PRECONCEITO RACIAL, RACISMO E DISCRIMINAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A FORMAÇÃO DOCENTE EM DISCUSSÃO



RESUMO

Acreditando ser a educação a base de um mundo melhor, entendemos que esta deve ser totalmente livre de preconceitos, racismo, discriminações de toda espécie; etnia, religião, cultural, social, etc. Como construir uma sociedade justa se não alcançarmos este objetivo? Esta é a pergunta crucial que nos norteia como educadores. Ao falarmos em inclusão o ápice das discussões pedagógicas dos dias atuais, esquecemos que esta tão discutida inclusão se refere a todos os indivíduos que por um motivo ou outro estão fora dos 'padrões"esperados pela estruturação social; porque não incluir os negros nesta perspectiva, Foi repensando nas práticas e conceitos estabelecidos dentro da escola que escolhemos como tema o racismo, preconceito , discriminações e suas repercussões na instituição de ensino. O que pretendemos com este trabalho não é ressaltar o racismo de forma negativa sem nada oferecer em troca para equilibrar a situação, mas sim, reavaliar tudo o que sabemos sobre a história afro brasileira e suas implicações no ensino infantil, para com isto oferecer subsídios que possam dar oportunidade aos colegas educadores e também, a comunidade de forma geral de repensar seus conceitos e atitudes, encontrando formas de oferecer uma educação igualitária baseada no respeito mútuo e entendendo a beleza infinita que há nas diferenças culturais do nosso país.

1 PRECONCEITO RACIAL: UMA VISÃO SOCIAL

Alguns preceitos de igualdade são por nós mesmos determinados muitas vezes, sem nos darmos conta disto. Ao escolhermos nossos amigos e colegas mais próximos, por exemplo, procuramos consciente ou inconscientemente, característica comum em nós. Dificilmente procuramos para um primeiro contato, alguém que aparentemente é totalmente de nós seja em qual aspecto for.

Segundo Chinalia e Rosa (2007) existem critérios de igualdade que geram estereotipo e ficam impregnados em nossas consciências. Esses critérios e padrões transmitidos através dos tempos marcam a origem das dificuldades encontradas nos diversos grupos étnicos e culturais em se estabelecerem com seus costumes e origens.

Para Meneses (2005) os pontos conflitantes entre os grupos étnicos aparecem quando ao olhar para o "outro" não encontramos o que nos deveria ser familiar, o outro que não partilha de nossas crenças. Este contato geralmente turbulento é apresentado de modo distinto do padrão, portanto vem ameaçar a estabilidade social do "eu". A aparente ordem associada ao desejo de manter a estabilidade é ameaçada com a imposição da presença do "outro".

Enquanto na sociedade do "eu" esta inserida o que é perfeito, estável, civilizado, a sociedade do "outro" recebe a característica de não civilizado, o agente capaz de promover a desordem ou destruição. No intuito de evitar esta desordem, a sociedade do "eu" procura neutralizar o desconhecido através da sua exclusão, negando a ele o direito e viver sua identidade étnica prevalecendo o padrão do "eu", aparentando equilíbrio iludindo-se com a ausência da diferença.

Nesta perspectiva a presença do "outro" passa a ser vista como ameaçadora, inferior, podendo ser discriminada, repudiada e até odiada.

A existência paralela entre o "eu" e o "outro" nos remete a uma terceira existência; a do desconhecido com direções imprevisíveis capazes de desestabilizar as estruturas atuais. Mas de acordo com a autora essa sensação de desordem ocasionada pela incerteza, pode ser revertida a um sentido positivo para a construção de uma nova "ordem" social, dependendo da maneira satisfatória que for acolhida. Entendendo que os dois termos fazem parte do mesmo processo de construção histórica, torna-se necessário uma relação de diálogo entre eles para que se efetue esta nova ordem.

A ordem e a desordem são necessárias para que haja espaço para a criação do novo e para a Constancia da evolução e desenvolvimento.

Quando as idéias de igualdade se apresentam de maneira heterogenia na sociedade do eu, sem a possibilidade de relação dialógica não dando espaço para o outro, gera estereótipos que impedem o reconhecimento e prestigio de outras idéias ou culturas.Comportamento este denominado preconceito.

HELLER (1988, apud Meneses, 2002), aponta um forte componente emocional que ampara o preconceito fazendo com que o indivíduo se distancie da razão. Ele refere-se a uma fé irracional que se liga ao preconceito e com poucas possibilidades de ser modificada. Para Heller, há uma diferença lógica entre o preconceito e o juízo provisório; o juízo provisório é passível de mudança quando sua incoerência é demonstrada através de fatos objetivos, enquanto o preconceito permanece inalterado mesmo em situações semelhantes.

