Análise do comportamento das mulheres diante de ações mais humanizadas durante as consultas ginecológicas realizadas por acadêmicos de enfermagem do sexo masculino: Um relato de experiência



Fabiula Teixeira dos Santos

Samuel Silva do Rosário

Wenderson Ítalo Leite

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DAS MULHERES DIANTE DE AÇÕES MAIS HUMANIZADAS DURANTE AS CONSULTAS GINECOLÓGICAS REALIZADAS POR ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM DO SEXO MASCULINO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentada à Universidade José do Rosário Vellano - Unifenas, como parte das exigências do curso de Enfermagem para obtenção do Título de Enfermeiro.

Orientador: Prof. Enilmar da Cunha de Carvalho

Belo Horizonte

2007

RESUMO

A necessidade de ações e operacionalização da saúde vinculada a população feminina, fez com que o Ministério da Saúde (MS) criasse o programa Saúde da Mulher, com a intenção de atuar sobre os agravos que atingem essa determinada população.

Sendo um dos principais agravantes da Saúde da mulher o Câncer de Colo Uterino e de Mama, é necessária uma maior atuação por parte dos elaboradores de políticas de saúde e profissionais de saúde que agem na Atenção à Saúde da Mulher.

Dentro do Programa Saúde da Mulher, a atuação dos acadêmicos de enfermagem do sexo masculino, o modo em que a equipe de saúde acolhe as mulheres e o comportamento das mulheres diante do Exame Preventivo do Câncer de Colo de Útero e Mama (EPCCUM) e exame ginecológico de enfermagem, realizado na Unidade Saúde da Família (USF) Luar da Pampulha no Município de Ribeirão das Neves - MG, se tornam a fonte deste trabalho.

Os dados foram gerados através das práticas realizadas e informações colhidas na USF Luar da Pampulha, mostrando que há necessidade de melhorias na sensibilização das mulheres sobre a importância do EPCCUM, da realização do procedimento de forma mais humanizada, de melhorias no preparo da equipe para evitar informações que potencializam a negação da mulher no momento do EPCCUM realizado pelos acadêmicos de enfermagem do sexo masculino.

Sendo a negação das mulheres o ponto dificultador para que os acadêmicos de enfermagem do sexo masculino realizem o EPCCUM e exame ginecológico de enfermagem, conclui-se que uma sensibilização eficiente, um atendimento humanizado e um preparo da equipe, são pontos fundamentais para inclusão da mulher dentro do Programa Saúde da Mulher.

Palavras Chaves: Negação das mulheres, exame Preventivo de câncer de colo uterino e mama, Humanização.

ABSTRACT

The necessity of actions and operacionalization of health linjing with feminine population made the Ministry of create the Woman Healt Program, intentig te perforn on the problems hat affect this people.

Being one of the main problems on the woman heath the womb cancer and the breast cancer, it is necessary a bigger perform of the elaborators of health politics and the health professional who perform on the attention of the woman health.

In the Woman Health Program, the action of the nursing academicians of masculine sex, the manner that the health group receives women and the women behavior on the EPCCUM and nursing gynecologic examination, realized in the Family Health Unity (USF) Luar da Pampulha, in the city of Ribeirão das Neves- MG, are the theme of this paper.

The data was accomplished, through the practices and information obtained in the USF Luar da Pampulha, and it shows us, that it is necessary to improve the woman sensibility about the importance of the women deny on the time of the EPCCUM accomplishment by the nursing academicians of masculine sex.

Being the deny women the main difficulty to the accomplishment of the EPCCUM and the nursing gynecologic examination by the nursing academicians of masculine sex, we can conclude that an efficient sensibility, a humane assistance and a preparation of the group, are essential points to include the woman in the Woman Health Program.

Pass Words: Woman deny, Preventive examination of womb cancer and breast cancer, Humane.

1 INTRODUÇÃO

A Atenção Básica tem como fundamentos a complementação de um plano de organização do setor da saúde brasileira, "pondo em prática" as diretrizes e doutrinas que norteiam o Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, possibilitando o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de qualidade e resolutivos, caracterizados como a porta de entrada preferencial do sistema de saúde, com território adscrito de forma a permitir o planejamento e programação descentralizada, e em consonância com o princípio da eqüidade; efetivar a integralidade em seus vários aspectos, a saber: integrações de ações programáticas e demanda espontânea, práticas das ações de promoção á saúde, prevenção de agravos, vigilância à saúde, tratamento e reabilitação, trabalho de forma interdisciplinar e em equipe, e coordenação do cuidado na rede de serviço.

A Atenção Básica tem como intuito desenvolver relações de vínculo e responsabilização entre as equipes de saúde e a população, garantindo a continuidade das ações de saúde e longitudinalidade do cuidado, valorizando os profissionais de saúde por meio do estímulo e do acompanhamento constante de sua formação e sua capacitação, realizando avaliação e acompanhamento dos resultados alcançados como parte do processo de planejamento e programação, estimulando a participação popular e o controle social.

A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a programação e proteção da saúde, prevenção de agravos, o diagnóstico, tratamento, reabilitação e a manutenção da saúde. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas sobre forma de trabalho em equipe, dirigidas a população de um território delimitado, assumindo uma responsabilidade sanitária, considerando as variações existentes no território em que vive essa população. (PREFEITURA MUNICIPAL DE BETIM, 2006, p.44).

