Currículo em Tempos Modernos - A Questão da Interdisciplinaridade



VERA NILSE PEREIRA

O CURRÍCULO EM TEMPOS MODERNOS - a questão da interdisciplinaridade

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Fundação Carmelita Mário Palmério, como exigência parcial para obtenção do título de Especialização em Inspeção e Supervisão Escolar.

Orientação:

Profª. Dra. Silvana Malusá Baraúna

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÂO EM

INSPEÇÃO E SUPERVISÃO ESCOLAR

Monte Carmelo – MG

2006

AGRADECIMENTOS

A Deus, fonte inesgotável de sabedoria e de amor.

Aos colegas de trabalho, que têm contribuído com incentivo à execução desse trabalho, sinceros agradecimentos.

Aos professores do curso de Especialização em Inspeção e Supervisão Escolar, pela contribuição e ensinamentos. Em particular, à minha orientadoraProfª. Dra. Silva Malusá Baraúna, pelo apoio, pela paciência, disponibilidade e sabedoria, ajudando-me em todos os momentos de dúvida e questionamentos, investindo, inclusive, parte preciosa do seu tempo para fazer sugestões e correções.

O presente texto trata-se do Currículo em tempos modernos: a questão da interdisciplinaridade, e tem como objetivo principal mostrar que em função da rapidez das mudanças em todos os setores da sociedade atual (científico, tecnológico, cultural ou econômico), faz-se necessário analisar e repensar o atual modelo de currículo escolar. Os estudos apontam para um currículo multidisciplinar atual, onde permanece um modelo fragmentado, em que há justaposição de disciplinas diversas, sem relação aparente entre si. Enquanto que no novo modelo curricular, de base interdisciplinar, o mundo não é visto de forma fragmentada. As informações, as percepções e os conceitos compõem uma significação total, completa. A intenção de analisar o atual currículo escolar, faz-se no primeiro momento, no sentido de reorienta-lo rumo à nova proposta, pois, quanto mais se acelera a produção do saber humano mais se faz necessário garantir que não se perca a visão do todo. E, num segundo momento, questiona-se que no processo multidisciplinar, presente na escola, desconsidera–se as características e necessidades do desenvolvimento cognitivo do aluno, dificultando essa percepção do todo.A interdisciplinaridade é apontada nos estudos como sendo uma nova concepção de ensino e de currículo, baseados na interdependência entre os diversos ramos do conhecimento, a interação e a comunicação existentes entre as disciplinas, levando-se a um conhecimento harmônico e significativo.São levantadas algumas concepções e reflexões sobre a prática interdisciplinar, evidenciando-se que a mesma, em seu sentido estrito, corresponde a uma interseção estrutural da diversidade de conhecimentos ensinados, observando-se também o papel do educador, seu envolvimento e formação.Esse texto propõe que, por via da ação pedagógica através da interdisciplinaridade, haja a construção de uma escola participativa, norteada por um Projeto educacional centrado na intencionalidade definida com base nos objetivos a serem alcançados pelos sujeitos educandos. E que tem como propósito a formação do sujeito social apoiada na mudança de atitude, procedimentos e postura por parte dos educadores. PALAVRAS –CHAVE - 1. Currículo 2. Interdisciplinaridade 3. Mudança Curricular

INTRODUÇÃO

A explanação sobre o Currículo em tempos modernos - a questão da interdisciplinaridade -aponta para as diversas compreensões e argumentações acerca do currículo, definindo-o como instrumento de compreensão do mundo, inserindo-o como construção social, uma prática que revela seu compromisso com os indivíduos, a história, a sociedade e a cultura.Avançando nesse sentido de superar uma visão estreita de currículo, são propostas algumas temáticas que nos parecem pertinentes paracontribuir com uma atitude ressignificadora da escola, no sentido de romper grades curriculares, àbusca de uma identidade social que expresse as necessidades de nossa época apontando para a importância de uma escola à altura de seu tempo, trazendo para si a responsabilidade de investigar as questões postas pela sociedade.

