Presença Adventista na educação sergipana na década de 50



Joselita Marques Santos

Resumo: Este artigo tem como objetivo central apresentar os primeiros passos da Escola Adventista em Aracaju. As práticas escolares serão aqui evocadas a partir das memórias enquanto fonte de estudo.

Palavras-chave: memória; escola adventista; contexto histórico; democratização da educação; igreja adventista.

São sete horas da manhã. A cigarra da escola toca e os alunos, sempre muito eufóricos, correm para se posicionar enfileirados no pátio. Sem faltar nenhuma peça do uniforme nos tons azul claro e azul escuro, eles esperam o sinal do inspetor para a execução do hino da escola. Sob o olhar atento da diretora, enchem o peito e bradam:

Oh! Quanta esperança e que bonança na escola adventista.

Que brilhantemente e nobremente nos prepara pra conquista

Sempre ensinando e educando na doutrina de Jesus

Ergue e se ufana na vida humana cheia de amor e luz.[1]

A cena acima descrita ocorre a mais de cinqüenta anos no pátio das escolas de ensino primário adventista de Aracaju, tendo apenas um diferencial: o hino executado era o hino nacional.

O dever cívico poderia até ser esquecido numa ou noutra ocasião, no entanto as obrigações religiosas deveriam ser cumpridas a cada início de aula. Já na sala, cada professor comandava o culto. A meditação deveria ser lida, um hino cantado e logo em seguida faziam uma prece O doutrinamento cristão, durante algum tempo, foi a meta da educação adventista em quase todo o país. Atualmente algumas escolas ainda preservam esses momentos prévios a cada aula.

A iniciativa de fazer funcionar uma escola primária em Aracaju está intrinsecamente ligada ao estabelecimento da primeira igreja adventista no estado.

Os adventistas chegaram a Aracaju por volta do ano de 1924. Os primeiros missionários vindos do sul do país tinham como propósito expandir a mensagem adventista através do evangelismo e da educação. Até o ano de 1955, algumas conferências foram realizadas. Diversos foram os locais das reuniões: as casas dos próprios membros, salões alugados, até prédios públicos – como a Biblioteca Pública e o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.[2]

Em janeiro de 1955, enquanto o governador Leandro Maciel assumia o estado diante de um quadro sócio-econômico totalmente desanimador[3], os adventistas aguardavam ansiosos os últimos retoques na construção do templo. Por fim, no dia 24 de setembro de 1955, diante de convidados e membros, os adventistas inauguraram o seu novo templo, situado à rua Lagarto, 1228 - esquina com Boquim – onde permanece até os dias atuais.

De imediato a escola passou a funcionar ao lado do templo. Modesta e até improvisada, durante a semana abrigava os quase 40 alunos, e nos fins de semana – especificamente no sábado – era utilizada como classe bíblica: a escola sabatina.

Eram praticamente os mesmos alunos, filhos dos próprios membros regulares da igreja. Só que no sábado havia também outras crianças não-adventistas que só visitavam a classe.[4]

No seu quadro docente, somente de moças membros da própria igreja. A escolha era feita por uma comissão de nomeação a cada final de ano para o exercício do ano seguinte.

Houve um período em que a Prefeitura formou parceria com a Igreja e professoras da rede municipal foram cedidas para prestarem serviço à Escola.

Após me formar na escola normal em 56, fui contratada pela Prefeitura, e em 62 fui cedida lecionar na Escola Adventista.[5]

Devido ao crescimento da rede nos anos 40 e 50, houve um aumento considerável do número de escolas primárias em Sergipe. Muitas delas não possuíam sequer estrutura adequada para funcionarem.Josefa Eliana Souza, comentando sobre as escolas isoladas, declara que

(...) eram geralmente mal instaladas e mal equipadas. Diante dessa situação, não aceitava a idéia de bastaria nomear um professor sem que lhe fosse fornecido mobiliário adequado.[6]

À época da instituição da Escola Adventista em Aracaju, a cidade passava por um discreto processo de modernização. A pesquisadora Tereza Cristina Cerqueira comenta que

No contexto da modernização e do crescimento urbano que as grandes metrópoles brasileiras experimentaram nessa década, Aracaju, uma cidade pequena situada no Nordeste subdesenvolvido, ainda se conservava provinciana, arraigada a hábitos, atitudes e valores antigos.[7]

Mesmo apresentando um quadro de atraso social bastante relevante, o processo de urbanização de Aracaju prosseguia. A Prefeitura Municipal ampliava e construía ruas. Foi para dar passagem a uma delas que a igreja - enquanto estava situada à rua Itaporanga, nº 251- foi indenizada e, por algum tempo, não teve sede própria.

No âmbito da política educacional sergipana, discussões em torno do processo de modernização do sistema pedagógico eram comuns na década de 50. Educadores engajados com pensamentos modernos lutavam por uma escola mais democrática que oferecesse às crianças os princípios essenciais do homem novo.[8]

O sergipano Nunes Mendonça - ex-militante petebista, professor e escritor - dedicou-se profundamente às causas pedagógicas. Defensor da democratização da educação, Mendonça pregava sobre a implantação da merenda escolar, alertava sobre a melhoria das escolas e o grave problema da evasão escolar.

Sobre sua atuação, Josefa Eliana Souza afirma que

O desencanto com a política partidária conduziu o professor Nunes Mendonça a redimensionar sua trajetória no sentido da educação, por acreditar que nela residia o caminho para a conquista de uma sociedade democrática.[9]

A autora ainda comenta que

Seus escritos contêm elementos que embasaram a defesa do uso de novos métodos e a necessidade da escola pública da qual foi intransigente defensor.[10]

Foi nesse contexto histórico que a Escola Adventista estabeleceu-se em Aracaju, como tantas outras escolas primárias particulares que se espalharam em todas as partes do Brasil[11].

Referências bibliográficas:

GRAÇA, Tereza Cristina Cerqueira da. Pés de anjo e letreiros de néon: os ginasianos na Aracaju dos anos dourados. São Cristóvão: Editora UFS; Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2002

 SANTOS, Maria Nely. Professora Thétis: uma vida. Aracaju: Gráfica Pontual, 1999

SOUZA, Josefa Eliana. Nunes Mendonça: um escolanovista sergipano. São Cristóvão: Editora da UFS; Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2003.

Fontes:

Helena Magalhães – ex-professora. Entrevista concedida em 03.07.2005

Histórico da Igreja Adventista Central de Aracaju. http// www. Adventista.com/

Joana Marques – ex-professora. Entrevista concedida em 07.07.2005

Jornal Correio de Aracaju. Aracaju . 1957, 1958.




Autor: joselita marques


Artigos Relacionados


A Função Da Escola E Da Educação

Educar: Responsabilidade De Quem?

Psicologia E Educação

EducaÇÃo De Dentro Pra Fora

Educação Física Escolar

Pensamenteando...

A Ética Docente Como Influência No Ensino – Aprendizagem De Crianças Nos Anos Iniciais Do Ensino Fundamental