PEÇA DE TEATRO (O EXODO RURAL).



Esta é uma história verídica de uma das várias famílias que deixam a zona rurale foram para as metrópoles em busca de melhoras.

O seu Manoel era o patriarca,dona Marta era a matriarca, José o filho mais velho, Marlene a segunda filha, Pedro o terceiro filho, Marcoso quarto filho, Fátima a quinta filha, Mariano o sexto filho, Camila a sétima filha, Jonas o oitavo filho e Carminha a nona filha e a filha caçula.

MANOEL:

Bom dia querida. Bom dia crianças.

CRIANÇAS:

Bom dia pai.

MARTA:

Bom dia querido, já vai para a roça?

MANOEL:

Sim querida já vou.

MARTA:

Crianças, apressem, tomem logo o café pra irem ajudarem seu pai.

JOSÉ:

Mãe, tudo bem, eu já estou com doze anos e passei do tempo de ir a escola, mas meus irmãosprecisam ir a escolae no entanto e vez de estudare vão para a roça.

MARTA:

É mesmo meu filho, você tem razão, mas a vida as vezes nos prega peças, seu pai sozinho e você não conseguem cuidar da casa e seus irmãozinhos tem de ajudarem

JOSÉ:

Tudo bem mãe, ainda acho que eles deviam ir para a escola para não crescerem como eu que nem, se quer consegue assinar o nome.

MARTA:

Oh meu filho tenha fé um dia isto vai melhorar.

JOSÉ:

Quando minha mãe? Desde quando comecei a entender as coisas a senhora vem dizendo isto e continua no mesmo.

MARTA:

Olhe meu filho, seu pai disse que quando tirarmos uma boa colheita de arroz, vamos todo para São Paulo, e lá todos podem arrumar empregos.

JOSÉ:

Minha mãe, eu posso não ter ido a escola, mais não sou idiota. Como vamos arrumar emprego sem estudo e sem profissão?

MARTA:

José, vai logo pra roça, você penca que eu não sei disso.

JOSÉ:

Desculpe mamãe, já vou, já vou.

MARLENE:

Meninos a mãe já vem vindo com o almoço.

MANOEL:

Crianças vão lavar as mãos lá no córrego pra não comer com as mãos sujas.

MARTA:

Crianças, podem pegar as marmitas, cada um pegue a sua marmita.

PEDRO:

Há mãe! Quirela pura de novo?

MARTA:

Não reclame menino, devemos agradecer a Deus pela quirela, muito se quer tem quirela para comer.

MARCOS:

Eu juro que quando formos para São Paulo eu vou ser muito rico e nunca mais vou comer quirela.

MANOEL:

É isto ai meu filho, é assim que se fala, vamos ficar ricos em São Paulo, se Deus quiser.

JOSÉ:

Ricos, quero ver alguém ficar rico sem estudo e sem profissão.

FÁTIMA:

Eu posso arrumar um emprego de babá, e depois arrumo um bom casamento com um rapaz rico.

MARIANO:

Rapaz rico! Você acha que algum rapaz rico vai querer casar com uma menina pobre e burra?

MARTA:

Parem com isso meninos, comam e deixem de bobagem, sua irmão ainda não sabe nem lavar a cara.

MANOEL:

É mulher, como o arrozal está lindo! Se Deus quiser vai dar para comprar as passagens para irmos para São Paulo

MARTA:

É mesmo querido, se Deus quiser, lá não vamos viver nesta miséria, comendo sóquirela.

MANOEL:

José, você vai ajudar eu bater o arroz, sua mãe e os meninos cortam e carregam para o batedor.

CAMILA:

Mãe, socorro!

MARTA:

O que foi Camila?

CAMILA:

Uns bichosparecendo com cobras agarrados em minhas pernas.

MARTA:

Oh filha, não tenha medo, é só umas sangues sugas, elas só sugam o sangue, é só passarfumo nelas e elas soltam suas pernas.

JONAS:

Medrosa, commedo de umas sangue suguinhas.

CAMILA:

Jonas, deixe-me retirar elas das minhas pernas que você me paga.

MARTA:

Parem de brigarem crianças.

CARMINHA:

Eu não tenho medo desses bichinhos.

CAMILA:

Porque não é em você.

MARTA:

E daí querido, rendeu o arroz?

MANOEL:

Está rendendo que é uma maravilha, se Deus quiser, vamos colher arroz que a nossa parte da meia vai dar tranqüilo para comprar as passagens e ainda comprar algumas roupinhas.

MARTA:

Que bom, eu já não agüento ver as crianças sofrerem com estas sangue sugas e comerem mal.

MANOEL:

Crianças, levantem, hoje é o ultimo dia da colheita, depois é só vender o arroz e comprar as passagens para irmos para São Paulo.

JOSÉ;

Pai, só uma perguntinha.

