações para que, no hospital, se desenvolva e passe a existir uma autêntica comunidade de trabalho a serviço de quem está hospitalizado.

Para tanto a Comissão deve aprimorar as relações interpessoais entre todas as categorias de trabalhadores e destes com os interessados.

Em todo o agir, no mundo da saúde, há um ponto indispensável, a prática da ética. Para bem entender vale a pena recordar o conceito de ética dado por Kant. "Ética é a ação que se todos praticarem, nada de mal acontece.`"

A aplicação é a vivência deste conceito, que é verdadeira e correta norma agir, revolucionária para melhor toda a vida e o ambiente do hospital.

Analise se todo o seu modo de agir se enquadra nisso. Se todos fizerem exatamente como você, tudo estaria bem? Se a resposta for positiva, parabéns e continue assim. Se for negativa, reveja seu procedimento, para o seu bem e a dos outros. (1)

1.4.4.2 - O Paciente é um Ser Fragilizado

Os servidores da saúde de todos os níveis, independentemente de sua função, jamais podem esquecer que o paciente está fragilizado em seu físico e na dimensão psíquica.

Nessa condição, deve ser concedido até o direito ao mau humor, a um maior nível de exigências, que é uma forma de compensação.

Ele sente necessidade de atenção especial.

Há os que, por inibição e humildade, "engolem a seco", mas isso prejudica a recuperação.

Surge no mundo da saúde um novo ideal; uma missão é proposta, e um novo e nobre objeto deve ser atingido. Promover a humanização da assistência hospitalar.

Pode-se diante disso, fazer algumas perguntas:

__Você já necessitou de atendimento hospitalar, ou um parente seu, amigo ou conhecido?

__Como foi a assistência recebida?

__Sentiu que a humanização estava presente?

__Como imagina que sejam vivenciadas:

*as relações médico-pacientes;

*as relações funcionários de saúde-pacientes;

*;e as relações interpessoais dentro de um hospital.

_A dignidade humana é preservada?

Cada uma das indagações merece uma referência especial.

Nos hospitais, realiza-se muito trabalho digno; a maioria presta serviço com competência, carinho e dignidade.

Todavia, existe bastante a corrigir, a melhorar e a aprimorar. Não há nada tão bem feito que não possa ser feito melhor.

Os japoneses têm o chamado "princípio kaisen", pelo qual recomenda fazer cada dia melhor, no que fazem sempre. Em lugar de simplesmente repetir rotineiramente as atividades, empenhar-se para fazê-las sempre melhor.

A realidade é tão preocupante que o Ministério da Saúde resolveu lançar o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar.(1)

1.4.5 - O significado da hospitalização para a criança pré-escolar

Entre as situações que ao serem vivenciadas pela criança são consideradas determinadoras de estresse encontram-se a doença e a hospitalização, que podem fazer com que a criança fique emocionalmente traumatizada em maior grau do que está fisicamente doente. Ao ser hospitalizada a criança encontra-se duplamente doente; além da patologia física, ela sofre de outra doença, a própria hospitalização, que se não for adequadamente tratada, deixará marcas em sua saúde mental.

Na literatura acerca da hospitalização da criança distinguem-se dois períodos, cujos trabalhos apresentam ênfases diferentes. No primeiro, que vai de 1950 até meados da década de 80, a ênfase dos trabalhos repousa nos efeitos maléficos à saúde física e mental da criança decorrentes da separação da família, especialmente de sua mãe, que determina sofrimento e desencadeia mudanças no seu comportamento, não só durante a hospitalização como também após a alta.

As evidências geradas por esses estudos foram: as três fases de resposta emocional da criança à separação da mãe: protesto, desesperança e negação; os danos da privação materna que pode ocorrer durante a hospitalização, especialmente se esta for prolongada e a criança for menor que cinco anos de idade; o risco da hospitalização, o qual é descrito como um quadro de reações bastante complexas, apresentado por crianças hospitalizadas, inclusive com sintomas clínicos que podem agravar ou se confundir com os sintomas da própria doença que determinou a internação, dificultando o diagnóstico e o tratamento; as reações apresentadas pelas crianças, após a alta como: insônia, pesadelos, medo excessivo, seguir a mãe freqüentemente e ter dificuldade em separar-se dela, ou, contrariamente, rejeitá-la, além do aparecimento de distúrbios reativos de conduta como enurese, roer unhas, maneirismos entre outras.

No segundo período, a partir da metade da década de 80, os trabalhos passam a discutir, principalmente, os benefícios da presença da mãe para a criança hospitalizada, tais como: redução do tempo de hospitalização e melhora do comportamento após a alta; declínio da incidência de infecção cruzada e de complicações pós-operatórias; aumento do senso de segurança por não haver mais a ansiedade da separação; maior precisão de balanço hídrico e maior facilidade de coleta de material para exames, além de as crianças ficavam menos sozinhas, dormirem melhor e manterem mais interações sociais com menor número de adultos.(2)

Os estudos passaram também a ressaltar os conflitos entre a mãe e a equipe e as tentativas de mediação desses conflitos. Enfocam que os conflitos surgem em função da diferença de expectativas e de poder de decisão sobre o cuidado da criança, entre os pais e a equipe, assim como em decorrência do estresse e do sofrimento determinados pela vivência que os procedimentos causam tanto na criança e nos pais, como na própria equipe. (3)

Outra característica dessa fase é a realização de trabalhos que se preocupam em discutir, mais profundamente, diferentes fontes de estresse da criança hospitalizada, além da ansiedade da separação, tais como o medo da dor, das agulhas, e de ficar sem a mãe, e a falta de controle sobre as situações, inclusive de seu corpo.(4)

Surgem ainda alguns trabalhos que discutem aspectos da hospitalização a partir de relatos das próprias crianças, as quais expressam o sofrimento advindo da vivência dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos, especialmente os que envolvem a utilização de agulhas, assim como de outros aspectos da hospitalização: a diferença de alimentação, as restrições para poder brincar e o próprio fato de ter que permanecer no hospital. Elas referem-se ao hospital como um local desconhecido, estranho, de anonimato, de torturas e suplícios, de agressões físicas com intenções punitivas, de solidão, de tristeza e saudades; um local desagradável, onde é proibido brincar, cuja função é evitar a morte em casa. Algumas crianças portadoras de doença crônica chegam a pedir um hospital diferente, onde não haja doença. Elas também referem que se percebem cuidadas no hospital quando experimentam carinho e afeição da equipe e dos familiares e quando são ajudadas no momento que precisam.(5)

1.4.5.1 - A importância do brinquedo e sua aplicação no hospital

Brincar é a atividade mais importante da vida da criança e é crucial para seu desenvolvimento motor, emocional, mental e social. É a forma pela qual ela se comunica com o meio em que vive e expressa ativamente seus sentimentos, ansiedades e frustrações. Por meio do brinquedo, num evento em que é sujeito passivo, transforma-se em investigador e controlador ativo, e adquire o domínio da situação utilizando a brincadeira e a fantasia.

Reforçando as possibilidades de utilização do brinquedo terapêutico, baseia-se também na função catártica e nos princípios da ludoterapia, porém com algumas variações.

Esta autora comenta que o brinquedo terapêutico é um processo de brinquedo não diretivo que dá à criança a liberdade de expressar-se não verbalmente.

Descreve ainda a diferença entre ludoterapia e brinquedo terapêutico, conforme segue. (6)

1.4.5.2 – LUDOTERAPIA

Técnica psiquiátrica usada em crianças com distúrbios emocionais, neuróticos ou psicóticos. Cada sessão pode ser conduzido por um psiquiatra, psicólogo ou enfermeiro especializado, num ambiente muito bem controlado.

Sua meta é promover a compreensão da criança sobre seu próprio comportamento e sentimento.

O terapeuta deve refletir as expressões verbais e não verbais da criança, bem como interpretá-las para ela. Normalmente as sessões de ludoterapia são de uma hora e podem continuar por vários meses. (6)

1.4.5.3 - BRINQUEDO TERAPÊUTICO

Situação de utilização do brinquedo que pode ser usada pela enfermeira, para qualquer criança. A sessão pode ser realizada em uma sala de brinquedos, no quarto da criança ou em qualquer área conveniente. Sua meta é dar à enfermeira compreensão dos sentimentos e necessidades da criança. Assim, são refletidas à criança somente suas expressões verbais e não se interpretam suas atividades. As sessões devem durar de 15 a 45 minutos e podem ocorrer inclusive no dia da hospitalização da criança. O brinquedo terapêutico é também a utilização de uma brincadeira, que simula situações hospitalares, obedecendo aos princípios de ludoterapia, porém com um tema mais dirigido, onde a criança receberá explicação sobre os procedimentos a que deve ser submetida, ou descarregará sua tensão após os procedimentos, visualizando as situações e manuseando os instrumentos e suas imitações. O brinquedo terapêutico proporciona à criança hospitalizada a oportunidade de reorganizar a sua vida, seus sentimentos e diminuir a ansiedade, podendo também ser utilizado para ajudá-la a reconhecer seus sentimentos, assimilar novas situações, compreender o que se passa no hospital e esclarecer conceitos errôneos. Ressaltam, ainda, que graças ao contato de 24 horas com as crianças, a equipe de enfermagem está em excelente posição para evitar que as crianças ocultem seus sentimentos durante períodos de tensão. Para a criança hospitalizada o ato de brincar é importante porque a brincadeira faz com que ela preserve sua saúde emocional.

Vários autores demonstraram em seus trabalhos que a utilização do brinquedo terapêutico é um valioso instrumento no preparo de crianças para procedimentos, pois não só lhes permite extravasar seus sentimentos e compreender melhor a situação, como subsidia a equipe para a compreensão das necessidades da criança. Qualquer enfermeira pode fazer uso do brinquedo, sendo considerado um profissional que tem o conhecimento necessário e a habilidade de facilitar a brincadeira no hospital. Acreditamos, entretanto, que a enfermeira pediatra, pelos seus conhecimentos e sua sensibilidade para identificar os sentimentos e as causas de estresse, seja o profissional mais indicado para utilizá-lo. (6)

1.4.5.4 - Brinquedo Terapêutico Dramático

Sua finalidade é permitir à criança exteriorizar as experiências que tem dificuldade de verbalizar, a fim de aliviar tensão, expressar sentimentos, necessidades e medos. (7)

1.4.5.5 - Brinquedo Terapêutico Instrucional

Indicado para preparar e informar a criança dos procedimentos terapêuticos a que deverá se submeter, com a finalidade de se envolver na situação e facilitar sua compreensão a respeito do procedimento a ser realizado.(7)

1.4.5.6 - Brinquedo Terapêutico Capacitador de Funções Fisiológicas

Utilizado para capacitar a criança para o auto cuidado, de acordo com o seu desenvolvimento, condições físicas e prepará-la para aceitar a sua nova condição de vida.

Na sessão do brinquedo terapêutico, além dos materiais específicos referentes ao procedimento a ser realizado na criança, deve-se assegurar-lhe, um ambiente aconchegante e seguro, pois é essencial que durante a sessão de brinquedo terapêutico, ela perceba a presença de um adulto aceitador que a encoraje a expressar seus sentimentos. (7)

1.4.6 A seguir descrevo um artigo na qual a enfermeira conta uma história para dramatizar o procedimento de uma punção venosa, na linguagem da criança.

"Um dia Mariazinha acordou cedo em sua casa, e sua mãe viu que ela estava com febre e dor de garganta. Então a levou ao médico que a examinou e disse que ela precisava ficar internada para tomar o remédio, porque estava doente. Mariazinha foi levada então pela mãe ao hospital, para se internar, onde ficou junto dela.

Quando a enfermeira foi conversar com Mariazinha, ela chorou muito falando que estava com medo. A enfermeira disse então para Mariazinha que iria colocar uma agulha em seu braço para ela tomar um remédio, que iria doer um pouquinho, mas que depois a dor passaria. Colocou a Mariazinha deitada e disse-lhe que ficasse quietinha e não mexesse o braço, porque a agulha poderia machucá-la, advertindo-a que se não ficasse quieta, outra pessoa iria segurá-la e isso não seria agradável.

A enfermeira preparou o remédio, pegou a borrachinha*e colocou-a apertando o braço de Mariazinha para ver se ela possuía uma veia boa para aplicar o remédio; depois segurou firme o braço dela, passou o algodão, e com a agulha furou o seu braço, soltou a borrachinha e colocou a mangueirinha* na agulha abrindo a rodinha*para que o remédio entrasse em seu corpo.

Depois pegou o esparadrapo e colocou-o sobre a agulha para esta não sair do lugar. Pegou uma tabuinha de por na mão*e colocou sob o seu braço prendendo com esparadrapo, para evitar que Mariazinha se mexer e a agulha saia. Mariazinha tomou o remédio todo dia, então à enfermeira retirou a agulha. "Quando sarou, ela pôde ir embora para casa com sua mãe". (8)

1.4.7 - O BRINQUEDO TERAPÊUTICO INSTRUCIONAL NO PREPARO DO TRATAMENTO ODONTOPEDIÁTRICO: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Este trabalho descreve a utilização do Brinquedo Terapêutico Instrucional (BTI) na consulta de odontopediatria, como prática desenvolvida junto à Disciplina "O Brinquedo na assistência à criança e à família: o estado da arte, da prática e da pesquisa em enfermagem" do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP. O Brinquedo Terapêutico constitui-se num brinquedo estruturado para a criança aliviar a ansiedade gerada por experiências atípicas para sua idade, que costumam ser ameaçadoras e tem a função de auxiliar no preparo para procedimentos terapêuticos com a finalidade de descarregar sua tensão após os mesmos, dramatizando as situações vividas e manuseando os instrumentos utilizados ou objetos de brinquedo que os representem. O BTI permite à criança saber o que deve esperar e como pode participar durante o procedimento; compreender a sua finalidade e envolver-se na situação em vez de ser tratada como sujeito passivo. No consultório odontológico é possível desenvolver uma dinâmica físico-lúdica que possibilita às crianças, por meio da brincadeira, diminuir ou resolver um conflito. Na dinâmica física o paciente se integra ao ambiente através da apresentação das partes do consultório, enquanto a lúdica promove a auto-educação. A criança deste estudo é RMRS, dois anos e dez meses, sexo feminino, que freqüenta a Consulta de Enfermagem em Puericultura e a Consulta Odontopediátrica no Ambulatório do Centro Assistencial Cruz de Malta, uma instituição filantrópica da cidade de São Paulo que mantém um Programa de Integração Docente-Assistencial com o Departamento de Enfermagem da UNIFESP. Aos oito meses de idade, a referida criança foi encaminhada à odontopediatria pela Consulta de Enfermagem, para a realização de frenectomia lingual, passando a integrar as consultas de prevenção bucal, das quais ausentou-se por mais de um ano, retornando em junho de 2008. A criança mostrou-se, então, bastante tímida, acanhada, permanecendo sempre ao lado da mãe, e ao exame clínico constatou-se uma fratura no elemento dental 52. Foi explicado para a mãe sobre a utilização do BTI realizado rotineiramente para o preparo da criança que será submetida a tratamento odontopediátrico. A mesma aprovou, assinou o termo de consentimento de divulgação de imagem para que a sessão pudesse ser fotografada e filmada, sendo agendada a consulta para a implementação do preparo e do tratamento. Nesta, a criança foi convidada a brincar com o Joãocaré, um jacaré macrofantoche odontológico, com boca e dentes "de verdade", sendo contada uma história para ela entender o que seria realizado. Foi perguntado se ela gostaria de ajudar no tratamento do Joãocaré e olhou para mãe, que acenou a cabeça afirmativamente; a sessão de BTI foi concluída e o tratamento foi realizado com sucesso. Pode-se constatar que frente a uma situação angustiante, estressante, desconhecida como é uma consulta odontológica, o BTI mostra-se como um recurso poderoso na odontopediatria e como um importante instrumento de ajuda para liberação de temores e ansiedades, que permite à criança revelar o que sente e pensa. Assim, recomendamos que o BTI passe a integrar a assistência odontológica para todas as crianças. (9)

