O ENIGMA KAFKIANO
O ENIGMA KAFKIANO
Algumas pessoas não aprendem as lições da própria vida.O Tribunal Invisível, antes de punir, costuma alertar aos infratores, dando-lhes novas oportunidades e fazendo pacientes e generosas advertências.Mas o "homo sapiens sapiens" dá de ombros e continua no mesmo e deletério caminho, em prejuízo de si mesmo e dos outros, através da exploração da paciência alheia e da boa-fé dos viventes, do seu trabalho, de sua amizade e do seu carinho, pelo vampirismo, pela mentira, pelo engodo, pela falsa demonstração de estima e cordialidade.
Donas de seu livre-arbítrio, estas pessoas confiam em que, sendo senhores e senhoras dos seus próprios atos, podem enganar a todos e ficar impunes, porque se julgam espertas e mais sábias do que a própria natureza, que afinal possui limites de tolerância para deixar que sejam infringidos seus princípios e leis.
É preciso que sofram os castigos preliminares, e se não aprenderem a lição, que sobrevenham seqüelas que lhes proíbam o gozo de seus apetites e o uso das faculdades ou instrumentos de execução de seus desideratos.E quando isto sobrevier, quando forem "detidas" sem saber o motivo, considerar-se-ão vítimas inocentes, e se perguntarão, como Josef K., no Processo de Kafka:Por que eu?,O quefiz de errado? ,De que me acusam? -- diante da assembléia dos desconhecidos e do seu desprezível juiz de instrução.
E como de nada servirá agora declarar quais foram seus delitos, a resposta virá depois, em outro estágio ou nível de entendimento.É preciso, por enquanto, que peregrinem pela sala dos passos perdidos, livres para ir e vir, mas sempre detidas no umbral pela crença de que o guarda não lhes franqueará o ingresso, embora as portas da lei permaneçam abertas de par em par.
Luciano Machado
Autor: Luciano Machado
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