A Atenção Básica tem um papel fundamental para com a saúde da população, por ser a porta de entrada do paciente para o sistema de saúde e onde possibilita uma maior interação entre indivíduo e saúde, devido à possibilidade da equipe de saúde de conhecer o estilo e hábitos de vida, cultura e posição social de cada membro de uma determinada população.

Visando à operacionalização do nível primário, definem-se como área estratégicas para atuação em todo o território nacional, a eliminação da hanseníase, controle da tuberculose, controle da Diabete Mellitus, eliminação da desnutrição infantil, promoção à saúde, saúde bucal, saúde do idoso, saúde da criança, saúde do adulto e a saúde da mulher.

Enfatizando o Programa da Saúde da Mulher na Atenção Básica, prioriza o controle, cura, prevenção e o resgate das condições saudáveis da mulher; uma das condições que possibilita esse resgate é a realização do exame ginecológico cérvico-uterino e mamas periodicamente.

No Brasil, a estimativa sobre a incidência de câncer de mama e colo de útero, superam os demais tipos de câncer na população feminina, onde muitas vezes levam essas mulheres ao óbito. Apesar do conhecimento cada vez maior nesta área, a abordagem mais efetiva para o controle do câncer de mama e colo do útero continua sendo o rastreamento do exame preventivo de câncer de colo do útero e mamas (EPCCUM), pois a sua realização periódica permite reduzir a mortalidade por esses dois tipos de câncer na população de risco.

O Câncer de mama é uma doença em ascensão em todas as partes do mundo. As maiores incidências ocorrem em países industrializado. No Brasil, já representa a principal neoplasia maligna nas regiões sul, sudeste e nordeste. A freqüência do câncer de mama eleva-se continuamente com o aumento da faixa etária. (ALMEIDA JR, 2003, p.295).

"O câncer cervical é responsável por 6% dos tumores em geral, 23,7% dos tumores ginecológicos e 471.000 casos novos no ano no mundo, sendo o terceiro em ordem de freqüência tanto no Brasil quanto em Minas Gerais". (FRANCO, 2003, p. 306).

Observado esses dados que comprovam a alta prevalência do Câncer de Mama e do Colo Uterino, sendo um dos principais agravos à saúde da mulher, se coloca a necessidade da elaboração de políticas de saúde mais eficientes e complementação das já existentes, e também uma melhor capacitação dos profissionais que atuam na saúde da mulher.

Em nossa prática na Unidade de Saúde da Família (USF) Luar da Pampulha do Município de Ribeirão das Neves – MG, passamos por dificuldades para alcançarmos as metas do Programa da Saúde da Mulher devido a uma cultura mecanicista criada pelos próprios profissionais da área de saúde, que faz com que os

os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP), com intuito de prestar assistência de procedimentos sejam realizados de forma incompleta e não humanizada, contribuindo para que as mulheres tenham receio no momento da realização do EPCCUM, principalmente quando este é realizado por acadêmicos de enfermagem do sexo masculino.

Os acadêmicos de enfermagem do sexo masculino, sentindo-se prejudicados quanto as práticas dos procedimentos realizados durante o atendimento à mulher, principalmente no EPCCUM e consultas ginecológicas de enfermagem, chegaram a conclusão da necessidade de elaboração de uma estratégia que contribui com a formação profissional e a inclusão da mulher de forma humanizada ao programa.

Daí surge à intenção de elaborar um estudo abordando alguns pontos de dificuldade de atuação dos acadêmicos de enfermagem do sexo masculino no momento do EPCCUM, e Exame Ginecológicos de Enfermagem e analisar o comportamento de mulheres diante de condutas mais humanizadas.

Portanto, este estudo pode contribuir para percepção da importância de condutas mais humanizadas principalmente nas consultas ginecológicas, facilitando a adesão das mulheres ao Programa Saúde da Mulher.

2 OBJETIVO

Analisar o comportamento das mulheres diante de ações mais humanizadas durante as consultas ginecológicas realizadas por acadêmicos de enfermagem do sexo masculino.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Evolução Histórica da Saúde Pública no Brasil

O estado passou a ser responsável pela formalização das políticas de saúde no Brasil somente no século XX.

Em meados de 1900, o governo passou a se preocupar com as condições de vida e saúde, principalmente das populações que moravam nas capitais dos estados, onde se concentravam os portos, sendo os meios de destaque da economia brasileira, pois o crescimento econômico dependia da exportação dos produtos agrícolas. Sendo assim o governo começa atuar na saúde pública, preocupado com os trabalhadores das cidades portuárias e com aqueles que trabalhavam nos portos.

Os principais problemas de saúde eram provocados devido as más condições de vida da população, pelo início do povoamento das cidades por pessoas das áreas rurais, na tentativa de empregos.

Neste período ocorreu o descontentamento dos setores produtivos e sociais devido a falta de eficiência das ações propostas pelo governo com a intenção de manter o trabalho do assalariado em estado de higidez.

Foi criado o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), voltado especificamente para uma prática higienista e para o controle de endemias e epidemias que ameaçavam as principais atividades economias, os corredores de exportação e os centros urbanos em expansão. (MELO et al, 2005, p.50).

Na década de 30, as grandes cidades já eram mais organizadas devido o processo de industrialização no Brasil, com isso observava um novo tipo de direito a saúde, voltado para aqueles que tinham um trabalho formal (carteira de trabalho), e principalmente para as categorias que impulsionavam a economia brasileira.