Diante das mudanças visíveis nas sociedades contemporâneas levanta-se razões para que se busque uma transformação curricular, diante dos paradigmas que privilegiam o desenvolvimento de novas competências.

Em termos de mudanças, destaca-se a necessidade de encaminhar pela via da ação pedagógica, uma recuperação do sentido de totalidade, ou seja, um currículo multidisciplinar com visão fragmentada e deformada do mundo, para um currículo interdisciplinar onde as informações, percepçõese conceitos compõem uma totalidade.

Assim, são levantadas algumas concepções e reflexões sobre a prática interdisciplinar, trazendo à tona possíveis metodologias para o desenvolvimento da mesma, procurando-se caracterizar a atitude interdisciplinar, questionando os obstáculos e possibilidades para a sua aplicação.

Uma possibilidade de resposta à questão da interdisciplinaridade, consiste em explicitar a necessidade de interdependência entre os diversos campos de conhecimento, apontando algumas características fundamentais para que ocorra uma verdadeiratransformação curricular, a qual envolve, desde mudanças de atitude, novas metodologias e procedimentos, passando pelos grandes agentesda mudança : os educadores.

I – Currículo : perspectivas atuais

À medida que o currículo transformou-se em objeto de estudos e críticas mais aprofundados, alguns aspectos importantes da relação escola/sociedade adquiriram relevo. Passou-se a compreender o caráter eminentemente político da ação da escola, os vínculos entre educação, currículo e sociedade em suas dimensões históricas por natureza e, portanto, contraditórias; a educação e a escola como processo que viabilizam interesses sociais de grupos hegemônicos.

O currículo se define hoje como instrumento de compreensão do mundo. Basta um breve estudo sobre o que tem sido escrito a respeito deste termo para se perceber que existem diferentes maneiras de compreendê-lo.

De uma concepção tecnicista e reducionista de currículo – associada comumente a listagens de conteúdos tidos como universais e indispensáveis para serem ensinados nas diferentes disciplinas – até a sua percepção como prática social cotidiana que produz significados e dá sentido ao mundo, existe uma distância semântica enorme, tradutora de diferentes olhares e perspectivas sobre a temática curricular.

O currículo está associado à técnica, ao planejamento do que deve ser ensinado, às inúmeras diretrizes e documentos oficiais, ou pensá-lo a partir da ampliação do campo conceptual e articulá-lo a outros conceitos com a cultura, representação, poder ou identidade, são posturas e escolhas cujas implicações políticas e pedagógicas são bem diferentes.(silva, 1995, p.18 )

Tanto as técnicas, como o planejamento, as diretrizes e documentos oficiais ligados ao currículo traduzem a própria compreensão do significado de escola e das relações que esta instituição estabelece com a sociedade, na qual está inserida.

Segundo o mesmo autor, as tendências mais atuais do campo do currículo são no sentido de privilegiar a inserção deste termo em uma rede conceptual mais ampla e complexa sem, no entanto, perder de vista a especificidade do espaço no qual ele é pensado e produzido.

O conhecimento esse produzido num espaço social com funções sociais formativas e normativas, precisa ser devidamente considerado. Assumir a não neutralidade dos conteúdos escolares e suas implicações político-pedagógicas e culturais não autoriza, no entanto, cair em um relativismo radical que permite afirmar que qualquer saber ou valor ético-cultural pode e deve ser ensinado nas escolas. ( moreira,1995, p. 28)

Não se trata de negar a necessidade de selecionar os conteúdos escolares, mas sim de explicitar os critérios desta seleção de forma consciente e em sintonia com o projeto de escola e de sociedade no qual se acredita e pelo qual se luta. A experiênciaescolar deveencaminhar para uma compreensãocrítica e construtiva da realidade, ou seja, o conhecimento só faz sentido , em última instância, quando contribui para a transformação da sociedade.