1.4.8 - BT, NA LUTA CONTRA A DENGUE

Trata-se de um estudo descritivo, de cunho qualitativo, realizado nas EMEI's do município de Francisco Morato – SP, que teve como objetivo levar ao conhecimento da criança pré-escolar, através do lúdico, a problemática da "Dengue", problema este bastante preocupante não só na esfera da saúde, mas na sociedade de modo geral. Criou-se uma peça teatral, intitulada "Batalha de vida ou morte, na luta contra a Dengue", onde agentes comunitárias de saúde, de uma Unidade de Saúde da Família do referido município, encenaram nas EMEI's do município. Os resultados deste estudo permitiram concluir que a estratégia utilizada contribuiu para que as crianças compreendessem os riscos causados pelo "mosquito da dengue" e que a partir do conhecimento adquirido se tornassem multiplicadores na luta contra a dengue, visto que levariam as informações recebidas aos seus familiares e vizinhos. Após a apresentação da peça teatral, em roda de conversa, que contava com a participação de coordenador pedagógico, supervisor de ensino, enfermeira da Estratégia Saúde da Família e médico veterinário, as crianças eram questionadas a partir da seguinte questão norteadora: "O que vocês aprenderam sobre a dengue?" e traziam sempre respostas precisas e levantavam questões interessantes mostrando-se preocupadas com os riscos da dengue e dispostas à levar até a comunidade as informações que pudessem ajudar na missão de conscientização das pessoas quanto aos riscos e danos causados pelo mosquito da Dengue. A situação do brincar é sempre uma oportunidade que além de gerar prazer, pode trazer possibilidades de transmitir conhecimentos importantes para o dia a dia da criança e, conseqüentemente da família como um todo. (10)

1.4.9 - USO DO BRINQUEDO TERAPÊUTICO NA SALA DE ESPERA AMBULATORIAL

Dentre as modalidades de brinquedos, estão os normativos, com finalidades de divertir, brincar e causar satisfação nas crianças e os terapêuticos, que tanto na sala de espera de um ambulatório infantil quanto nas enfermarias, cumprem sua função, ou seja, buscam transformar esses ambientes em locais mais descontraídos, proporcionando, assim, condições psicológicas mais favoráveis às crianças e adolescentes

A utilização do brincar/brinquedo com as crianças proporciona, de forma indireta, aos pais e familiares o benefício de se sentirem acolhidos e "cuidados" em um ambiente que, por si só, ameaça o papel protetor dos mesmos.

Na mesma direção, Elliott complementa que os programas que visam trazer o humor e a brincadeira para dentro do hospital podem beneficiar não só os pacientes, como também aos familiares e equipe de funcionários, favorecendo-os através de um ambiente mais descontraído.

Com base nesses pressupostos, vimos à necessidade de implantar um projeto de recreação para crianças que aguardam o atendimento ambulatorial, cuja ênfase era o brincar, visando, assim, estabelecer um processo de comunicação terapêutica que possibilitasse sua compreensão acerca da situação que ela estava vivenciando. Brincando, a criança pode conviver melhor com as diferentes situações surgidas no hospital, como o tratamento médico, internações, rotinas de idas e vindas e a espera no ambulatório para a realização de consultas médicas ou outros atendimentos. Nesse sentido, o brincar permitirá à criança explorar essas situações de maneira menos traumática; trabalhar as emoções difíceis, vivenciadas nesses momentos; diversão e relaxamento; sentir-se mais segura em um ambiente estranho; além de ser um meio para aliviar tensão e facilitar a expressão de sentimentos, encorajando a interação e o desenvolvimento de atitudes positivas em relação a outras pessoas; o que possibilitará a expressão de idéias e interesses criativos, visando atingir um modo terapêutico de orientação. Ao brincar a criança reinventa o seu mundo, explora seus próprios limites através do "faz de conta", podendo conseguir lidar melhor com as adversidades estabelecidas. (11)

1.4.10 - O BRINQUEDO TERAPÊUTICO EM SITUAÇÕES DE EXAMES

Porquanto, destaca-se a importância do preparo do profissional de enfermagem na abordagem da criança, avaliando seu conhecimento e informando quanto às sensações e intensidade do estímulo doloroso, aliviando o stress provocado pelos procedimentos, principalmente os invasivos .

Existem situações em que exames como coleta de sangue, urina, exame de líquor, tomografia e até mesmo procedimentos mais simples como raios-X e inalação, não podem ser evitados, mas seu enfrentamento pela criança pode ser suavizado pela sensibilidade da assistência que ela recebe.

Mesmo porque, alguns exames, por requererem equipamentos complexos, ou ainda, pelo fato de emitirem sons, ruídos e barulhos, contribuem para que o procedimento seja ainda mais doloroso e agressivo para a criança.Dentre essas situações estressantes estão os procedimentos intrusivos, como a punção venosa, que muito contribui para aumentar-lhe o medo e a ansiedade, expressos por meio do choro, da raiva e agressões peculiares à criança de três a seis anos de idade.

Nesta fase, o trauma é maior porque as crianças não têm estrutura cognitiva para compreender a experiência pela qual passam .

Fala-se sobre a preocupação do pré-escolar com a integridade de seu corpo e o medo de procedimentos intrusivos, quando está doente ou hospitalizado . Estes procedimentos podem levá-lo a sentir-se dependente, inseguro e vulnerável; mesmo que o procedimento seja conhecido pode provocar desconfiança tanto na criança quanto nos pais.

Um dos eventos mais ameaçadores para a criança é a injeção, porque é percebida como uma invasão extremamente dolorosa em seu corpo, um ato hostil e mutilador .

Anexo esta o Modelo de Protocolo proposto para o preparo da criança para punção venosa com a utilização do Brinquedo Terapêutico.

Este protocolo foi elaborado segundo alguns critérios selecionados nos guias para preparo de pré-escolares nos procedimentos dolorosos .

Contém os passos a serem seguidos pelo enfermeiro que realizará o preparo da criança para o procedimento, descrevendo as ações a serem seguidas antes, durante e após a realização da punção venosa propriamente dita, assim como as justificativas para as respectivas ações.(12)

1.4. 11 - O RESGATE DA AUTO-ESTIMA DO ACOMPANHANTE PEDIÁTRICO ATRAVÉS DA REALIZAÇÃO DE OFICINAS DE ARTESANATO

As unidades de internação pediátricas contam, na maior parte do tempo, com a presença de acompanhantes, uma vez que este direito está garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei no. 8.069, de 13 de julho de 1990, no artigo 12 e pela aprovação da resolução no. 41 de 13 de outubro de 1995, que dispõem sobre os Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados. A presença do acompanhante pediátrico tem por finalidade dar apoio sócio-afetivo e psicológico à criança / adolescente durante o processo da doença minimizando o medo, a insegurança e traumas decorrentes da hospitalização. No Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP) este direito é cumprido, sendo oferecido acomodação e refeições para a permanência do acompanhante. Esta prática humanizada permite que os pais ou responsáveis pela criança possam dar apoio emocional, desenvolver habilidades quanto aos cuidados da criança e oferecer condições de enfrentamento do stress e da ansiedade, favorecendo a formação de um micro ambiente familiar no contexto da instituição de internação. As oficinas têm o objetivo de resgatar a auto-estima, motivar e valorizar a presença dos acompanhantes, oferecer aos acompanhantes a oportunidade de desenvolver habilidades manuais através da confecção de artigos de artesanato, fortalecer o vínculo do acompanhante com a criança, possibilitar o aprendizado de habilidades que podem ser utilizadas para complementar a renda familiar após a alta hospitalar. A realização de oficinas de tear, biscuit, tricô, crochê, flor de meia de seda, bijuterias ocorre uma vez por semana, com duração de aproximadamente duas horas para pacientes adolescentes e acompanhantes da Clínica Pediátrica, UTI Pediátrica e Berçário. A programação das oficinas é divulgada nas unidades descritas acima e as atividades são coordenadas por funcionários voluntários da equipe de enfermagem que possuem habilidades em trabalhos manuais. Os recursos materiais para as oficinas são fornecidos pela Ação Voluntária do Hospital Universitário da USP (AVHUSP) e parte dos artigos produzidos pelos acompanhantes são doados aos participantes e, a maior parte, encaminhados para o bazar da AVHUSP, onde são vendidos. O valor arrecadado é revertido para a reposição do material para manutenção das oficinas de artesanato, além da compra de equipamentos (cadeiras de rodas, banho, muleta, etc.) e medicamentos doados aos pacientes para tratamento no domicílio. Concluímos que torna o ambiente mais agradável, descontraído, facilitando as relações entre a equipe e os acompanhantes e entre os próprios acompanhantes; proporciona aos acompanhantes a troca de experiências entre as acompanhantes que servem como multiplicadores dos diferentes tipos de trabalhos manuais; possibilita a diminuição do stress e da ociosidade minimizando a ansiedade; fortalece o vínculo entre o paciente, a equipe e o acompanhante melhorando a comunicação; valoriza a capacidade de elaboração, a criatividade e construção de cada participante torna possível o auto-reconhecimento das suas potencialidades e a construção de novos conhecimentos e significados aumentando a sua auto-estima; motivando a permanência do acompanhante junto a criança durante a hospitalização.(13)

1.4.12 - BRINQUEDOS CRIATIVOS COM SUCATA HOSPITALAR: TRANSFORMANDO O OBJETO AGRESSOR EM OBJETO LÚDICO

O brincar é um ato natural, social, saudável e importante para a criança na infância. O lúdico é a forma pela qual a criança apreende e compreende as manifestações ao seu redor, adaptando-se melhor ao meio. Através das brincadeiras a criança reconstrói e elabora as situações experiênciadas. As atividades lúdicas desenvolvidas pelas crianças e pelos profissionais do ambiente hospitalar contribuem para estabelecer vínculos e elaborar experiências que permitam à criança resgatar sua essência, durante o período de hospitalização, com afetividade e respeito. A Brinquedoteca, por si só, é um espaço de troca de vivências onde a criança pode explorar, socializar-se e expressar-se individualmente, com a participação da família ou da equipe. Este local deve ser mágico porque nele os objetos se transformam em diferentes brinquedos que dão início a brincadeiras múltiplas. A Terapêutica do Brinquedo no ambiente hospitalar pode se fundamentar nos objetos encontrados e usados nas rotinas e procedimentos, sendo assim, qualquer objeto pode se tornar um brinquedo. A criança pode usar os diferentes elementos do ambiente hospitalar como seringas, luvas, frascos de soro, entre outros, para transformar o objeto de agressão em brinquedo para diversão. O trabalho com sucata é adotado na Brinquedoteca do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP) porque marca a transformação tanto dos objetos quanto das pessoas que interagem com os mesmos. As oficinas de construção de brinquedos com sucata hospitalar têm o objetivo de sensibilizar o olhar do profissional de saúde a encontrar alternativas lúdicas para os materiais de consumo hospitalar e despertar na criança um olhar diferenciado sobre o objeto agressor. Ao pensar no brincar como um ato do organismo social que reconstrói continuamente as situações experienciadas, especialmente as dolorosas, organizamos grupos que criam brinquedos e brincadeiras com materiais hospitalares diversos para repensar o brincar durante a internação. Deste modo, despertarmos no profissional o respeito à sensibilidade no que tange ao ver, o ouvir e o sentir da criança para a promoção de experiências reestruturantes que visem a superação do sofrimento na hospitalização. Ao ter o objeto "agressor" em seu poder e transformá-lo em brinquedo construído, as crianças lidam com a dualidade agressão e cura, tendo boas chances de superar os traumas da internação. Enquanto a criança constrói o seu brinquedo fala abertamente de suas angústias, seus medos, suas dúvidas. No final da oficina, cada criança possui um novo brinquedo e, como idealizador e sujeito responsável pela produção artística, decide qual o lugar do brinquedo: Sua casa, a Brinquedoteca ou como presente para uma pessoa querida. Despertar e valorizar o lúdico no ambiente hospitalar, permite ouvir o que a criança tem a dizer sobre o seu adoecimento e internação, podendo esta elaborar a situação e enriquecendo o seu desenvolvimento cognitivo, afetivo, biológico e psicossocial. Assim, as conseqüências positivas ou negativas da hospitalização dependem das experiências vividas e das relações estabelecidas pela criança durante este período. (14)

1.4.13 - O BRINQUEDO TERAPÊUTICO PERMITINDO O RESGATE DO TRAUMA: UMA VIVÊNCIA NO AMBULATÓRIO DO CENTRO ASSISTENCIAL CRUZ DE MALTA

Este trabalho é resultado de uma atividade desenvolvida na disciplina "O brinquedo na assistência à criança e à família: o estado da arte, da prática e da pesquisa em enfermagem" do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, que consistiu na aplicação e análise de uma sessão de Brinquedo Terapêutico Instrucional (BTI). O BTI tem sido uma intervenção realizada rotineiramente no preparo das crianças para procedimentos, no Ambulatório do Centro Assistencial Cruz de Malta - CACM, instituição filantrópica não governamental localizada na cidade de São Paulo, que mantém um Programa de Integração Docente Assistencial com o Departamento de Enfermagem da UNIFESP. Descreve a utilização desta prática junto a uma criança pré-escolar de três anos, do sexo masculino, atendido na Consulta de Enfermagem em Puericultura do CACM desde o nascimento, que foi submetida à coleta de sangue para realização de hemograma. Esta criança sofrera aos dois anos de idade um acidente traumático que resultou em um corte na região mentoniana, sendo levado a um hospital, onde foi submetida à sutura, sem demonstrar qualquer reação à situação ou ao ambiente. Nas consultas de enfermagem subseqüentes ao acidente, a criança apresentou-se irritada, chorosa e pouco cooperativa, muito diferente do que era anteriormente. Quando da necessidade da realização da coleta de sangue, a mãe da criança relatou não sentir necessidade que seu filho fosse preparado, já que por ocasião da sutura, o mesmo não havia apresentado nenhuma reação ou resistência ao procedimento, nem mesmo havia chorado. Durante o preparo da criança com o BTI, o mesmo mostrou-se bastante apreensivo, recusando-se a brincar e, por insistência da mãe foi levado à sala de procedimentos, onde era visível o medo registrado em sua face, denotando que se encontrava em nítida situação de estresse e impedindo a realização do procedimento. Após a mãe ser novamente orientada sobre a importância do preparo para a coleta de sangue, a criança foi convidada a brincar. Aproximou-se da mesa e organizou os brinquedos à sua maneira; pegou um boneco homem, segurou-o com bastante firmeza e lançou-o para bem longe, indo depois buscá-lo, ação que foi repetida várias vezes. Em seguida, a criança pegou o escalpe e com movimentos bruscos, rápidos e repetidos perfurou seguidamente a região mentoniana do boneco. Era perceptível que esta situação lhe proporcionava um bem estar associado a um grande prazer. Após esta dramatização foi possível realizar a coleta de sangue de maneira tranqüila e com total cooperação da criança. Esta prática reforçou nossa experiência diária e gratificante com a utilização do BTI na instituição, uma vez que confirmou seu efeito positivo sobre o comportamento da criança, permitindo o resgate de um trauma anteriormente vivenciado e favorecendo a aceitação do procedimento ao qual seria submetida. Tal fato reforça a importância da utilização do BT no âmbito da assistência ambulatorial à criança e sua família.(15)

1.4.14 - Ensino do Brinquedo Terapêutico na enfermagem

O ensino de graduação em enfermagem considera os pressupostos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN), Lei n.º 9.394/96(34); assim como as Diretrizes Curriculares Nacionais, para que o futuro profissional tenha uma formação generalista e, enfrente o mercado de trabalho.

Os projetos pedagógicos, apoiados nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Enfermagem devem se fundamentar em princípios educacionais que garantam a flexibilidade dos currículos, a consideração dos estudantes, como sujeitos do processo ensino-aprendizagem e dos professores, como facilitadores do processo. (16)

Entre as novas tendências filosóficas do cuidado à criança, destaca-se a prestação da assistência atraumática que pressupõe intervenções voltadas a eliminar ou minimizar os desconfortos físicos e psicológicos experimentados pelas crianças e seus familiares,seja na realização de um procedimento ou quando vivenciam a internação hospitalar.

