Olhos



Olhos do real

Por várias vezes nosperguntamos como conseguimos entender esse novo mundo da informática. Observamos essa avalanche de informações visuais que nos cercam quando navegamos a internet, ou vamos assistir as novas produçõescinematográficas ou mesmo na propaganda da TV. Todas recheadas de informações digitais. Um mundo Virtual totalmente possível e aceitável dentro do nosso conceito de realidade.

Segundo Paul Virilo (1999; p.118), virtualizando os objetos inventa-se necessariamente uma nova modalidade para defini-los e anima-los construindo assim um novo espaço perceptivoonde os sentidos e a locomoção sentem uma recomposição em sua opinião, ou seja, mudam-se alguns focos de reconhecimento e comparação de realidade. O virtual passa a aparecer como uma dimensão do real.

Simulacros

Mas segundo o que se entende hoje por imagem digital, seria a ela impossível ser uma substituta da realidade.Para Rogério Luz (1999)a imagem digitalé a imagem lógica e sua realidade é definida por sua própria idealidade. Portanto a imagem sendo lógica, racional, não poderia ser a fiel representação da realidade que é caótica.

A imagem digital hoje poderia ser denominada como uma simulação do real. E dentro desta leitura lógica, sim, ter caracteres de perfeição. O espaçoe o tempo (itens essenciais para a definição da realidade) sãovirtuais , pois os signos que a constituem são manipuláveis . Os objetosanalisados na computação gráfica, nãotem ligação com o real perdendo sua referência na existencialidade.

A grande realidade é que ao chegar a nossa visão, a imagem fotográfica ou analógica passou antes pelo olho de uma câmera para chegar aos nossos. Isso já faz dela um simulacro do real. No caso da imagem sintética, essa distância encontra-se mais além, pois a imagem sintética é a modelagem matemática de números, portanto sua representação não advém do que entendemos como real. Há ai uma quebra de paradigma, pois a imagem como entendemos hoje (reflexo de algo que existe na materialidade) passa a existir independente deste mundo material, podendo ser criado a partir do "nada".Uma imagem puramente criada em sua acepção, no entanto ideal para o competitivo mundo consumista por sua agilidade e sua independência.

Mediações e mundializações

Quando pensamos numa nova forma de ver o mundo, pensamos nos diversos processos de fusão cultural que a mundialização proporciona.Essa fusão torna-se presente em alguns casos como apropriação da cultura do outro, ou mesmo como imposição de uma cultura sobre outra, como forma de conquista.O campo visual hoje se constitui como a grande arma dos conquistadores, que lentamente inundam outros povos com suas ditas "multiplicidades imagéticas", mas que no entanto, não respeitam a cultura do outro.

Os meios são os grandes responsáveis por esta invasão.Mas não é de agora que as imagens são utilizadas por alguns meios para ganhar mundo.Armand Mattelart (2000, p. 52-58) , narra o início da exportação de imagens através dos trabalhos gráficos de Rudolphe Töpffer chamados "histórias em estampas"que tinham ediçõesoriginais em francês e diversas edições no exterior. Logo apósforam os comics americanos que ganharam este espaço através dos syndicate normalmente controlados pelas agências de informação. A primeira revista em quadrinhos a atingir o mercado internacional foifamily strip de George Macmanus.

Nesta marcha em 1895 os irmãos Lumiere projetam o primeiro filme. A indústria da imagem dá um enorme salto e o cinematógrafo atinge países como Brasil e ìndia, ao mesmo tempo que chegam aos Estados Unidos e o resto da Europa. Mas é a França a grande detentora da produção desde a fabricação da película a compra das salas de exibição.Resta a países como Inglaterra e Alemanha a distribuição ou exploração comercial. Logo atrás da França em termos de produção cinematográfica estava a Dinamarca e a Itália.Por volta de 1913 , no final da guerra da patentes (1909-1914) Hollywood começa a surgir para logo tornar-se a capital do cinema americano. Já em início de estabilização o cinema americano inicia sua difusão cinematográfica através da Primeira Guerra Mundial.

Assim o mundo começa a ligar-se através da exportação de imagens. As pessoas passam a conhecer lugares e costumes levados pelas grandes telas, pelas fotografias ou pelos universos (as vezes nem tão fantasiosos) dos comics.

 

Civilização da Imagem

Aexportação de imagens nos afogam por todos os lados. Milhões de informações visuais que passam tão rápido que talvez seja impossível assimila-las.O tempo produz simulacros que modificam-se em razão das necessidades. Hoje não se distingue mais o falso do verdadeiro, por não se conceber mais o que venha a ser verdade ou o que é real.

As imagens fecham-se em si guardando suas verdades em forma de grandes incógnitas. Como definir o real, se a base da imagem sintética por exemplo, não é algo que existe. Cria-se a partir do nada, não há um similar natural daquilo que se cria, um traço do real.

Para uma civilização que desde de sua criação utiliza-se das imagens para se expressar e mesmo com o advento da escrita, não perde essa capacidade,hoje as voltas comuma mistura cultural que sem dúvida homogeniza,mas acaba por empobrecer , vê-se numa terrível encruzilhada: Valorizar a mistura e proporcionar a criação da aldeia global, ou defender a importância da diferença e apreciar a incógnita do olhar?

Vive-se a era do paradoxo. Porque nunca se produziu tanto e de tantas formas as expressões visuais, no entanto nunca elas estiveram tão longe de ter algum significado para a maioria. A imagem moderna, é uma imagem particular, tribalista. Que fala sim a uma multidão, mas diz algo a poucos.

Nesse ínterim os meios, como a síntese da imagem, nos levam a refletir sobre essa velocidade e essa exportação de idéias imagéticas, mas que não se ligam a uma realidade, como conceitualmente a entendemos, e que não perde seus símbolos e signos, apenas os adapta e modifica segundo cada desejo.

 

Industria cultural e a imagem

Quando Andy Warrol apresenta a sopa Campbell ou a Marlin Moore, provoca uma reviravolta no mundo da arte e das comunicações. O templo sagrado havia sido profanado. O cotidiano retratado da forma como convivemos com a imagem e a mecanização do homem e portanto da arte.A comunicação superficial e repetitiva, que não se atém a notícia, mas ao espetáculo imagético.

Os jornais, as revistas, os programas televisivos, tudo passa a fazer parte deste contexto de Warrol, que apresenta a futilidade da imagem moderna, mas ainda mais do próprio homem, que já não lê o jornal, e sim navega na notícia. Uma visualidade sintética, não só no seu sentido binário de construção, mas em sua crítica e em sua profundidade.

Os olhos industrializados pela Indústria cultural, são os olhos da modernidade caótica e contraditória. Na realidade uma pós-modernidade, já que perverte a idéia moderna de forma e composição, e vai além. Comunica, não pela análise de seu corpo, mas pela inquietação que gera, ao discutir a estética e sua aplicação.

Abrindo janelas temos a ilusão do mais profundo conhecimento, mas nossos olhos apenas observam as diversas informações. Seriam capazes de criticar? Talvez em alguns casos, mas o sistema prevê a crítica e faz dela um eixo de sustentação, quetaxa de alienado aquele que não o subverte (dentro da ordem é claro!).

Referência Bibliográfica

HARRISON, Charles . Modernismo. São Paulo: Cosac&Naify Edições (2000)

PÁRENTE, André (org.) Imagem-Máquina: A era das tecnologias do virtual. Rio de Janeiro: Ed. 34 (1999)

MATTELART, Armand . A Globalização da Comunicação. Trad. Laureano Pelegrin. Bauru. SP: EDUSC (2000)


Autor: Minéia Gomes


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