Nesse sentido Coll ( 2003, p. 45),afirmaqueenquanto projeto, o currículo é um guia para os encarregados de seu desenvolvimento, um instrumento útil para orientar a prática pedagógica, uma ajuda para o professor."Sendo assim cabe interrogar-nos sobre as funções que ele deve desempenhar. Baseado nessas funções, não pode limitar-se a enunciar uma série de intenções, princípios e orientações gerais que sejam de escassa ou nula ajuda para os professores. O currículo deve levar em conta as condições reais nas quais o projeto vai ser realizado, situando-se justamente entre as intenções, princípios, orientações gerais, a prática pedagógica e a sociedade que ele irá atender. A partir dessa compreensão, pode-se dizer que o currículo imprime uma identidade à escola e aos que dela participam. Permite, ainda perceber que o conhecimento trabalhado no ambiente escolar extrapola os limites de seus muros, uma vez que impulsiona o movimento dialético de (re) criação de um conhecimento escolarparaa sociedade , mediantea açãodos que compartilham a vida escolar, apropriando –se dos conhecimentos sociais.

Nesta perspectiva, o currículo tem necessidade de encaminhar, através da ação pedagógica, uma recuperação do sentido de totalidade, ou seja, um todo estruturado, no qual fatos de qualquer natureza possam ser racionalmente compreendidos. Entram em questão os processos de inovação curricular como a interdisciplinaridade e a contextualização.

Discutir o currículo é, portanto, debater uma perspectiva de mundo, de sociedade e de ser humano. Um debate que não se reduz a uma visão tradicional de mudanças de conteúdos escolares. Sacristán (2000, p.26 ) remete à importante reflexão de que "o currículojá é por si o resultado de decisões que obedecem a fatores determinantes diversos: culturais, econômicos políticos e pedagógicos ." Nessa visão sua realização posterior ocorre em um contexto prático no qual se realizam tipos de práticas pedagógicas muito diversas sendo estas a condensação da função social e cultural da instituição escolar.

Isso significa, compreender que o currículo escolar traduz marcas impressas de uma cultura nem sempre visíveis, mas que estão latentes nas relações sociais de uma época.

Por tudo isso, currículo é ação, é trajetória, é caminho que se constitui para cada grupo, em cada realidade escolar, de forma diferenciada. É, portanto, um processodinâmico, mutante , sujeito a inúmeras influências.

O currículo é utilizado por diferentes sociedades tanto para desenvolver os processos de conservação, transformação e renovação dos conhecimentos historicamente acumulados como,para socializar as crianças e os jovens segundo valores tidos como desejáveis.( moreira, 2005,p. 11 )

Pode-se afirmar que o currículo é formado não só pelas oportunidades, no sentido de ampliar sua visão de mundo. Sob esta perspectiva, ele é sempre uma construção social, uma prática que revela seu compromisso com os indivíduos, a história, a sociedade e a cultura.

Não é preciso ir longe para saber que as experiências escolares mudam as pessoas e que as pessoas são capazes de mudar o mundo. O currículo escolar se constitui e se institui no conflitante campo de debates que intenciona compreender os diversos "fazeres" e "pensares" que repercutem no interior da escola. Os estudos curriculares representam um poderoso artefato para o movimento de observação, reflexão e intervenção na dinâmica escolar.

A exigência interdisciplinar que a educação indica reveste-se sobretudo de aspectos pluridisciplinares e transdisciplinares que permitirão novas formas de cooperação, principalmente o caminho no sentido de um policompetência. ( fazenda,2003 p.12 )

É notório que a maioria das sociedades contemporâneas está passando por rápidas mudanças que representam um grande desafio, sob vários perspectivas. Surge, no mundo do trabalho, um novo paradigma que privilegia o desenvolvimento de competências ligadas ao raciocínio lógico, à capacidade de iniciativa, de cooperação e de autonomia. Nesse aspecto a LDB em seu Art. 22, norteia que a educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.