A legislação trabalhista e previdenciária foram criadas durante o governo de Getúlio Vargas, seguindo então aposentadoria, pensões e alguns até a assistência médica, sendo organizados por categorias profissionais. Esses institutos iram formar a base da política de assistência médica previdenciária. Com isso o direito a saúde prevaleceu nas mãos dos que tinha condições de pagar por um serviço particular e de aqueles que estavam diretamente ligados à economia brasileira, ficando os indigentes e pobres a única alternativa as instituições de caridade. (MELLO et al, 2005, p.31).

Nessa época ocorreu a valorização da assistência médica individual, pois a classe médica passou a vender o serviço em grande escala para o estado, mas mesmo assim a demanda se mantinha elevada, em razão da má qualidade do atendimento e do fato de ter sido ampliado a todos os segurados o direito a saúde.

Com adoção da política de saúde, posteriormente (1967), sua centralização num único instituto-Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), houve um crescimento considerável dos serviços médicos próprios e da aplicação de maior verba para as despesas. (MELLO et al, 2005).

Até a década de 70, a idéia de saúde estava à associada à ausência de doenças. A partir da observação da interferência dos hábitos de vida, do ambiente que as pessoas viviam e dos comportamentos em respostas dos indivíduos a situações do dia-dia, percebeu-se que a evolução das doenças estava intimamente relacionada a estes fatores.

Por outro lado, a assistência à saúde da população estava limitada à condição de trabalho, através das Caixas de Previdência, ou dependia de médicos particulares. Para quem não tinha emprego registrado ou não podia pagar por médicos, o recurso era recorrer às Santas Casas de Misericórdias ou Postos de Saúde Municipais, que viviam sempre lotados.

Com abertura política surgiu o movimento sanitário, sendo que em 1979 houve a primeira discussão referente à reorganização dos serviços de saúde brasileiro.

O governo foi obrigado a realizar reformas no setor previdenciário brasileiro, onde passou o poder das condições administrativas da saúde para o estado e municípios, isso fez com que crescesse o número de pessoas que utilizasse o serviço de saúde e não criou alternativas de financiamento, gerando então uma crise no setor público de saúde, sendo criado então na década de 80 a reforma sanitária com o intuito de fornecer uma saúde de qualidade e democrática a população. (MELLO et al, 2005).

Nos anos 80 várias mudanças na forma de pagamento dos serviços públicos de saúde, fizeram parte de um processo que culminou a 8° Conferência de Saúde, cujas discussões passaram constituir o projeto de Reforma Sanitária Brasileira. Esse movimento de Reforma Sanitária foi inspirado em experiência em outros países e nas discussões que aconteceram na Conferência de Alma Ata, e defendia que todos deveriam ter amplo acesso aos serviços de saúde, independentemente de sua condição social ou de trabalho, e que a saúde deveria fazer parte da política nacional de desenvolvimento.

Os princípios definidos nesse grande encontro entre governo, prestadores de serviço de saúde publica, privados, em forma de leis, pela constituição federal, publicada em 1.988, segundo a qual saúde é um direito de todos e um dever do estado. (MELLO et al, 2005, p.61).

O SUS foi criado pela constituição de 1988 e regulamentado pelo governo em 1990, através das Leis 8.081 e 8.142. A sua criação foi devido a uma análise de que não dava certo ênfase às ações curativas, individuais e hospitalares, valorizando os insumos tecnológicos de alto custo, com baixa resolutividade, que caracterizam o modelo hegemônico médico-assistencial privatista, onde nesse período reconheceu-se a ocorrência de uma crise no setor da saúde. (PREFEITURA MUNICIPAL DE BETIM, 2006)

O Sistema Único de Saúde (SUS), sendo criado com a intenção de tornar a saúde como direito de todos é formado por uma rede regionalizada e hierarquizada que constitui um sistema único, organizado com os seguintes princípios e diretrizes:

• Saúde como direito de todos;

• Descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

• Atendimento integral, com prioridade para atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;

• Universalidade;

• Equidade;

• Resolutividade;

• Intersetorialidade;

• Humanização do atendimento;

• Participação da comunidade;

Como síntese das discussões sobre política de saúde e direito à saúde, o SUS procura unificar todas as instituições e serviços de saúde em um único sistema e um comando único no governo federal (Ministério da Saúde), em comando único nos estados (Secretarias Estaduais de Saúde) e um comando único nos municípios (Secretarias municipais de saúde). O objetivo era tentar resolver a dicotomia entre a saúde publica (mais preventiva) e a assistência médica (mais curativa), oferecendo uma atenção integral à saúde.

Esse sistema de saúde, além disso, propõe a descentralização de recursos, decisões e responsabilidades para os estados e municípios; criação de um mecanismo para o chamado controle social, na qual a população participa dos conselhos gestores que administram o SUS através de representantes, manifestando seus interesses quanto a planejamento, gestão, execução e avaliação dos serviços e programas de saúde. (MELLO et al, 2005, p.62).

A norma operacional básica 01/96 avança nas diretrizes constitucionais da municipalização da gestão e do controle social na saúde, incentivando e priorizando a criação de práticas voltadas para atenção à família em seu espaço social como centro de atenção à saúde, e também no repasse financeiro garantido e diferenciado para os municípios que implantassem o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e o Programa de Saúde da Família (PSF). (PREFEITURA MINICIPAL DE BETIM, 2006).

