Paixão - Parte 2



Acho que quase caí para trás. Comecei a ficar gelada. Bambeava... E acho que não poderia haver uma resposta melhor que essa. Ele entendeu na hora, sem que eu dissesse uma palavra. No mesmo dia, estávamos dividindo a mesma casa. Eu já não morava com meus pais e ele também não, então foi só juntar as escovas de dente e já estava tudo certo. Isso foi bem cedo. Ele me deixou lá e foi trabalhar. Passou a manhã, passou a tarde, chegou a noite. Junto com a noite, chegou ele. Fiquei preocupada. Sabia que do jeito que as coisas andavam aquela era a noite. Seria minha primeira vez com alguém. Morria de medo. Mas também não via a hora de acontecer. Ele chegou, jantou e foi até mim. Eu o esperava no mesmo sofá em que ele havia me deixado quando saiu para trabalhar. Não era à toa que estava naquele mesmo lugar. Estava lá como um sinal. Acho que todas as partes de mim diziam a ele "estou preparada". Ele olhou para mim. De novo aquele olhar inconfundível, mas que tanto me confundiu. Era desejo. Era alegria. Não sei o que era. Mas era ele e isso me bastava. Levemente me tocou. Passou sua mão em mim e naquele momento tudo o que sempre foi só meu tornou-se dele também. E aquilo que era só eu, agora era ele também. Foi então que ele me pegou em seus braços. Num gesto que nunca vou esquecer, com um sorriso doce e gentil que nunca vou deixar apagar, ele passou pela capa, acariciando-me o tempo todo. Olhou a contracapa, o índice e começou a me folhear, página por página. Lia-me inteira. Não lhe escapava sequer uma letrinha. Aos poucos, meu medo foi se dissolvendo em seus dedos. A cada página que ele virava eu me sentia mais segura de mim mesma, sabia que estava tudo acontecendo da melhor maneira possível e que não tinha pessoa melhor que ele para estar ali naquele momento. Ficamos assim a noite toda. Dois bobos apaixonados. Ao fim da noite, ele estava esgotado. Eu, satisfeita. Toda minha história agora estava inscrita nele. Todas as minhas palavras ele conhecia. Os segredos guardados, todos revelados. Deixei-o adormecer ao meu lado. Olhando para o teto, ainda em seus braços, pensei: "hoje me tornei livro". Como é bom ser livro.


Autor: Renato Malkov


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