Alfabetização - Como Alfabetizar



COMO ALFABETIZAR

Manoel Carlos Silveira

A alfabetização é profundamente mal-entendida. Essa é uma conseqüência natural da duradoura tirania do "mito da alfabetização", o qual, juntamente com outros mitos sociais e culturais, tem tido, naturalmente, suficiente base na realidade social para poder assegurar sua disseminação e aceitação.

A má compreensão da alfabetização é tão verdadeira para o passado quanto para o presente; esses dois elementos, na verdade, não passam apenas de um, devemos reconhecer. E essa construção equivocada dos significados e contribuições da alfabetização, assim como as interessantes contradições que daí resultam, é não apenas um problema empírico e de demonstração, mas também uma falha de conceptualização e, ainda mais, de epistemologia. É aí que reside, na verdade, o maior e mais importante argumento.

Tal preocupação avassaladora com a alfabetização pode apenas aumentar as nossas suspeitas de que a importância de um alto nível universal de alfabetização é mal concebida. Ele é valorizado em excesso em parte porque as pessoas alfabetizadas, tais como os educadores, sabendo o valor de seu próprio trabalho, falham em reconhecer o valor do trabalho dos outros.

Se ele for competente em estimular os alunos, se repetir muito o que está ensinando e passar tarefas nas quais o aluno repise várias vezes o que está aprendendo, este acabará por fixar aquele conhecimento. Assimilado esse conteúdo, o professor passa para o outro. Assim, um pouco a cada dia, o aluno vai acumulando conhecimento. Vai aprendendo. Esta corrente de pensamento entende o conhecimento como cópia de um modelo e o aprendizado, como uma acumulação de conhecimento.

Como se constrói o conhecimento foi a pergunta que o pesquisador suíço Jean Piaget se colocou e foi o que ele mais estudou durante sua vida toda.

Isto talvez fique mais fácil de entender quando se pensa por exemplo, na situação de uma criança, que aprender andar não é simplesmente passar a fazer uma coisa que até então não fazia, mas algo que muda seu universo, sua relação com o mundo, a perspectiva da qual ela olha, a percepção que tem dos objetos.

Para o autor, o conceito de assimilação deve ser empregado para toda e qualquer forma de interação entre um organismo e seu meio. Sendo assim, a inteligência e os conhecimentos que derivam de instrumentos deinteração,servem para deles serem dotados, e para assimilar os elementos do meio.

Destaca o papel da interação ativa entre sujeito e objeto, quando explica que o sujeito assimila porque busca ativamente assimilar e que há acomodações não por atividade que resulta em acomodação.

No cotidiano escolar está presente a idéia de que a aprendizagem é sinônimo de repetição do que é ensinado. Tornando o erro sinônimo de fracasso, a escola faz o não saber a única possibilidade para a maioria. A significativa produção, da criança na busca de recursos para fazer da escrita instrumento de mediação entre ela e o mundo passa despercebida em sua positividade, não sendo notada ou valorizada pelo professor. Na escola não importa a concretude da escrita, o que se persegue é a perfeição da forma.

Assim, parafraseando a autora acima, percebemos que não compreendendo o movimento da criança, o professor age no sentido de "corrigi-lo", dificultando, e muitas vezes impedindo, que a criança construa conhecimentos em seu processo de aprendizagem/desenvolvimento. Interrompida em seu próprio processo e incapaz de compreender a lógica que lhe é composta, a criança não consegue chegar à escrita convencional, nem pela direção que lhe fora indicada por sua atividade mental, nem pelo caminho que lhe é apontada pela escola.

A partir dessa época, rompe-se com toda uma estrutura que já então era considerada ultrapassada. Muitos conflitos houve para a aceitação deste novo pensamento e, inclusive, podemos constatar na época, a grande resistência em aderir a Métodos Globais.

Naquela época já se constatava a necessidade de fundamentos de Psicologia, Lingüística e Sociologia. Diante disso, é de se espantar que ainda estejam sendo usados métodos totalmente defasados. Pode-se, inclusive, questionar: Por que, apesar de comprovada sua deficiência, ainda continua sendo desenvolvida em nossos dias? Por que as escolas submetem as crianças a seguir um caminho tão tortuoso, desvestido de qualquer atrativo?

Só as contribuições de Adams nos dariam inúmeros elementos para mudar os rumos da alfabetização. Porém as evoluções não pararam por aí.

Se esse processo é eficiente para aaquisiçãodafala, porquenãousaro mesmo na aprendizagem da leitura?

Frases escritas, traduzindo pensamentos, constituem o aspecto mais concreto de uma idéia expressa verbalmente.

Observando uma criança, podemos notar que frase procede de palavra, mas que, geralmente, a palavra empregada tem valor de uma frase inteira. Quando uma criança diz: "Mamãe", não quer dizer apenas, mamãe, mas talvez "Mamãe, euquero colo", ou ainda, "papá", eu quero "comer".

A criança na medida em que compreende a linguagem falada, traduz oralmente cada vez mais, com mais precisão e complexidade seu pensamento. Em relação à escrita, ocorre o mesmo processo, já que a criança tem desenvolvido sua capacidade de percepção e compreensão da linguagem.

a)o método visual da leitura;

b)emprego da sentença, da palavra concreta;

c)repetições numerosas, facilitadas pelo interesse e pelos jogos;

d)uma decomposição natural, pela criança;

e)leitura associada às diferentes noções dadas.

Para alfabetizar, é um enunciado óbvio afirmar que é preciso começar do simples para o composto; do concreto para o abstrato. Porém, o que se constata, é que a definição destes termos é encarada e trabalhada de maneira equivocada.

A frase, ou a palavra é o concreto, o simples e, as sílabas, letras ou sons, é o que constituem o abstrato, pois são desprovados de significado. A letra e o som são a última expressão do trabalho de análise feito pelo espírito humano. Simples e concreto é aquilo que para a criança tem significação àquilo que ela pode ver, ouvir, apalpar e falar sobre o objeto.


Autor: Manoel Silveira


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