Assim, estratégias de iniciativa do governo, tais como o PACS, em 1991, e o PSF, em 1994, tem se destacado, reconhecidas como importantes estratégias que contribuem para o aprimoramento e consolidação do SUS, a partir da reorientação da assistência ambulatorial e domiciliar, e organizando a atenção básica na lógica da Vigilância á Saúde (VS).

O Ministério da Saúde (MS) lançou em 1994, o Programa Saúde da Família (PSF) como uma estratégia que "prioriza as ações de promoção e proteção e recuperação" da família e do individuo, tanto adultos como as crianças, sadios e doentes, de forma integral e continua. (PEREIRA et al, 2005, p.299).

Com o PSF atuante na reestruturação da atenção básica através de ações de Vigilância à Saúde; outros programas complementam esta estratégia como é o caso do Programa de Atenção Integral a Saúde da Mulher (PAISM). Esse programa específico foi oficializado na década de 1980 e configura-se como uma estratégia de destinação seletiva de recursos que permitam à operacionalização de conteúdos de grande prioridade vinculados a população feminina.

O programa nasce com os objetivos de:

• Aumentar a cobertura e a concentração do atendimento pré-natal, proporcionando iguais oportunidades de utilização do serviço para toda a população.

• Melhorar a qualidade de assistência ao parto, ampliando a cobertura do atendimento prestado por pessoal treinado, tanto no sistema formal como no informal (parteiros tradicionais) e diminuindo os índices de cesárea desnecessária.

• Aumentar os índices de aleitamento materno, fornecendo as condições para implantação do alojamento conjunto.

• Implantar ou ampliar as atividades de identificação e controle de outras patologias de maior prevalência no grupo.

• Evitar o aborto provocado mediante a prevenção da gravidez indesejada.

• Implantar ou ampliar as atividades de identificação e controle das doenças transmitidas sexualmente.

• Implantar ou ampliar as atividades de identificação e controle do câncer cérvico - uterino e de mama.

Os conteúdos da Assistência integral á saúde da mulher serão desenvolvidos através de atividades de assistência clínica - ginecológica assistência pré-natal e assistência ao parto e puerpério imediato. Por assistência clinico - ginecológico compreende-se o conjunto de ações e procedimentos voltados para a identificação, diagnostico e tratamento das patologias sistêmicas e as patologias do aparelho reprodutivo, inclusive a orientação sobre o planejamento familiar e a prevenção do câncer de colo uterino e mama. (PERREIRA et al, 2005, p.276).

Não tirando a importância de outros agravos à saúde da mulher, o câncer de colo uterino e mama se tornam como enfoque neste trabalho, isto não pela análise da importância através de dados, mas por circunstâncias impostas aos enfermeiros e estagiários de enfermagem diante de vários fatos.

3.2 Câncer de Colo Uterino

No Brasil, a estimativa de incidência aponta o câncer de útero como o terceiro mais comum entre as mulheres em 2006, sendo superado apenas pelo câncer de pele (não-melanoma) e pelo câncer de mama. Estima-se também, que seja a quarta causa de morte por câncer em mulheres. Em 2006, surgiram 19.260 novos casos de câncer de colo em todo o país.

Dentre todos os tipos, o câncer de colo uterino é o que apresenta um dos mais altos potenciais de prevenção e cura, chegando perto de 100%, quando diagnosticado precocemente. Seu pico de incidência situa-se entre 40 e 60 anos de idade e apenas uma pequena porcentagem ocorre abaixo dos trinta anos.

A prevenção primária do câncer de colo pode ser realizada através do uso de preservativos durante a relação sexual, uma vez que a prática de sexo seguro é uma das formas para evitar o contágio com o vírus papiloma humano (HPV) vírus que tem um papel importante para o desenvolvimento do câncer e de suas lesões precursoras. A principal estratégia utilizada para detecção precoce dessa doença no Brasil, é através do rastreamento, que significa realizar o exame preventivo (Papanicolaou) em mulheres sem os sintomas da doença, com o objetivo de identificar aquelas que possam apresentar a doença em fase inicial, quando tratamento pode ser mais eficaz. O exame preventivo é dirigido a mulheres que iniciaram a atividade sexual, devendo submeter-se ao exame periodicamente.

A periodicidade preconizada para a realização desse exame é, inicialmente, um exame por ano. Em caso de exames com resultados alterados a mulher deve seguir as orientações fornecidas pelo profissional de saúde que a acompanha.

O intervalo de tempo de um ano preconizado entre os exames, tem sofrido na atualidade algumas modificações. Com o objetivo de atender o maior número de usuárias, os intervalos tem se alargado, havendo mesmo quem os preconiza uma vez a cada cinco anos, após três a dois exames anuais negativos. (FOCCHI; BOVO; SPECK, 2000, p. 2151).

Os exames de Papanicolaou podem ser realizados em postos ou unidade de saúde, próximo à residência da mulher, que tenham profissionais de saúde treinados para essa finalidade. A fim de garantir a eficácia dos resultados, a mulher deve evitar relações sexuais, uso de ducha ou medicamentos vaginais e anticoncepcionais locais nas 48 horas anteriores ao exame. Além disto, o exame não deve ser feito no período menstrual, pois a presença de sangue pode alterar o resultado.

3.3 Câncer de Mama

No Brasil, o câncer de mama é a maior causa de óbito na população feminina, principalmente na faixa etária entre 40 a 69 anos.

