O desvalor das palavras



No furacão das transformações as palavras perdem seu valor.

Não digo isso como reclamação, nem como apologia da tradição. Apenas como constatação. Como disse a raposa, ao princepezinho: "as palavras são uma fonte de mal entendidos". Ou, como disse Belchior, são navalhas que ferem. Sempre ferem! Podem agradar a alguns, mas não a todos. E se não agradam a todos é porque desagradam a alguns, pois agem como a navalha: cortam! Em "eu sou apenas um rapaz latino-americano", canta:

"Não me peça que lhe faça uma canção como se deve

Correta, branca, suave, muito limpa, muito leve

Sons, palavras, são navalhas e eu não posso cantar como convém

Sem querer ferir ninguém

Mas não se preocupe meu amigo com os horrores que eu lhe digo

Isso é somente uma canção, a vida, a vida realmente é diferente

Quer dizer, a vida é muito pior"

Vamos comprovar o que estou dizendo. Você, com certeza, já utilizou inúmeras vezes a palavra:"Duvidar". Mas já atentou para seu significado etimológico e original?

Creio que a maioria das pessoas, diante da palavra dúvida pensa em incerteza. Entretanto, quando falamos em "dúvida" não estamos falando de incerteza, que é o contrário de certeza, é negação. A dúvida é a abertura para possibilidades!

Duvidar é uma palavra composta: "Du"= duas; "vidar"= vias. Duas vias, duas vidas. Quem duvida se defronta com uma situação em que deve optar entre duas vias, fazer uma opção entre duas possibilidades, duas vidas. Defrontar-se com a necessidade ou ter que optar entre duas possibilidades de vida é porque se tem liberdade. Podemos dizer, portanto, que um das pressupostos da dúvida é a liberdade. Só quem é livre pode optar.

Uma das conseqüências da dúvida, ou uma de suas alternativas, ou ainda, uma idéia oposta à dúvida é "Acreditar"

Quem duvida, não acredita. Ou quem duvida é porque tem algo diferente em que acreditar. E o que significa acreditar? A+Creditar?

Lembremo-nos da música do Gonzaquinha:

"Eu acredito é na rapaziada que segue em frente e segura o rojão

Eu ponho fé é na fé da moçada, que não foge da fera e enfrenta o leão

Eu vou à luta é com essa juventude que não corre da raia a troco de nada

Eu vou no bloco dessa mocidade que não tá na saudade

E constrói a manhã desejada..."

A palavra "Acreditar" vem de "a" mais "crédito" que, em sua origem significa empréstimo. Quem acredita dá crédito e passa a ser "fiador"; e quem "fia" é porque deposita fé naquele em quem acredita. Acreditar é um ato de fé em alguma possibilidade. Quem acredita, é porque já superou a dúvida e tem crédito.

Você deve estar se perguntando o porquê de estarmos falando sobre o significado das palavras. Deve estar se perguntando porque falamos, no título, em "desvalor" das palavras.

Ocorre que de quatro em quatro anos, milhares de prefeitos e vereadores assumiram seus cargos. Foram empossados. E receberam a posse porque antes haviam recebido votos que lhes conferiu um poder. Lembrando que o voto é uma transferência de poder: quem vota delega seus poderes a outro que o exercerá em nome de quem o elegeu.

Então vejamos: vereador, em latim, significa aquele que vereia, anda pela vereda. Lembrando que vereda é via, caminho, trilha... Portanto o vereador, ao receber os poderes das pessoas e sendo o que anda pela vereda, tem uma função dinâmica. Além disso, as pessoas, para votar, partiram de uma dúvida optaram e, portanto, acreditaram. Por ser merecedor de fé e o por trafegar nas veredas, conduz as expectativas dos que nele acreditaram.

Algo semelhante ocorre com o prefeito, em latim, praefectu. Prae= pré; fectu= fato, execução, realização. Portanto o prefeito é o homem que é colocado, pelos eleitores, à frente (pré) desses eleitores, para, em nome deles executar aquilo que é do interesse público; ou, pelo menos, do público que o elegeu. Lembre-se que o prefeito é o chefe do "executivo".

Assim, o vereador é quem, caminhando nas trilhas, ajuda aquele que foi colocado à frente (prefeito=executor), a encontrar o direcionamento e o melhor caminho por onde conduzir aqueles que superaram a Du+vida (duas vidas) e neles a+cre+ditaram (deram crédito) e com+fiaram (foram fiadores) pelo voto. Mas se persistirem dúvidas por parte do que anda pela vereda ou do que é colocado à frente, ou ainda dos que confiaram, sobram duas opções: pedir ajuda ao avaliador, depurador (o deputado) ou à sabedoria acumulada pelos anos daquele que é o mais idoso, o ancião (senil=senador). O senior com a experiência, o depurador, com o tino avaliativo, se juntam ao viandante e ao que é colocado à frente para, juntos fazerem algo de bom para aqueles que são os fiadores de todos: os eleitores.

Pena que isso só fique bonito na etimologia, pois na prática muitos desses que recebem voto para "senatore" viram safados; os depuradores fazem "putaria"; os que veream aprontam viadagens e os praefectus não fazem efeito nenhum. Antes, pelo contrário, se juntam para executar obras nefastas contra aqueles que neles depositaram fé. Por isso há tanto des-crédito e des-confiança em relação aos políticos (poli=diversidade; ethos=costumes, ética), que deveriam ser os melhores da população e para a população.

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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Autor: NERI P. CARNEIRO


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