Professores Mestres de Vôo



Essa crônica é sobre um homem incrível e suas convicções. Não negarei que ao ler uma entrevista com ele, não tenha me identificado totalmente com suas ideias, então essa crônica poderia ser um pouco sobre mim...ou um pouco sobre mim através dele...mas ao pensar no objetivo de escrever sobre este ícone, pensei que independente da minha identificação, há um tema muito mais importante que ele trás para discussão: a EDUCAÇÃO.

Ariano Suassuna, mais de 80 anos, dramaturgo, romancista e poeta brasileiro. Já reconhecido por grandes obras. Mas, Ariano também foi professor universitário por alguns anos e neste detalhe quero me deter um pouquinho. Reprovar por falta? Jamais. Em sua opinião o aluno deveria ter prazer em frequentar suas aulas e se isso não acontecesse, ele teria que buscar recursos para atrair seus alunos faltosos, ou seja, para promover a aprendizagem. Ele propôs uma aprendizagem prazerosa, estar em sala de aula para se construir, para crescer. E dentro desse contexto achei uma citação interessante: "Todo professor tem de ter alguma coisa de ator.". Magnífico. Sou atriz e não sabia (ops, essa crônica não é sobre mim, desculpem-me). Segundo ele, este não pode ser somente um expositor de ideias. Tudo que ele diz não é nada mais nada menos do que a educação atual tenta fazer, ou tenta seguir. O professor não é quem detêm o conhecimento, mas quem troca conhecimento. Há preocupação com o prazer do aluno em aprender, e melhor ainda: esse prazer não depende somente dele, mas do professor também. Como disse, é uma TROCA. Uma troca de aprendizagem e afeto.

Ariano perdeu o pai aos três anos e dele ganhou como herança uma biblioteca. Pois desta história saiu uma valiosa frase: "Eu não tenho o hábito de leitura, eu tenho a paixão da leitura." Foi ele ou eu que disse essa frase? Já não sei mais..Houve uma simbiose. Ah, a leitura. Se você tem paixão por ela, não precisa do hábito.

Agora pensemos, de onde vem essa paixão?

Meu pai, quando eu era pequena, toda semana anunciava "Esta na hora da mágica". Eu, alucinada, ia atrás dele enquanto este entrava no quarto e fechava a porta. Eu literalmente colava meu ouvido nela. Do quarto saiam barulhos. E quando ele abria a porta, tirava um livro de sua camiseta. Era a glória. Essa brincadeira se repetia toda semana, ou seja, eu lia um livro por semana (repetidas vezes) com prazer e expectativa pelo próximo. Ariano, ganhou a biblioteca de um pai não mais presente. Esta é a resposta pela pergunta anterior, nós dois tivemos o estímulo. O estímulo afetuoso. Estimular a leitura não é indicar um livro para seus alunos lerem já avisando a data da prova sobre ele. Isso não é estímulo, é imposição. O incentivo trás a discussão, propostas de ideias, trocas de ideias, a busca do interesse de seus alunos. Hoje, assim como Ariano, tenho a paixão pela leitura. E ela me traz muitos benefícios. Mais do que isso, ela me trouxe outra paixão: a escrita. Paixão por ler, paixão por escrever. Se passo sem algum dos dois, sinto abstinência, preciso pegar um livro ou um papel. E essa é uma dependência tão boa.

Rubem Alves faz coro com o nosso tema: "Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas". Escolas que prendem, ou escolas que ensinam a voar. E mais: "É com grandes livros que professores mestres de voo fazem seus alunos irem mais longe". Professores Mestres de voo. Gostei disso.

Se muitos professores não conseguem colocar isso em prática por estarem inseridos em "escolas gaiolas", pelo menos não devem perder os ideais, as convicções e crenças para uma educação melhor. A educação dos nossos sonhos. Aí sim não teremos mais a pobreza, a violência, a falta de oportunidade...

Vale a pena sonhar. Vale a pena, aos poucos, tentar inserir essa concepção de aprendizagem nas escolas. Só depende de nós. Nós, sociedade. Não somente nós professores.

Afinal Ariano se tornou o que é hoje por quê? Ele apostou e ainda aposta. Vamos apostar? Eu estou junto. E me desculpem se essa crônica foi um pouquinho sobre mim...através dele...


Autor: Natacha Moraes


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