Tecno Feudos



 Os condomínios horizontais agora em moda, ou os consagrados verticais ambos com seus aparelhos facilitadores com termos em idiomas estrangeiros dando um toque de falso requinte embora em nossa língua houvesse vocábulos mais específicos e ricos para definir os playgrounds,  fitness Center, lan house, game station, espaço gourmet, SPA Center, dog walk, home theater , alguns tem farmácias, padarias e lojas de conveniência dia e noite, sem contar é claro com a segurança patrimonial que a partir dos anos 1980 crescem de forma exponencial em resposta os altos índices de criminalidade que a década pós-milagre brasileiro trouxe. Hoje até condomínios de baixa renda com dois dormitórios são criados com todos esses apêndices devidamente adequados ao público alvo. Somado a isso a dita internet, uma engenhoca tecnicamente simples criada por militares americanos nos idos da guerra fria, pois queriam manter a comunicação entre os órgãos do poder mesmo que o pentágono fosse dizimado por um ataque nuclear. Já em terras tupiniquins só viria a ser utilizada em 1991 e ainda assim por membros do Ministério de Ciência e Tecnologia, para o grande público só em 1995 se tornou viável, mas ainda muito cara e dependia obviamente do uso de um computador pessoal que não custava menos de 2000 dólares americanos e notem que neste ano a reserva de mercado, talvez o único legado positivo de nosso presidente cassado Fernando Collor,  já havia caído a quatro anos. Atualmente a disponibilidade é imensamente maior, todavia ainda ajam bolsões de tecno-analfabetismo para usar  de um neologismo,  nesses condomínios a internet é presença garantida e desta forma os indivíduos residentes passam horas conectados às chamadas redes de relacionamento que embora todas digam que apenas os maiores de idade podem acessar o público infanto-juvenil é maioria nestas redes, relacionando-se virtualmente a bem da segurança, e não cabe aqui mencionar os riscos que essas crianças estão sujeitas como pedofilia virtual e tantas outras, mas o fato principal é que cada vez mais eles vão se enfiando em uma ostra, as comunidades, os relacionamentos são literalmente virtuais, as pessoas estão se de socializando. Faça um teste, tente iniciar uma conversa ao vivo com um garoto de seus 12 anos e que não pertença ao mesmo condomínio que você mora, eu sei que será difícil de encontrar mas tente, irá perceber que falta verbalização, não são incultos ou analfabetos mas eles estarão sem um teclado nas mãos e é essa a forma de relacionamento que esses adolescentes se comunicam, aliás usam um idioma próprio com abreviações e maneirismos. Isso significa que os futuros adultos também não terão uma grande eloqüência na verbalização e ai mora o perigo, vamos ter comandantes em nosso país com teclados de baixo do braço digitando “kd vc? fla hj cmg blz?”

Pois bem, no século V com as invasões bárbaras, nasce o que os historiadores chamam de Feudalismo, onde um suserano, rei ou a forma que queiram definir distribui terras aos nobres vassalos que constroem seus feudos, ou castelos murados onde dentro destes muros são construídas casas dos trabalhadores que cultivam as terras do senhor feudal no entorno e regressam ao final da jornada diária para a segurança dos muros feudais. Ali ele tem as acesso as barracas dos curtidores de couros, os açougueiros, ferreiros, entre outros, tudo o que os homens daquela época podiam necessitar para suas vidas estava disponível dentro dos muros do castelo. Vez ou outra bandidos tentavam invadir o castelo, porém a guarda do senhor feudal em geral rechaçava o intento e seus moradores seguiam suas vidas em regime de prisão semi-aberta consentida.

Em suma, a máxima que a história se repete é fato consumado, vivemos trancafiados em nossos condomínios com a sensação de segurança acalentando nossos corações, nossos filhos estão nos seus quartos teclando em segurança a dez passos de nós se quisermos conferir, completamos nossa geladeira com alguns cliques em nosso computador portátil ligado na mesa da sala,  entre uma ida a  academia de ginástica do condomínio (o tal fitness center) encomendamos o jantar para os convidados da sexta-feira na rotisseria, tudo isso depois de termos passado oito longas horas no home office trabalhando para garantir que o saldo no internet banking esteja esteja disponível para bancar essa vida, ou seja, vivemos em um tecno-feudo, vivemos?


Autor: Thales Campos


Artigos Relacionados


Dor!

Viagem De Amor

LaÇos Eternos

Minha Mãe Como Te Amo

Insanidade

Humildade

Midas