Desenvolvimento Sustentável e Comunidade



As medidas para promover o desenvolvimento sustentável vão do âmbito local até o global, um processo que envolve participação, planejamento e vontade política; sustentabilidade depende da questão social, educação e informação.

Quero neste texto fazer uma abordagem sobre um trabalho executado na Administração Regional Regional do Cajuru, pela Prefeitura da cidade de Curitiba, que num primeiro momento visava o combate as enchentes e que se transformou num grande projeto que com certeza promoveu o desenvolvimento e a sustentabilidade na área onde o projeto foi implantado.

O compartimento que vamos tratar, compreende o trecho limitado pela Av Afonso Camargo, linha férrea, rio atuba e BR 277, onde há um bolsão de pobreza, aproximadamente 10.000 famílias, provenientes de ocupações que houveram há 20 anos atrás, sendo que a área não possuía infraestrutura urbana, nem equipamentos sociais, sendo que os serviços usados por esta população era os da região vizinha.

Por parte dos órgãos públicos nunca houve interesse em investimentos, visto trata-se de área de preservação, sujeita a enchentes, portanto a solução para aquele compartimento seria a relocação das famílias daquela área, o que dificilmente aconteceria em médio prazo, devido à escassez de recursos que vivemos nas Administrações Públicas e devido os problemas de ocupação desta área, outros loteamentos a montante sofriam constantes enchentes devidos à falta de infraestrura de drenagem e recursos para retirada da famílias deste compartimento.

O projeto Cajuru como foi chamado (1997 – 2004), uma parceria BNDS e Prefeitura de Curitiba, trazia uma visão de planejamento diferente, desde redefinição da área de preservação, criação de zona de transição, alargamento da caixa do Rio Atuba, mudança faixa não edifícavel, construção de canais a céu aberto para escoamento das águas até o rio atuba, relocação das famílias (aprox: 600 ) para implantação das obras e equipamentos sociais. Em 1998, já sentimos que havia melhoria da qualidade de vida das comunidades, medida com parâmetros mensuráveis, mas o enfoque principal que quero dar, é para o processo que foi adotado para conseguirmos estes resultados, sendo que o coroamento do projeto, foi à inauguração do Parque Linear do Cajuru em março de 2003, numa extensão de 2,0 km, numa faixa quase constante de 100 metros (área não edificavel), área anteriormente ocupada por famílias.

No inicio um grande projeto, algumas reuniões e começaram aparecer os problemas, num primeiro momento internos, até por falta de coordenação e conscientização da equipe para as prioridades daquele projeto, visto que para muitos técnicos da Administração aquela área não podia ser habitada e até a não concordância com o projeto; começamos um trabalho de uniformizar discursos, informações e objetivos, até por que tivemos este tempo, devido o prazo para os recursos iniciais. Mas foi na comunidade que os problemas pareciam sem solução, pois todos queriam que as intervenções acontecessem, mas ninguém queria sair do local.

Nossa dificuldade aumentava a medida que a comunidade se organizava, políticos tentando tirar proveitos ou criar dificuldades, sendo que relocar famílias era talvez o maior obstáculo, visto que não havia recursos para indenização, nem para construção; foi nesta época, em 1998, quando já estávamos com as licitações de obras em andamento, nossos prazos começavam a ficar curtos, que conhecemos uma metodologia chamada Modelo Colaborativo (técnica Canadense) que foi uma ferramenta importante e eficaz , pois aprendemos a trabalhar com a participação, a nível de envolvimento e compromissos, o que possibilitou a implantação do projeto; foram vários grupos, vários atores, que à medida que o projeto avançava, muitos mudavam, mas a comunidade era um agente ativo; as barreiras foram rompidas, a comunidade sabia o que iria acontecer e qual suas responsabilidades.

Em março de 2003, inaugurou o Parque Linear do Cajuru – o qual mudará de nome, através dos grupos do Modelo de Colaboração existentes na Região – completava uma fase do projeto da qual a comunidade ajudou desde a concepção do projeto até onde estariam os equipamentos, quais atividades que gostariam naquele Parque, e o que o mesmo representava para aquela comunidade, o que antes era local de enchentes, agora uma área devolvida a natureza, com Parques, árvores, verde e sem enchentes.

Não pretendo detalhar o Projeto Cajuru, nem sua implantação, mas relatar que buscamos a sustentabilidade tanto do meio ambiente local, como das famílias, através de programas de geração de rendas e equipamentos sociais, o amplo envolvimento das comunidades envolvidas e o fundamental, a participação das comunidades, talvez ainda não numa escala macro, mas importantes, pois os grupos que se formaram para discussão do projeto, eram representativos, lideranças e multiplicadores, que com informação, participação e responsabilidade ajudaram a mudar a região.

Outro tópico importante, é que ocorreu uma mudança social na área, ocorreu mudança ambiental na área; esgotos foram coletados e a população entendeu que era necessário, apesar de isto trazer custos mensais para estas famílias, pois antes o problema esgoto já estava resolvido, ia para valetas e para o rio, sem custos, o que para eles não influenciava em nada nas suas vidas, mas hoje eles sabem porque tem que tratar.

Para concluir, acredito que só pode haver desenvolvimento sustentável num processo que leve informação, educação a todos e que os atores envolvidos sejam participantes comprometidos.

Francisco Carlos de Figueiredo Silva, engenheiro civil (1985) UFPR, funcionário da Prefeitura Municipal de Curitiba; administrador regional de 1.989 á 2004.
Autor: Francisco Figueiredo Silva


Artigos Relacionados


O Chão

Gestão Democrática E Participação Popular

Relações Públicas Como Educador Ambiental

A Perspectiva Construtivista De Ensino

Amor NÃo DÁ Em Árvore

Gestão Democrática

Coleta Seletiva: InstalaÇÃo, Problemas E SoluÇÕes