MEMÓRIAS



Eu era apenas um menino, não entendia muito bem
O ar era pouco, de duzentos ficava cem;
O estomago sempre puro;
Ao som das chibatas no escuro.

Olhos vermelhos e sem brilho
Como um trem zunindo sobre o trilho,
E os peitos magros, saciavam as crianças,
E dos pensamentos, dissipavam-se as esperanças.

E a todo instante jogava-se um corpo ao mar,
Porque só os mais resistentes iriam chegar.
As noites eram de intensa melancolia
E gemidos e lágrimas eram o que se via.

O castigo era intenso aos que tentavam escapar
E o reboliço das ancas disputando um pouco de ar.
E entre os açoites dos tombadilhos
Ouviam-se o choro dos órfãos e das mães que perdiam os filhos.

À noite disputavam das frestas a lua;
E o intenso frio arrepiava a pele seminua;
As negras mais bonitas, os colonos escolhiam
E todas as noites com elas, eles dormiam.

A viagem era longa demais,
E o infinito de além-mar, ficava para traz.
O sol não chegava ao porão,
E a brisa era só imaginação.

Que o paraíso existia, eu não sabia.
E que na Bahia enfim, chegaria.
Trago no sangue o legado dessa historia
E tudo que eu pude guardar na memória.


Autor: MARCOS INACIO CAVALCANTE


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