Assim, devem contemplar também a articulação teoria e prática, a pesquisa integrada ao ensino e à extensão, o uso de metodologias ativas no processo ensino e ou aprendizagem, a diversificação dos cenários de aprendizagem, a elaboração de currículos fundamentados no humanismo, a avaliação formativa, a educação orientada aos problemas relevantes da sociedade e a terminalidade dos cursos. (17)

Entre as novas tendências filosóficas do cuidado à criança, destaca-se a prestação da assistência atraumática que pressupõe intervenções voltadas a eliminar ou minimizar os desconfortos físicos e psicológicos experimentados pelas crianças e seus familiares,seja na realização de um procedimento ou quando vivenciam a internação hospitalar(36). Como recurso para esta assistência de enfermagem efetiva e atraumática destaca-se o emprego do brinquedo/brinquedo terapêutico. (18)

No Brasil, o ensino do brinquedo, como recurso de intervenção na assistência de enfermagem à criança, iniciou-se no final da década de 1960, com a Profª. Drª. Esther Moraes, na época, docente na Disciplina Enfermagem Pediátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP).

Em entrevista com a Profª. Drª. Esther Moraes, para melhor conhecer a situação, ela afirmou ser o brinquedo dramático uma forma de interação entre pessoas e começou a utilizá-lo na assistência à criança, intuitivamente, durante a observação de situações traumatizantes à criança.

A partir de então, constatou menor sofrimento e maior cooperação quanto ao tratamento, quando a criança tinha a oportunidade de repetir os procedimentos em bonecas ou conversar com as mesmas. Verificou que o brincar amenizava o sofrimento ocasionado pela separação de seus pais na hospitalização. Percebeu que, por meio dessa assistência, havia maior aproximação entre o adulto e o pequeno paciente, tornando, assim, o cuidado individualizado.

Quanto à facilidade ou dificuldade no emprego do brinquedo pelos alunos, a Profª. Drª. Esther refere que dependia da prontidão dos estudantes; isto é, sua capacidade de envolvimento e entrega a algo novo e desconhecido. Relata que aqueles que estavam "amarrados" em si mesmos, não conseguiam se beneficiar das propriedades que o emprego do brinquedo poderia proporcionar ao seu processo de aprendizagem.

A hospitalização na infância pode se configurar como uma experiência potencialmente traumática. Ela afasta a criança de sua vida cotidiana, do ambiente familiar e promove um confronto com a dor, à limitação física e a passividade, aflorando sentimentos de culpa, punição e medo da morte. Para dar conta de elaborar essa experiência torna-se necessário que a criança possa dispor de instrumentos de seu domínio e conhecimento. (19)

1.4.15 - BRINCANDO COM SEGURANÇA / Higienização dos Brinquedos

Conforme a enfermeira do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Israelita Albert Einstein.Maria Fátima dos Santos Cardoso existem algumas diferenças entre crianças e adultos no que tange as infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS). Dentre os fatores que contribuem para estas diferenças, citamos: a imaturidade do sistema imunológico, o qual eleva o risco para aquisição de doenças transmissíveis, especialmente as infecções virais; a falta de desenvolvimento mental ou físico, propiciando práticas de higiene inadequadas; a mobilidade e o compartilhamento de objetos, brinquedos e ambientes e o maior contato com os profissionais de saúde que prestam assistência a esta população mais jovem, em virtude do maior grau de dependência destes pacientes. Nos últimos anos, com a implantação de Programas de Humanização nos Serviços de Saúde, observamos em especial nas Unidades Pediátricas, áreas comuns, tais como Brinquedoteca e salas de jogos, onde os brinquedos e jogos são compartilhados, podendo ocorrer a contaminação destes com secreções.

Relatos na literatura reportam os brinquedos como possíveis fontes de microrganismos e conseqüentemente relacionados com a ocorrência de IRAS.

Existem várias medidas de controle recomendadas para prevenir as IRAS, como a adesão aos guias de isolamento e precauções, cuidados com cateteres venosos e vesicais, vacinação, triagem de visitantes e profissionais da saúde com sintomas infecciosos, entre outros. Porém, quando tratamos de brinquedos, dentre as medidas de controle destacamos: a higiene das mãos e a limpeza e desinfecção dos brinquedos, como fundamentais para o controle da disseminação dos microrganismos.

Vários estudos comprovam que a higiene efetiva das mãos (lavagem das mãos ou uso do gel alcoólico) reduz significativamente os microrganismos carreados por elas, podendo resultar na diminuição na incidência das infecções hospitalares, conseqüentemente reduzindo a morbidade e mortalidade associada a estas infecções. Diante disso, é fundamental a adesão à higiene das mãos antes e depois do contato com opaciente e sempre que for iniciar ou finalizar alguma atividade que envolva o paciente e os brinquedos.

Quando analisamos os riscos de transmissão de microrganismos para os pacientes, se faz necessário levarmos em consideração alguns aspectos na escolha dos brinquedos. A natureza do material do qual é confeccionado o brinquedo deve ser passível de limpeza e desinfecção.

Qualquer que seja o processo de desinfecção a ser submetido um determinado material (brinquedo), a primeira etapa, a qual garantirá a eficácia do processo é a limpeza (manual ou máquina de lavar; utilizando detergente neutro ou enzimático). No processo de desinfecção, os métodos indicados são:

·Físico: termodesinfecção (temperatura de 60 a 95ºC por 10 a 30 minutos);

·Químico: solução germicida através da imersão (hipoclorito de sódio) ou fricção (álcool 70%).

A seguir recomendações do Centers for Diseases Control and Prevention (CDC) em relação aos cuidados com os brinquedos:

·Lavar e desinfetar os brinquedos entre os usos;

·Se o brinquedo não puder ser lavado, não é apropriado para utilização em instituições de saúde;

·No final das brincadeiras: colocar os brinquedos em local reservado para brinquedos sujoshigienizá-los e retorná-los posteriormente à Brinquedoteca.

·Estabelecer uma rotina de higienização e armazenamento dos brinquedos.

·Os mobiliários da Brinquedoteca, sala de jogos e entretenimento, devem ser confeccionados com materiais que permitam sua limpeza e desinfecção diária.(20)

1.4.16 - O ADOLESCENTE EM CLÍNICA PEDIÁTRICA: O ENFOQUE HUMANIZADO PELA EQUIPE DE ENFERMAGEM

O estágio da puberdade-adolescência é marcado por inúmeras transformações fisiológicas, corporais, comportamentais, sociais e psíquico-afetivas. O meio social tem grande importância para o desenvolvimento no período da adolescência, uma vez que o indivíduo está mais sujeito às influências e ações do meio social. Portanto, o hospital enquanto esfera social deve ter seu atendimento humanizado e preocupar-se em manter o desenvolvimento da pessoa nesta fase de vida fornecendo materiais e atividades que permitam a mesma manter e descobrir seus talentos e aptidões, sendo orientadas aos novos conhecimentos. Considerando que a possibilidade da doença e a hospitalização afastam o adolescente do seu "mundo" e das pessoas com as quais convive, há uma desestruturação de sua vida, somatizando mais uma crise neste período de mudanças. No ambiente da enfermaria da Clínica Pediátrica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP), a equipe multidisciplinar está preocupada em atender pacientes até 15 anos incompletos de forma humanizada favorecendo a integração ao adolescente no ambiente. Para isso, criou-se um espaço próprio para essa clientela independente da Brinquedoteca, pois foi percebido que os adolescentes não freqüentavam a mesma por considerá-la infantilizada e, ao mesmo tempo, não tinham um ambiente onde o mesmo pude-se encontrar com seus pares e, juntos ou individualmente, conseguir expressar-se e desenvolver suas potencialidades. Para efetivação deste atendimento, houve a aquisição de material para a criação de espaços para que o adolescente possa ler; jogar; assistir TV, DVD e vídeo; acessar a Internet e jogar play station. A criação de um espaço próprio para o paciente adolescente proporciona uma vivência social, terapêutica e educativa valorizando o jovem como sujeito ativo e responsável. É notável a melhora da mobilidade e envolvimento do paciente quando o mesmo freqüenta o espaço, pois se sente mais alegre e comunicativo e interage melhor com a equipe e com os demais pacientes. Valoriza o ser social intra-hospitalar em seu caráter individual através da leitura / TV / DVD / Vídeo-cassete; seu aspecto grupal através de jogos –eletrônicos ou não – e oficinas de artesanato; e o seu ser extra-hospitalar que utiliza o computador como janela para o mundo, mantendo contato com amigos e familiares que não podem estar presentes assegurando o vínculo com o "seu mundo". A assistência humanizada minimiza os impactos da hospitalização, pois a equipe além de valorizar a competência profissional está disposta a ouvir e compreender as necessidades que a clientela sinaliza, buscando respeitar suas características de forma integral. A comunicação e a interação entre as pessoas envolvidas durante a internação, trinômio paciente-família-equipe, torna o ambiente hospitalar mais lúdico e amigável, criando relações colaborativas que possam transformar as limitações em possibilidades.(21)

1.4.17 - PEDIATRIA EM REDE

No contexto do movimento de humanização da assistência, principalmente em relação aos hospitais pediátricos, surge o projeto Escola de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas (EIC-Hospitais) com o intuito de proporcionar a elas o entretenimento, a inclusão digital e a cidadania. O projeto está sendo desenvolvido em Cuiabá como uma atividade de extensão universitária desde 2004. O objetivo deste artigo é relatar a experiência da equipe do projeto e apresentar uma síntese dos seus resultados no período de 2004 a 2007. Neste período foram acompanhadas 436 crianças e adolescentes. A avaliação do projeto é que o mesmo favorece o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social; torna a criança mais receptiva ao tratamento e aos profissionais que cuidam dela, modifica o ambiente, traz alegria, otimismo, favorece a comunicação, a socialização, a recuperação e promove a inclusão digital.

A partir da década de 80, houve todo um movimento da sociedade para a democratização do país que resultou, entre outras coisas, na reformulação da Constituição Federal em 1988 e na criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990.

Muito embora o movimento de humanização das práticas de assistência a criança hospitalizada já estivesse na pauta de pesquisas, discussões e em prática em algumas universidades e hospitais públicos, foi somente com a promulgação do ECA que as instituições hospitalares se viram na obrigatoriedade de reformular as suas práticas. Para a criança hospitalizada foi uma grande conquista, pois, em seu artigo 12º, o ECA obrigou os hospitais a proporcionarem condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável junto à criança durante todo o período de internação (BRASIL, 1990).

Em 1995, a partir da recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente aprovou a Resolução CONANDA nº 41 de 17/10/1995 que dispõe sobre os Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados. Esta resolução tinha como objetivo principal, garantir melhores condições de assistência à criança durante a hospitalização. Dentre estes direitos, destaca-se o direito da criança a desfrutar de alguma forma de recreação durante sua permanência hospitalar (BRASIL, 1995).

Nos anos posteriores, surgiram diversas iniciativas de caráter lúdicodentro das unidades pediátricas, que tinham como proposta alegrar o ambiente hostil e amenizar o sofrimento da criança hospitalizada. Não demorou muito para que se confirmasse que tais iniciativas, além de trazer o entretenimento para as crianças, também estavam contribuindo para a sua recuperação.

Na década de 90, também ocorreu um movimento para a democratização do acesso às tecnologias da informação e comunicação – TICs - que, até então, estavam restritas a uma parcela pequena da população brasileira. Começou, também, o processo de incorporação das TICs como uma ferramenta pedagógica.

É neste contexto que surgiram as Escolas de Informática e Cidadania para crianças hospitalizadas - o Projeto EIC-Hospitais - com o intuito de proporcionar a elas o entretenimento, a inclusão digital e a cidadania (SEWO; RIBEIRO; COLLET, 2002).

A implantação do projeto se deu entre os anos de 2003 e 2004, nos hospitais HUOP, HUJM e HT através de um trabalho interdisciplinar (psicologia e enfermagem) e interinstitucional (CDI-PR e hospitais mencionados) .As Escolas de Informática e Cidadania (EICs) para crianças hospitalizadas constituem-se de locais onde são instalados computadores com acesso à internet e onde acontecem atividades lúdico-pedagógicas conduzidas por educadores apoiados na pedagogia de Paulo Freire.

Em Cuiabá, o projeto é desenvolvido como uma extensão universitária e coordenada por duas docentes da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), sendo que os educadores são acadêmicos da UFMT e voluntários.

Desde o princípio o projeto teve uma boa aceitação, tanto das crianças e familiares como dos profissionais de saúde. Nos dias atuais, o projeto se consolidou como um novo jeito de brincar e aprender dentro do hospital.

No cotidiano das EICs as crianças interagem com outras crianças hospitalizadas através de chats realizados semanalmente, trocam e-mails, participam de aulas temáticas, navegam na internet, brincam com jogos educativos, participam de redes de relacionamento, fazem pesquisas (inclusive sobre a sua própria doença), desenham, pintam, constroem apresentações multimídia, aprendem linguagem de programação. Nas aulas temáticas são abordados assuntos tais como os direitos da criança, meio ambiente, saúde, cooperação, solidariedade, auto-estima, amizade, respeito, preconceito, entre outros.

Ao longo dos quatro anos de existência do projeto no HUJM, o mesmo vem sendo avaliado por meio de pesquisas acadêmicas, cujos resultados apresentamos a seguir. (22)

1.4.18 - Resultados do Projeto EIC-Hospitais

Os resultados aqui apresentados têm como fonte as investigações desenvolvidas pela equipe do Projeto EIC-Hospitais em Cuiabá (VIEIRA et al, 2004; BARROS; VIEIRA; RIBEIRO, 2006; VIEIRA; RIBEIRO; LEITE, 2006; VIEIRA et al, 2006; LEITE et al, 2007).

O Projeto atendeu 436 crianças no período de fevereiro de 2004 a abril de 2007. Os participantes do Projeto têm idade que varia de dois a 17 anos, sendo que a faixa etária de maior freqüência é a de sete a dez anos. Em relação à escolaridade, observamos que a grande maioria está no ensino fundamental, da primeira a quarta série, sendo que a idade, muitas vezes, não condiz com a série freqüentada, pois as hospitalizações recorrentes e prolongadas conseqüentes às condições crônicas da maioria das crianças do HUJM, atrasam o desenvolvimento escolar e o seguimento do período letivo normal. A grande maioria das crianças atendidas é procedente do interior do estado de Mato Grosso e nunca tiveram contato anterior com o computador.

No que diz respeito à avaliação dos resultados do projeto na percepção das crianças, familiares, educadores e trabalhadores da Pediatria, é possível destacar a importância do projeto como um meio para favorecer o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social das crianças, como possibilidade de expressão e verbalização das angústias, anseios, necessidades físicas e emocionais.

As crianças comparam o tempo em que elas ficam restritas ao leito com o tempo que vivenciam no projeto. Todas elas qualificam o projeto como algo que as beneficia, que as auxilia na percepção da própria doença e que pode levá-las a se recuperar mais rapidamente.

Para os trabalhadores da pediatria, o projeto torna a criança mais receptiva ao tratamento e aos profissionais que cuidam dela, modifica o ambiente, traz alegria, otimismo, favorece a comunicação, a socialização, a recuperação e promove a inclusão digital. O espaço da Escola de Informática e Cidadania, diferentemente do ambiente das enfermarias, proporciona vivências e atividades que incentivam e possibilitam a interação, a troca de idéias, a conversa, o estabelecimento de amizades e a cooperação entre as crianças, fazendo com que elas não sintam tanto a hospitalização.

Para os acompanhantes das crianças, o participar do projeto colabora, principalmente, para o desenvolvimento cognitivo e a inclusão digital da criança.

