AS TRANSFORMAÇÕES OCORRIDAS ENTRE 1930-1960 EM DOIS PAÍSES: ARGENTINA E MÉXICO



Este trabalho pretende discutir as transformações econômicas, políticas e sociais ocorridas entre 1930-1960 em dois países: Argentina e México.

Os dois países, em alguns momentos, possuem trajetórias semelhantes. Ambos iniciaram a industrialização no final do século XIX. Ambos desenvolveram governos de caráter populista. Entre outras semelhanças.

No entanto, as peculiaridades prevalecem. Tanto a Argentina quanto o México produziram um contexto histórico peculiar, onde se desenvolveram "soluções" e "conseqüências" diversas. Desta forma, acreditamos ser melhor a análise de cada país separadamente.

Argentina:

O desenvolvimento argentino baseava-se numa economia estável, destacando-se o setor agroexportador de carne e cereais. Politicamente, desde o início do século XX, os descontentes com a estrutura oligárquico-conservadora dominante se juntaram em torno da União Cívica Radical (UCR).

De 1916 até 1930, a UCR dominou o cenário político argentino. Sua posição caracterizou-se pela "ambigüidade". Notadamente adotou medidas antioligárquicas e democráticas, mas impedia que os movimentos populares, sobretudo de caráter socialista e anarquista, se desenvolvessem. De certa forma, apoiou a Reforma Universitária de Córdoba (1918). No entanto, reprimiu violentamente as manifestações sindicais e operárias, em 1919, e camponesas, em 1921. Além disso, reforçando sua ambigüidade política, não desfez a estrutura econômica baseada no setor agroexportador, notadamente dominada pelas oligarquias.

Após a Crise de 1929, com o colapso econômico instalado, as oligarquias centrais e os representantes do capital estrangeiro, que antes "suportavam a UCR enquanto esta se comportava como expressão e como mecanismo de contenção das massas populares"[1], não aceitaram a forma como estava sendo combatida a crise econômica.

Em setembro de 1930, José Uriburu representou o retorno do poder dos conservadores, fora de cena desde a ascensão da UCR em 1916. Este retorno oligárquico se estendeu até 1943, quando foram destituídos do poder novamente. Neste período (1930-1943), conhecido como "década infame" ou "república conservadora", quatro presidentes governaram: o general José Uriburu (1930-1931), com tendências fascistas; o general Agustín Justo (1931-1937), aliado ao imperialismo inglês; R. M. Ortiz (1937-1942); e R. Castello (1942-1943).

Entretanto, com as exportações em crise e com a diminuição de capitais estrangeiros para investimentos – devido à crise econômica européia, fruto da Crise de 1929 -, este período foi marcado também pelo maior desenvolvimento da industrialização. De fato, desde o final do século XIX, a Argentina havia iniciado esta atividade. Porém, o contexto histórico da "década infame" desencadeou um surto sem precedentes. Este desenvolvimento proporcionou uma maior urbanização e, conseqüentemente, o aumento da classe operária. Estes se dividiam ideologicamente entre os cabecitas negras (de valores camponeses) e os "velhos" operários (sob influência dos imigrantes, com idéias anarquistas, socialistas ou comunistas).

Neste momento, ocorreu então uma situação denominada "vazio hegemônico" ou "vazio de poder". Ou seja, nenhuma camada social possuía possibilidade de predominar o seu projeto de poder. Isto porque havia uma cisão tanto nas classes dominantes como nas classes populares. "Nesse contexto de crise de poder e de pressões, setores da Forças Armadas, em 1943, por meio de um golpe militar, assumiram o comando do governo"[2].

Entre 1943 e 1946, ocorreu um período de transição para o peronismo. Como secretário de trabalho, primeiramente, e depois acumulando as pastas da previdência e da vice-presidência, Juan Domingo Perón foi construindo um discurso ideológico baseado no populismo nacionalista, aproximando-se dos setores populares,escamoteando a "luta de classes" e idealizando um "Estado de Compromisso"- estruturado num esforço comum da sociedade no "progresso" da nação. Além das camadas trabalhadoras, a Igreja Católica, a burguesia industrial e setores do Exército se somam à base de sustentação peronista.

