ROMANÉE-CONTI



Vamos entender um pouco sobre esse vinho que, antes de tudo, é um símbolo de status e diferenciação.
O nome vem do vinhedo francês, localizado na região da Borgonha, comprado em 1760, pelo príncipe Louis François de Bourbon-Conti.
Segundo os enólogos, trata-se de uma bebida muito especial que, além de decolar o prestígio de raríssimas degustações, também movimenta índices na Bolsa Internacional de Valores, números fomentados pelo americano Robert Parker que cuida das recomendações do setor, através do seu “programa dos cem pontos”. Apesar de todo frisson em torno das limitadas 5.500 garrafas anuais, escassez que também serve de alavanca para fama, Aubert de Villaine, responsável pela vinícola, desaprova os preços exorbitantes.
Romanée-Conti possui a máxima certificação francesa que o classifica como um Grand Cru, garantindo sua origem controlada. Para se conseguir uma única garrafa a partir da fonte, é preciso comprar a caixa com 12 excelentes rótulos, onde, apenas um, trará a procurada assinatura. A uva que produz esse objeto do desejo é do tipo pinot noir, plantada em Vosne-Romanée na Côte de Nuits, proveniente de um autêntico terroir, pequeno solo personificado pela natureza, contendo características específicas, como temperatura, inclinação e drenagem perfeitas para tal plantio. A colheita é tardia, absolutamente manual, transportada em caixas que não passam da altura de um único cacho para que nenhuma uva fique amassada. Sua finalização requer um mês de fermentação e mais 18 meses para o mínimo envelhecimento. Contudo, rezam as páginas invisíveis do terceiro livro de Baco, que só a partir dos 18 anos as garrafas atingem maturidade para serem celebradas, como se fossem belas ninfas mitológicas do imaginário grego.
O que eu acho mais engraçado são os termos declamados durante a apreciação de rótulos desconhecidos. Dentre tantos, dizem que o vinho oferece toques de menta, promove o aveludamento da língua, evoca chocolate, traz a complexidade, exala carvalho, presença de sais de ferro, frutas vermelhas, nuances de sedução, tanino mordente, status terral, paladar mineral etc. etc. etc. Caramba! Haja paladar animal, vegetal e até mineral!
Para quem não entende o porquê das cifras aumentarem a mítica em torno desse vinho, deixo um pequeno exemplo para pensarmos sobre o assunto, pelo menos, por alguns minutos. Pasmem, porém, uma única garrafa da safra de 1985, chegou a ser vendida por 23 mil euros – mais de 70 mil reais –, em Nova York. Mas, como seus apreciadores não ficam lambendo moedas, o comprador aproveitou para levar 6 garrafas de uma vez, já que o preço estava bom! Como assim, bom?
Aqui no Brasil, poucas pessoas têm acesso ao néctar de Bourgogne. Dois nomes lembrados pelo próprio Aubert de Villaine, durante entrevista à VEJA, foram, Paulo Maluf, seguido da pergunta: “Ele está preso, não?”, e o nome do connaisseur de Caetés, presidente Lula, diligente consumidor. Quem diria! Das cabaças de Garanhuns para abundantes rolhas de Romanée-Conti que, em jantares brasilienses, acompanhadas de um bom lagostim, fazem o felizardo "pagar" 12 mil reais por cada taça. Um brinde ao presidente! Um brinde à França! Um brinde a Caetés!

Autor: José Neto Pandorgga

Autor: Jose Neto Pandorgga


Artigos Relacionados


Grande Índio

Sobre A Crise

O Amor

Da Poética Libertadora

Engenharia Clínica: Um Passo Rumo à Acreditação Hospitalar

Mudanças Na Ortografia Da Língua Portuguesa A Partir De Janeiro 2008

Educação Física E Qualidade De Vida