Sobre as repercussões da interatividade proporcionadas pelo projeto (chat, e-mail, redes de relacionamento, navegação na internet), são relevantes os depoimentos que mostram que a criança hospitalizada tem a oportunidade de "sair" do isolamento do hospital e interagir com pessoas importantes e que estão distantes, mantendo o vínculo interrompido pela internação. Além disso, a interatividade permite a ampliação de sua rede de relacionamento, efetivando novas amizades, em especial, com outras crianças internadas nos hospitais participantes do projeto.

Luna-Cuiabá-EIC-HUJM diz: olá, qual é o seu nome?

Flávia-Cascavel-EIC HUOPl diz: oi, meu nome é Flávia

Luna-Cuiabá-EIC-HUJM diz: o meu é Luna e você é paciente?

Flávia-Cascavel-EIC HUOPl diz: sim eu estou internada aqui em Cascavel

Luna-Cuiabá-EIC-HUJM diz: quantos anos tem?

Flávia-Cascavel-EIC HUOPl diz: eu tenho 15 anose você ?

Luna-Cuiabá-EIC-HUJM diz: eu tenho 16 anos

Flávia-Cascavel-EIC HUOPl diz: e vocêta internada por que?

Luna-Cuiabá-EIC-HUJM diz: porquetenho problemas renais

Flávia-Cascavel-EIC HUOPl diz: tenho sarcoidose

Luna-Cuiabá-EIC-HUJM diz: o que é sarcoidose?

Flávia-Cascavel-EIC HUOPl diz: é sarcoidose é uma doença que incha o baço, ofígado e mais um monte decoisas...

Luna-Cuiabá-EIC-HUJM diz: faz quantos dias que está no hospital?

Flávia-Cascavel-EIC HUOPl diz: faz 14 dias

Flávia-Cascavel-EIC HUOPl diz:: e você quantos dias eaonde você mora?

Luna-Cuiabá-EIC-HUJM diz: 1 ano que já estou internada mas sempre cada 15 dias vou pra casa e fico 2 ou3 dias em casa e volto.

Luna-Cuiabá-EIC-HUJM diz: moro em tangara da serrainterior de Mato Grosso

Luna-Cuiabá-EIC-HUJM diz: e mora onde?

Flávia-Cascavel -EIC HUOPl diz: aqui em cascavel

Luna-Cuiabá-EIC-HUJM diz:faz tempo quetem esse problema?

Flávia-Cascavel-EIC HUOPl diz: sim já uns 2 anos

Luna-Cuiabá-EIC-HUJM diz: eu também ...

Flávia-Cascavel-EIC HUOPl diz: e você estuda?

Luna-Cuiabá-EIC-HUJM diz:sim ,mas eu já perdi 1 ano eestou perdendo outro, já era pra euestar no 3 ano!

A interatividade possibilita à criança falar sobre a sua doença e, ao mesmo tempo, ampliar o seu conhecimento sobre a mesma e o seu tratamento, trocar vivências e compartilhar sentimentos, angústias, medos, perspectivas e sonhos. A partir do contato com o outro que também está sofrendo, a criança se sensibiliza e se solidariza e, neste processo, re-elabora a experiência da doença, o que algumas vezes tem resultados terapêuticos.

Adicionalmente, a interatividade promovida pelo projeto facilita a expressão de crianças tímidas e daquelas que estão impossibilitadas de falar, eleva a auto-estima, estimula a produção de textos e melhora o humor.

Um dos exemplos foi a adolescente Ana que tinha uma grande limitação para expressar seus sentimentos e expectativas em relação à doença. Depois de vários dias de internação, de silêncio e de afastamento da equipe, a adolescente fala com a educadora de Curitiba e com uma enfermeira amiga de Belo Horizonte que foi convidada para ser mediadora do Chat:

Norma (Belo Horizonte) diz: oi! Ana. Então, queria te conhecer um pouquinho, me fale de você.

Ana (Cuiabá-EIC-HUJM) diz: você é enfermeira?

Ana (Cuiabá-EIC-HUJM) diz: oi meu nome e Ana eu tenho 13 anos o meu problema e lupus

Mírian (Curitiba) diz: o que é lupus?

Ana (Cuiabá-EIC-HUJM) diz: é uma doença que não tem cura só tem controle

Norma (Belo Horizonte) diz: oi Ana, que idade linda você está e com certeza seu problema de saúde vai ser controlado e dentro em breve estará voltando a sua vida normal. Se estiver querendo conversar sobre sua saúde estaremos todos à disposição.

Ana (Cuiabá-EIC-HUJM) diz: obrigada pela força

Mírian (Curitiba) diz: Ana, como você é?

Ana (Cuiabá-EIC-HUJM) diz: sou uma menina muito alegre, divertida e animada e você como é?

Mírian (Curitiba) diz: Eu sou japonesa hehehe e alegre também!

O chat promove a interação entre a criança e os seus interlocutores e, à medida que se inicia um vínculo de confiança a criança mostra-se mais solta. Dependendo da desenvoltura e perspicácia do mediador do bate-papo, este pode permitir à criança a expressão de sentimentos de alegria e descontração.

O que se percebe nestes últimos 20 anos de mudança na assistência à criança hospitalizada são as diversas iniciativas que buscam alternativas para contrapor o modelo tradicional com vistas à melhoria não só da vivência da hospitalização, mas da qualidade de vida mesmo sem a plena saúde.

Neste sentido, a contribuição do projeto EIC-Hospitais tem sido a de proporcionar uma maneira diferente de brincar dentro do hospital. O computador é um atrativo para as crianças em geral por oferecer diversas possibilidades de entretenimento, descobertas, interatividade e aprendizado. E o projeto EIC-Hospitais traz tudo isso na forma de brincadeira. Sem perceber, a criança vai se apropriando de um conhecimento que dificilmente estaria à sua disposição, uma vez que poucas têm acesso a este equipamento.

Se antes, brincar dentro do hospital, era uma possibilidade muito remota, agora é parte do tratamento. A brincadeira traz o riso, a alegria, a disposição, a fluidez no ambiente, a mudança no humor, a mudança do ritmo. E é por isto que é possível afirmar que o brincar não é benéfico somente para a criança, mas também para a família, para os trabalhadores, para a saúde da pediatria. Além do mais, brincar é direito assegurado pelo ECA (Brasil, 1990) e resolução CONANDA nº 41 de 17/10/95 (Brasil, 1995). Um direito muito sensato já que é um grande aliado para a restauração da saúde da criança, e também porque é impossível conceber criança sem brinquedo.

Durante muito tempo a criança hospitalizada foi privada do seu maior meio de expressão e elaboração de suas aquisições cognitivas e vivências emocionais. Em outras palavras, proibida de ser o que é, seja pelo aprisionamento ao leito, seja pela falta dos objetos lúdicos ou pela falta daquele que o acompanha em sua brincadeira. Ou seja, não se trata de apenas de oferecer brinquedos, nem só de oferecer computadores. A brincadeira no ambiente hospitalar exige a presença do recreador e/ou educador para estimular a criança que vive uma situação de fragilidade, sofrimento e dor.

Em revisão sobre a importância do brinquedo para a criança, Martins et al (2001) afirmam que brincar é a atividade mais importante da vida da criança e é fundamental para seu desenvolvimento. Por meio da brincadeira, a criança se comunica e expressa de modo ativo seus sentimentos. Ela usa a linguagem do brincar para apreender novas situações, elaborando psiquicamente vivências de seu cotidiano e minimizando possíveis conflitos internos. Brincando, a criança expressa de modo simbólico suas fantasias, seus desejos e suas experiências vividas (MARTINS et al, 2001, p. 77)

Ribeiro et al (2002) discutem a importância do brinquedo para a criança internada e afirmam que este deve ser utilizado para recrear, estimular, socializar e também para cumprir sua função terapêutica. Também reforçam a importância da presença de um adulto na condução do brincar no hospital.

A socialização é outra contribuição do projeto que ocorre entre as crianças internadas, entre as crianças e os trabalhadores da Pediatria e entre as crianças de outros hospitais. Relacionada à questão da socialização está a ampliação das possibilidades de comunicação oferecidas pelo projeto. A pediatria do hospital HUJM está acompanhando o movimento contemporâneo de ampliação da comunicação em rede. Há algum tempo que aquele leito silencioso, depositário de solidão, dor e sofrimento que não se reparte, perdeu espaço para a interatividade, o compartilhar de emoções, a solidariedade, a busca do conhecimento e a construção de novas relações. Se antes o estar hospitalizado representava isolamento, agora já existe conhecimento teórico-prático que permite o inverso, ou seja, a ampliação das relações e interações. As atividades do projeto têm atraído tanto as crianças que, aliado a fatores relacionados às condições de vida das mesmas e às relações estabelecidas entre elas e à equipe da pediatria, não é raro algumas crianças verbalizarem a vontade de ficar no hospital, mesmo estando saudáveis e em condições de alta.

A outra contribuição diz respeito ao aprendizado que ele oferece. No projeto a criança aprende, primeiro, o caminho da EIC e nunca mais esquece! E depois, lá, ela vai aprender a usar o computador e suas ferramentas. Mas o maior aprendizado é a superação dos seus limites, mesmo nas condições mais adversas, com dor, com soro, com restrição física (vide Figura 1). Aprende que não é necessário ficar paralisada, admirando o teto, que o corpo está frágil, mas que a maior parte de suas funções estão prontas, vivas, aptas para serem usadas se estimuladas. É um aprendizado de superação para a criança e também para a equipe.

O projeto EIC-Hospitais surgiu num contexto de crítica ao modelo de assistência à saúde tradicional, centrado na doença, prática esta que vinha (e ainda vem) sofrendo críticas de pessoas que a percebiam como uma situação a ser enfrentada e superada através de atos concretos, num processo de humanização do atendimento hospitalar. Para Freire (1992) estas situações são consideradas "situações-limites", ou seja, situações de opressão que precisam ser superadas, por se apresentarem como obstáculos ao ser-mais. Contudo, as dificuldades para esta transposição podem provocar atitudes de resignação ou de enfrentamento. No segundo caso, enfrentar é, antes de tudo, uma atitude de esperança e confiança no "inédito viável". É a certeza da necessidade de romper com a opressão, é a realidade sonhada, ainda não vivida, mas que pode se tornar realidade através de "atos-limites", ou seja, ações necessárias para romper com a opressão. (22)

 1.4.19 - Resolução CONANDA nº 41 DE 17/10/1995

1. Direito a proteção, a vida e a saúde com absoluta prioridade e sem qualquer forma de discriminação.

2. Direito a ser hospitalizado quando for necessária ao seu tratamento sem distinção de classe social, condição econômica, raça ou crença religiosa.

3. Direito a não ser ou permanecer hospitalizado desnecessariamente por qualquer razão alheia ao melhor tratamento da sua enfermidade.

4. Direito a ser acompanhado por sua mãe, pai ou responsável, durante todo o período de sua hospitalização, bem como de receber visitas.

5. Direito a não ser separado de sua mãe ao nascer.

6. Direito a receber aleitamento materno sem restrições.

7. Direito a não sentir dor quando existam meios para evitá-la.

8. Direito a ter conhecimento adequado de sua enfermidade, dos cuidados terapêuticos ou diagnósticos a serem utilizados, do prognóstico, respeitando sua fase cognitiva, além de receber amparo psicológico quando se fizer necessário.

9. Direito a desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde e acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar.

10. Direito a que seus pais ou responsáveis participem ativamente do seu diagnóstico, tratamento e prognóstico recebendo todas as informações sobre os procedimentos a que será submetida.

11. Direito a receber apoio espiritual/religioso, conforme a prática de sua família

12. Direito a não ser objeto de ensaio clínico, provas diagnósticas e terapêuticas, sem o consentimento informado de seus pais ou responsáveis e o seu próprio, quando tiver discernimento para tal.

13. Direito a receber todos os recursos terapêuticos disponíveis para a sua cura, reabilitação e/ou prevenção secundária e terciária.

14. Direito à proteção contra qualquer forma de discriminação, negligência ou maus-tratos.

15. Direito ao respeito à sua integridade física, psíquica e moral.

16. Direito à preservação de sua imagem, identidade, autonomia de valores, dos espaços e objetos pessoais.

17. Direito a não ser utilizado pelos meios de comunicação em massa sem expressa vontade de seus pais ou responsáveis ou a sua própria vontade, resguardando-se a ética.

18. Direito à confidência de seus dados clínicos, bem como direito de tomar conhecimento dos mesmos, arquivados na instituição pelo prazo estipulado em lei.

19. Direito a ter seus direitos constitucionais e os contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente respeitado pelos hospitais integralmente.

20. Direito a ter uma morte digna, junto aos seus familiares, quando esgotados todos os recursos terapêuticos disponíveis.

Os hospitais participantes estão em anexos (22)

1.4.20 - MÚSICA NO HOSPITAL

Segundo, ELISETH RIBEIRO LEÃO, porque haveríamos de desejar ter música nos hospitais? E de quem seria a responsabilidade de disseminá-la nesse meio?

Em resposta simples à primeira questão, poderíamos dizer a princípio, para entretenimento dos pacientes e acompanhantes, assim como para tornar o ambiente hospitalar mais agradável. Sim, essa seria uma possibilidade, porque a hospitalização constitui um momento de ruptura na vida das pessoas, no qual os aspectos sociais e culturais, além dos biológicos e psíquicos se encontram comprometidos, portanto, uma proposta de música nos hospitais pode e deve ir, além disso. E o que dizer do ambiente então?

Por mais que os profissionais que ali atuem se preocupem com esse aspecto sob a égide da humanização, o ambiente hospitalar, com sua sonoridade peculiar (bips de monitores, alarmes de equipamentos, etc) sempre é caracterizado por uma certa tensão, doses variadas de sofrimento, dor, desafios na luta pela vida, dificuldades no enfrentamento de perdas e da morte que levam a pairar no ar estados de ansiedade, depressão, temor.

Via de regra é assim fazendo com que as pessoas tenham a sensação de um pulsar de vida "lá fora" e dificuldades de percepção da vida que continua a pulsar ali dentro, pois não temos também o hábito bem desenvolvido de ressaltar os aspectos positivos no processo saúde-doença. A música nesse contexto pode se transformar intencionalmente conduzida, de entretenimento para um recurso terapêutico relevante.

Florence Ninghtingale, precursora da enfermagem moderna já ressaltava isso há quase 150 anos. Todavia, se o potencial terapêutico da música ainda não é bem explicado pela ciência, é ao menos reconhecido pela humanidade desde tempos imemoriais.

A despeito dos relatos mitológicos ou bíblicos sobre os seus efeitos, Platão e Aristóteles já afirmavam que a música tem a capacidade de nos harmonizar, de favorecer o equilíbrio, de liberar as nossas emoções em um processo catártico. Para Nietzsche a vida sem a música poderia ser considerada simplesmente um erro, uma tarefa cansativa, um exílio.

Se pensarmos que o hospital pode ser facilmente concebido como um local de exílio, já que vimos que as pessoas hospitalizadas são arrancadas do seu cotidiano, poderíamos dizer que um hospital sem música é um duplo exílio. Portanto, a música no hospital, mais do que útil, sob o ponto de vista terapêutico, é simplesmente necessária.

Falar de música nos hospitais traz freqüentemente à tona o termo musicoterapia. Existem diversas definições cunhadas por vários profissionais da saúde, o que por vezes gera algumas confusões de aplicação e sentido. A musicoterapia pode ser compreendida, de maneira bastante ampla, como a utilização da música com finalidade terapêutica. Todavia, para muitos musicoterapeutas (profissionais graduados em musicoterapia) tal definição não constitui musicoterapia, por não envolver o estabelecimento de uma relação terapeuta/cliente, e sim, música terapêutica – a música utilizada como cuidado por diversos outros profissionais.

Por sua vez, para muitos músicos, música terapêutica é considerada um gênero musical (comumente observada em catalogação de CDs). Todavia, vale ressaltar que não existe o termo música terapêutica como Descritor de Ciências em Saúde (DECs), somente musicoterapia, como uso da música como uma terapia adicional no tratamento de distúrbios neurológicos, mentais ou comportamentais. O DECs é um vocabulário estruturado trilíngue (português, espanhol e inglês) criado para uso na indexação de artigos de revistas científicas, livros, etc, assim como para ser usado na pesquisa e recuperação de assuntos da literatura científica em bases de dados internacionais.