MANOEL:

Diga meu filho.

JOSÉ;

Onde vamos morar quando chegar lá?

MANOEL:

Não se preocupe meu filho, aquele nosso amigo que foi para lá com certeza está bem lá e ele vai arrumar um lugarzinho para nós morarmos até arrumarmos uma casa.

JOSÉ;

Está bem pai, o senhor é o chefe o senhor manda.

MARTA:

E daí querido, conseguiu vender o arroz?

MANOEL:

É claro que sim querida, tanto vendi, como já comprei as passagens e roupa para todos, agora é só embarcar.

MARTA:

Já, tão rápido assim?

MANOEL:

Sim, pode tomarem banho, vestir a roupa, que amanhã bem cedo estaremos viajando.

MARTA:

Acordem crianças, lavem os rostos e tomem café se não vamos perder o ônibus.

MANOEL:

Querida, você fez a farofa para levarmos?

MARTA:

Sim Manoel, tanto fiz que já coloquei na lata.

MANOEL:

Chegamos, agora é só procurar o nosso amigo neste endereço.

JOSÉ:

Pai, então vamos andando que eu já estou cansado e com fome.

MANOEL:

Mulher, será que é ali naquela barraca de papel que o nosso amigo mora?

MARTA:

Vamos chamar para ver.

MANOEL:

Seu Carlos.

CARLOS:

Manoel, que alegria ver você e sua família juntos aqui!

MARTA:

Meu Deus! É assim que o senhor está bem aqui em São Paulo?

CARLOS:

Meu amigo as coisas aqui não é aquelas mil maravilhas como nos falaram não, mas agora vai ficar bem, espero que vocês trouxeram bastante dinheiro para nos ajudar.

MANOEL:

Dinheiro! Pensei que você estava bem como tinha dito pelas cartas que me enviou.

CARLOS:

Que nada amigo,eu fiquei com vergonha de dizer a verdade.

MANOEL:

Pois é Carlos eu só vim com o dinheiro das passagens, contando com você para nos ajudar quando chegarmos aqui.

CARLOS:

Está bem amigo, não tem mais jeito, agora é só ajeitar vocês em meu barraco, e amanhã vamos ajuntar algumas caixas de papelão e construímos uma barraca para você e sua família.

MARTA:

Meus filhos, amanhã bem cedo nós vamos procurar emprego.

MANOEL:

E daí querida, conseguiu alguma coisa?

MARTA:

Nada, andei o dia todo e nada, todos batiam as portas na minha cara, as vezes nem abriam as portas para atender me.

MANOEL:

É mulher, já faz um mês que estamos aqui, emprego se quer nada, já não agüento mais esta vida, quando arrumo um bico de um ou dois dias fico uma semana parado.

CARLOS:

Manoel, tenho uma idéia supimpa.

MANOEL:

Que idéia é esta Carlos?

CARLOS:

Você está passando dificuldade porque quer.

MANOEL:

Diga logo homem, que idéia maluca é esta?

CARLOS:

Você tem este monte de filhos, é só colocar eles para pedirem esmola.

MANOEL:

Você esta louco homem?

CARLOS:

Louco! Louco está você se não fizer isto.

MANOEL:

Eu vou pensar

MARTA:

Manoel, o que vamos fazer? As crianças não têm se quer café para tomar.

MANOEL:

O que eu posso fazer mulher, e tem mais, não me encha, eu já não estou agüentando, todos os dias tenho queouvir a mesma ladainha.

MARTA:

O Manoel, não fique aborrecido, eu também estou sofrendo com isto, José já está um rapazinho, ele foi o único que conseguiu um trabalho de engraxate mas não dá para todos vivermos.

MANOEL:

Desculpe mulher, estou muito revoltado com essa situação, estou velho e cansado, ninguém quer arrumar trabalho para mim.

MARTA:

O meu querido, vamos pedir a Deus, tenho certeza que ele vai nos ajudar.

MANOEL:

É mulher, as vezes eu penso que Deus esqueceu-se de nós, veja, só o José que conseguiu este empreguinho de engraxate, seus outros irmãos estão metido em drogas, as meninas vivem nas ruas na prostituição e o que ganham usam tudo nas droga.

MARTA:

É meu velho só sobrou nós dois, e o José, as vezes eu sinto culpada de estarmos passando por isto, se eu tivesse insistido para ficarmos lá na roça, mesmo comendo quirela, a nossa família poderia estar unidas.

MANOEL:

Não se sinta culpada sozinha, eu também tenho culpa, sou o patriarca e sendo assim o maior culpado sou eu.

MARTA:

É meu velho agora é esperar em Deus, quem sabe ele tenha misericórdia dos nossos filhos e eles voltem a serem cidadãos normais um dia.


Autor: João do Rozario Lima


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