A IMPORTÂNCIA DE INGLÊS DE SOUSA PARA O REALISMO-NATURALISMO COM SUA OBRA 'CONTOS AMAZÔNICOS'



INTRODUÇÃO

Inglês de Sousa (Herculano Marcos I. de S.), advogado, professor, jornalista, contista e romancista, nasceu em Óbidos, PA, em 28 de dezembro de 1853, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 6 de setembro de 1918. Compareceu às sessões preparatórias da criação da Academia Brasileira de Letras, onde fundou a Cadeira n. 28, que tem como patrono Manuel Antônio de Almeida. Na sessão de 28 de janeiro de 1897 foi nomeado tesoureiro da recém-criada Academia de Letras.

Fez os primeiros estudos no Pará e no Maranhão. Diplomou-se em Direito pela Faculdade de São Paulo, em 1876. Nesse ano publicou dois romances, O cacaulista e História de um pescador, aos quais seguiram-se mais dois, todos publicados sob o pseudônimo Luís Dolzani. Com Antônio Carlos Ribeiro de Andrade e Silva publicou, em 1877, a Revista Nacional, de ciências, artes e letras. Foi presidente das províncias de Sergipe e Espírito Santo. Fixou-se no Rio de Janeiro, como advogado, banqueiro, jornalista e professor de Direito Comercial e Marítimo na Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais. Foi presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros.

Foi o introdutor do Naturalismo no Brasil, mas seus primeiros romances não tiveram repercussão. Tornou-se conhecido com O missionário (1891), que, como toda sua obra, revela influência de Zola. Nesse romance, descreve com fidelidade a vida numa pequena cidade do Pará, revelando agudo espírito de observação, amor à natureza, fidelidade a cenas regionais.

* Graduanda do curso de Letras Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pará.

Obras: O cacaulista, romance (1876); História de um pescador, romance (1876); O coronel sangrado, romance (1877); O missionário, romance (1891); Contos amazônicos (1893). Escreveu diversas obras jurídicas e colaborou na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Inglês de Sousa publicou cinco livros, todos de temática realista-naturalista, entre 1876 e 1893. Os três primeiros - O Cacaulista (1976), História de um Pescador (1977) e O Coronel Sangrado (1977) - foram publicados quando os meios literatos ainda eram dominados pelo Romantismo. Em 1891, publicaria seu livro mais conhecido, O Missionário, levando ao extremo os princípios da escola de Émile Zola. Sua carreira literária se encerraria com Contos Amazônicos, publicado em 1893.

OBRA: CONTOS AMAZÔNICOS DE INGLÊS DE SOUSA

Inglês de Sousa (1853-1918) foi testemunha de uma notável época de transformações políticas, religiosas e literárias no Brasil.À questão social, vista na chaga vergonhosa da escravidão, segue-se a questão religiosa, abalando os alicerces do catolicismo, até então intocável. A guerra do Paraguai mostra as deficiências da organização militar e faz a monarquia sofrer os primeiros abalos. O Segundo Império deixava escapar a sua falência, subjugado pelo espírito das campanhas abolicionista e republicana, que se acentuam a partir de 1870.

É nesse contexto que Inglês de Sousa escreve seus Contos amazônicos, publicados em 1893. Os contos são como capítulos seriados de um romance que situa e constrói a região amazônica aos olhos do leitor e em que o exótico é aos poucos transfigurado, transformando-se na coisa como ela é."Contos Amazônicos", do paraense Inglês de Sousa, respeita esses preceitos, destacando-se na literatura nacional pelo que representou no naturalismo de língua portuguesa. As nove histórias que compõem a obra mostram o vigor lingüístico do autor, dosando ficção com o relato descritivo e, portanto real, de uma das regiões do País mais suscetíveis a lendas e estórias — a Amazônia.