O governo de Perón (1946-1955) pode ser dividido em 2 partes. Na primeira fase (1946-1951) as circunstâncias eram inteiramente favoráveis: ampla base de sustentação; economia em alta; aumento do número de empregos, salários e consumo etc. Sua política econômica era marcada pela intervenção do Estado, promovendo a industrialização, a nacionalização das riquezas do pis e uma política social redistributiva autodenominada "justicialista". Além disso, o carisma e o culto à imagem de Perón e da primeira-dama Evita encontraram seu auge.

Na segunda fase (1951-1955) a situação se inverte. "As dificuldades econômicas forçaram o governo a mudar sua posição assistencialista, nacionalista e antiimperialista. Como resultado, a base de sustentação peronista foi sendo desmantelada e sua oposição reforçada. Característico dos governos populistas, com a maior entrada de capitais estrangeiros e conseqüente esvaziamento do discurso nacionalista, o peronismo, enquanto governo, entrou em crise. No entanto, até os dias atuais, sua herança é disputada por inúmeras correntes políticas argentinas.

México:

Para compreender o contexto histórico do período de 1930-1960 neste país é necessário recordar a trajetória da Revolução Mexicana.

No período posterior à derrubada de Porfírio Diaz (1876-1910) as reivindicações camponesas eram tamanhas. Liderados por Emiliano Zapata e Pancho Villa, eles se constituíram como a força revolucionária. No entanto, venceu aquele grupo que possuía melhores condições de impor suas propostas, "camuflando-as" numa espécie de "desejo da nação" – venceu o projeto burguês. Sobretudo após a morte de Zapata e Villa, 1919 e 1923 respectivamente, o projeto burguês se desenvolveu numa espécie de "modernização conservadora". A constituição de 1917, por exemplo, foi considerada muito avançada para a época. No entanto, as garantias constitucionais eram, além de concebida como um "presente" dos governantes, gradativamente atendidas. Além disto, após a derrocada de Diaz, muitos setores acharam que suas metas haviam sido alcançadas. Por fim, o aparelho estatal porfirista só foi removido inteiramente com a ascensão de Lazaro Cárdenas (1934-1940) que representou o populismo mexicano.

Após a Crise de 1929 e suas respectivas conseqüências na economia mexicana (afetando os setores mineradores, petrolíferos e agrícolas), as pressões das classes populares, sobretudo camponesas, para a plena implementação dos direitos constitucionais, como a reforma agrária, conheceram um crescimento significativo.

O presidente Lazaro Cárdenas é fruto deste contexto histórico, onde ele teve o papel de retirar o país da dependência externa e implementar um capitalismo nacional (a "missão dos governos populistas" – fato este nunca alcançado. Pra isto, Cárdenas centralizou no Estado o papel de patrocinador do desenvolvimento do capitalismo mexicano.[3] Através de um discurso voltado para as camadas populares, o presidente promoveu a tão sonhada reforma agrária (eliminando o poder dos latifundiários) e introduziu diversas mudanças trabalhistas. Sempre sob uma perspectiva intervencionista, o governo de Cárdenas desenvolveu o setor industrial e nacionalizou a economia mexicana, contrariando os interesses financeiros.

Após o governo de Cárdenas, o nacionalismo não resistiu à entrada do capital estrangeiro, notadamente norte-americano. Com isso, os governos subseqüentes não prosseguiram as reformas implementadas na segunda década de 1930. As lutas revolucionárias haviam cessado.

Bibliografia consultada:

- PRADO, Luiz Fernando Silva. História Contemporânea da América Latina: 1930-1960. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.

- WASSERMAN, Claudia. História Contemporânea da América Latina: 1900-1930. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.


[1] WASSERMAN, Claudia. História Contemporânea da América Latina: 1900-1930. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004,p.53.

[2] PRADO, Luiz Fernando Silva. História Contemporânea da América Latina: 1930-1960. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004, p.54.

[3] PRADO, Luiz Fernando Silva. História Contemporânea da América Latina: 1930-1960. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004, p.62.


Autor: Luiz Eduardo Farias


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