Um dos fatores que dificulta o tratamento é o estágio avançado em que a doença é descoberta. A maioria dos casos de câncer de mama, no Brasil, é diagnosticada em estágios avançada (III e IV), diminuindo as chances de sobrevida das pacientes e comprometendo os resultados do tratamento.

Não existem evidências científicas conclusivas que justifiquem estratégias especiais de prevenção primária. Ações de promoção à saúde dirigidas ao controle das doenças crônicas não transmissíveis (o que inclui o câncer de mama) devem focar os fatores de risco, especialmente, a obesidade e o tabagismo.

A detecção precoce é a principal estratégia para controle do câncer de mama. Segundo as orientações do consenso para o controle do câncer de mama, as seguintes ações são recomendadas para o rastreamento do câncer de mama em mulheres assintomáticas:

• Exame clínico das mamas realizado anualmente, para todas as mulheres com 40 anos ou mais. O exame clínico das mamas deve fazer parte, também, do atendimento integral á mulher em todas as faixas etárias.

• Mamografia, para as mulheres com idade entre 50 a 69 anos, com intervalo máximo de dois anos entre os exames.

• Exame clínico das mamas e mamografia anual, a partir dos 35 anos, para as mulheres pertencentes ao grupo populacional com risco elevado, aquelas com: um ou mais parentes do primeiro grau (mãe, irmã ou filha) com câncer de mama antes dos 50 anos, um ou mais parentes do primeiro grau com câncer de mama bilateral ou câncer de ovário, história familiar de câncer de mama masculino, lesão mamária proliferativa com atipia comprovada em biópsia.

• As mulheres submetidas ao rastreamento devem ter garantido o acesso aos exames de diagnóstico, ao tratamento e ao acompanhamento das alterações encontradas.

"O auto-exame da mama não deve substituir o exame clínico realizado por profissional de saúde treinado para essa atividade. Entretanto, o exame das mamas pela própria mulher ajuda no conhecimento do corpo e deve estar contemplado nas ações de educação a saúde". ( PINOTTI; TEIXEIRA, 2000, p. 2024).

O exame clínico das mamas é realizado com a palpação das mamas, das regiões axilares e das supraxilares, realizado por um profissional de saúde (médico ou enfermeiro) durante uma consulta. Nesse exame, poderão ser identificadas alterações na mama e caso contrário será indicado um exame mais especifico, como a mamografia.

3.4 Programa Nacional de Humanização (PNH)

Esta política foi feita para gestores e todos os profissionais de saúde preocupados com a humanização das relações entre administradores, profissionais e usuários. Ela alinhava os princípios e as diretrizes básicas para um processo de humanização dos serviços de saúde, com base na experiência produzida com a implantação do Programa Nacional de Humanização.

O PNH nasceu de uma iniciativa estratégica do Ministério da Saúde: buscar iniciativas capazes de melhorar o contato humano entre profissional de saúde e usuário, entre os próprios profissionais e entre o ambiente de saúde e a comunidade, de modo a garantir o bom funcionamento do Sistema Único de Saúde - SUS.

O desenvolvimento das ações do PNH tem como princípios fundamentais o respeito à singularidade dos ambientes de saúde e a estreita cooperação entre os diversos agentes que compõem o SUS, o Ministério da Saúde, as Secretárias Estaduais e Municipais de Saúde e as instituições hospitalares. Essencial, também, é a integração dos vários programas, já existentes, que têm como foco a humanização.

Esta intercomunicação tem sido de extrema importância não só para multiplicar as ações propostas pelo PNH, como para consolidar bases próprias de serviço humanizado em cada um dos ambientes de saúde.

O PNH oferece uma orientação global para os projetos de caráter humanizado desenvolvidos nas diversas áreas da saúde. Sua principal função é estimular a criação e a sustentação permanente de espaços de comunicação entre esses vários setores de atendimento da determinada instituição de saúde. Espaços onde a regra é a livre expressão, a educação continuada, o diálogo, o respeito à diversidade de opiniões e a solidariedade.

A constituição de Grupos de Trabalho de humanização nas instituições de saúde e a formação de uma Rede Nacional de Humanização entre as instituições públicas de saúde são exemplos importantes de espaços de comunicação estimulados pelo PNH. Ambos representam instrumentos fundamentais para a consolidação do processo de humanização.

Tendo como objetivo: criar uma cultura de humanização democrática, solidária e crítica; melhorando a qualidade e a eficácia da atenção dispensada aos usuários; modernizar as relações de trabalho nos setores públicos de saúde, recuperando a imagem publica dessas instituições junto à comunidade; capacitar os profissionais do setor publico de saúde para um novo conceito de atenção à saúde, que valoriza não só a integralidade dos processos de atendimento, como também as crenças e o estilo de vida do paciente, a subjetividade e a cidadania; estimular a realização de parcerias e intercâmbio de conhecimentos, experiências e pesquisas em humanização. Fortalecer e articular todas as iniciativas de humanização já existentes na rede de saúde publica; conceber e implantar novas iniciativas de humanização que venham a beneficiar os administradores, os profissionais de saúde e os usuários do sistema de saúde; desenvolver um conjunto de parâmetros de resultados e um sistema de incentivo ao serviço de saúde humanizado.

Para garantir a palavra e sua dignidade ética, ou seja, para que o sofrimento humano, as percepções de dor ou de prazer sejam humanizadas, é preciso que a palavra que o sujeito expressa seja reconhecida pelo outro. É pela linguagem que fazemos as descobertas de meios pessoais de comunicação, sem isso, nos desumanizamos reciprocamente. A humanização depende da nossa capacidade de falar e ouvir, ou seja, do dialogo com nossos semelhantes.