Nos contos de Inglês de Sousa há umarequintada elaboração estilística, em termos de linguagem literária, também cabe observar o brilhantismo com que Inglês de Souza maneja o gênero conto. Em especial aqueles que se situam no terreno da literatura fantástica, como "A feiticeira", "Acauã", "Amor de Maria" e "O baile do judeu", além de "O gado do Valha-me Deus".

Em todos eles, o autor soube elaborar literariamente personagens e situações sobrenaturais extraídas do folclore ou do imaginário popular regional, criando narrativas que, além do final surpreendente, têm um clima denso e assustador.

Mas também têm o mesmo impacto os outros contos do livro, que abordam temas ligados à história do Brasil e denunciam o descaso do governo nacional, do Império e da primeira República, com a região amazônica. "O voluntário", por exemplo, revela como eram recrutados "a pau e corda" os "voluntários da pátria" durante a Guerra do Paraguai

Em "Contos Amazônicos", o naturalismo aproxima os textos de Sousa, quase crônicas da selva, de um enfoque jornalístico ou histórico. A literatura sai ganhando com as descrições minutas do cenário principal, a floresta, e com o vocabulário regional. "Contos Amazônicos" recupera a imagem da luta do homem com o meio selvagem, somando-se a isso os embates sociais e políticos do final do século XIX . O compromisso de Inglês de Sousa, que também ocupou cargos públicos, é com a realidade, daí o realismo naturalista pulsante em seus textos, uma homenagem à região em que nasceu e viveu antes de mudar-se para São Paulo.

ASPECTOS REALISTAS-NATURALISTAS NA OBRA DE INGLÊS DE SOUSA

Leitura socioantropológica de Inglês de Souza nos permite constatar a acuidade científica que o escritor empregou ao descrever seus enredos, com informações precisas sobre as vilas, as populações, os costumes, as tradições, as disputas políticas, a exploração dos trabalhadores e o meio ambiente, entre outros temas amazônicos. Seus livros permitem

reconstituir minuciosamente a vida em cidades paraenses como Óbidos, Faro e Alenquer, na segunda metade do século XIX, quando a economia era baseada no cultivo do cacau e na

pesca do pirarucu. Inglês de Sousa é um realista sóbrio, ele não está determinando a questão patológica que vai ser a grande característica do Naturalismo. E um Realismo sóbrio, não forçado, natural.

A produção de Inglês de Sousa se distingue dos romances do Naturalismo clássico, pois não trata tanto da descrição do ambiente/ cenário, mas, fundamentalmente, da reconstituição, reconstrução, recriação do modo de vida dos ribeirinhos do Rio Amazonas.

o regionalismo apresenta-se de forma mais documental sobre as diversidades regionais, revelando novos dados da realidade nacional.

Características marcantes também do realismo-naturalismo é que os contos ficam próximos da reportagens, como se fosse um inquérito sobre a natureza e o homem; a narrativa é lenta, passa pelos lugares, analisa a vida em sua monotonia, sua morosidade, a sondagem psicológica do homem como um joguete do determinismo estes traços são bem marcantes na obra de Inglês de Sousa "Contos Amazônicos"

ANÁLISE DO CONTO "A FEITICEIRA"

O conto "A Feiticeira" narra à história vivenciada pela personagem Antônio de Sousa, quando de uma diligência policial feita por ele, a fazenda do tenente Ribeiro, e desdenha das crenças mais populares da cidade de Óbidos, afirmando sua total descrença

Por outro lado, a personagem que narra esses fatos - o velho Estevão – fica muito admirado do modo de agir do tenente Antônio Sousa e diz que não seria capaz de ouvir tais leviandades, sem que seu coração não se apertasse, e de certa forma atribui a não crença nesses fatos por parte do tenente Antônio Sousa ser, ainda, muito moço: "Quando a gente se habitua a venerar os decretos da Providência, sob qualquer forma que se manifestem, quando a gente chega à idade avançada em que a lição da experiência demonstra a verdade do que os avós viram e contaram, custa ouvir com paciência os sarcasmos com que os moços tentam ridicularizar as mais respeitáveis tradições...".