Portanto, todo trabalho desenvolvido com foco em música e saúde, independente da categoria profissional, não tem muitas possibilidades de indexação, o que o leva a ser obrigatoriamente indexado com o descritor musicoterapia ou, dependendo da natureza do trabalho, com o descritor estimulação acústica (uso do som para extrair uma resposta no sistema nervoso) ou música, cuja nota de indexação remete novamente à musicoterapia. O termo é utilizado até mesmo em pesquisas voltadas à sua utilização junto a animais desenvolvidas em Universidades do Canadá e Inglaterra.

Por outro lado se considerarmos ainda, como de caráter musicoterápico, a relação terapeuta/cliente, tendo a música como mediadora de processos terapêuticos como os observados na área de saúde mental, nos deparamos com o exercício desta atividade sendo realizada há muitos anos por médicos e enfermeiros psiquiátricos, assim como na psicologia. Curiosamente, uma das teorias de musicoterapia mais difundidas no Brasil foi desenvolvida por um psiquiatra argentino, Roland Benenzon.

Fato é que para os pacientes e para o público leigo em geral (incluindo a mídia) ter música no hospital é considerado praticamente sinônimo de musicoterapia e uma longa trajetória ainda deverá ser percorrida para que não surjam mais dúvidas a esse respeito. A inserção efetiva desse profissional nas equipes de saúde muito irá contribuir para a definição dos espaços de atuação.

Fato é também que a música sempre foi e continuará sendo objeto de estudo e prescrição de diversos profissionais da saúde, cada um dentro do âmbito de suas atividades, com seus respectivos referenciais teóricos e com a devida sistematização de seus processos assistenciais.

Por último, mas não menos importante, temos que abordar ainda a participação dos músicos. Música nos hospitais, que apresentamos neste artigo como um conceito de atenção em saúde, é também a denominação homônima de dois projetos. Um desenvolvido no Brasil pela Orquestra do Limiar que objetiva proporcionar aos médicos, pacientes e funcionários, momentos de paz, descontração, cultura e lazer no ambiente hospitalar. O outro é conduzido na Europa. Trata-se de músicos com formação específica de um ano, em uma universidade na França para atuarem em hospitais, dentro de uma abordagem de humanização e de constituição de mais um espaço de cultura, com ênfase no aspecto relacional. Embora tais músicos não reivindiquem de forma alguma qualquer efeito terapêutico, na realidade esses saltam aos olhos de quem acompanha o projeto.

Isso posto, talvez já possamos responder à segunda questão. Se compreendermos a saúde como um bem socialmente compartilhado e a música como um recurso que contribua para isso, ter boa música nos hospitais é de responsabilidade dos profissionais da saúde, dos músicos, como de todo e qualquer cidadão. Entretanto, mais do que desejo e boas intenções há que se ter conhecimento, consciência e competência que podem ser aprendidos e compartilhados.
Vista dessa forma, a música pode ser uma experiência enriquecedora, não só para os pacientes e familiares, mas para todos os profissionais envolvidos. Cada profissional que carrega consigo a música, como intervenção (ou atuação), tem muito a contribuir. Cada um parte de um lugar diferente, mas com objetivos humanísticos muito semelhantes, fazendo valer assim a idéia de que somos diferentes, mas não estamos sós.

Talvez seja por isso que a música seja considerada uma linguagem universal, pois configura sempre uma possibilidade de diálogo com outros códigos, sejam eles representados por conhecimentos advindos da filosofia, da psiquiatria, da psicologia, da enfermagem, da musicoterapia ou da própria música.
Dessa forma, ela nos permite, para além da possibilidade criativa e de contato com compositores maravilhosos, o deleite em discutir com diversos interlocutores convidados a participar do que pode ser considerado um grande ensaio de orquestra, como Vigotsky, Martha Rogers, Adorno, Arendt, Jung, Martin Buber, entre outros, que podem efetivamente nos fundamentar para transformar o sonho da música nos hospitais em realidade corrente em nosso meio.(23)

1.4.21 - Música e dor: estado da arte

* Por Eliseth Ribeiro Leão, a música tem acompanhado o homem em toda sua trajetória e, como uma forma de cuidado à saúde, é descrita também de longa data.

A sua aplicação no alívio da dor tem sido relatada em muitos momentos da história da medicina.

Em nossa experiência pudemos verificar seus efeitos redutores de intensidade no controle da dor crônica músculo-esquelético.

Todavia, a literatura é controversa quanto aos resultados no manejo da dor de etiologias diversas, em estudos com metodologias variadas e, sobretudo, com repertório musical diversificado e não criteriado.

A medicina baseada em evidências é a tônica das atividades em saúde na atualidade e conhecer o estado da arte sobre a utilização da música no alívio da dor se faz necessário.

As revisões sistemáticas (incluindo metanálises) de vários estudos randomizados constituem o melhor nível de evidência científica.

Optamos então, por comentar uma revisão sistemática (Cepeda, Carr, Alvarez; 2006) disponível na Biblioteca Cochrane, que objetivou avaliar o efeito da música na intensidade da dor e solicitação de analgésicos, uma vez que os autores partiram da premissa que a eficácia da música no tratamento da dor não se encontra bem estabelecida.

Foram incluídos 51 estudos, randomizados e controlados, que avaliaram o efeito da música sobre a dor, envolvendo 3.663 pessoas.

Os revisores não encontraram diferenças sobre a intensidade entre pessoas que selecionaram a música daqueles que não selecionaram.

Em nossa experiência também temos verificado que o alívio da dor ou outro efeito terapêutico, como por exemplo, alterações de estado de ânimos, ocorrem independentemente dos da preferência individual.

Os revisores concluíram que ouvir música reduz a intensidade da dor e a solicitação de analgésicos, mas que a magnitude desses benefícios é pequena e, portanto, sua relevância clínica não é clara.

Retomando a importância das evidências e do impacto que um estudo como esse pode ter em nosso meio, algumas considerações merecem ser apresentadas. A primeira se refere à manutenção do senso crítico frente à classificação dos níveis de evidência dos estudos, para que alguns aspectos da ciência não se tornem dogmáticos e impeçam a expansão do conhecimento sobre temas pouco explorados.

Mesmo os bons estudos têm que ser analisados com cautela, pois nem sempre os desenhos relacionados aos melhores níveis de evidência são os mais aplicáveis a determinados objetos de estudo. As evidências científicas devem estar para os pesquisadores como, de forma análoga, o poste está para o embriagado: mais para apoiá-lo do que propriamente para iluminá-lo.

É importante ainda, refletirmos sobre a "magnitude dos benefícios".

Quem atua no manejo e controle das dores crônicas e, muitas vezes, refratária a uma miríade de tratamentos, sabe como é compensador ouvir do paciente que sua dor melhorou "um pouquinho", que uma dor fina se tornou "fininho", mesmo quando isso não altera significativamente os escores de intensidade.

Perceber bons resultados, mesmo que limitados, tem relevância se compreendermos a música como recurso complementar, como uma possibilidade de resgate do saudável.

Este é um aspecto essencial: a música não se restringe à dor, o que torna possível minimizar a redução do paciente ao sintoma.

Só por isso ela já é valiosa e merece integrar a abordagem terapêutica.

O último fator a ser considerado diz respeito à própria música. Temos observado que os estudos se referem aos indivíduos com dor, submetidos ou não à música.

A questão talvez não seja a "música", mas "qual música?" Muitos ensaios sequer relacionam as canções empregadas, quando muito, indicam o gênero musical.

E é aí, que a coisa complica, pois quando há a indicação de jazz, por exemplo, de que jazz se está falando? Traditional, Free

jazz, Bebop...? O que é também aplicável

a música erudita.

E mesmo quando se trata de um determinado compositor a variabilidade de composição é imensa.

Ouvir um Réquiem de Mozart é completamente diferente de ouvir a Sinfonia nº 40.

Portanto, se há indicações claras de que os estudos da música e seus efeitos necessitam ser aprofundados, atenção especial deve ser dada ao material sonoro selecionado, bem como não é possível prescindir da análise das estruturas musicais empregadas.

Talvez aí sim, nos aproximemos de explicações mais satisfatórias e que orientem de forma mais adequada aspectos importantes da metodologia dos estudos sobre este tema. (24)

1.4.22 - MUSICOTERAPIA NA HUMANIZAÇÃO –UMA PROPOSTA DE TRABALHO EM HOSPITAL ONCOLÓGICO

Está em vigor no Sistema Único de Saúde, uma política nomeada pelo Ministério da Saúde de Política Nacional de Humanização da atenção e gestão no Sistema Único de Saúde

Humanizar o SUS, que propõe mudanças. no modelo de atenção.

A Humanização, como política transversal na rede SUS implica em oferecer um eixo articulador das práticas em saúde, destacando o aspecto subjetivo nelas presente. A proposta de humanização impõe uma nova relação entre usuário, os profissionais que o atendem e à comunidade. (Portal.Saúde, 2005).

A humanização da assistência hospitalar é um grande desafio, demandando o entendimento das relações contemporâneas entre o ser humano, seu adoecimento e as circunstâncias em que se oferecem os cuidados aos enfermos e a seus cuidadores.

Essas questões interessam a muitos dos que se debruçam para entender a dinâmica e complexidade da atenção oferecida ao paciente internado.

A musicoterapia, dada ao trabalho com a música e suas características de inserção na cultura e no cotidiano dos seres, pode ser importante aliada aos programas que pretendem um atendimento mais humano aos que passam por estressantes situações hospitalares tanto enfermos quanto funcionários.

Em 2002, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) implantou, na unidade responsável pelo atendimento a adultos matriculados nos Serviços de Ginecologia e Oncologia Clínica, um trabalho pioneiro envolvendo atividades musicais e musicoterapia para contribuir com a humanização hospitalar.

Este trabalho, ligando Musicoterapia e Humanização, é denominado no hospital de "Projeto Encanto".

Pesquisas apontam à música como importante fator na contribuição ao tratamento oncológico principal, atuando junto às pacientes internados, que freqüentemente sofrem de ansiedade, dor, privação de sono e incerteza sobre seu bem-estar geral. A música traz conforto, e ajuda a desenvolver uma comunicação significativa, contribuindo na resolução de questões emocionais envolvidas nessas circunstâncias (Baileiy, 1984; Butler, 1999).

Pacientes internados geralmente experienciam ansiedade devido a numerosos fatores relacionados a aspectos objetivos e subjetivos decorrentes da internação.

Alguns fatores comumente relatados na literatura incluem os medos da dor, medo das limitações impostas por doença, e pela possibilidade da morte, bem como questões referentes à hospitalização, como, por exemplo, a não familiaridade com o meio e sentimentos de isolamento e de não ter ajuda (Algridge, 1990)

O uso de canções pode contribuir ao oferecer aos pacientes significados existencial que os auxiliam para fortalecerem-se e, também, como instrumentos importantes para efetivar mudanças internas que o enfrentamento da doença proporciona.

Atender a equipe do hospital, contribuindo para o alívio do estresse, a melhoria do humor e do ambiente, e a atenção recebida pela presença da música, (Kloezen e Didier, 2001) também foram expectativas criadas pela implantação do Projeto Encanto.

O objetivo desse artigo é descrever a implantação da musicoterapia no Instituto Nacional do Câncer, avaliando essa implantação. Esse estudo contribui para aumentar conhecimento dos processos emocionais subjacentes a utilização da música com pacientes oncológico em tratamento hospitalar e para o avanço da própria musicoterapia, disciplina ainda recente que carece de estudos aprofundados em seu campo de ação.

O Projeto Encanto, implantado em 2002, leva música a unidade do hospital responsável pelo atendimento a adultos matriculados nos Serviços de Ginecologia e Oncologia Clínica com o objetivo de suavizar o ambiente e valorizar as pessoas, o que se encontra consoante com o Programa Nacional de Humanização e Assistência Hospitalar.

No seu primeiro ano, o Projeto funcionou com uma equipe integrada por um responsável musicoterapeuta, oito musicoterapeutas estagiários do Conservatório Brasileiro de Música – Centro Universitário (CBM – CEU) e três músicos voluntários (que já prestavam um serviço com música em na enfermaria de câncer ginecológico).

É importante observar que os musicoterapeutas também eram voluntários durante esse primeiro ano de implantação do Projeto.

Somente no ano seguinte, 2003, após a fase experimental do Projeto Encanto, foi assinado um convênio entre o INCA e o CBM - CEU para a contratação de musicoterapeutas estagiários em regime de vinte horas semanais com supervisão técnica oferecida pela instituição de ensino.

O Projeto Encanto iniciou, portanto, com duas abordagens musicais: a dos músicos voluntários, cuja música oferecida aos internados é uma música escolhida pelos próprios músicos, e a dos musicoterapeutas, cuja música é escolhida pelos pacientes e pelos funcionários do hospital, além de improvisarem segundo as diferentes situações clínicas e oferecerem músicas de seu próprio repertório.

Abrangem todos os funcionários, as enfermarias de adultos com câncer ginecológico e das enfermarias de oncologia clínica, o ambulatório, a emergência, a quimioterapia e o CTI.

No primeiro ano de funcionamento do projeto, a unidade foi visitada em horário que não interferisse na rotina de cuidados aos pacientes – estipulado entre 16h e 17h e 30 min., duas vezes por semana pelos músicos ligados ao voluntariado e por quatro duplas de musicoterapeutas, cada dupla em um os setores acima descriminados.

Em 2003, os músicos voluntários deixaram de atuar nas enfermarias e houve a contratação de alunos de graduação do curso de musicoterapia. 1

A atenção ao setor de pediatria foi incluída no trabalho dos musicoterapeutas.

A chefe do Serviço Social e a chefe da Brinquedoteca foram as responsáveis pelos estagiários no hospital e a professora musicoterapeuta supervisora do projeto é do o Conservatório Brasileiro de Música - Centro Universitário.

Atualmente, o Hospital contrata dois estagiários da graduação de musicoterapia por 20 horas semanais.

No primeiro semestre de 2003, o trabalho da Musicoterapia no hospital, ficou assim distribuído: cada musicoterapeuta acadêmico trabalhou doze horas por semana no hospital de adultos, seis horas na pediatria com duas horas de supervisão na faculdade.

No segundo semestre daquele ano, houve um remanejamento no horário a pedido do hospital.

Atualmente, os musicoterapeutas trabalham nove horas semanais em cada uma das unidades, conservando-se às duas horas de supervisão no CBM-CEU

Na pediatria, atendemos inicialmente ao ambulatório, a quimioterapia e as enfermarias de hematologia infantil e de pediatria. Posteriormente passamos a visitar somente as enfermarias e o CTI.

Essa mudança ocorreu por sugestão da responsável pelo projeto no hospital, que julgou ser a forma de melhor aproveitamento do tempo para os estagiários.

Participando inteiramente das ações hospitalares baseadas em uma abordagem da complexidade, o Projeto Encanto abre caminhos de sensibilidade e humanidade na atenção global que a contemporaneidade exige. Ministério da Saúde, através do Programa de Humanização dos Serviços de Saúde, propõe a criação de uma nova cultura de atendimento à população, pretendendo enfrentar os grandes desafios de melhoria da qualidade do serviço e de valorização do trabalho dos profissionais da área.

A Humanização objetiva, fundamentalmente, aprimorar as relações entre os profissionais de saúde e os usuários, entre os próprios profissionais e entre o hospital e a comunidade. Estabelece desta maneira, o panorama favorável à implantação de uma forma de musicoterapia hospitalar.

Portanto, a contribuição que essa pesquisa traz é propor etapas possíveis para essa implantação, no contexto da formação profissional e as possibilidades desse trabalho como campo de ação da musicoterapia.(Os músicos voluntários encerraram sua participação no Hospital por motivos pessoais, e não pela contratação dos acadêmicos de musicoterapia.

Em uma ocasião, convidados pelo Dr. Alberto, cirurgião pediátrico, realizamos o trabalho de música no Centro Cirúrgico.

