Estupra, mas não mata



Que arcaísmo... Médicos serem excomungados em pleno século XXI. Parece que a Igreja Católica não evoluiu, continua ancorada em preceitos inquisitórios. Pobre mentalidade. O que faz tanta devoção! Deixa-nos alienados, distantes da razão e porque não justificar com a emoção...

Era uma vida que estava em jogo: a da menina de nove anos que foi vítima da violência sexual em sua própria residência, estuprada seria a palavra correta (para que tanto eufemismo?). E se não bastasse tamanho constrangimento, aliado a uma dor que nasce da alma e perambula pelos pontos físicos afetados, a menina acabou gerando dois filhos, gêmeos aos nove anos de vida, nem completara uma década. A ciência pesquisou, avaliou e concluiu que a garota não tinha condições de continuar carregando em seu ventre aquelas crianças, portanto fez-se o aborto. Errado? Na concepção católica cristã, sim! Aqui não julgamos por peso, ou seja, se a vida da mãe valeria mais ou dos filhos que estavam no começo de sua evolução. Prezo pela vida daqueles que aqui já estão. Será que uma menina de nove anos teria condições de ter dois filhos, carregá-los ao longo de nove meses? O útero de uma menina nessa idade é capaz dessa proeza? Não duvido da capacidade humana, mas esta situação era contra todos os princípios da situação humana e aqui não misturo o lado religioso (nem quero), falo do ser humano.

A garota foi vítima, e uma vítima indefesa, sofreu abusos dentro de casa. Aquele que era para ser o sucessor de seu pai, o homem que sua mãe escolheu para viver ao seu lado, que deveria dar-lhe proteção, foi quem acabou eliminando sua proteção, acabou com sua virgindade. Problemas psicológicos afetarão a vida dessa garota, a vida encarregar-se-á de apagá-los, mas seus parentes terão que serem fortes, ajudando-a a desfazer-se desse fardo que agora tornou-se maior, pois a Igreja acredita que o estupro é menos violento que o aborto. Isso me faz lembrar o inesquecível e polêmico Paulo Maluf em seus discursos ditatoriais, uma espécie de Inquisição da Ditadura Militar: "estupra, mas não mata". Que a Igreja possa se conscientizar e os médicos não se importarem com tanta falta de sensibilidade com a vida.


Autor: Sergio Sant'Anna


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