Prosseguindo a obra, constatamos que há um choque cultural cada vez mais intenso; de um lado um mundo mais urbano – representado pelo tenente-delegado – e outro mais 'provinciano' ao qual foi destacado (Óbidos); onde há o embate entre este e a 'feiticeira' – Maria Mucoim.

O embate se dá a partir da curiosidade de Antônio de Sousa a respeito de Maria Mucoim, a qual deseja conhecer e atestar, de fato, se esta tem poderes que os ribeirinhos alegam: "- Então, tia velha, é certo que tem pacto com o diabo?" [...] "- É certo que você é feiticeira?". Neste primeiro embate, após o olhar 'diabólico' da suposta feiticeira, Antônio de Sousa fica paralisado e o narrador dá a entender que o tenente deve ter tido medo pela primeira vez.
Mas, apesar disso, Antônio de Sousa não se dá por vencido e resolve ir até a casa de Maria Mucoim na tarde de uma sexta-feira sombria. A caracterização do quarto de Mucoim, assim como de sua fisionomia, feitas pelo autor, tem influencia das criações medievais, época na qual tudo que fugia do caráter religioso cristão-católico, era considerado heresia, bruxaria, isto é, ações contra a construção daquele mundo ocidental, como fica bem explicito nos trechos:

O tenente Sousa viu na Maria Mucoim uma velhinha magra, alquebrada, com os olhos pequenos de olhar sinistro, as maças do rosto muito salientes, a boca negra, que, quando se abria num sorriso horroroso, deixava ver um dente, um só! Comprido e escuro. A cara cor de cobre, os cabelos amarelados presos ao alto da cabeça por um trepa-moleque de tartaruga tinham um aspecto medonho que não consigo descrever.

A feiticeira trazia ao pescoço um cordão sujo, de onde pendiam numerosos bentinhos, falsos, já se vê, com que procurava enganar ao próximo, para ocultar a sua verdadeira natureza.
Em um quarto singular o quarto de dormir de Maria Mucoim. Ao fundo, uma rede rota e suja; a um canto, um montão de ossos humanos; pousada nos punhos da rede, uma coruja, branca como algodão, parecia dormir; e ao pé dela, um gato preto descansava numa cama de palhas de milho. Sobre um banco rústico, estavam várias panelas de forma estranha, e das traves do teto pendiam cumbucas rachadas, donde escorria um líquido vermelho parecendo sangue. Um enorme urubu, preso por uma embira ao esteio central do quarto tentava picar a um grade bode, preto e barbado, que passeava solto, como se fora o dono da casa.

O contraste de conceito de civilizado – do ponto de vista de Antônio de Sousa – é desfeito a partir do momento em que ele parte para a violência física: "... e exasperado pelo sorriso horrendo da velha, pegou-a por um braço, e, usando toda a força do seu corpo robusto, arrancou-a dali e atirou-a ao meio da sala de entrada.

A feiticeira foi bater com a fonte no chão, soltando gemidos lúgubres". A partir deste episódio irá ocorrer um novo confronto, agora de ordem fantástica (e não física), pois os seres que acompanham Maria Mucoim – devido a gestos desta – avançam em fúria incrível na direção do tenente, atacando-o, até que este diga inconscientemente uma invocação religiosa que fez com que os bichos recuassem.

Tal invocação, a nosso ver, constata a criação cristã da personagem Antônio de Sousa, que a pesar de ser um cético, acaba pro proferir de ordem religiosa em momento de grande perigo, no qual seu inconsciente fora aflorado e expresso verbalmente: "- Jesus, Maria!". O desfecho da narrativa parece ser interrompido com outro acontecimento – a gargalhada de uma nova personagem. E isto, o desfecho (não desfecho), é uma característica da narrativa fantástica – deixando-o por conta do leitor.Para nós, falar de Literatura da Amazônia dentro dos atuais conceitos de Estudos Culturais, é complexo, pois há conceito tradicional e estático, permeado de estereótipos do quem vem a ser Amazônia – Amazônia é só floresta? Amazônia é só rio? Amazônia é só índio? Amazônia é 'lugar sem homens'? Será que como afirmou Platão em A República que "estamos habituados a admitir uma certa idéia (sempre uma só)"?
Ao nosso entender não, pois a Amazônia ou 'Amazônias' foi e é uma junção permanente de pessoas vindas de todas as partes do Brasil e do mundo, com isto, forjando a todo momento uma criação e recriação de sua configuração ética e cultural, literal e lingüística.

