Príncipes e Sapos - Da dificuldade de manter o casamento



A maioria das pessoas sonha formar uma família e todos aprendem as primeiras noções de relacionamento com sua família de origem. E os pais esperam que filhas e filhos repitam, em seu casamento, os costumes que lhes foram transmitidos.

Esses costumes constituem os mitos familiares – ou regras de relacionamento afetivo – e nos ajudam a produzir, ao longo da vida, os papéis que desempenharemos. E os outros esperam que nos comportemos conforme as atribuições de nosso papel. Quanto melhor nosso desempenho social, seguindo essas regras, mais adequado é considerado nosso funcionamento.

Os papéis determinam comportamentos; pensamentos; visão de mundo; projetos futuros enfim, ele distingue quem você é na constelação familiar e social. Haverá sempre alguém para desempenhar um papel que complemente e sustente o seu. Mas a escolha do papel não é racional, a estrutura familiar cria as condições para que, inconscientemente, as pessoas se adaptem ao papel que lhes é atribuído.

Disfarces do Eu

Exemplos de papéis familiares: de um lado estão a "mãe da miss" ou o "pai do camisa 10 da seleção", aquelas pessoas que colocam nos filhos a expectativa de realizar seus sonhos, e do outro lado estão os filhos que se esforçam para fazer sucesso para satisfazê-los.

Há a "princesinha" e o "príncipe herdeiro", que se julgam a parte mais importante da família e seu justaposto: os "pais abnegados" e os "irmãos e irmãs desamparados" que se desdobram para proporcionar-lhes tudo o que desejam.

Há o "bobo da corte" que nunca é levado a sério e seu oposto, o irmão "critico" que, ele sim, merece respeito.

Há o "papai sabe tudo"e a "mamãe poderosa chefona" que centralizam o poder decisório e julgam poder comandar e decidir os destinos de todos. Na outra ponta estão seus "comandados" que dependem deles para tudo.

Há o "cobrador" que, talvez por ter tido dificuldades na infância, julga que todos lhe devem e leva o resto de sua existência oprimindo e cobrando algo da família e de seus "cônjuges vítimas".

Toda família tem uma "ovelha negra", normalmente a pessoa com maiores dificuldades de adaptação social, relacional e comunicacional, a fonte das preocupações . Ele é acompanhado por seu oposto complementar, o "cavaleiro branco", aquele filho que, todos sabiam, seria um sucesso na vida, o porto seguro. Será para ele  que todos correm quando precisam de ajuda.

Espelho embaçado

O lado ruim de não se conhecer os mitos que se formam em torno das pessoas é que nunca se chega a conhecê-las de fato, e a fundo., e, por isso, cobra-se delas algo que lhes foi imposto e que, talvez, não se sintam preparadas para dar. Um "cavaleiro branco", por exemplo, jamais poderá fraquejar ou demonstrar insatisfação. Solitário, e solidário, ele carregará consigo a carga de salvar a honra, o orgulho e a saúde de todos.

Seus esforços para não decepcionar a família resultam em manter inalterado também o papel de seu oposto complementar: a "ovelha negra", aquele em quem não se pode confiar, pois, se comparado ao cavaleiro ele sempre estará inferior. E, por não se acreditar em sua capacidade de transformação, nenhum incentivo lhe é dado condenando-o a ser o eterno fracassado, coitadinho ou perverso da família.

A melhor maneira de resolver conflitos familiares é abandonar a postura de que alguém é superior e, portanto apto a livrar todo o grupo do sofrimento. Ninguém é absolutamente incapaz nem totalmente poderoso, todos podem descobrir formas de sair das dificuldades sem colocar toda a carga em apenas um membro.

A saída é resolver a crise aproveitando as melhores habilidades de cada um; dar votos de confiança; estabelecer tempo para a mudança de comportamento e ter a meta de parar de escamotear a situação e resolve-la.

Quando os papéis são desvelados, primeiro as pessoas se conscientizam de seus comportamentos, depois podem assumir posturas mais cooperativas e autônomas na constelação. Só assim o grupo abrirá mão das manobras de controle mútuo, fortalecerá os vínculos afetivos e criará espaço para evolução de todos.

Talvez o seu papel seja de "filho mais carinhoso" que não consegue que nenhuma namorada compreenda sua mamãe ou de "marido sobrecarregado de trabalho", sem disposição para bater um papinho com a filha adolescente.

Talvez aquela sua amiga, incapaz de apóia-la em suas ambições profissionais, desempenhe o papel de "mulher por trás do empresário bem sucedido", e ressentida por não ter encaminhado a própria carreira, para ela é difícil ver outra mulher crescendo no mundo do trabalho.

Talvez você conheça uma outra mulher que desempenhe o papel de "melhor irmã do mundo"que acoberta as escapadelas dos irmãos casados e por isso ela vive em conflito com as cunhadas.


Pode ser que você seja a "supermãe" que cuida de tudo e impede que o marido participe da educação das crianças ou, quem sabe você é o "superpai" controlador que sabe o que é o melhor para todos e não vai admitir filho artista na família. O fundamental para manter um bom relacionamento é saber que a mitologia de casal existe, mas ela pode – e deve – ser conhecida e transformada.


Autor: Sueli Nascimento


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