Palavras de Sartre 1ª Parte



Sartre: "Quando digo 'um homem feito de todos os homens', isso vale tanto para mim quanto para os outros. Significa que há entre as pessoas uma profunda afinidade e que o que as separa são as combinações. É melhor levar a cabo em si mesmo a condição humana em seu aspecto radical do que enfrentar diferenças específicas, como o que chamamos de talento — que é um crime contra si mesmo e contra os demais —, pois enfrentar o talento é como enfrentar aquilo que nos separa, aquilo que nos distingue. Quando digo que sou 'qualquer um', quero dizer que as diferenças — que são objetos de orgulho, de busca e de ambição — poderiam ser muito modestas, mas na verdade fazem com que a pessoa se mutile. Ao contrário, aquilo que eu não posso realizar — porque esta é minha contradição burguesa — passa a ser uma forma de relação extrema com a morte, com a necessidade, com o amor, com a família... e ao mesmo tempo é também um instante de perigo, que faz com que nesse momento de impossibilidade se consiga tocar a verdadeira realidade humana. É como entender no conjunto de relações vividas as situações limites de nossa condição. É por isso que respeito muito as pessoas que vivem nessas condições. Por exemplo, os camponeses cubanos antes da revolução. Eles viviam na miséria e no sofrimento. Na minha opinião, eles representavam infinitamente melhor o que significa ser um Homem do que o Sr. Montherlant, por exemplo. É exatamente isso que quero dizer. Penso que, nessas condições, ser 'qualquer um' é não só uma realidade, como também uma tarefa. É como rechaçar todos os rasgos distintivos para poder, aí sim, falar em nome de todo o mundo. E só se pode falar em nome de todo o mundo sendo todo o mundo, e não buscar — como fazem alguns de meus pobres colegas — ser um 'super-homem'. Antes deve-se ser exatamente o contrário: o mais Homem possível, o mais parecido com os demais. Trata-se de uma Tarefa. Estou completamente de acordo com um dos ideais de Marx, que espera que quando uma mudança radical na sociedade tenha suprimido a divisão do trabalho, não haja mais a possibilidade de haver escritores apegados às pequenas particularidades de um escritor, da mesma forma que não haverá mineiros ou engenheiros. Haverá apenas homens que escrevem, e que poderiam estar fazendo outra coisa, mas que naquele momento apenas escrevem. Porque a atividade de escrever está ligada à condição humana, é o uso da linguagem para definir a vida. E se trata, portanto, de algo essencial. Mas justamente por ser essencial não deve ser confiada a especialistas. Atualmente essa função está confiada a especialistas devido unicamente à divisão do trabalho. Na verdade deve-se conceber Homens que sejam polivalentes."
Autor: Sodine Üe


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