DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO DA FILOSOFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL



Embora a Filosofia não esteja inserida em muitas escolas do País, a disciplina é obrigatória em grande parte dos Estados, porém há vários interesses para sua aplicação, sendo esta encarada como uma "estratégia de ensino" conteudistas e meramente classificatória, visando apenas à preparação para o vestibular. Nesse caso, o interesse pelo ensino da Filosofia parte de uma visão "enciclopédica" contrária ao próprio objetivo da disciplina quanto ao estabelecimento de uma prática educativa baseada na construção de um programa que envolva os diversos campos do conhecimento científico presentes na escola através de uma visão inter e transdisciplinar da realidade.

Além disso, vale ressaltar que a Filosofia tem sido vista por muitos professores como um "modismo educacional" nos quais várias escolas utilizam a disciplina como uma "propaganda institucional" ou "mercadológica" para atrair a clientela escolar. Nesse sentido, faz-se necessário que antes da implantação da Filosofia na escola esta leve em consideração os seus principais aspectos educacionais quanto ao desenvolvimento de determinadas habilidades favoráveis à construção de um ambiente propício a um pensar mais detido e criterioso, à criatividade, ao preparo para o exercício consciente da cidadania, bem como à aquisição da autonomia.

Apesar dos bons resultados obtidos pelo Centro de Filosofia Educação para o Pensar (Florianópolis-SC) percebe-se que a ausência de objetivos claros e criteriosos para o ensino da Filosofia evidencia certa defasagem na formação filosófica gerando uma repulsa por grande parte de alunos e professores. Daí a importância de planejamentos contínuos que prevêem uma prática que visa estimular o interesse dos alunos em trabalhar com temas que estão cada vez mais presentes na vida deles, como: violência, competição, egoísmo e individualismo, despertando a atenção dos mesmos na construção de diferentes interpretações e comparações com a realidade.

Despreparo da escola: a exigência de professores qualificados

Ao contrário do significativo trabalhado de instituições como o Centro de Filosofia: Educação para o Pensar – SC no suporte didático-pedagógico e assessoria filosófica às escolas que aderem ao Programa Filosofia com Crianças, Adolescentes e Jovens, é possível identificar o descaso e despreparo de inúmeras escolas para o ensino da Filosofia, incluindo a falta de qualificação profissional de educadores. Além disso, nota-se atualmente uma grande carência de profissionais habilitados para assumir as vagas existentes, uma vez que para atuar nessa área é necessário ter uma formação específica em Filosofia, curso de Pós-Graduação voltado ao ensino de capacitação relacionada à área. O ingresso na docência de Filosofia exige o título de Licenciado, apesar de professores não graduados na área lecionarem a disciplina. Nas escolas de rede particular não se exige concurso, mas há, em algumas delas, um criterioso processo de seleção por meio de entrevistas, análise de currículo e aula para avaliar o desempenho. Na escola pública, o ensino da Filosofia depende de Concurso Público para efetivação do cargo, porém poucas vagas são oferecidas, sendo que dificilmente ocorre. O último concurso para professores de Filosofia para o Ensino Fundamental foi em março de 2008, porém pequena parte dos aprovados foi convocada.

Para a Educação Infantil e nas séries iniciais a disciplina é ministrada pelo próprio professor titular, pois um Curso de Licenciatura em Filosofia não capacita educadores para trabalhar com crianças até o quarto e quinto ano. Para isso, é viável que os Cursos voltados para a Educação Infantil e séries iniciais contribuam para a formação filosófica com crianças; é muito comum professores graduados em Pedagogia trabalhar com Filosofia no Ensino Fundamental.

Há ainda um reduzido número de suporte didático que estimule um trabalho crítico-reflexivo sobre a Filosofia, e, o uso de livros inadequados ao nível de ensino, tem sido um ponto negativo.

A pioneira no oferecimento de estudos de Capacitação ou Especialização para professores de Filosofia foi a Faculdade de Educação da Universidade de Brasília que deu oportunidade para que outras tomassem a mesma iniciativa.

A Resistência dos professores do Ensino Fundamental à postura inovadora

Pelos inúmeros trabalhos relacionados à filosofia para crianças, essa resistência se manifesta pela indiferença ao projeto e na crítica às atividades realizadas nas escolas devido à grande agitação dos alunos durante as discussões. Segundo a coordenadora Marcélia Sugi (apud MARTINO, 2006, p. 42) "a resistência dos professores era por não conhecer a proposta e pela idéia pré-formada de que Filosofia não é para crianças". Entretanto, pelos inúmeros trabalhos relacionados à filosofia para crianças, essa resistência se manifesta pela indiferença ao projeto e na crítica às atividades realizadas nas escolas devido à grande agitação dos alunos durante as discussões.

Constata-se, portanto, que tal resistência representa, na verdade, uma das grandes dificuldades enfrentadas pela escola atual em aceitar e acompanhar o grande processo de transformação pela qual a sociedade globalizada passa constantemente. Inovar é o grande foco educacional que contempla uma postura de mudança, tanto por parte de quem educa, como por parte dos educandos, caracterizada como um ponto crucial para tornar a educação mais democrática e progressista, onde se valoriza a criança, o adolescente, enfim, como sujeitos de sua própria aprendizagem, além de oferecer espaço para que possam agir e pensar por si mesmos.

Há, pois, uma constatação: os alunos, muitas vezes, se deparam na escola com um ensino de Filosofia mecanizado, apresentado por meio de teorias que privilegiam o uso de 'decorebas', considerando um aprendizado descontextualizado e entediante, ou seja, um ensino desmotivado em que os alunos tendem a não participar durante as aulas, e não construir, então, suas compreensões.

Para tanto, saber inovar não significa por em prática uma teoria educacional, mesmo considerada transformadora, acreditando que por si só, revolucionará sua ação educativa em um verdadeiro "espetáculo". Faz-se necessário, que professores atentem ao real sentido da práxis que não se baseia em reproduzir conteúdos soltos, ao contrário, caracteriza-se pela autenticidade, subjetividade, criatividade, comprometimento, compromisso e profissionalismo do educador em atuar de forma competente em sala de aula, dinamizando suas aulas mediante o uso de atividades bem diversificadas que desperte o interesse e a concentração dos alunos.

Dessa forma, entende-se que a resistência dos professores é atribuída a fatores de natureza subjetiva, isto é, medo do novo e indisposição para assumir trabalho extra. Isso se deve ao fato de que a maioria dos professores, sobretudo de rede pública, amplia sua jornada de trabalho, tendo que se deslocar de uma escola a outra para compensar o baixo salário, não havendo tempo suficiente para planejar-se e preparar adequadamente as aulas que ministra.

A falta de reconhecimento da legitimidade e da importância da filosofia, parte do pressuposto de que a mesma tem sido encarada, não apenas como "inútil", mas como "maléfica" na medida em que tende a formar cidadãos mais críticos e investigadores, não mais "alienados", por conseguinte, capazes de superar o estabelecido, as "verdades" prontas, para fazer a ultrapassagem do que é visto como pragmático utilitário e lucrativo.


Autor: Leidiane Santos


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