O desenvolvimento científico e tecnológico tem trazido uma série de benefícios, sem dúvida, mas também tem como efeito adverso o incremento a desumanização, por exemplo: quando preenchemos uma ficha de histórico clínico não estamos escutando a palavra do paciente. As informações são indispensáveis sem dúvida, mas o lado humano ficou excluído. O ato técnico elimina a dignidade ética da palavra, pois esta é necessariamente pessoal, subjetiva e precisa ser reconhecida na palavra do outro.

Existe certo grau de dificuldade, como a falta de condições técnicas, capacitação, materiais, gerência e espírito de acolhimento. Essa carência geral ou específica de condições gerenciais, técnicas e materiais, induzem a desumanização, já que o profissional e usuários passam a se relacionar de forma desrespeitosa e impessoal, devido ao cansaço, ao descompromisso, ao acúmulo de irritações e desalentos e de terror do crônico fracasso das expectativas, em tudo piorando uma situação já precária. É importante lembrar que mesmo em momentos e condições difíceis, podemos ser pólipos e generosos.

A voz cálida, o bom dia, o gesto de acolhimento, demonstram o nosso esforço em atenuar os problemas. Diante das circunstancias adversas sempre podemos nos questionar sobre o que fazer para melhorá-las.

O compromisso com as pessoas que sofrem pode ter as mais diversas motivações, assim como o compromisso com os cuidados e destes entre si.

Humanizar a assistência é dar lugar não só a palavra do usuário como também a palavra do profissional de saúde, de forma que tanto um como o outro possa fazer parte de uma rede de diálogo. Cabe a esta rede promover as ações, campanhas, programas e políticas assistenciais a partir da dignidade ética da palavra, do respeito, do reconhecimento mutuo e da solidariedade. (PREFEITURA MUNICIPAL DE BETIM, 2006, p. 29).

É inegável que depois de tantos anos de luta, o SUS conseguiu uma ampliação significativa em termos de cobertura e acesso, o maior desafio é melhorar a qualidade dos serviços que presta a população em termos de eficácia e produção de saúde.

Se o profissional tem dificuldades na realização de seu trabalho, o usuário insatisfeito com o atendimento ao gestor não consegue ter uma boa comunicação e interação com outras instancias.

Para resolver este desafio e melhorar a eficácia no atendimento a saúde, não basta investir na eficácia técnico - cientifica e na racionalidade administrativa. Qualquer atendimento a saúde, assim como qualquer relação entre os gestores e equipes profissionais é caracterizado pelas relações humanas. É preciso, portanto, estar atento a princípios e valores como a solidariedade e ética na relação entre profissionais e usuários.

Uma ética que acolha o desconhecido e o imprevisível, que aceite os limites de cada situação e que seja pautada pela abertura e pelo respeito ao outro como um ser singular e digno. Segundo Oquisso (1999, p. 62) descreve:

A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde do ser humano e de coletividade. Atua na promoção, proteção, recuperação da saúde e reabilitação das pessoas, respeitando os preceitos éticos e legais (art. 1°). Declara ainda que o profissional de enfermagem participa, como integrante da sociedade, nas ações que visem satisfazer à necessidade da saúde da população (art. 2°), a quem ele respeita a vida, a dignidade e os direitos da pessoa humana, em todo o seu ciclo vital, sem discriminação de qualquer natureza (art. 3°) e que exerce a profissão com autonomia, respeitando os preceitos legais da enfermagem (art. 6°).

4 METODOLOGIA

Este trabalho é um relato de experiência, cujo estudo é descritivo, comparativo e qualitativo, com dados primários, onde as informações foram colhidas através de práticas realizadas na Unidade de Saúde da Família (USF) Luar da Pampulha, pertencente ao Município de Ribeirão das Neves - MG, sendo os sujeitos de estudo, 80 mulheres atendidas durante consultas ginecológica de enfermagem e Exame Preventivo de Câncer de Colo do Útero e Câncer de Mama (EPCCUM), no período de 15 de fevereiro a 6 de junho do ano de 2007.

Em um primeiro momento, observou-se a falta de adesão das mulheres no EPCCUM. Com a presença dos acadêmicos de enfermagem do sexo masculino nesta USF, criou-se certo receio por parte das mesmas durante o exame ginecológico, dificultando ainda mais a sua adesão ao Programa Saúde da Mulher.

Posteriormente, optou-se por um atendimento diferenciado, realizado pelos acadêmicos de enfermagem da UNIFENAS durante as consultas ginecológicas, baseando-se no Programa Nacional de Humanização E Programa Saúde da Mulher do Sistema Único de Saúde (SUS).

4.1 Descrição do Contexto do Cenário

O espaço físico da Unidade de Saúde da Família (USF) é uma casa improvisada, composta de dez cômodos, sendo:

• Um consultório médico;

• Um consultório de enfermagem;

• Uma sala de medicamentos;

• Uma sala de vacinação inativa;

• Uma sala para ACS e para os prontuários;

• Uma copa;

• Três banheiros;

• Uma sala para recepção.

Contém também uma área no fundo da USF, usada para reuniões, grupos educativos e uma varanda na entrada.