Para alcançar o objetivo proposto no presente estudo, uma pesquisa de campo foi realizada durante dois anos. No primeiro ano a implantação foi acompanhada através de questionário escrito, seguidos da análise qualitativa do conteúdo temático das respostas dos alunos. A segunda fase da pesquisa, a avaliação do projeto, foi feita pela análise de entrevistas de dez funcionários que lidam diretamente com os usuários. (25)

1.4.23 - A implantação do serviço de musicoterapia

Reconhecendo o campo de trabalho como absolutamente novo, tanto para os estagiários como para mim, supervisora do Projeto, começamos a atuação clínica fora do hospital, com um treinamento no CBM-CEU que se constitui em aulas e leituras sobre a doença e o adoecer,.qualidade de vida, enfrentamento, e vivências práticas de improvisação e recriação com o levantamento de um repertório possível. A etapa que se segui foi realizada no hospital.

Os musicoterapeutas participaram de palestra realizada no Centro de Estudos para o lançamento do Projeto Encanto – dia 27 de março de 2002; visitaram ao hospital – enfermarias, emergência, quimioterapia.

A avaliação desta 1a etapa foi feita com os musicoterapeutas estagiários, através de um questionário aberto, respondido, com as seguintes questões:

Descreva, acrescentando suas opiniões pessoais:

O período de treinamento; a visita ao hospital;

O primeiro dia de trabalho.

A análise dos relatórios dos estagiários revelou a importância do treinamento anterior ao início das atividades no hospital, pela preparação teórico-técnica, pela preparação pessoal e pela contribuição na formação de uma equipe de trabalho. A existência de uma visita preparatória mostrou-se útil para estabelecer o contato com o ambiente hospitalar – o doente e a doença, bem como pelo contato do musicoterapeutas com as suas emoções, antes do trabalho iniciado.

O início do trabalho propriamente dito fez surgir questões quanto à implicação pessoal do estagiário, além do aparecimento das primeiras questões técnicas.(25)

1.4.24 - Avaliação do funcionamento do projeto encanto

Estando o Projeto Encanto no seu terceiro ano de funcionamento, decidimos realizar uma pesquisa de campo com o objetivo principal de avaliar a eficácia do Projeto sob o ponto de vista dos profissionais que trabalham com os usuários. Foram realizadas dez entrevistas com os componentes da equipe de profissionais da instituição. Escolhemos profissionais enfermeiros e assistentes sociais porque são eles os que, lidando diretamente e diariamente com os enfermos, estando presentes no hospital durante a atuação dos profissionais musicoterapeutas.

Fizemos entrevistas semi-estruturadas, gravadas em áudio, com dez profissionais.

As entrevistas levantaram impressões sobre a presença da musicoterapia e a sua influência como recurso utilizado para a humanização do hospital.

A análise das respostas dos profissionais que trabalham diretamente com os pacientes enfermos confirma o achado de outros autores (Bailey, 1984; Butler, 1999; Algridge,1990)), quanto a música trazer conforto, promover uma comunicação significativa e contribuir para enfrentar a não familiaridade com o meio hospitalar . A música oferece uma possibilidade do paciente se distrair tanto no sentido de proporcionar distração quanto no de esquecer a dor e os agravos provenientes da situação emocional advinda do tratamento.

A importância de a musicoterapia oferecer um outro tipo de cuidado, precisa ser destacado.

A musicoterapia estabelece uma lógica de cuidados inserida na saúde, na lembrança dos dias fora do hospital, na cultura do seu cotidiano. A importância dada por Ayres aos projetos e as atitudes do profissional cuidador, pode ser inferida dessa pesquisa. "é forçoso saber qual é o projeto de felicidade que está ali em questão, no ato assistencial, mediato ou imediato.

A atitude de cuidar não pode ser apenas uma pequena e subordinada tarefa parcelar das práticas de saúde.

A atitude "cuidadora" precisa se expandir mesmo para a totalidade das reflexões e intervenções no campo da saúde. "Como aparece ali, naquele encontro de sujeitos no e pelo ato de cuidar, os projetos de felicidade, de sucesso prático, de quem quer ser cuidado." (Ayres, 2001 p71)

A análise das respostas dos entrevistados levou-nos a conclusão de que a música é portadora de sentidos que o paciente lhe dá, oportunizando comunicações significativas.

Ele aborda a história de sua vida através da música, expressão sentimentos e emoções, contribuindo de maneira ímpar para aumentar a capacidade de enfrentamento da doença, tanto no período de internação quanto no de tratamento ambulatorial.

O paciente, na intervenção musicoterapêutica realizada no hospital, tem a oportunidade de exercer a sua singularidade através das escolhas musicais que faz : repertório, estilo musical, cantor, cantora, andamento da canção, cantar ou escutar, improvisar.

As categorias referentes ao alívio do medo da dor; alívio do medo limitações impostas por doença, e medo advindo da possibilidade da morte não foram encontrados nos relatos dos profissionais, provavelmente porque essas categorias são difíceis de serem observadas por terceiros, e somente uma pesquisa com os próprios pacientes poderia torná-las evidentes.

A categoria surgida no relato dos profissionais, chamada nessa pesquisa de expressão de singularidades através da música abre um rico viés para futuras pesquisas.

O musicoterapeuta dentro de um hospital, através de sua própria prática musical, questiona o sistema utilizado tradicionalmente pelos demais profissionais de saúde, trazendo à cena clínica, outros coletivos para pensar os profissionais, as práticas, os sujeitos, as canções, as expressões, os sons, os ruídos, os silêncios terríveis.

Essa prática inovadora quebra antigos paradigmas, provocando sentimentos contraditórios na vivência da interdisciplinaridade (Chagas, 2001).

Outro dado importante surgido no relato dos trabalhadores pesquisados foi o ato da música tanto atrapalhar, quanto ajudar efetivamente o trabalho no hospital.

Ressalta-se, então, a importância da percepção do musicoterapeuta para avaliar os contextos clínicos onde a sua intervenção se dá.

Conclui-se, então, que o Projeto Encanto tem cumprido seu papel na Humanização do Hospital.

E, além desse, abre outros tantas discussões – a serem travadas em outros fóruns e em outras pesquisas - sobre os processos de cuidar e suas relações com modos de subjetivação e a cultura de nosso povo.(25)

1.4.25 - A música como terapia complementar na Assistência de Enfermagemna Dor Oncológica

Dra. Eliseth Ribeiro Leão - Enfermeira e Terapeuta Floral. Mestre e Doutoranda da EEUSP. Ex-colaboradora do Grupo de Dor do HCFMUSP e dos Programas de Educação em Dor do IOTHCFMUSP. Assessora de Pesquisa Científica do Hospital Samaritano

O potencial da música para auxiliar na cura tem sido reconhecido por milhares de anos. Relatos históricos e mitológicos comprovam isso. Platão e Pitágoras na Grécia antiga descreviam a música como um recurso capaz de harmonizar o ser humano. NIGHTINGALE (1989), já em 1859, mencionava o uso da música como um cuidado à saúde. Durante os primeiros anos do século XX, a música, ganhou maior força nos hospitais com o retorno dos veteranos da I e II Guerras Mundiais. Nesse período o papel da Enfermagem foi preponderante para a musicoterapia e sua projeção enquanto profissão nos EUA Isa Maud Ilsen, musicista e enfermeira foi a responsável pela criação da Associação Nacional de Música nos Hospitais, além de pioneira no ensino de musicoterapia na Universidade de Columbia Ilsen considerava a música como um caminho para aliviar a dor em pacientes cirúrgicos e naqueles com doenças físicas (DAVIS, GFELLER, THAUT, 1992). Seus passos foram seguidos por outra enfermeira, Harriet Ayer Seymour que utilizava a música com efeitos benéficos nos soldados feridos, e dedicou-se ao estudo e à prática da terapêutica musical (RIBAS, 1950).

A musicoterapia é bastante ampla e pode ser definida, para a Enfermagem, como a utilização criteriosa da Música, enquanto recurso complementar no cuidado ao ser humano, visando a restauração do equilíbrio possível, do bem-estar e, em muitos casos, a ampliação da consciência individual no processo saúde-doença.

A música na prática da Enfermagem tem sido apontada como recurso terapêutico complementar no manejo e controle da dor aguda e crônica. Em 1977, foi iniciado o primeiro Programa em musicoterapia num serviço de cuidados paliativos do Royal Victoria Hospital para atender as necessidades dos pacientes terminais e de seus familiares (MUNROE;MOUNT, 1978), abrangendo as dimensões física, mental/psicológica, social e espiritual: (26)

1.4.26 – No Físico

Promove relaxamento muscular; quebra o círculo vicioso da dor crônica por aliviar a ansiedade e depressão e, portanto, altera a percepção dolorosa; facilita a participação em atividades físicas de acordo com as possibilidades individuais. (26)

1.4.27 - MENTAL E PSICOLÓGICA

Reforça a identidade e o auto-conceito; altera o estado de ânimo do paciente; auxilia o paciente a lembrar de eventos significativos do seu passado; promove a expressão não verbal de sentimentos, inclusive inconscientes; favorece a fantasia. (26)

1.4.28 - SOCIAL

Funciona como ponte entre as diferenças culturais e o isolamento; promove a oportunidade de participação em grupo; promove entretenimento e diversão. (26)

1.4.29 - ESPIRITUAL

Facilita a expressão de sentimentos espirituais e promove conforto espiritual; auxilia na expressão de dúvidas, raiva, medo e questões relacionadas ao significado da vida e sua finitude.

Segundo BONICA (1980), aproximadamente 60%-80% dos pacientes com câncer admitido nos hospitais em estágios avançados da doença sofrem de dor crônica associada ao câncer.

McCAFFERY (1990) indica o uso da música, entre outros métodos, como uma abordagem não farmacológica efetiva para o controle da dor, por se caracterizar como um método de distração e estar entre as estratégias mais eficazes além de apresentar um alto nível de aceitabilidade pelos pacientes.

HICKS (1992) analisando diversos trabalhos de outros autores enfatiza que a música além de reduzir a tensão e diminuir a dor , promove ainda melhora do sono e constitui também um método de distração (MUNROE; MOUNT, 1978; MacCLELLAND, 1979; LOCSIN,1981; MOSS, 1988; MORNHINWEG; VOIGNIER, 1995).

GOOD (1995) estudando os efeitos do relaxamento e da música em 84 pacientes submetidos à cirurgia abdominal observou que 89% do grupo experimental, após dois dias de intervenção, referiram diminuição de dor e ansiedade.

OWENS ; EHRENREICH (1991) revisando a literatura sobre métodos não farmacológicos sobre o tratamento da dor crônica relatam que as pesquisas indicam que a música afeta todos os maiores sistemas do corpo. Refere ainda outros benefícios da musicoterapia em estudos com pacientes com dor aguda, citando o estudo de Herth que em seus achados identificou uma diminuição de 30% do uso de medicações analgésicas quando a música foi utilizada.

ZIMMERMAN et al. (1989) submeteram pacientes com dor oncológica , que recebiam medicação analgésica de horário ( 50% usando morfina), a ouvirem música com sugestão positiva de que haveria uma redução da dor. Em comparação a um grupo controle encontraram diferenças estatisticamente significantes entre os dois grupos. Os pacientes que ouviram música apresentaram uma redução da dor com significativa diminuição nos escores do Questionário McGill (componente afetivo) e da Escala Analógica Visual (VAS).

Nossa experiência no cuidado de mulheres com diagnóstico de fibromialgia (embora seja dor crônica não oncológica) tem demonstrado que por meio da audição musical erudita há uma redução significativa da dor crônica referida por essas pacientes além de proporcionar uma experiência muito rica, pois além do alívio da dor, diversos aspectos subjetivos emergem, tais como alterações nos estados de ânimo, facilitação da introspecção, visualização de imagens e sensações estéticas, demonstrando que sua utilização e compreensão merecem ser ampliados (DOBBRO, 1998).

Frente às considerações sobre a utilização da música em oncologia acreditamos que Programas em Musicoterapia constituem um campo a ser desenvolvido pelos enfermeiros tendo em vista a gama de possibilidades terapêuticas, que nos permitirá ir ao encontro de diversos objetivos, destacando-se entre eles: o manejo e o controle da dor crônica, a minimização dos efeitos desagradáveis decorrentes da quimioterapia, a redução da ansiedade e depressão e também o favorecimento da experiência integradora que facilita o conforto espiritual e promove dignidade na fase que antecede o término do ciclo vital desses pacientes.

Vale ressaltar que a utilização da música na Assistência de Enfermagem ainda nos é uma atividade incipiente que merece o desenvolvimento de pesquisas para aprofundarmos nossos conhecimentos nessa área e então podermos otimizar os seus efeitos terapêuticos, estabelecendo critérios de utilização confiáveis e, proporcionarmos assim, melhor qualidade de vida aos pacientes oncológico. (26)

1.4.30 - OS ANIMAIS E A HUMANIZAÇÃO "QUEBRA DE PARADIGMAS"

Animais de pequeno porte, cães, gatos,porquinhos da Índia e outros se prestam, sobretudo para crianças, mas também para adultos com o fator positivo de descarga e de exercício de quebra de paradigmasafetividade.

O efeito psicológico é altamente positivo e exerce um efeito de tranqüilidade. Brincar com esses animais faz parte de entretenimento espontâneo em rodas de visitas.

No 3°Congresso de Humanização em Ação, realizado em São Paulo, pela organização Viva e Deixe Viver, nos dias 15 e 16 de abril de 2003, os congressistas foram surpreendidos com a palestra da Dra.Hannelore Fuchus, com o tema "Projeto Petsmile".

A veterinária passou a apresentar algo que já ocorre nos EUA, aliás lá acontece de tudo. Alguém lá conseguiu levar, a duras penas, um cachorrinho de estimação de um menino internado na UTI.

Todos os cuidados e preocupações foram tomados e a criança pôde ter o bichinho querido sobre a cama. Ele passou a acariciá-lo e sua fisionomia, antes pálida como é natural nesses ambientes, ficou iluminado por um sorriso tão lindo que impressionou a todos.

Outras aventuras desta natureza foram se repetindo, com cães e gatos, coelhos, porquinhos da Índia etc.

Os efeitos psicológicos foram considerados tão positivos, que a "terapia" emocional passa a ser aceita, em alguns lugares, dando-se conta de que os bichinhos, em hospitais, não são mais "bichinhos de sete cabeças". O problema continua sendo a presença de "bichões de duas pernas".

A questão do risco das infecções é perfeitamente controlável, com os devidos cuidados. Com certeza, certos bichinhos são menos sujos que as mãos de funcionários, ao sair do banheiro, não devidamente higienizadas ao passar de paciente a paciente.

"Aliás, o que dizer dos que não exitam em sair do centro cirúrgico para o refeitório, trajando "uniforme" que traz, em letras garrafais:" uso exclusivo no centro cirúrgico".

Com o mesmo sapato que se calça ao sair de casa, se anda pelas ruas, se circula pelo hospitale se retorna para casa. Tudo bem, assim os microorganismo da casa e da rua se encontram com os do hospital e esses visitam os domésticos. Isso passa a ser interessante (!...) porque favorece a imunológia, porém aprimora a resistência dos "bichinhos". Mas tudo bem, os "bichões" oferecem mais risco à humanização que esses "invisíveis".

Em São Paulo, já há outro hospital que, sem fazer alarde, começa a aceitar essa "terapia" que leva grande emoção positiva aos fragilizados, que tiveram que deixar o que tanto amam em casa. (1)

1.4.31 - Convívio com animais auxilia no tratamento de diversas patologias.

Se em decorrência de alguma doença seu médico disser que conviver com animais faz parte do tratamento, não se espante, trata-se do Pet Terapia ou Terapia Assistida com Animais. Especialistas garantem: o contato com bichos promove bem-estar, exerce influência sobre a saúde física e mental e contribui para a melhora, e até resolução, de diversas patologias.