Queremos afirmar, então, que é necessário desvincular o entendimento de Amazônia como algo estático, não mutável, mas sim, uma criação que esteja de acordo com as noções de realidade e práticas sociais de nosso tempo, transpondo as barreiras exclusivistas dos estereótipos criados pelos grupos sociais que estão no poder, que não desistem de criar uma imagem de nós – os 'amazônidas' (os que moram aqui) de acordo com seus interesses e benesses particulares, numa hierarquia sócio-cultural; deixando-nos num patamar de inferioridade em relação a sua 'cultura'.

ANÁLISE DO CONTO "VOLUNTÁRIO"

O conto "VOLUNTÁRIO" ilustra perfeitamente a relação entre "Literatura e História", pois tal narrativa trata de um episódio importante ocorrido no século XIX, a Guerra do Paraguai [1864-1870]. Essa guerra foi a mais violenta ocorrida entre os países da América do Sul e acabou consolidando as fronteiras entre os mesmos.Acredita-se que o conflito tenha deixado um saldo de mais de 100.000 mortos, tanto paraguaios quanto membros da Tríplice Aliança, composta por brasileiros, argentinos e uruguaios.

O título da narrativa de Souza demarca a ironia peculiar ao autor. A ausência do artigo antes do substantivo que dá título ao conto e um índice de indeterminação atribuída à pessoa do protagonista, o que leva a entender que este é representante de um tipo ou de uma classe, diferente do que ocorre em A Feiticeira [ note-se o artigo – 'A'], secunda narrativa do Contos Amazônicos e eu trata especificamente da Maria Mucoim, ' afamada feiticeira daqueles arredores'.

Portanto, a saga de Pedro poderia ser de diversos caboclos amazônidas daquela época, daí a ilustração que o narrador faz de diversos casos tão deploráveis quanto o de Pedro: ' Já o Antônio da Silva fugira a todo o pano para Vila Bela, onde mora um negociante que é seu compadre. Na casa do Pantaleão Soares, português legítimo, o sargento Moura varejara os quartos em que dormiam as filhas do pobre homem, e levara o atrevimento a ponto de revistá-las, dizendo que podiam ser homens disfarçados. O Raimundo Nonato e o filho da tia Rita haviam-se metido pelo mato dentro, sem que se soubesseo seu paradeiro.Um tapuio cios lagos, tendo vindo à vila comprar mantimentos, vira-se perseguido pelos guardas, e fora comido por jacarés, querendo salvar-se a nado' (1893, p.14-15).

O que marca a narrativa de Voluntário é a relação dominador versus dominado, o primeiro representado pelo recrutador Capitão Fabrício, o segundo representado pelo jovem Pedro, único filho da idosa viúva Rosa, portanto, " não poderia ser recrutado para a Guerra do Paraguai", porém, mesmo assim, o foi à força pelo capitão, que, nas palavras de Inácio Mendes, " não é lá homem para hesitar em se tratando de maldades" (1893,p.14).

Para marcar ainda mais as relações entre Literatura e História, neste conto analisado, é importante percebermos como a na obra a denúncia de um sistema corrupto, que não leva em consideração os direitos alheios, especialmente citar direitos são de pessoas que pertencem as classes menos favorecidas.

O destino de Rosa foi perambular pelas ruas de Santarém, carregando de estigmas da exclusão, denotados nos qualificativos a ela atribuídos: "pobre tapuia doida" (1803, p.30-31).