A USF situa-se em uma região de característica bastante acidentada, dificultando o acesso da população à unidade de saúde, sendo que este problema se agrava mais nos períodos chuvosos, devido às ruas ficarem intransitáveis pela falta de pavimentação e canalização da rede de esgoto local. Tudo isso são fatores que contribuem para diminuição da demanda.

A equipe da USF é composta por uma enfermeira, uma auxiliar de enfermagem e seis agentes comunitários de saúde (ACS), que abrange seis micro-áreas, e uma população de 4.075 habitantes, de 1.004 famílias, tendo em média cinco pessoas em cada família, totalizando 1.561 mulheres com idade maior ou igual há 15 anos.

Observou-se que é uma população de baixa renda e que a educação sexual é muitas vezes deficiente e negligenciada por parte da família e instituições públicas; propiciando a formação de uma sexualidade sem uma base sólida que leva um prejuízo tanto na saúde quanto na estruturação como pessoa.

O EPCCUM na unidade é realizado pela enfermeira e acadêmicos de enfermagem da UNIFENAS que estagiam no Município.

A marcação dos exames é dividida em micro-áreas, sendo que a cada quarta-feira são atendidas mulheres de certa micro-área, onde que cada ACS fica responsável pela marcação do exame, recepção e início do preenchimento das fichas das mulheres de sua área.

Não existe uma busca ativa das mulheres para realização do EPCCUM, fazendo com que a demanda seja de forma espontânea, pois a maioria delas procura fazer o exame ginecológico na unidade devido uma queixa e não por cuidado com a manutenção da saúde.

No período entre quinze de Fevereiro a seis de Julho do ano de 2007, foram realizados 80 EPCCU, sendo que:

• Foram emitidos 23 resultados de exames pelo laboratório, representando 18,4% dos exames realizados;

• 14 exames como positivo para inflamação, representando aproximadamente 60,9% dos exames com resultados emitidos pelo laboratório;

• 1 exame como positivo para Cândida sp, representando aproximadamente 4,4% dos exames com resultados emitidos pelo laboratório;

• 7 exames como positivo para Gardnerella vaginalis, representando 30% dos exames com resultados emitidos pelo laboratório;

• 1 exame como positivo para Trichomonas vaginalis, representando aproximadamente 4,4% dos exames com resultados emitidos pelo laboratório.

Esses resultados deram a entender que ocorre certa demora quanto à entrega dos resultados dos exames e que nesse período não ouve caso de câncer de colo do útero ou positivo para HPV, cujo EPCCU foi realizado na unidade

5 ANÁLISE E COMENTÁRIO

O receio das mulheres na realização do Exame Preventivo de Câncer de Colo do Útero e Câncer de Mama (EPCCUM) é um fator negativo que dificulta a atuação dos enfermeiros e acadêmicos de enfermagem, principalmente os do sexo masculino dentro do Programa Saúde da Mulher, pois na maioria das vezes, a mulher prefere evitar realizar o exame por ser um procedimento que expõe a sua privacidade diante do profissional, pois é necessário que a mulher fique nua, deitada em posição ginecológica, o que sempre causa desconforto.

As mulheres, principalmente as mais velhas, sentiram receosas devido sua cultura antiga de não se expor a outro homem a não ser seu "marido", dificultando assim a aceitação do exame quando esse é realizado por profissional de saúde do sexo masculino.

Diante da negação das mulheres, era difícil para os acadêmicos de enfermagem do sexo masculino, lidar com esta situação imposta por elas, o que levou a diminuição dos números de práticas realizadas pelos acadêmicos, visando à atenção à mulher na USF.

Percebendo-se a negação das mulheres no momento do EPCCUM, houve a necessidade de avaliar os fatores negativos responsáveis pela dificuldade encontrada pelos acadêmicos de enfermagem no momento da realização do exame, foi notado que essa ação das mulheres era uma reação provocada pela forma com que elas eram acolhidas e preparadas para realização do EPCCUM na USF.

"Acolhimento é um arranjo tecnológico que busca garantir acesso aos usuários com o objetivo de escutar todos os pacientes, resolver os problemas mais simples ou referencia-los se necessário". (SCHIMITH; LIMA, 2004, p. 5).

As mulheres ao chegarem à unidade, deparam com um ambiente sem preparação para a recepção e sem sensibilização da usuária, onde, permaneciam na sala de recepção, e ao notarem a presença dos acadêmicos de enfermagem, procuravam informações com os ACS, sendo que os mesmos, talvez por despreparo diante da situação, cediam estas informações: "ele não trabalha, apenas estagia aqui"; "vai ser um rapaz novinho, quem vai fazer o exame"; "ele ainda não é formado"; "sua vizinha não quis fazer com ele"; "o marido de sua vizinha, não deixou ela fazer o exame aqui", o que aumentava ainda mais o receio das mulheres.

Também foi notado, que quanto mais mecânico for o procedimento, maior vai ser a negação da mulher quanto à realização do exame.

Mecanicismo é a doutrina que admite que determinado conjunto de fenômenos, o mesmo toda a natureza, se reduz a um sistema de determinações mecânicas. Afirma-se esta doutrina sobre tudo por conhecer o movimento como determinado por lei casual rigorosa, e por negar todo tipo de finalismo ou de qualidade oculta para determinação de fenômenos naturais. (MECANICISMO, 1986, p. 1108).

Durante o procedimento, além da resistência enfrentada pelas mulheres em não realizar o exame com acadêmicos do sexo masculino, algumas vezes ocorria falta de materiais:

• Como fixador celular de lamina, podendo a sua falta levar a alguma alteração no resultado do exame.

