A Ditadura do Tempo



O tempo é uma categoria da vida humana. É uma criação do homem. E muitas vezes queremos porque queremos colocar as coisas dentro dessa categoria. Acontece que muitas coisas fogem à dinâmica do tempo criado pelo homem.

Antigamente, costumávamos olhar para a natureza para determinar as épocas. Assim nasceram as quatro estações. Ou, pelo menos, seu conceito.

Com o passar dos tempos, fomos nos tornando mais sedentários e a necessidade de se marcar o tempo em branco foi ficando mais forte. Nasceram calendários, os mais diversos deles, nasceram os marcadores de tempo, as ampulhetas, os relógios...

Algum tempo atrás usávamos o relógio para saber as horas. Ela marcava o ritmo da vida que passava de ser rural para ser urbana. Hoje, quase que 90% da humanidade vive em sociedades urbanas e, assim, o ver as horas foi adquirindo novas dimensões. Até mesmo os relógios perderam suas formas tradicionais, com ponteiros, e ganharam uma visão mais moderna... Era a entrada das épocas digitais e as horas passaram a ser digitais.

Quase unanimemente reclamamos de falta de tempo. Parece ser um fenômeno tão exclusivo da sociedade de hoje, mas, desde que a vida humana se tornou sedentária, as alternativas para preenchermos as horas em branco foram nos colocando num ativismo violento.

Mesmo as crianças hoje pagam por isso: aula na escolinha pela manhã, ao sair aula de natação (ou de balé, ou de piano, ou de judô, entre outras), atividades extra-curriculares, e por aí se vai. As relações humanas vão se enfraquecendo, vão se deteriorando... E a culpa de tudo sempre recai no tempo: "Não temos tempo para mais nada nessa vida".

Será que não temos mesmo?

A função do relógio hoje não é mais marcar o tempo naquele momento. Olhar o relógio para ver as horas serve para pensar em quanto tempo ainda temos para o compromisso seguinte. E a vida vai se preenchendo de mais e mais compromissos, afinal, mente vazia é oficina do diabo, ou então tempo é dinheiro, etc., tudo para exemplificar que não podemos perder tempo.

E assim vamos correndo atrás de mais tempo. "O dia deveria ter 25 horas", alguns dizem. Mas, se tivéssemos mais 25 horas, elas também se tornariam insuficientes. A justa medida para as coisas parece ser a opção mais sábia que temos e isso os antigos já diziam: "A virtude está no meio". E também cabe aquele ditado de que "tudo em excesso faz mal". E vão surgindo as doenças, vão surgindos os estresses, os triglicerides altos, os colesteróis etc.

Não somos nós que somos feitos para o tempo e nem devemos ficar correndo atrás de mais segundos, de mais minutos, de mais horas que possam fazer aquela pequena diferença. O tempo tem que ser usado a nosso favor, a favor do bem dos homens, sem colocar nossa vida em risco, sem colocar a vida do outro em risco.

Quantas não foram as vezes que os mais catastróficos acidentes aconteceram porque alguém quis "ganhar mais tempo"? Claro que, seja lá como for, acidentes acontecem e não temos como contorná-los e nem é tudo culpa da pressa e da falta de tempo. Apenas foi um exemplo a se pensar, a se refletir.

O tempo é representação básica do homem. Não é seu dono, não é seu ditador, nem algoz. Ele é uma categoria usada em benefício de nós mesmos. E é em uma busca por uma vida bem melhor que estamos sempre dispostos a lutar. Tantos homens pensadores passaram grandes épocas de suas vidas lutando contra essa ditadura temporal, de uma vida mais digna para a humanidade. Kant já dizia que somos autonomos, que somos donos de nosso proceder e isso nos leva a buscar a clarividência de nossos tempos, de sairmos de nossa pequenez, de nossa minoridade, de nossas escuridões para alçarmos voos mais altos e conquistarmos nossa autonomia.

Somente desse modo é que conseguiremos, verdadeiramente, sermos homens e mulheres esclarecidos e libertos de toda e qualquer coisa que nos aprisione. A liberdade do homem foi conquistada a duras penas por muitos. E será que vamos nos deixar aprisionar pelas correias de uma coisa criada por nós mesmos?

Autor: Anderson Rodrigo Oliveira


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