Amortal



Me enlouquecia olhar para seu corpo formoso, macio como um dos mais finos tecidos.
Seus olhos, tão intentos quanto o mar.
Seus braços, frágeis e graciosos.
Suas pernas, extremamente chamativas.
Sua barriga, beirando a perfeição.
Seu cabelo, brilhante como um raio de sol.
Enfim... Você é era a mais perfeita das criaturas, e o mais crível era que me rendesse a suas suteis e eficazes investidas.
Toda a sua compostura lembrava-me uma Capitu da vida. Contudo, ao contrário desta, não mostrava-se interligada com mistérios indecifráveis da vida.
Era fácil de ler. Simples de entender. Sua testa (Belissima também) escancarava a palavra "Manual" como se fosse um livro para se abrir.

E COMO eu queria abrir essa obra literária. Uma obra-prima. Uma obra maravilhosa, mágica... Perfeita.
Prendia o olhar sempre que passava, disfarçando quando podia.
No entanto você era esperta. Percebia meu interesse, e como quem não queria nada, retribuia a olhada com uma mistura de sarcasmo e divertimento. Olhos ostensivos e perspicazes.

Voltei-me os olhos para a realidade ao ver seu corpo pálido estendido sobre um objeto de madeira.
Via os outros ao meu redor, chorando aos prantos quando paravam o olhar no seu especial rosto.
Lágrimas desciam por seus olhos de maquiagem borrada. E quase todos paravam para olhar aquela estranha ninfa que dormia em sono profundo e eterno.
Porém, ao contrário desses, nada conseguia fazer. Não chorava. Não lamentava.

O único sentimento que palpitava em meu coração era um estranho e cruel vazio. Uma pitoresca sensação que julgava bizarra.
A cerimônia correu normalmente e logo estava em casa contemplando a janela. Pensando na vida perdida que era tão importante para mim.
Meus olhos estavam secos como areia. Minhas mão estavam trêmulas como um veado a ser caçado. E minha pele gelava como uma garrafa de refrigerante congelada no freezer.
Puxei um casaco do armário e olhei-me no espelho. Minha palidez revelava um estado horripilantemente bizarro. Não sabia porque estava tão branco e tão gelado. Tão vazio.

Subitamente senti uma dor. Uma terrível dor. E essa dor me enlouqueceu, tirando meus sentidos.
Olhei em volta e tentei descobrir alguma coisa que pudesse aliviar tamanho incômodo.
Nada achei e meu sofrimento não cessou. Não aguentava. Não aguentava.
Pulei sobre o armário da cozinha, tirei uma faca, coloquei sobre a pele e pus mais força. Força até demais.
Não obtante, fui até o fim e senti uma pitada monstruosa de dor mais forte que a anterior.
E de repente, sem mais nem menos, me encontro sozinho na escuridão.
 
E é nesse momento que surge ela. Com aquele mesmo corpo macio, aqueles braços, olhos... 
Então, de meu rosto caem lágrimas.
Pude ali saber que ela ressuscitara.

Autor: Gabriel Costa


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