Os três termos expõe sua posição de desvalida, de mestiça e de sem voz, pois a fala do louco é desconsiderada, como se depreende de considerações de Michael Foucault (1978), n'A História da Loucura.

A exclusão é demarcada mesmo no discurso daquele que, aparentemente, questiona o sistema excludente, o narrador, pois em todo o conto ele faz com os posicionamentos de Pedro e de sua mãe sejam feitos por meio do discurso indireto, portanto vetando-lhe a palavra: E quando lhe perguntavam [a Pedro] se não receava o recrutamento dizia com a candura habitual, que nunca fizera mau a ninguém , e era filho única de mulher viúva (1893- p.12). Isso provavelmente se deu por conta da opinião que o narrador emite acerca dos nativos: os seus pensamentos não se manifestam em palavras por lhes faltar, a esses pobres tapuios, a expressão comunicativa, atrofiada pelo silêncio forçado da solidão (1893,p.7).

O narrador do conto possui um posicionamento ambíguo em relação ao fato narrado.A princípio, narra em 3ª pessoa, totalmente distanciado dos fatos: " a velha tapuia Rosa já não podia cuidar da pequena lavoura que lhe deixara o marido. Vivia só co o filho, que passava o dia na pesca do pirarucu e do peixe-boi (1893, p.3)."Porém, muitas páginas depois do início do relato, a uma mudança, pos o narrador identificado como sendo advogado que iria interceder por Pedro , se insere na narrativa: " estava eu a esse tempo em Santarém, preparando uma viajem a Itaituba, a serviço da minha advocacia"(1893,p.22). Nessa ocasião, foi procurado por Rosa, que lhe havia dado guarida em algumas passagens pelo igarapé de Alenquer. Foi ela que lhe contou a história que ele narrava até aquele momento do conto. Ante a astúcia das forças " legalistas", todos os esforços do advogado para soltar Pedro foram em vão, pois ele fora embarcado antes dos demais " voluntários", o que fez o advogado pensar que o jovem estava livre de sua " obrigação" com a Pátria.

Ao procurar velha Rosa para dar a boa notícia, esta replicou afirmando que aquilo não era verdade, expondo seu caráter supersticioso verificado na seguinte fala do narrador: " na sua opinião, eu estava enfeitiçado[ para ela] Pedro não estava no quartel, e , portanto, seguira naquele mesmo vapor para capital" (1893,p.29). Em conversa com o juiz o advogado constatou que Pedro realmente estava entre os embarcados, o que gerou seus protestos: " a indignação fez-me ultrapassar os limites da conveniência. Perguntei irado, ao juiz como se deixara ele assim burlar pela policia, expondo a dignidade do seu cargo ao menosprezo de um funcionário subalterno.Mas, ele sorrindo misteriosamente, bateu-me no ombro, e disse em tom paternal: — colega, você ainda é muito moço. Manda quem pode.Não queira ser a palmatória do mundo"(1893,p.30).

A história é contada por um narrador que é testemunha dos fatos ocorridos com Pedro e sua mãe Rosa. Assim, podemos entender o narrador homodiegético, ou, seja, em 1ª pessoa, mas que não é a personagemprincipal da trama.

ANÁLISE DO CONTO "ACAUÃ"

No conto destaca-se três personagens: Jerônimo, Aninha e Vitória.Jerônimo é viúvo e tem uma filha: Aninha. Numa noite, encantado pelo poder da colossal sururiju, encontra Vitória no rio que banha Faro( vilarejo onde vivia) e assim adota como filha. Aninha e Vitória foam criadas juntas e o capitão jamais fez diferença entre as meninas.Aninha e Vitória se relacionavam bem, no entanto, o observador mais atento perceberia " que Aninha evitava a companhia da outra, ao passo que esta [ Vitória] a não deixava".

