ONTOLOGIA DE ARISTÓTELES ATRAVÉS DA CRÍTICA A PLATÃO



No fragmento da obra Metafísica, de Aristóteles (1978) é encontrada uma crítica a filosofia anterior ao autor. Aristóteles reconstrói as tentativas filosóficas desde Tales de Mileto buscando entender as explicações dadas acerca da origem do universo para compreender as doutrinas que sucederam até chegar à discussão proposta por Platão. Inicia o texto com uma citação, no mínimo intrigante, que afirma: "todos os homens, têm por natureza, desejo de conhecer" (op. cit., pág. 211). O conhecimento apontado pelo autor será aquilo que impulsionará os seres humanos a buscar explicações concisas para os problemas que envolvem o próprio ser humano. Antes de entrar propriamente no problema sugerido pelo enunciado é interessante ressaltar que Aristóteles, discípulo de Platão, não ficou à mercê, repetindo apenas as ideias do mestre, mas procurou superá-las. A crítica aristotélica em A Metafísica tem seu "auge" ao questionar a posição de Platão a respeito da teoria das ideias (cf. pág. 225). Vejamos as críticas propostas por Aristóteles a respeito da doutrina platônica.

Como já citado Aristóteles começa falando do desejo de conhecer, mas este desejo somente será real diante do prazer causado pelas sensações, mas isto não é uma garantia humana, porque até mesmo os animais podem vir a experimentar alguma sensação, escalonando do menos ao mais inteligente. Aristóteles afirma que "outros animais vivem, portanto de imagens e recordações, de experiências, pouco possuem" (op. cit., pág. 211). É possível aqui se lembrar da Alegoria da Caverna. Na alegoria encontramos os cavernícolas que sustentam a crença na verdade, dada exclusivamente a partir das sensações produzidas pelas sombras projetadas dentro da caverna. Este tipo de experiência levaria ao conhecimento da causa motriz? Aristóteles diria que não, a partir da sugestão que, cabe ao filósofo ir além da visão comum das coisas (cf. pág. 213), mas para que a situação permita é preciso possuir uma base segura de partida para conhecer o encadeamento de causa e não apenas uma projeção insegura.

Outra crítica dirigida a Platão é encontrada no Capítulo VI, quanto o autor condena o mestre por sugerir que existam realidades não sensíveis que levam o ser humano ao conhecimento. A crítica aristotélica neste capítulo pode ser entendida como uma crítica a teoria das ideias. Aristóteles vai além afirmando que a ideia é por si singular e não pode ser múltipla e semelhante, como sugerida por Platão (cf. pág. 224). A base de sustentação do argumento é servida somente de duas causas: "da do 'que é' e da que é segundo a matéria, sendo as ideias a causa do que é para os sensíveis, e o uno para as ideias" (op. cit., pág. 225). É importante salientar que a crítica de Aristóteles a Platão não é uma crítica às ideias, mas sim, para a maneira como Platão sustenta tal posição. A maneira platônica de sustentar os conceitos é dúbia e não leva o interlocutor a unicidade dos conceitos (cf. pág. 221). Não há unicidade porque não há uma ação causal, conforme é possível perceber na transcrição do fragmento que segue.

Das ideias, portanto, e em nenhuma das formas que se costumam afirmar, não podem provir as outras coisas. Quanto a dizer-se que elas são exemplares e que as outras coisas participam delas, é pronunciar palavras ocas e fazer metáforas poéticas: que é, pois, o agente que olha para as ideias? (op. cit., pág. 231)

A doutrina platônica é insuficiente, como explicação, para Aristóteles, porque ela é incapaz de buscar uma causa incausada que sustente o encadeamento de causas que é necessário para compreender os problemas relativos aos seres humanos. As tentativas de explicações que existiam até então, não eram suficientes segundo o pensador de Estagira, porque a concepção das ideias inatas não tem procedência na reminiscência, mas procedem dos sentidos por efeito da atividade do espírito, como ele aponta logo no primeiro capítulo do fragmento.

 

REFERÊNCIA

ARISTÓTELES. Metafísica: livro alfa. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultura, 1978.

PLATÃO. A República. Série Clássicos. Bauru: EDIPRO, 1994.


Autor: Albio Fabian Melchioretto


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