O que é Filosofia Edificante?



Na obra A Filosofia e o Espelho da Natureza, de 1979, Richard Rorty faz uma introdução aos problemas da filosofia moderna e atual abordando os problemas da filosofia da mente, a teoria do conhecimento, a epistemologia passando pela psicologia empírica, a filosofia da linguagem e a hermenêutica até chegar à filosofia sem espelhos no capitulo oitavo onde se encontra a especulação de sua tese sobre a Filosofia Edificante que hoje irei tratar aqui. Rorty começa o livro afirmando que a noção que a filosofia tem como idéia que a mente é como um grande espelho da realidade contendo varias representações sobre esta. Por que? Porque segundo ele as imagens conseguem dizer mais que as proposições, as metáforas mais do que as afirmações. E a essência do homem é a de espelhar o universo ao seu redor. Ë o que ele chama de essência especular. E estas imagens da realidade podem ser exatas ou não, são estudadas através de métodos puros, não empíricos. Pois os filósofos pensam discutindo problemas perenes e ternos cristalizando-os com os fundamentos do conhecimento. Tudo isso se deve ao séc XIX em especial a Kant, com a noção de filosofia como um tribunal da razão pura, sustentando e negando as asserções ao resto da cultura do mundo. E que depois foi mais reafirmada com Russell e Husserl, preocupados em manter a filosofia no âmbito das ciências contemporâneas. Porém quanto mais cientifica e rigorosa se tornava a filosofia tanto menos tinha haver com a cultura e mais absurda pareciam suas pretensões tradicionais. E esse fundacionalismo sofreu uma crise, fazendo com que os filósofos cheguem a pensar em até fim da filosofia. Aí é que entra Rorty com sua aposta em que a filosofia deve buscar novas formas de reflexão capazes de dar conta das grandes mudanças na sociedade e abandonando a centralidade epistemológica. A filosofia deve abandonar os “espelhos” e continuar a conversação cultural entre os conhecimentos, sem o objetivo de solucionar de vez os problemas eternos, mas sim de “aquietar” as preocupações atuais dos indivíduos na sociedade de sua época. Para isto ele afirma que os filósofos devem seguir como filósofos edificantes ao invés de sistemáticos, como foram caracterizados os filósofos da corrente principal de filosofia. Mas porque Rorty coloca o termo Edificante? Bem, porque num primeiro momento ele pensou em “bildung”, como o termo é em alemão, porém iria soar muito estrangeiro. Lembro a vocês que Rorty é americano. Logo, pensou em “educativa”, mas ai soaria prosaico demais, vulgar, e poderia dar margens a erro no pensamento. Já Edificante, como a própria definição do dicionário diz, consiste em demonstrar através de bons exemplos. Rorty vai mostrar no livro que a filosofia edificativa não pode ser jamais fundacional, pois ela deve manter em aberto a discussão, isto uma vez que em outra época, em outro contexto, seus pressupostos podem não ser validados. Portanto edificante é uma postura filosófica mais terapêutica que se dá diante dos textos e dos problemas que se propõe. Seriam estes os filósofos edificantes: Kierkgaard, Nietzsche, Goethe, John Dewey, Santanya, Wittgenstein, Heidegger, acredito ainda que Sócrates deva entrar nesta lista, assim como outros. E Rorty insiste em seu livro que todos filósofos deveriam procurar a continuar a Grande Conversação do Ocidente ao invés de ficar tentando solucionar os problemas tradicionais da filosofia moderna. Pois muitos ainda lerão Kant, Platão, Aristóteles, Wittgenstein, Heidegger e etc, e resta saber se os novos filósofos saberão continuar essas conversações dialogando com o nosso tempo, com a nossa cultura, nossa época. Em reposta ao desespero dos filósofos sistemáticos Rorty diz: A religião não chegou ao fim no Iluminismo, nem a pintura no Impressionismo, e mesmo se a filosofia do séc. XX parecer um estágio de desajeitadas vacilações, existirá algo chamado filosofia na outra ponta da transição.

 OBS.: Rorty faleceu de câncer em 08 de junho de 2007. Fica aqui expresso meus sentimentos a este grande filósofo que tanto contribuiu a filosofia contemporânea com seus pressupostos, e por onde meus pensamentos tanto divagaram; Minha dissertação conclusiva de graduação Bacharel Licenciado em Filosofia foi: “Wittgenstein e Heidegger no horizonte da Filosofia Edificante de Richard Rorty”.


Autor: Rafael Fonseca de Oliveira


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