• Ocorria com freqüência à falta de sabão liquido para a lavagem das mãos, antes e após os procedimentos;

• Também era difícil de encontrar especulo de tamanho pequeno, pois os mesmos eram armazenados em um saco contendo vários tamanhos, sendo necessário em muitas vezes o uso de um especulo de tamanho maior no procedimento, levando as mulheres a sentirem um maior desconforto e relatarem que na última vez em que realizou o exame não foi tão doloroso.

Analisado estes pontos, tentou-se melhorar as ações diante das mulheres:

• Primeiramente se tornou de grande importância a previsão quanto aos materiais necessários para a realização do EPCCUM, com intuito de diminuir os transtornos no momento do procedimento;

• Foi evitado que os ACS apresentassem os estagiários para as mulheres na recepção da unidade e que eles preenchessem as fichas de atendimento deixando estas para preenchimento dos que estavam conduzindo as consultas;

• Foram afastadas as ações mecanizadas, tornando mais conscientizados e humanizados os procedimentos, através de fixação de cartazes informativos na área que da acesso ao interior da unidade, com a intenção de conscientizar as mulheres; foi adaptada uma sala, onde se realiza palestra para as mulheres que vão passar pelo procedimento, com o objetivo de informar a importância do exame, quando deve ser feito, como é feito e o que é utilizado, qual preparação que deve ter e o que deve fazer para prevenir dos agravos à sua saúde.

A resistência das mulheres na realização do EPCCUM é um fator que dificulta a atuação de enfermeiros e acadêmicos de enfermagem, principalmente os do sexo masculino na Unidade de Saúde da Família Luar da Pampulha, necessitando então de um atendimento diferenciado, para que assim elas possam sentir seguras.

De acordo com as mudanças realizadas com este estudo observou-se que uma pequena parte das mulheres ainda apresentou resistência e que a grande maioria esteve mais receptiva e tranqüila na consulta ginecológica.

Percebeu-se, portanto, que o modo como a mulher é acolhida, a explicação da importância e sentido do exame, o respeito pela sua insegurança e dúvidas, a demonstração de conhecimento e segurança por parte do profissional com esclarecimentos dos detalhes dos procedimentos e a discussão dos obstáculos ao exame foram e são cruciais à transformação de medo, vergonha, constrangimento em diálogo, segurança e aceitação da mulher na realização do mesmo.

Enquanto profissional da saúde deve-se priorizar a distribuição dos exames de maneira mais produtiva para conseguir uma cobertura que possa adequar aos objetivos do programa.

No consenso final, esta preocupação que tiveram em tentar mudar a forma de como a mulher era atendida e o seu comportamento no momento EPCCUM e exame ginecológico de enfermagem, foi uma experiência válida para os acadêmicos de enfermagem da UNIFENAS, contribuindo para um aumento da aceitação das mulheres em relação ao procedimento, durante o tempo em que os acadêmicos permaneceram na USF.

Tudo isso foi possibilitado devido uma maior facilidade de interação com a paciente, alcançada através da transmissão de segurança e de conhecimentos na realização dos procedimentos, onde o acadêmico, e também por que não, o profissional conquista seu espaço, mostrando que é preparado e tem respeito com aquilo que faz. Segundo Instituto Nacional do Câncer (2007, p.8) descreve que:

Os motivos para a não adesão precisam ser identificados e se possível eliminados. A não adesão esta intimamente relacionada com forma com que o serviço e os profissionais de saúde, se relacionam com os clientes; a paciência, a empatia que esses exibem a segurança que inspiram e o nível de comunicação estabelecido são variáveis que dependem muito deste profissional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a ciência e a tecnologia cada vez mais atualizada no que diz respeito ao câncer de colo uterino e mama, a Saúde Publica tem como desafio elaborar meios para que as ações da equipe de saúde sejam positivas diante do programa saúde da mulher, afastando todos os agravantes que dificultam à inclusão das mulheres ao programa.

Levando em consideração o fator holístico e a integralidade das ações, que se diz característica da enfermagem, deve ser analisado o aspecto geral da mulher no momento do exame, pois o nervosismo pode levar a paciente a complicações. Cuidando integralmente da paciente, e realizando procedimentos de forma humanizada, a mulher vai passar a ter mais confiança no profissional, onde o mesmo vai ter mais facilidade de atingir as metas dentro do programa saúde da mulher.

Resgatar uma prática mais humanizada, desenvolvendo a capacidade de interação, agindo não só como preparo técnico, mas também com a intuição e sensibilidade, certamente contribuirá para qualidade do atendimento prestado à mulher durante a realização do exame, permitindo refletir sobre o agir da equipe de saúde por meio da compreensão de ação da mulher, na vivência do Exame Preventivo do Câncer Colo do Útero e Câncer de Mama (EPCCUM), mediante ações humanizadas e individualizadas, que levam em conta, não só o cuidado físico, mas o ser em sua totalidade existencial pertencente ao um contexto socioeconômico e cultural.

Sendo assim, acredita-se que somente uma equipe de saúde humanizada poderá tratar a cliente como pessoa, encontrando espaço para a expressão de seus sentimentos, respeitando-a, envolvendo-se com ela, assim, uma relação intersubjetiva e ainda levando em conta suas influência social, culturais, familiar e religiosa o que contribui para aplicação e ganho de espaço da equipe nas ações diante da mulher.

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Autor: samuel rosario


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