Sendo assim, a educação torna-se base fundamental do desenvolvimento econômico emergente. Mudam-se as relações sociais, as de trabalho, e a educação precisa ser transformada. Diante das novas exigências da sociedade moderna, a ação educativa precisa ser redimensionada dentro do cenário político-econômico e do própriodiscursoeducacional, pois ambos repercutem na organização do trabalho escolar.

II – Interdisciplinaridade – concepçõese reflexões sobre a prática

Percebe-se então, que o conceito de interdisciplinaridade vem se desenvolvendo também nas ciências da educação. A interdisciplinaridade é uma forma de pensar. Piaget sustentava que a interdisciplinaridade seria uma forma de se chegar a transdisciplinaridade, etapa que não ficaria na interação e reciprocidade entre as ciências, mas alcançaria um estágio onde não haveria mais fronteiras entre as disciplinas.

A interdisciplinaridade surgiu no final do século passado, pela necessidade de dar uma resposta à fragmentação causada por uma epistemologia de cunho positivista. As ciências haviam se dividido em muitas disciplinas e a interdisciplinaridade restabelecia, pelo menos, um diálogo entre elas, embora não resgatasse ainda a unidade e a totalidade do saber.( fazenda,2003,p.110 )

No Brasil, vários educadores têm se interessado pelo tema, principalmente a partir das colocações de Hilton Japiassu em Interdisciplinaridade e categoria do saber, sem contudo ocorrer o aprofundamento e a abrangência que um estudodessa natureza requer.

De acordo com os PCNs ( Parâmetros Curriculares Nacionais ), ficamais claroquando se considera o fato trivial de que todo conhecimento mantém um diálogo permanente com outros conhecimentos, que podem ser de questionamento, de confirmação, de complementação, de negação, de ampliação, de iluminaçãode aspectos não distinguidos.

A interdisciplinaridade visa garantir a construção de um conhecimentoglobalizante, rompendo as fronteirasdas disciplinas. Para isso, integrar conteúdos não seria suficiente. Seria preciso uma atitude e postura intersdisciplinar. Atitude de busca, envolvimento, compromisso, reciprocidade diante do conhecimento interdisciplinar.

Normalmente, professores e educadores em geral expressam sua compreensão a partir de uma leitura imediata e linear do próprio termo interdisciplinaridade, reduzindo-o a uma prática de cruzamento de disciplinas, ou melhor, de partes dos conteúdos disciplinares, que eventualmente ofereçam pontos de contato nas atividades letivas. ( cascino, 2000, p. 67 )

Segundo o mesmo autor, nesse caso, tem–se que as práticas ditas interdisciplinares aconteçam, geralmente, com professores cujas disciplinas possuem a priori afinidades, ou que "coincidam" na organização dos horários de aulas,facilitando a "integração" das mesmas disciplinas.

A imagem de "encontro" de partes do conteúdo que se "parecem" revela a existência de uma representação da interdisciplinaridade bastante precária. Integrar matérias e / ou conteúdos aos pares, aos trios de "matéria", como geralmente ocorre nas escolas, indica a precariedade da reflexão sobre esse conceito-chave para a reconstrução da idéia de educação.

A ação interdisciplinar deverá estabelecer a relação do "ser-no-outro", aí estaria o ponto de partida para o processo interdisciplinar, a construção de dialogar estruturadosnas diferenças, abraçando a riqueza derivada da diversidade.

As novas posições de educação requererão a conjugação de outros esquemas teórico-didáticos que poderão eventualmente contribuir para as construções interdisciplinares, baseadas em superações, reformulações, no olhar atento, na magia das práticas.

Nesse sentido, as aprendizagens do conhecer, do fazer e do ser conduziriam a uma proposta de aprendizagem em convivência com situações novas, onde a produção do conhecimento superaria o acúmulo de informações.