Aos 13 anos, Caroline Raquel, hoje com 15 anos, descobriu um linfoma de Hodgkin – câncer que se origina nos gânglios do sistema linfático. Para ajudar no tratamento da adolescente, o médico sugeriu que a família passasse a ter um cachorro. "O médico disse que por causa da doença eu teria muitas restrições e que um cão seria ótima companhia", conta.

Foi assim que Carol ganhou Nick, um cachorro da raça pug. A jovem sabe o quanto Nick foi importante para sua recuperação. "Comecei a perceber que o Nick estava me ajudando a melhorar, pois comecei a ver como ficava feliz por estar ao lado dele, o quanto ele me fazia companhia quando não podia sair de casa e o tanto que ele cuidava de mim", lembra.

De acordo com Maria Darci Colares, médica do Departamento de Medicina Comunitária da Universidade de Brasília (UnB), a Pet Terapia oferece inúmeras vantagens para pessoas com determinadas necessidades, proporcionando melhora nos aspectos psicológico, físico e social de crianças, adultos e idosos. A eficácia da Pet Terapia é comprovada tanto em países europeus quanto no Brasil. Crianças com autismo ou síndrome de Down, por exemplo, apresentam respostas significativas ao tratamento", afirma.

Segundo a médica, a terapia, desenvolvida no Núcleo de Estudos em Educação, Promoção da Saúde e Projetos Inclusivos (Nesprom), proporciona excelentes resultados. "Temos o caso de um adolescente que perdeu o pai aos 15 anos e parou de falar. A mãe já não sabia o que fazer. Dissemos a ela que a convivência com um cachorro poderia trazer bons resultados. Nossa equipe preparou e treinou o animal. Depois de quatro meses, o adolescente voltou a falar", comemora. Colares diz ainda que "pessoas com problemas cardíacos e neurológicos, depressão, paralisias cerebrais, portadores de deficiências e vítimas de traumas podem melhorar e até se recuperar com a Pet Terapia".

A formação de grupos de voluntários e organizações não-governamentais vem contribuindo para disseminar a terapia com animais e melhorar a qualidade de vida de pacientes com os mais distintos quadros clínicos. O Projeto Cão Terapeuta, desenvolvido há cerca de cinco anos pela Organização Cão Cidadão, especializada em treinamento e comportamento animal, é um exemplo. A proposta da ONG é melhorar a qualidade de vida de crianças internadas em hospitais e alunos de escolas para portadores de deficiência mental através do contato com cães. Nessas organizações o animal, que deve ser saudável e dócil, recebe treinamento especial para aprender a se comportar de maneira adequada e a fazer alguns truques para divertir os visitados.

"O ser humano precisa estar bem para curar as patologias. Pessoas mais felizes possuem melhor sistema imunológico. Com a ajuda de cachorros esse resultado acontece rapidamente", afirma Alexandre Rossi, zootecnista com mestrado em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e criador da Cão Cidadão.

Rossi conta que a utilização desse tipo de terapia apresenta ótimos resultados com crianças doentes, adultos com problemas mentais e idosos. Na presença de animais até os médicos conseguem se aproximar do paciente mais facilmente. "Depois das visitas, o relacionamento e o humor dos internos também melhoram", completa.

Assim como o Cão Terapeuta, da Organização Cão Cidadão (www.caocidadao.com.br), outros projetos desenvolvem a Pet Terapia. Com o apoio de voluntários, o projeto Pet Smile ([email protected]) visitas instituições que assistem crianças, adultos e idosos em São Paulo. Já o Cão do Idoso (www.projetocao.com.br), leva a terapia assistida por animais para casas de repouso e abrigos para idosos (27)

1.4.32 - PROJETO CÃO IDOSO

Quando escolheu a profissão de fisioterapeuta, Claudinea Guedes Yamashiro não imaginava que um dia pudesse vir a se envolver com cachorros. Em 2002, sete anos depois de formada, a professora responsável pela fisioterapia geriátrica da Universidade Santo Amaro (Unisa), em São Paulo, viu-se diante de um desafio: o aluno Vinicius Fava Ribeiro queria fazer uma monografia na área de geriatria usando cães.

Assim começaram as sessões que estão contribuindo para a reabilitação de dona Luciana, 69 anos. "Ela não tinha contato com o mundo externo, ficava só com os olhos fechados. Mas, um dia, um cão chamado Frisley queria a sua atenção e começou a insistir com a patinha em sua perna, o focinho tentando alcançar a sua mão. Nesse momento, ela abriu os olhos, deu um sorriso, fez carinho e por fim chorou de emoção", lembra Jerson Dotti, fundador do projeto Cão do Idoso.

O projeto é administrado por uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), cujo trabalho consiste na realização de terapia assistida por animais (TAA) em casas de repouso e abrigos para idosos. A TAA serve de estímulo e complemento a vários tipos de tratamento. Dona Luciana está na capital de São Paulo, no Lar de Idosos Vivência Feliz, uma das entidades atendidas.

O Cão do Idoso existe desde 2000 e começou com a atividade assistida por animais, voltada para a socialização e a adaptação dos pacientes ao convívio com o cão. É um momento de integração entre os idosos, os animais e outras pessoas, que normalmente são os donos dos animais.

A terapia assistida por animais, que passou a ser feita dois anos depois, está relacionada à melhora da saúde, pois usa o melhor amigo do homem como agente estimulador para tratamentos de fisioterapia, psicologia ou fonoaudiologia. Dona Luciana apresenta um quadro de depressão severa que a deixa incomunicável e a levou a viver em uma cadeira de rodas. Ela também faz fisioterapia convencional, mas os resultados não são tão bons como quando o cão participa.

"A grande responsável por toda melhora que ela tem é a fisioterapia assistida por cães. Quando se coloca o cachorro na sua frente, muda tudo, ela passa a se comunicar inclusive com as pessoas, passa a responder às perguntas, fazer os exercícios", conta Claudinea, ressaltando que, sem a presença de Frisley, a paciente não responde às perguntas das pessoas e não se movimenta sozinha. (28)

1.4.33 - Trabalho inédito no Brasil

A maior parte do material de pesquisa utilizado por Vinicius Ribeiro na sua monografia foi baseada em experiências dos Estados Unidos, Canadá e Europa, onde este tipo de trabalho já é realizado há quatro décadas. No Brasil, a maioria dos estudos envolvendo animais é voltada para a equoterapia, que utiliza o cavalo em tratamentos voltados para a educação, reeducação e reabilitação de pessoas com comprometimentos físicos ou mentais.

Em outros países, a pet therapy (TAA, no Brasil) com cães e outros animais domésticos já é reconhecida em universidades por contribuir para a recuperação de pacientes. Desde o ano passado, a Unisa aborda o tema em sala de aula e o trabalho no Lar de Idosos Vivência Feliz passou a ser reconhecido pela universidade como estágio.

O trabalho dos alunos é supervisionado por Claudinea e Vinícius e consiste em controlar a postura dos pacientes e elaborar a seqüência de atividades, como jogar um objeto para o cão buscar, escovar os pêlos do animal, fazer massagem no animal com os pés e outras. Ao todo, 20 idosos participam da fisioterapia assistida por cães.

A professora Claudinea juntou conhecimentos da fisioterapia e da cinesioterapia (tratamento por meio de exercícios) e elaborou maneiras de aplicá-los envolvendo o cão. "O idoso tem certa resistência a tratamentos, principalmente quando é preciso fazer exercícios. Eles têm uma tendência a preferir ficarem quietinhos. Só que isso é ruim. Então, tentamos transformar a fisioterapia em algo prazeroso", ressalta Claudinea.

O dono do cão acompanha as sessões e comanda o animal por meio de gestos. Mas o idoso acredita que ele é quem está no comando e sente como se estivesse adestrando o cachorro. A professora observa que "Eles se sentem responsáveis pelo bem-estar do animal: enquanto um está fazendo o exercício, o outro dá dicas de como agir para o animal gostar do que está fazendo. Para os pacientes, o exercício faz parte do treinamento do cachorro."

O tratamento tem contribuído inclusive para maior interação entre os pacientes. Antes, alguns não se falavam mesmo morando no mesmo quarto. Agora, eles passaram a conversar a própria fisioterapia se transformou em assunto e os donos dos animais também passam a integrar a rede de relacionamento destas pessoas.

Em sua experiência voluntária, o assessor de comércio exterior Jerson Dotti já observou que o envolvimento dos animais faz muita diferença: "Os exercícios usuais da fisioterapia são muitas vezes monótonos para os idosos e envolvem apenas contatos com objetos. Com o cão é diferente, pois ele cria o ambiente ideal para motivação dos idosos. É um ser vivo oferecendo carinho, atenção e muito amor." (28)

1.4.34 - Retorno fundamental

O dono do animal, responsável pelos comandos e pela ajuda para estimular o cão e o idoso, é um elemento fundamental na equipe, mas também se sente recompensado.

"O trabalho voluntário traz uma satisfação e um prazer incomparáveis. Por meio dele, compreendemos melhor a necessidade do outro. Nós nos sentimos úteis e há um aumento de consciência de que o ambiente social e as pessoas que nos cercam precisam de nossa colaboração", afirma Dotti, que começou seu trabalho voluntário [apresentou seu voluntariado] pensando em atender às necessidades das pessoas idosas.

A fisioterapeuta Claudinea também vê vantagens pessoais no trabalho com os animais: "Tentando fazer algo em prol dos idosos, acabei me beneficiando também, com a adaptação com os cães. Hoje, não tenho problema nenhum com relação a eles", ela comemora.

Os cães envolvidos na atividade podem ser de qualquer raça – ou até sem raça definida –, desde que não constem da Lei da Focinheira (que determina que algumas raças  devem usar focinheira quando não estão em sua casa ou canil). Em geral, o animal deve ser gentil, obediente e apresentar aptidões para este tipo de trabalho.

A equipe do Cão do Idoso tem profissionais que oferecem apoio para identificar se os cães são adaptáveis à função e até para treiná-los. A cadela de Jerson Dotti, que participa da atividade assistida por animais juntamente com outros 34 animais, é uma Poodle.

"Muitas empresas, mesmo as do setor de animais, ainda não acordaram quanto à importância de ter sua imagem ligada à responsabilidade social, mas essa é uma questão de tempo. Quando isso acontecer, a TAA andará a passos largos no Brasil e será mais uma atividade reconhecida que alcançará as pessoas que precisam", espera Dotti. (28)

1.4.35 - DOUTORES DO RISO

Após iniciar as visitas como palhaça no Hospital Infantil Cândido Fontoura em 1997, a atriz Daniela Dezan fundou o grupo Risomundi reunindo profissionais que estudam a linguagem do palhaço mesclando teatro, criação e pesquisa contínua na atividade de propiciar alegria em hospitais.

O projeto Doutores do Riso deu o primeiro passo para criar um trabalho que combinaria elementos da linguagem clown, priorizando o ator e seus diversos componentes corporais e culturais, com a vontade de motivar e amenizar a angústia de crianças que passam por um momento de doença e tristeza

A principal meta do Risomundi é diversificar a atuação dos atores tendo como foco a linguagem do palhaço para desenvolver trabalhos também em empresas, congressos, cursos e teatro.

Alguns profissionais que passaram pelo Risomundi acrescentando conhecimento de clown a equipe foram: Cristiane Paoli Quito, Bete Dorgam, Marcio Ballas, Edu Coutinho (mímica) e Paco Abreu ( comédia Dellarte). Cada uma dessas pessoas tem seu próprio jeito de desenvolver e oferecer a linguagem clown, possibilitando ao ator diferentes caminhos de busca e trabalho.

O grupo foi buscar inspiração em grupos que desenvolvem pesquisas no universo do palhaço e especificamente no trabalho efetuado em hospitais e situações de desamparo. Grupos como CLOWNS Sans Frontières, Doutores da Alegria, Doutores da Graça e Ridere per Vivere realizam trabalhos sérios e com grandes resultados e descobertas relacionadas a melhoras substanciais na condição da criança hospitalizada.

O grupo tem como objetivo buscar a melhor forma possível de caminhar em terrenos inusitados como hospitais, casas de apoio à crianças com câncer e HIV e projetos em conjunto com organizações de apoio humanitário e de cidadania. Sua meta é sempre pesquisar e desenvolver atividades relacionadas ao riso aplicando características de palhaço e nos concentrando em fazer, realizar, porque para nós, a melhor distração é nosso trabalho, e, a cada dia, aprendemos com os melhores professores: as crianças.

Na arte do riso, a criação e a técnica andam juntas e sabemos que só é possível realizar esse trabalho com muito esforço e comprometimento. A partir de Dezembro de 1998,o grupoaumentou a sua equipe e hoje fazem semanalmente treinamento técnico e de aperfeiçoamento para os atores. Contam também com a presença em sua sede de uma profissional de psicologia especializada em oncologia infantil, Margarete Alves, que nos auxilia em todas as questões relacionadas ao assunto.

Desde o ano de 1.998 o grupo visita a CASA HOPE que abriga e oferece apoio à criança com câncer e seus familiares. Os hospitais que recebem semanalmente suas visitas são: Hospital das Clínicas (Pediatria da Neurologia), desde o ano 2000, Beneficência Portuguesa de SP que iniciamos em 2001 e a partir de abril de 2004, o Hospital Darcy Vargas. Também já atuam no Hospital Sanatorinhos de Carapicuíba, Hospital Municipal Infantil de Diadema e na Casa Amigos da Vida.

A variedade de ambientes e quadros de saúde com que convivem os impulsiona a crescer e lutar para expandir esse trabalho com seriedade e profissionalismo. No convívio com profissionais da saúde, percebem que há uma preocupação constante com a falta de atividade lúdica e humanização hospitalar. Em estudos na Universidade de Stanford, na Califórnia, EUA, o psiquiatra Willian Fry desenvolve pesquisas que perceberam que pacientes necessitam de uma quantidade menor de medicamentos contra a dor após terem se tornado pessoas bem humoradas. Em 2000 foi apresentado por pesquisadores no Congresso da Associação Americana do Coração, um trabalho que comprova que o riso libera óxido nítrico, conhecido por dilatar vasos sanguíneos, ou seja, um bom aliado para o coração.

"Para grupos como o Doutores do Riso, o bom humor é essencial no auxílio à pessoas que estão em recuperação nos leitos hospitalares.

De acordo com profissionais de saúde, a visita dos atores-palhaços ajuda a recuperar os traumas normais acarretados em todas as internações muito longas. Silvia Helena Cardoso .Psicobióloga do núcleo de biomedicina da Unicamp, o grupo descobriu ao decorrer desses sete anos que a melhor forma de interagir com as crianças da Casa Hope era criando uma forma de convivência que inclui arte, bom humor e recursos de palhaços. Desde então são necessárias horas de encontro e trocas de idéias e informações específicas sobre a melhor maneira de abordarem, semanalmente, a mesma criança que sofre todas as dificuldades implicadas em um tratamento de câncer. A expressão da arte pode ser canalizada para o bom humor e a compreensão de sentimentos negativos relacionados com a doença. Hoje, há vários projetos que levam artesanato e arte aos hospitais."Quando vimos a mesma criança toda semana por vários meses, como no caso da Casa Hope, somos estimulados por elas a buscar metodologias que vão além dos recursos de palhaços. Tentamos aplicar atividades de aspecto educacional em diferentes linguagens como: teatro, jogos, artesanato, música, etc..." Daniela Dezan – Coordenadora.

