E ONTEM EU QUIS UM POEMA QUE NÃO PUDE CONCEBER



(ODE TOSCA A IBERÊ CAMARGO)

 

 

Ontem a paisagem

Do aroma da noite

Fecundou em mim

Um tênue fluxo dum poema.

 

 

Este fluxo carregava nas casamatas do ventre

A estrada para uma humilde hossana

A Iberê Camargo:

O mestre máximo do pincel

Que reinterpreta visceralmente

A visual realidade

Que, á primeira análise,

Se mostra vivente, a inconteste claridade incólume do sempre!

 

 

Ah, ontem á noite,

O meu ser de remendo

Quis enaltecê-lo,

Reverenciar-lhe o apurado e peculiar olhar

De transcendente acuidade,

Lançado sobre o aparente cenário em equilíbrio:

Para o geral ver,

Cegado pela síndrome de Narciso,

Completamente equacionado

Pela Matemática do humano tempo conciso.

 

 

  

Ah, como idolatro este olhar

Congênere da Ametista

Pois dirime a embriaguez:

Embriaguez que a insidiosa superfície

Do mundo externo impõe á vista

De um modo que bloqueia

Tão sutil e plenamente

O livre perceber que brota das mentes hominídeas,

Porque estas ancoram,

Embora inconscientemente,

Seu alado veleiro

No indestrutível porto da sageza

Do ecumênico solar desejo!

 

 

 

Então ele fita claramente

O incessante novelo de conflitos

Progredindo-se por debaixo da derme

Do onipresente embuste eloqüente, corrosivo!

E depois que se alimenta deste drama,

Um universo em contínuo colapso,

Vivenda em chamas,

Devolve-o íntegro, desprovido de sofismas:

Rebento do incorruptível imaginário antropofágico!

Sim, a AMETISTA EXPRESSIONISTA

Faz com que o rosto da verdadeira humana estética

Seja revelado:  

Sem o adorno da airosa flor do eufemismo

E sem a indulgência que emana

Da mão estendida pela cênica sensatez residida

No alegre tremular da bandeira da trégua

Entusiasticamente anunciada, bramida!

 

 

 

  

Ah, entretanto,

O poder de captação de Iberê

É muito mais ancho:

É capaz de nos expor

Toda a densidade da latitude

Contida na pungência da tristeza,

Escondida na álacre corpulência

Do rosto de uma pessoa-oceano.

 

 

Não, eu não pude compor o tão sonhado poema:

Melancolicamente,

Naufraguei-me no mar da cara empresa.

 

 

 

Ah, tenho raiva, tenho pena

de  não ter podido seguir a sua feérica estrela:

Não erigi versos brancos

Nem versos que sorvessem

Da fonte onde deitam

A rima pobre e a opulenta.

  

 

 

 

 JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 http://sites.google.com/site/vagasdapoesia/

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Autor: JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA


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