A interdisciplinaridade supõe três condições elementares: trabalhar em um mesmo objeto de pesquisa, combinar as linhas metodológicas, definindo uma problemática comum, e recorrer a conceitos teóricos transversais, estratégias científicas, trazendo informações úteis à compreensão dos problemas estudados, ou seja, trabalharcom base em projetos. ( silva, 2005, p.27 )

Entende-se que no campo de um projeto, o educador poderá articular seu projeto pessoal, existencial, ao projeto global da sociedade na qual se encontra. O projetoviabiliza a instauração de um universo de relações sociais onde se desenvolvem as condições da cidadania e da democracia, entendidas como dois referenciaisdos seres humanos numa realidade histórica.

Nos projetos educacionais a interdisciplinaridade se baseia em alguns princípios como a noção de tempo, a relação direta e pessoal com a aquisição do saber, o projeto de vida, o significado do conteúdo e nas metodologias de trabalho.

III – Interdisciplinaridade – obstáculos e possibilidades

Fazenda ( 1999, p. 17 ),diz que " o que caracterizaa atitude interdisciplinar é a ousadia da busca, da pesquisa : é a transformação da insegurança num exercício do pensar , num construir".

Segundo a mesma autora, várias barreiras de ordem material, pessoal, institucional poderão ser transpostas pelo desejo de inovar, de criar, de ir além para superar barreiras e dificuldades institucionais e pessoais. A solidão que caracteriza o pensar interdisciplinar pode diluir-se na troca, no diálogo, no aceitar o pensar do outro.

Partindo da constatação de que no ensino, os conhecimentos são organizados em função das disciplinas, e de que estas são um meio cômodo de dividir os conhecimentos e partes sobre as quais são organizadas experiências de ensino e pesquisa, corre–se o risco de certas disciplinas ocuparem o centro, posicionando-se frente às demais para assegurar seu lugar na instituição escolar e a manutenção de seu poder. Para superar esse obstáculo, a instituição não poderia reforçar o capitalismo epistemológico de determinadas disciplinas, pois ao permitir isso estaria bloqueando a possibilidade de comunicação com o restante do espaço mental, portanto limitando sua própria possibilidade de crescer.

Certos educadores, entretanto, vêm utilizando–se desse termo sem pensar no seu significado mais profundo se referindo ao fato de que, quando o projeto existe os educadores que irão executá-lo muitas vezes desconhecem o real significado do mesmo, ou seja, são movimentos de "cima para baixo". (fazenda, 1999, p.30 )

O desconhecimento, o não envolvimento acarreta nos educadores certo medo de perder prestígio, medo de ver seu saber dividido entre outros e medo de perder seu lugar na instituição. Uma das formas de superar essa situação seria uma redefinição das diretrizes centrais da instituição, envolvendo os educadores na proposta de interdisciplinaridade, prestigiando seu trabalho e valorizando-o.

O obstáculo seguinte estaria na metodologia de trabalho, na escolha das etapas a serem atingidas, nas condições de trabalho dos componentes da equipe, o estabelecimento de regras iniciais e na redefinição da proposta a cada etapa vencida.

Outro obstáculo refere-se a uma questão maior: formação do educador.A resposta a ela é um somatório de questões:

Fazenda ( 2003, p.174 ) , diz" a formação passa sempre pela mobilização de vários tipos de saber:saberesde uma prática reflexiva, saberes de uma teoria especializada, saberes de uma militância pedagógica ."

Poderá o educador engajar-se num trabalho interdisciplinar, sendo sua formação fragmentada? Existem condições para o educador entender como o aluno aprende, se não lhe foi reservado espaço para perceber como ocorre sua própria aprendizagem? Que condições terá para trocar com outras disciplinas, se ainda não dominouo conteúdoespecífico da sua ? Poderá entender, esperar, dizer, criar e imaginar se não foi educado para isso? Buscará a transformação social se ainda não iniciou o processo de transformação pessoal?

