O ódio



Ai, que ódio! Força de expressão que vai de um simples desabafo a um sentimento real, profundo e duradouro, um desejo de vingança futura.
Ao bradar "ai, que ódio!" - grito de guerra tipicamente, mas não exclusivo da alma feminina - há  certo prazer, um relaxamento posterior que, em se alcançando a calma, o equilíbrio, leva o indivíduo a rir de si mesmo. Não há intencionalidade, não há gosto amargo, apenas uma reação infantil e fugaz, como se estivesse fora do indivíduo.
Todavia, existe  outra entonação. Um sussurro grotesco, assustador denotando não mais um desabafo, mas uma interjeição. É um "estou com ódio!" ou um "eu odeio!", que exterioriza um amontoado de sentimentos e sensações confusas e reativas, abrangendo fatos de muitas ocasiões. Não há relaxamento posterior.
O indivíduo é tomado por extrema tensão que não se esvai com o passar do tempo, apenas se desloca de um motivo a outro, de uma criatura a outra.
Não há riso. O fel consome energia, empobrece as relações. O indivíduo se prende, voluntariamente, a seu desafeto, perde a coerência. É um masoquista se auto-flagelando, todos os dias, pela lembrança do passado. Odeia, não quer ver, porém não deixa de pensar no outro, carrega-o nos ombros e na idéia, dorme e faz as refeições com ele e lhe atribui força e poderes, pois tudo de ruim que acontece é por obra e graça desse odioso inimigo.
O odiento não se compraz - como afirma - com a desgraça do outro. Ri-se de imediato, é verdade, mas logo se martiriza por acreditar que o castigo ainda não foi o merecido. Não há satisfação, nem medida ou fim. O ódio é como uma cola resistente, não há como fazer uso sem se impregnar.
Dependendo do poder de adesão o indivíduo não consegue limpar-se sem causar lesões e as vezes é necessário usar emolientes de forma contínua e perseverante.
No caso do ódio os emolientes são o Amor e o Perdão.
Amar, aceitando o outro como ele é e, perdoar suas faltas, pela compreensão de que ninguém é perfeito.
O homem não pode despir-se de seus sentimentos, mas pode questionar-se quanto a eles: onde me encontro hoje, livre das correntes do ódio ou, recalcitrante, insisto em estar amarrado (a) a alguém que me fez sofrer?


Autor: Isabel Ruiz


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