Tudo mudou porque Vitória " já não dirigia a palavra a seu protetor nem a pessoa alguma da casa". Quando o pai chegava-se a ela ele perguntava carinhosamente: — Que tens Aninha? A menina, olhando assustada para os cantos, respondia em voz cortada de soluços: — Nada, papai. A outra, quando Jerônimo a repreendia pelas inexplicáveis ausências, dizia com altivez e pronunciando desdém: — E o que tem vosmecê com isso?

Aninha fica noiva, mas depois de poucos dias, diz ao pai que não quer mais se casar. Jerônimo aceita a decisão da filha. Aninha fica noiva novamente, poucos dias depois diz ao pai mais uma vez que não quer casar.O pai desta vez a obriga: " — Pois agora há de casar que ou quero eu".Aninha acata a ordem do pai e fica encerrada em seu quarto até o dia do seu casamento.

Ao saber do possível casamento, "a agitação de Vitória era extrema.Entrava a todo momento no quarto da companheira e saía logo depois com as feições contraídas pela ira".

No dia do casamento todos perguntavam por Vitória não percebiam como Aninha sentia-se aliviada e contente. "Mas eis que, na ocasião em que o vigário lhe perguntava se casava por seu gosto, a noiva põe-se a tremer como varas verdes, com o olhar fixo na porta lateral da sacristia.O pai, ansioso, acompanhou a direção daquele olhar (...), de pé, à porta da sacristia, hirta como uma defunta, com uma cabeleira feita de cobras, com as narinas dilatadas e a tez verde-negra, Vitória (...)fixava em Aninha um olhar horrível, olhar de demônio, olhar frio que parecia querer pregá-la imóvel no chão".

Aninha solta um grito de agonia e cai.Jerônimo "Não podia despregar os olhos da pessoa de Vitória" até que está desapareceu.Aninha começa a ter crises e a cantar como um acauã, um canto responde ao seu. "Por cima do telhado uma voz respondeu a de Aninha: — Acauã! Acauã! Um silêncio tumular reinou entre os assistentes. Todos compreenderam a terrível desgraça. Era o acauã!".

Ao analisar o conto percebe-se que se trata de um conto misterioso e cheio de suspense, bem típico das lendas amazônica.Neste discuti-se a experiência do amazônida quanto ás relações do imaginário com as vivencias históricas, discussão necessária à compreensão da sobrevivência de um homem integrado às particularidades e aos mistérios da floresta. E no final do conto percebesse como os personagens se entrelaçam a essa questão. Aninha é frágil em relação à Vitória, porém, quanto "transformada" em ave faz Vitória fugir ao ouvir seu "canto agoureiro", pois as cobras fogem ao ouvir o canto do acauã. Aninha representa também a visão estereotipadas que se tem da mulher, de docilidade , submissão , de insegurançae a obediência quando se submete a ordemde seu pai para casar-se com Ribeirinho,pois não aceitava mais um não de Aninha, e até mesmo a Vitória sua Irmã que era o seu oposto,já que pareciaao seuspés uma escrava junto a senhora.

Percebe-se também como as pessoas de Faro acreditam que, com um simples canto, o acauã prenuncia grandes desgraças . No fim do conto todos acreditam que, a culpa daquela tragédia deve-se ao acauã que estava em cima do telhado que respondeu ao canto de Aninha. Isso é um exemplo bem naturalista, visto que uma das teorias da escola é a visão determinista criada por Taine: O homem é fruto da raça da qual descente e do meio e momento histórico em que vive.

CONCLUSÃO

Esta pesquisa apresentou a obra Contos Amazônicos como objeto de estudo de forma critica e aprofundada .Observou-se nos contos características como: o regionalismo, o contexto de vida dos personagens que são na maioria das vezes utilizados elo autor.Sendo o autor o introdutor do naturalismo no Brasil e o primeiro romancista da Amazônia, nas suas narrativas a sempre presente o embate entre "classes" distintas e também seus contos apresentam cunho político e social.


Autor: Roseli Gonçalves


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