Os estudos apontam que somente na troca, numa atitude conjunta entre educadores e educandos, visando um conhecer maior e melhor, que a interdisciplinaridade no ensino ocorrerá como meio de conseguir uma melhor formação geral, como meio de atingir uma formação de pesquisadores e pesquisa, como condição para uma educação perenemente, como superação da dicotomia ensino/pesquisa e comoforma de compreendere modificar o mundo.

Saviani ( 2003, p. 53 ),argumenta que" a interdisciplinaridade é, acima de tudo processo de co-participação, diálogo, que caracterizam a integração não apenas das disciplinas mas de todos os envolvidos no processo educativo."

No entanto, se o objetivo dessa troca for apenas integração dos conteúdos e dos programas das disciplinas, sem um questionamento de problemas relativos a clientela, à comunidade, aos recursos humanos, materiais e tecnológicos, visando uma mudança social, a interdisciplinaridade pode resultar apenas numa rotulação para velhos problemas.

A ação pedagógica, através da interdisciplinaridade, aponta para a construção de uma escola participativa e decisiva na formação do sujeito social.

Uma interdisciplinaridade no ensino com vistas a novos questionamentos e buscas supõe uma mudança de atitude no compreender e entendero conhecimento, uma troca em que todos saem ganhando: alunos, professores e a própria instituição.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar o atual modelo de currículo e evidenciar uma nova proposta sobre o mesmo é preciso considerar que um dos grandes problemas da transformação curricular é o fato da escola ser uma das instituições sociais resistentes a mudanças.

É evidente, através dos estudos, que modelo multidisciplinar presente na escola, ainda hoje, desconsidera as características e necessidades do desenvolvimento cognitivo do aluno, dificultando a percepção da inteireza do saber e do ser humano, impossibilitando a visão da totalidade.

Quando se coloca a questão da interdisciplinaridade, pensa-se logo num processo integrador, articulado, orgânico, de tal modo que, em que pesem as diferenças de formas, de meios, as atividades desenvolvidas levam ao mesmo fim. Sempre uma articulação entre a totalidade e unidade. (fazenda, 2003, p.42 ).

Quanto mais se acelera a produção do saber, mais se faz necessário garantir que não se perca a visão do todo. Mas, na prática, o que vemos acontecer é a simples coordenação de matérias, garantindo-se assim, a integração vertical.

O novo modelo curricular, de base interdisciplinar exige uma nova visão de escola criativa, ousada e com um nova concepção onde não haja divisão do divisão dosaber.

Num currículo multidisciplinar os alunos recebem informações incompletas e têm uma visão fragmentada e deformada do mundo. Num currículo interdisciplinar as informações, as percepções e os conceitos compõem uma totalidade de significação completa e o mundo já não é visto como um quebra-cabeça desmontado.

A idéia de um currículo interdisciplinar, mesmo sendo muito sido discutida,comaintroduçãodos PCNs ( Parâmetros Curriculares Nacionais ), aindanãoalcançou a sala de aula ou o contextoescolar,de um modo geral. Há uma confusão em relação ao que seja a interdisciplinaridade. Ela ainda é vista apenas como a integração das disciplinas de conteúdo escolar e não como a superação dessas fronteiras através da criação de uma equipe interdisciplinar, em que as atitudes dos membros, ainda que representando sua respectiva área de conhecimento, colabore para o enriquecimento do grupo.

Avançar para um currículo interdisciplinar significa começar a pensar interdisciplinarmente, isto é, ver o todo, não pela simples somatória de que tudo sempreestá em tudo, tudo repercute em tudo,permitindo que o pensamento ocorra com base no diálogoentre as diversas áreas do saber.

