Quanto vale uma vida em tempo de guerra?



Depois de longos e sofridos dias de guerra entre Israelenses e os Palestinos é bastante peculiar perguntar: a vida é ou não é o BEM mais precioso que existe? Pelos tratados internacionais, protetores dos direitos fundamentais, a vida está elencada como o BEM mais precioso em uma sociedade; em segundo lugar está a liberdade. As guerras são meios de conseguir "conquistar objetivos braçalmente" (a lei dos mais fortes: vence quem tem mais força). Guerra é uma forma de expressar a falta de diálogo e o império da arrogância, brutalidade e da irracionalidade humana. Através desta, perde-se vidas e liberdade; não há paz, saúde, nem tampouco razão.

A ONU como órgão superior e internacional, representante de todos os países, deveria exercer efetivamente o seu poder: intervindo nas negociações, ou até mesmo ordenando o cessar-fogo. Foi argüido pelo mesmo Órgão o cessar-fogo humanitário de dois dias, para que fosse possível retirar os civis da região, contudo, fora negado, mostrando uma ambiciosa e indomável rivalidade "santa" entre os povos que já perdura longos séculos e, por fim, um questionamento: qual a função da ONU?

Depois das guerras do Afeganistão e do Iraque, declaradas pelos Estados Unidos, ficou difícil dizer qual a função da ONU, pois em nada conseguiu impedir as guerras. Vê-se que é mais um órgão obsoleto e incapaz de alcançar a tão sonhada "paz". Pode-se dizer que se tornou simplesmente um órgão que vive na utopia de se conquistar um equilíbrio mundial e um veículo direcionado pelos mais fortes, na tentativa de alcançar os seus interesses. Poder de veto, por exemplo, pertence apenas a cinco países: Estados Unidos da América, Reino Unido, Federação Russa, Governo Popular da China e França.

A criação da ONU teve por fundamental o propósito de pacificar as relações internacionais e intervir fortemente em decisões objetivas e destinadas a manter a paz e a harmonia mundial. Como um dos maiores defensores da declaração dos Direitos Humanos a ONU deveria fazer valer o que inicialmente é exposto nesse texto maior: "Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultam em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum". Como guardiã da paz mundial, estes deveriam ser os propósitos a serem alcançados pela ONU.

Quando se impera a guerra e não o diálogo, não existe civilização e nem tampouco consciência. O homem deixa de ser racional e passa a agir por instinto, como animal. Ser homem é acreditar na razão, no diálogo e louvar a paz. Ao contrário disso é ser bárbaro-selvagem.

É importante citar Blaise Pascal para que se entenda a "lógica" humana, ou seja, como a sociedade sempre permite a vitória do mais forte: "É justo que seja obedecido o que é justo, e é necessário que se siga o mais forte. A justiça sem força é impotente; a força sem a justiça é tirânica. A justiça sem força é contestada, porque sempre existem malvados; a força sem a justiça é acusada. É preciso, pois, unir a justiça e a força; e, com esse fim, com que o justo seja forte, ou com que o forte seja justo.

A justiça é muito sujeita á disputa, a força se reconhece muito facilmente sem disputa. Por isso não se pôde dar força á justiça, porque a força contestou a justiça e sustentou que ela é que era justa. E assim, como não se podia fazer com que o justo fosse forte, fez-se com que o forte fosse justo."

Toda conquista tem preço e patrocínio moral; para Israel não poderia ser diferente: o preço é o massacre de muitos inocentes civis e de Israel carregar esta culpa. O patrocínio moral é o apoio dado "por debaixo dos panos" pelos Estados Unidos da América. Isso é o mesmo que deixar claro que não há interferência da ONU – coercitivamente - pelo motivo de os Estados Unidos apadrinharem Israel.

Não se sabe qual o verdadeiro valor da vida, ou, se pelo menos, "ela tem valor". No artigo 1º, da Declaração dos Direitos Humanos, é presente: "Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e DEVEM agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade". DEVER é uma palavra que transmite um sentido imperativo, ou seja, uma obrigação que deve ser atendida seja em tempo de guerra ou não. Entretanto, não há espírito, e nem tampouco fraternidade entre os homens. O que se sobressai é a força do mais forte. Numa guerra os direitos humanos vão "pras cucuias". A Constituição Federal do Brasil permite pena de morte em caso de guerra, ou seja, em tempo de guerra a vida pode ser "disponível".

A guerra do Afeganistão foi mais cruel e violenta com os civis do que com os terroristas. Numa luta onde o inimigo é "invisível"- não se pode deduzir quem é ou não é terrorista, é algo bastante subjetivo – acabam maltratando mais os civis do que os verdadeiros inimigos. Não foi diferente com o Iraque, a guerra foi mais violenta com civis do que "contra" Sadam e suas supostas "armas químicas".

A vida não tem sido um obstáculo para impedir a realização de atrocidades, ela tem sido vista, simplesmente, como um detalhe, que a depender do interesse dos homens pode ser removido, sem nenhum remoço e sem nenhum respeito... A vida se transformou em algo ínfimo e barato, por que não dizer descartável? A vida deveria ser respeitada incondicionalmente, em tempo de guerra ou de paz. Ela é uma conquista de cada ser, tanto numa visão biológica quanto religiosa (divina), dispô-la é confrontar a existência e a razão, e atribuir um valor insignificante a tudo o quanto existe.


Autor: Diego Bruno de Souza Pires


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