O grupo se esforça para propiciar o máximo de aventura e fantasia, sempre com objetivo de levar algo mais. O teatro oferece subsídios para o entrosamento e desenvolvimento da auto-estima, desinibição e também estimula o interesse das crianças por tudo que envolve a formação da personagem palhaço. Uma cumplicidade misteriosa e bela que se desenvolve baseada em amizade e troca mútua de respeito e afeto. O exercício da intuição e verdade absoluta para o palhaço é a melhor maneira de despertar o interesse de uma criança (29)

1.4.36- Relato dos "Doutores "na Casa Amigos da Vida

Quando entramos em contato com o Pe. Júlio Lancelotti, ele nos convidou a conhecer a Casa Amigos da Vida, que também abriga crianças com HIV que foi fundada e administrada com muito esforço e amor pela irmã Raquel. Não há nada que possa descrever a imagem daquelas crianças nos recebendo com curiosidade e fazendo perguntas que só criança faz ex: Se somos palhaço mesmo; onde fica o circo que moramos; se nunca tiramos a maquiagem e a mais tocante das perguntas, se podem vir conosco. O palhaço tem o dom natural de passar alegria e graça, uma criança se entrega nesse contato e acredita que possa existir uma vida onde não existe doença, solidão e abandono. No dia a dia brincamos, inventamos jogos, exercícios de memória, mímica e canto. Quando fazemos "concurso" de calouros é uma alegria só, temos prêmios e o júri sempre chega à conclusão de que o empate foi geral. São todos ótimos cantores. (29)

1.4.37 - Benefícios do Riso

Alivia a tensão: mesmo em momentos de nervosismo o riso pode reduzir o estresse e a ansiedade

Atenua a dor: Rir libera a endorfina, hormônio produzido no cérebro que produz sensação de bem-estar e alivia a dor.

Diminui a pressão arterial: no sistema cardiovascular, rir aumenta a freqüência cardíaca e a pressão arterial. Isso promove a vasodilatação das artérias ocasionando uma queda de pressão benéfica para os hipertensos.

Dá mais oxigênio: rir aumenta a quantidade de oxigênio captada pelos pulmões facilita a saída de gás carbônico

Fortalece o sistema imune: não está comprovado o fato de quem ri fica menos doente, mas os pesquisadores já sabem que o riso aumenta a liberação de células do sistema imune, fortalecendo nossas defesas.

Ajuda na memorização: rir durante a apresentação de uma aula ou palestra aumenta o interesse e facilita a aprendizagem. (30)

1.4.38 - A Fisiologia do Riso

Segundo a Química e Cientista Conceição Trucom quando soltamos uma boa gargalhada, nem imaginamos o quanto estamos ajudando o nosso organismo. Conheça o poder que o riso, a gargalhada e o bom humor têm no corpo humano(31)

1.4.39 - Coração

O ritmo cardíaco acelera. Em alguns casos, os batimentos podem atingir 120 pulsações por minuto - em repouso, o coração tende a bater, em média, 70 vezes por minuto. Quando a pulsação aumenta, existe mais sangue circulando pelo organismo, o que provoca um aumento significativo na oxigenação de todas as células, tecidos e órgãos. (31)

1.4.40 – Pulmões

Durante uma gargalhada, a absorção de oxigênio pelos pulmões aumenta. A inalação de ar é mais profunda e a expiração mais forte. Com esta maior ventilação pulmonar, o excesso de dióxido de carbono e vapores residuais é eliminado, promovendo uma «limpeza». A prática contínua irá produzir um aumento da capacidade e tonicidade pulmonar.(31)

1.4.41 - Músculos abdominais

Os músculos mais trabalhados durante uma gargalhada são os abdominais. Os movimentos funcionam como uma espécie de massagem para o sistema gastrintestinal, melhorando a digestão e todo o trabalho de excreção. Revigora também todo o trabalho hepático. É comum dizer: ri tanto que desopilei o fígado.(31)

1.4.42 - Vasos sanguíneos

Com o maior bombeamento de sangue promovido pelo coração, os vasos sanguíneos dilatam-se, originando uma redução automática da pressão arterial. Acontece em paralelo um relaxamento muscular global. (31)

1.4.43 - Sistema imunológico

Durante a gargalhada, os níveis dos hormônios do estresse baixam. Com menos cortisol e adrenalina a circularem no organismo, o sistema imunológico fortalece-se. Produzidas nos gânglios linfáticos e na medula óssea, as células de defesa do organismo não só aumentam em quantidade como também se tornam mais ativas.

Destaque para os linfócitos B, responsáveis pela produção de anticorpos, e para os linfócitos T, que são verdadeiros rastreadores de vírus e/ou bactérias. Além destes, são também importantes a imunoglobina A, um anticorpo essencial no combate às infecções do foro respiratório, e as células NK (natural killers), que permitem destruir as células cancerígenas.(31)

2- OBJETIVOS

Esclarecer sobre a importância de se prestar um atendimento humanizado à clientela que procura os serviços de saúde públicos da região, visando a satisfação tanto do paciente e acompanhante, como dos profissionais que estão inseridos nesteatendimento.

3 - MATERIAL E MÉTODO

No presente estudo foi adotado como recurso metodológico a pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo-descritivo, através de um levantamento bibliográfico dos últimos dez anos, período que surgiram as políticas governamentais de humanização hospitalar, sendo que para a consulta foi utilizado como banco de dados a busca ativa de publicações na biblioteca eletrônica SCIELO (Scientific Eletronic Library On- line), utilizando os seguintes unitermos: Criança hospitalizada, Exames diagnósticos, Procedimentos intrusivos, Relações enfermeiro-paciente, Enfermagem pediátrica, Procedimentos clínicos, Atividade lúdica. Humanização na assistência de saúde, Brinquedo terapêutico, Pediatria em rede, Música como Recurso Complementar, Terapia com Animais, Doutores do Riso.

Foi selecionado um total de 57 artigos, nacionais; tendo como critério de inclusão 32artigos que melhor abordaram o tema de estudo, sendo então excluídos 25 artigos, por não abordarem o tema em questão.

4 - CONCLUSÃO

A internação significa uma situação de ruptura na vida das pessoas, devido fatores biológicos, aspectos sócios culturais. Neste momento o indivíduo entra num estado de "flagelação pessoal", onde são obrigados a se submeter a consultas, exames e muitas vezes internações, ocasionado mudanças impactadas em seu cotidiano, uma vez que ninguém procura uma instituição de saúde para ser seu local de lazer.Neste momento é imprescindívelque o cidadão encontre atendimento adequado e digno.

Infelizmente, nesta ocasião delicada de sua vida, o cidadão na maioria das vezes, ao procurar um serviço de saúde público se depara com profissionais administrativos e da saúde mau preparados ocasionando verdadeiros transtornos no atendimento. Sem se darem conta, de forma indireta contribui para uma "piora significativa" na condição metabólica geral do paciente, que diante de um mau atendimento, deixa seu "organismo exposto", à condição de ansiedade exarcebada, além da patologia que o acomete, elevando com isto seu stress, com uma elevação do hormônio Cortisol, sensibilizando seu estado imunológico, acarretando um maior tempo de internação, tendo com isto seu tratamento prolongado.

Atento a sanar ou ao menos minimizar esta problemática o Ministério da Saúde, criou o Programa de Humanização da Assistência Hospitalar, tendo como subsídio a implantação da Comissão de Humanização, responsável pela diretriz e ética desse programa.

Vindo de encontro aos fatores relacionados acima, sugiro a implantação da Técnica do Brinquedo Terapêutico, Pediatria em Rede, Música como Recurso Complementar, Terapia com Animais, Doutores do Riso devidamente supervisionado por uma Comissão de Humanização a fim de proporcionar ambiente agradável, favorável e digno no atendimento público aos munícipes da cidade de Santos, acarretando satisfação da clientela e seus acompanhantes, e conseqüentemente um bom entrosamento com a equipe administrativa e de saúde, dos serviços públicos desta cidade. Afinal Humanização vem de encontro à prestação de um atendimento digno na esfera biopsicossocial, obtendo como resultado satisfação, conforto e respeito de seus populares.

A proposta de humanização da assistência à saúde é um valor para a conquista de uma melhor qualidade de atendimento à saúde do usuário e de melhores condições de trabalho para os profissionais inseridos nela.

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como munícipe desta cidade, senti na própria pele o descasocom o qual alguns funcionários administrativos e da saúde tratam o usuário e o paciente quando procuramos assistência em PS,Hospitais e Policlínicas da região passando uma imagem errôneade má administração pública, denegrindo de certa forma a imagem daqueles que verdadeiramente trabalham empenhados e conscientes do que fazem por verdadeiramente gostarem de sua profissão ou cargos que exercem. Baseada nestas notórias evidências, resolvi por um impulso humanitário e profissional ,uma vez que faço parte da Categoria da Saúde, pesquisar e propor algo que venha como um "renovo de conceitos" noque diz respeito a um atendimento de saúdecortez, eficiente e digno à população deste município, que por conta de poucos maus colaboradores, se sentem "agredidos", quando deveriam sentir-se "cuidados."

Tenho a convicção que por mais que se invista em recursos tecnológicos, reformas ou ampliações de ambientes, ou até mesmo construção de novas instalações de assistência á saúde (não que estas iniciativas não sejam importantes, muito pelo contrário são imprescindíveis), no entanto, se somente forem dados os recursos da parte técnica e estrutural, sem antes serem dados verdadeiro subsídio a questão Empatia Humana, todo esforço feito pelos seus governadores serão em vão, pois o usuáriocom certeza diante de um atendimento humano defasado , não notaráa estrutura técnico arquitetônica preparara especialmente para atente-lo, e sim notará, o descaso, a falta de ética, falta de postura, de comprometimento, e o ambiente hostilque foi recebido pelo colaborador daquela instituição. Em contrapartida, deixando um pouco de lado a questão Empatia Humana, vejo também as questões embasadas de respaldo científico, no qual se evidência a percepção de melhora no estado geral do paciente quando a ele é proporcionado atendimento em um meio amigável, minimizando ou afastando quando possíveis fatores de estresse, contribuindo de forma direta numa boa recuperação de seu estado de saúde geral, tendo como retorno reconhecimento e aceitabilidade dos acompanhantes, e incentivo a um engajamento sincronizado da equipe que lhe presta atendimento. Espero que o resultado de tudo que foi citado seja que no final, saia lucrando o paciente que encontra atendimento digno, os acompanhantes que ficam satisfeitos, as equipes que se entrosammelhor com ambos e trabalham mais satisfeita, o os seus governantes, que finalmente terão seus esforços, iniciativas e administração reconhecidas, para tanto basta que sejamos HUMANOS uns com os outros.

6REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1)- Fundamentos da humanização hospitalar.

(2) Ribeiro CA, Ângelo M. O significado da hospitalização para a criança pré-escolar: um modelo teórico. Rev Esc Enferm USP. 2005;39(4):391-400.

(3) Collet N. Criança hospitalizada: participação das mães no cuidado. [tese] Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP; 2001.  

(4) Angelo M. Hospitalização: uma experiência ameaçadora. In: Stern MHF. Quando a criança não tem vez: violência e desamor. São Paulo: Pioneira; 1986. p. 101-8.  

(5) Alvarez REC. O significado do cuidado para a criança hospitalizada. [dissertação] São Paulo (SP): Escola de Enfermagem da USP; 2002.      

(6) Martins MR, Ribeiro CA, Borba RIH, Silva CV. Protocolo de preparo da criança pré-escolar para punção venosa, com utilização do brinquedo terapêutico. Rev. Latino-Am Enferm 2001;9(2):76-85.

(7) Cintra SMP, Silva CV, Ribeiro CA. O ensino do brinquedo/brinquedo terapêutico nos cursos de graduação em enfermagem no Estado de São Paulo. Rev Bras Enferm 2006;59(4):497-501.

(8) A utilização do BT, como um instrumento de intervenção de enfermagem, no preparo de crianças submetidas a coleta de sangue. Ribeiro PJ, Sabates AL,Ribeiro CA.Utilização do BT, Rev Esc Enferm USP 2001;35(4):420-8.

(9)-Debora Serra de Campos Dimitruk ;Circéa Amalia Ribeiro;Regina Issuzu Hirooka de Borba.- UNIFESP – Departamento de Enfermagem.

(10)-Patrícia Cristina Boscatto- Estratégia Saúde da Família do município de Francisco Morato – SP.

(11) Poleti LC, Nascimento LC, Pedro ICS, Gomes TPS, Luiz FMR. Recreação para crianças em sala de espera de um ambulatório infantil. Rev Bras Enferm 2006;59(2):233-235.

(12)- Protocolo de preparo da criança pré-escolar para punção venosa, com utilização do brinquedo terapêutico. rev.Latino- Am. enfermagemv.9n.2 Ribeirão Preto-mar/abr:2001.

(13)-Daniela Ribeiro Linhares; Nanci Cristiano Santos. USP. São Paulo.

(14)-Daniela Ribeiro Linhares; Nanci Cristiano Santos; Karin Emilia Rogenski USP. São Paulo

(15)-Paula Rosenberg de Andrade; Circéa Amália Ribeiro; Regina Issuzu Hirooka de Borba. UNIFESP – Departamento de Enfermagem.

(16) Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CES n. 3, de 7 de novembro de 2001. Institui diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em enfermagem. Diário Oficial da República Federativa do Brasil 2001; 11(9).

(17). Fernandes JD, Ferreira SL, La Torre MPS, Santa Rosa DO, Costa HOG. Estratégias para a implantação de uma nova proposta pedagógica na escola de enfermagem da Universidade Federal da Bahia. Rev Bras Enferm 2003; 56(4): 392-5.  

(18)Wong DL. Whaley & Wong. Enfermagem pediátrica: elementos essenciais à intervenção efetiva. 5a ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 1999.    

(19)-Moraes E. Entrevista concedida a Silvia Maira Pereira Cintra por Esther de Moraes, professora (aposentada) da disciplina Enfermagem Pediátrica da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo; 11 Fev 2005.

(20)-Maria Fátima dos Santos Cardoso.Enfermeira epidemiologista do SCIH do Hospital Israelita Albert Einstein. Mestre em Ciências da Saúde pela UNIFESP.

(21)-Priscila dos Santos Netto Alves; Daniela Ribeiro Linhares; Nanci Cristiano dos Santos. USP. São Paulo.

(22) A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO E O LÚDICO APOIANDO O TRATAMENTO DE CRIANÇAS HOSPITALIZADAS- Mirian Toshiko Sewo ,Rosa Lúcia Rocha Ribeiro e Maria Aparecida Vieira- www.pediatriaemrede.org

(23) - Eliseth Ribeiro Leão é doutora em Enfermagem pela USP, pós-doutoranda da Universidade Marc Bloch (França) e coordenadora do Projeto www.editorial.com.br/medicinaesaude ed. 5 - musica nos hospitais-Eliseth Ribeiro Leão

(24) - Enfermeira Eliseth Ribeiro Leão é conselheira fiscal da SBED, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa de Enfermagem em Dor e assessora de Pesquisa do Hospital Samaritano, em São Paulo, e organizadora do livro Dor 5º sinal vital: reflexões e intervenções de enfermagem.

(25) MUSICOTERAPIA NA HUMANIZAÇÃO –UMA PROPOSTA DE TRABALHO EM HOSPITAL ONCOLÓGICO- ANPPOM – Décimo Quinto Congresso/2005 - Marly Chagas Oliveira Pinto, Marly chagas.,Lara Gazaneo e Mônica Lamas

(26) Dra. Eliseth Ribeiro Leão - Enfermeira e Terapeuta Floral. Mestre e Doutoranda da EEUSP. Ex-colaboradora do Grupo de Dor do HCFMUSP e dos Programas de Educação em Dor do IOTHCFMUSP. Assessora de Pesquisa Científica do Hospital Samaritano www.samaritano.com.br

(27) - Maria D. Colares, médica do Dept. de Medicina Comunitária da Univ.de Brasília - http://www.previ.com.br/portal/page?_pageid=56,545757&_dad=portal&schema=PORTAL

(28) - OSCIP- Organização Brasileira de Interação Homem-animal Cão Coração http://www.portaldopoodle.com.br/artigos/001/projetocaoidoso.htm

(29) - www.doutoresdoriso.com.br- Integrantes do grupo -Marrie Claire, Maria Hermínia, Catharina ,Fritz e  Romão

(30) www.doutoresdoriso.com.br - Fonte: Univ. Estadual de Campinas ( UNICAMP)

(31) - Conceição Trucom, é química, cientista, palestrante e escritora sobre temas voltados para o bem-estar e qualidade de vida- http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=1969

(32) - O Programa de Humanização do HSPM- portal.prefeitura.sp.gov.br


Autor: ANDRÉIA ROSAS RODRIGUES


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