Estes pensamentos estereotipados ou crenças enraízam conceitos próprios tão marcantes disseminando o preconceito atendendo o interesse de um grupo dominante propagando uma imagem aviltante do negro através de seus aparelhos ideológicos.

Esta ideologia é tão encravada no pensamento cotidiano que a autora usa a expressão de "comodidade cognitiva" para definir tal situação, onde o indivíduo não mais pensa sobre a questão racial de maneira crítica, já existe um "pré" conceito formado pronto para ser apropriado ofuscando e distanciando cada vez mais a identidade negra. Ficando desta forma, a população negra condenada a um estigma social de inferioridade com seus costumes e crenças banalizados ao olhar do branco.

Em conseqüência deste percurso social marcado pelo preconceito esta a manifestação da ação de discriminação que pode ser desde a simbólica, que de maneira implícita manifesta a rejeição ao indivíduo que de alguma forma se apresenta fora dos "padrões", até a violência física, quando uma pessoa ou grupo não contém seu ódio ou repudio por determinada ação ou classe.

A condição da população negra estigmatizada a condição de inferior passa a ser consolidada no imaginário social na medida em que essa inferioridade social a ela atribuída, passa a ser vista com naturalidade pelos grupos dominantes.

A construção de uma teoria ressaltando a existência de diferenças inatas entre brancos e não brancos, no inicio do século XIX, marcou o início desses conceitos, influenciando de modo determinante a compreensão das ciências em relação à questão racial. Denomina-se racismo os critérios usados para segregar, humilhar e discriminar.

Este período também foi marcado pelo aparecimento de três escola, de acordo com Skidmore ( 1976, apud Meneses 2002):

Etnológica biológica: A inferioridade das raças era conseqüência das diferenças físicas e explicava outras diferenças culturais. Na tentativa de comprovação para tal elaboração, os cientistas mediam crânios e esqueletos buscando caracteres inatos e culturais que determinassem o caráter primitivo de alguma raça.

Corrente Anglo-Saxônica: Definia as raças como permanentemente diferentes, afirmava que as raças criadoras (anglo-saxônicas) haviam triunfado sobre as outras ao longo da história Acreditava que somente esta corrente teria alcançado o mais alto nível de desenvolvimento, podendo assim conquistar o mundo de modo crescente.

Darwinismo Social: As raças humanas predominavam por terem passado por um processo evolutivo que dava à elas o poder e status de superioridade, enquanto as inferiores estavam destinadas ao desaparecimento.

Essas vertentes contribuíram para a consolidação da estereotipa inferioridade dos negros dentro do imaginário social. A relação que se fazia em relação a distinção moral, é que esta estava contida na essência racial, pois as características depreciativas atribuídas ao negro estavam relacionadas a questões "fenotípicas", passando ao biológico o que antes era cultural, as características individuais e sociais não eram em nenhum momento valorizadas.

O negro não possuía prestigio social e isto era atribuído aos seus caracteres físicos "não aceitáveis" pela ideologia dominante, e esta, delineava de forma marcante à distância que deveria existir entre as classes atribuindo significados que desqualificavam a identidade da população negra.

A partir da analise do trabalho de Meneses (2002), podemos entender como uma idéia biológica errada, porem dominante foi capaz de reproduzir e consolidar uma ideologia que pregava a suposta superioridade branca e induzir o pensamento social a perceber a população negra com total inferioridade, numa relação racista sem força de mobilização, pois com tanta opressão social, tiveram sua identidade fadada ao estigmatizo de não possuírem padrões físicos "aceitáveis" pelos estabelecidos na construção social, imputando a sociedade negra à "merecida" exclusão social. A força do preconceito era tamanha, que a população negra acabava aceitando não serem realmente merecedores de conviverem nos mesmos ambientes sob os mesmos padrões de igualdade, chegando ao absurdo de considerarem normal esta exclusão.

Este fato parece ter sido consolidado se pararmos para analisar que pouco tem sido discutido a questão racial no ambiente escolar, local onde esta mais deveria ser abordada levando em conta que a educação é responsável por derrubar tabus, transmitir valores exaltando a igualdade e o respeito entre as pessoas. Apenas ensinar o fato histórico e não provocar a reflexão que leve à discussão entre as crianças é com concordar que a exclusão é realmente merecida e justificada por causa das diferenças entre os padrões físicos e culturais.


Autor: Cristina Ubaldo


Artigos Relacionados


A Função Da Escola E Da Educação

Preconceito No Brasil: Ele Existe

Diferenças Na Escola

Educação Física Escolar

O Lúdico Como Forma De Ensino Em Matemática

A Paz Como Realidade

Educação Física E Qualidade De Vida