Enquanto instituição social, a escola é sempre orientada pelo tipo de homem que deseja formar. Portanto, o século XXI exige um novo modelo de escola, pois fragmentando-se o conhecimento, fragmenta-se o próprio homem ( o aluno e o professor ) , que ficam então fragilizados e sãofacilmente dominados.

A rapidez das mudanças em todos os setores da sociedade atual, o acúmulo de conhecimentos, as novas exigências do mercado de trabalho, têm apontado para a necessidade de uma revisão didático-pedagógica no processo de educação escolar.

Essa nova concepção de ensino e de currículo, baseada na interdependênciaentre os diversos campos do conhecimento, deve realmente superar o modelo fragmentado e compartimentadoda estruturacurricular fundamentada no isolamento dos conteúdos.

Considerar as razões psicopedagógicas, pensar o conhecimento e o currículocomo uma rede de significações e a escola como lugar não apenas de transmissão do saber, mas também de sua construçãocoletiva é de suma importância.

Conclui-se que o grande passo rumo à nova proposta é a mudança do paradigma de escola e da postura dos professores. A função da escola já não é integrar as novas gerações ao tipo de sociedade pré-existente, mas tem como objetivo oferecerao educando uma idéia integrada da vida e das relações dos seres vivos entre si ea natureza, pois o mundo não está dividido em física, química ou biologia.

É preciso rever o funcionamento da escola não só quanto a conteúdos, metodologias e atividades, mas quanto à maneira de tratar o aluno e comportamentos que deve estimular: auto-expressão, auto-valorização, co-responsabilidade, curiosidade e autonomia na construção do conhecimento. Entre outros, somados a uma administração e metodologia participativa.

É necessário que se dê atenção ao estágio em que o corpo docente de uma escola se encontra, em relação ao processo interdisciplinar, e motiva-lo a expressar e discutir em conjunto os problemas principais do ensino e seus esforços, sob a ótica da elaboração globalizadora do conhecimento. ( luck, 1994, p.34 )

Uma prática interdisciplinar exige mudanças de atitude, procedimento, postura por parte dos educadores, dentre elas: historicizar e contextualizar os conteúdos, valorizar o trabalho em parceria, desenvolver a atitude de busca, pesquisa, trabalhar com pedagogia de projetos, definir base teórica, dinamizar a coordenação de área e resgatar o sentido humano, o mais profundo e significativo eixo da interdisciplinaridade – perguntando-se a todo momentoem que tal conteúdocontribui para queos alunos se tornem mais humanos,realizando–se, assim, a proposta da interdisciplinaridade.Porém, não se pode ignorar sobre as atuais condições dos trabalhadores da educação e suas preocupações com as questões comuns do cotidiano escolar.

REFERÊNCIAS

Brasil Leinº 9.394-20 dez . 1996.Estabelece as Diretrizes e Baseada Educação Nacional.

Cascino,Fábio. Educação ambiental –princípios, história e formação de professores.

São Paulo: Editora SENAC, 2000.

Coll, César. Psicologia e currículo. São Paulo: Ática, 2003.

Fazenda, IvaniC.A .Didática e interdisciplinaridade.Campinas:Papirus, 2003.

_________ .(org.) .Práticas interdisciplinares na escola.SãoPaulo:Cortez, 1999.

luck,Heloisa.Pedagogia interdisciplinar: fundamentos teóricos metodológicos.

Petrópolis: Editora Vozes, 1994.

ministério daeducação.Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio. Brasília: 1999.

moreira,A. F. ( org. ) Currículo: políticas e práticas. Campinas: Papirus, 2003.

saviani,Nereide . Saber escolar,currículo e didática.Campinas:Editora Autores Associados, 2003.

silva , Marta C. O ambiente – uma urgência interdisciplinar.Campinas: Papirus, 2005.

silva, T.T.Documentosdeidentidade – uma introdução às teorias do currículo. Belo

Horizonte: Autêntica, 2000.

sacristám, J. OCurrículo – uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 2000


Autor: Vera Nilse Pereira


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